“Militares se instalaram na sala em que eu dava aula; mestre Artigas foi preso”, lembra Sérgio Ferro
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- Опубликовано: 25 авг 2024
- “Em primeiro de abril de 1964, acordei de manhã, liguei o rádio e havia uma notícia que um cidadão meio furioso tinha começado a descer de Minas Gerais e que um golpe estaria sendo dado. A primeira sensação foi de enorme frustração. Havia uma ascensão da esquerda, um movimento muito forte. Foi como uma ducha fria cair em cima de toda uma esperança que vinha crescendo. Foi uma grande tristeza desabando. Bolas! Estávamos indo e estamos voltando para trás!”.
Palavras do arquiteto, artista plástico, professor Sérgio Ferro, 85, ao TUTAMÉIA. Um dos criadores do grupo Arquitetura Nova, ele relembra a brutalidade do golpe militar, fala de sua trajetória e do momento atual, em entrevista gravada em 13 de fevereiro de 2024.
“Esse sentimento de recuo, de perda, de frustração aconteceu várias outras vezes na minha vida. Recentemente, tivemos um quase golpe, depois de um golpe real e institucional, e a minha sensação foi a mesma. Depois do governo do Lula e dos governos da Dilma, de repente, outra vez, a miséria, a perda o recuo, a burrice e a maldade e a violência. Infelizmente, como dizia o Marx, a história se repete e dessa vez se repetiu duas vezes na tragicomédia”, afirma.
Conta, Sérgio Ferro:
“Caímos dessa espécie de linha ascendente de esperança por um baque surdo, súbito no caminho inverso. A coisa foi meio surrealista. A gente sabia que havia um clima de direita bastante intenso, mas isso nos parecia vozes desesperadas. A direita era muito ridícula, mesquinha. Foi dia um momento bastante ruim de nossa vida, de toda uma geração”.
“Nos dias 2, 3 de abril já havia casos de gente arrastada na rua, presa no Nordeste, já havia violência crua, gratuita, contra gente que eles prendiam. Já havia sido instaurado um regime da violência bruta mesma, militar crua, horrorosa. Isso foi imediato. Nos dias que tomaram o poder já tomaram o poder com violência descarada, escancarada destinada a ser conhecida. O conhecimento dessa violência atemorizava reagir”.
“Uma das coisas que a gente menos imagina é que a revolução, primeiro, é súbita. Todo mundo sabia que ela seria imaginável. Mas, na prática, isso não se transformava em uma consciência clara, nítida. Nenhum de nós acreditava que um golpe fosse possível. E realmente o golpe aconteceu como uma palhaçada, o primeiro ato: o desfile do cretino do mineiro”.
“O segundo ato, logo depois disso, inverte. Aquilo que começou como uma espécie de parada militar vira violência crua nojenta. É muito difícil você suportar essa ruptura, esse corte entre esperança viva, alegre, esperança de vida, seguida quase que sem interrupção, num dia, numa noite pelo inverso: crueza, maldade, tortura, desrespeito total à legalidade. Não foi fácil viver. E o Partido Comunista feito barata tonta, sem saber muito o que fazer”.
“Pela primeira vez na minha vida eu senti medo. Você tem medo do seu igual do seu semelhante. Não é o diabo, uma coisa imaginária, é alguém que está na sua frente”.
Sérgio lembra que rapidamente o golpe chegou à USP. A Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) foi objeto de um inquérito militar.
“Militares vieram à FAU, na rua Maranhão ainda. Entraram se instalaram na sala em que Flávio Mota dava aula e eu era assistente dele; então, na sala em que eu dava aula. E começaram a convocar professores para responder a perguntas totalmente idiotas: ‘Você é comunista? Tem contato com a Rússia?’. Coisas totalmente estapafúrdias. Nós, mais jovens, não tínhamos nenhuma posição hierárquica a defender. Menti à beça. Contei nada”.
“Não foi o caso do [Vilanova] Artigas. Ele já era um membro do Partido Comunista muito influente. O Artigas fez face ao interrogatório com enorme dignidade. Deu o que ele era, o que ele fazia, o que ele pensava. E saiu da escola de arquitetura preso. Imaginem o choque, a violência, ver o seu mestre ser levado por aquelas pessoas que você tinha ouvido, aqueles militares imbecis de marca maior”. “Foi a brutalidade pura. Logo começaram a aparecer listas de professores despedidos, suspensos, entre outros intelectuais. Artigas foi preso, levado para um barco-prisão. Depois foi solto, sempre com uma extraordinária dignidade. A instituição universidade, infelizmente, praticamente não reagiu”.
O depoimento integra uma série de entrevistas sobre o golpe militar de 1964, que está completando sessenta anos. Com o mote “O que eu vi no dia do golpe”, TUTAMÉIA publica neste mês de março mais de duas dezenas de vídeos com personagens que vivenciaram aquele momento, como Almino Affonso, João Vicente Goulart, Anita Prestes, Frei Betto, Luiz Felipe de Alencastro, Ladislau Dowbor, José Genoíno, Roberto Amaral, Guilherme Estrella e Rose Nogueira.
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Professor Sérgio Ferro, gratidão por sua luta e suas palavras.
Parabéns Tutaméia pela entrevista com o GRANDE professsor de toda uma geração Sérgio Ferro
Depoimento precioso. Pena que hoje uma voz como a do Professor Ferro não rompe a barreira da imbecilidade que cerca as escolas.
Tutaméia, parabéns pelos programas relacionados ao golpe militar de 1964!
Tenho esperança que as pessoas brasileiras alcancem a noção de que a democracia precisa ser cuidada.
Parabéns ao Tutameia por essa série magnífica de entrevistas.
Parabéns Tutameia ❤❤❤
Que espetáculo Tutaméia entrevistar Sérgio Ferro que influenciou toda uma geração na arquitetura.
Agradecimento ao Tutaméia por mais esta entrevista. Não conhecia o Professor Sérgio Ferro. Muito bom ter sabido da sua existência. Lembrar sempre, lutar sempre para que não se repita.
Depoimento profundo, realista, perturbador. Que sirva como um alerta eterno contra as atitudes fascistas
Parabéns pela entrevista, Tutameia!
Entrevista muito interessante, emocionante e forte! Muito obrigada mais uma vez ao TUTAMEIA por realuzar um resgate dessa história do nosso País, que tentam continuar a esconder e até apagar! ❤✊🏼✊🏼👏🏼👏🏼👏🏼❤
Fico apavorada com a possibilidade de, mais uma vez, passarmos por uma ditadura. 😢😢
Grande Voz Sensivel Consciencia .
Brilhante a ao mesmo tempo um emocionante depoimento
A cada vídeo reciso agradecer a este casal que faz uma biblioteca muito importante sobre uma epoca escura, muito escura, a ponto de manter uma ignorancia sobre o cotidiano de pessoas que pensavam democracia e igualdade social.
Tutameia é original mais uma vez, agora com essa série sobre as vivências do primeiro de abril de 1964...grande brasileiro o arquiteto Sérgio Ferro!
Excelente entrevista! Parabéns Sergio Ferro e Tutameia!
Parabéns ao elegante e extraordinário casal .
Obrigado Tutamea pelo espaço dado! Obrigado Sérgio pelo depoimento!
Que reportagem maravilhosa!!!
Incrivel essa entrevista. Amei. Parabéns Tutameia. Estas entrevistas são muito melhores que qualquer festividade relativa ao golpe de 64 que completara em 31 de marco 60 anos.
Obrigada pela oportunidade de poder ouvir o prof. Ferro.aprendi bastante com ele.
Depoimento lúcido, doloroso, intenso. Precisamos prestar atenção à nossa Democracia.
Depoimento belíssimo e emocionante do grande Sérgio Ferro!!!
Que Maravilha essa Sensivel Artista Personna.
Tutameia parabens
Mais um depoimento histórico!
Excelente Depoimento ❤❤❤. Desejo ao entrevistado muitos anos de vida ainda e com saúde, para além dos seus atuais 85 anos 🙏🏻🙏🏻
Video precioso. Uma aula incrível de consciência de classe.
Vai ficar nos círculos verdadeiramente progressista, os identitários, bolsominions, burguesia irão ignorar. A luta não para. Parabéns Tutaméia.
Tutameia gostaria que vcs chamassem o jornalista Juca Kfouri que atuou na ajuda de milantes a passar pela fronteira. Muito importante. Obrigado.
MARAVILHOSO DEPOIMENTO.. PARABÉNS A VOCÊS POR ESTA SÉRIE.
Muito obrigado a Tutameia por permitir o depoimento de grandes homens e que até a velhice pregam a luta contra o Fascismo, porém pela via pacífica, sem claudicar aos seus ideais de viver num mundo melhor porém, para todos, não somente para uma minoria elitista. Parabéns ao Sérgio Ferro por esse grande exemplo, que as juventudes certamente saberão valorar.
Sérgio Ferro. Grande Pintor e Desenhista!
Repetir, repetir, repetir
Nunca mais
Ouvir do Sergio Ferro sobre os anos 60 nos faz acreditar na historia como uma lição de luta e resistência
Sérgio Ferro fala com conhecimento e emoção do que a esquerda sentiu no golpe militar. Não revela a vaidade comum aos intelectuais e abre caminho para “aquela verdade histórica” que a esquerda viveu. Falar a verdade de cada momento histórico é fundamental para perceber a realidade. Parabens, camarada Sérgio, que não tem medo de revelar o que pensou e o que hoje pode pensar com a evolução histórica e intelectual .
Profundamente brasileiro e humano tão sensível na dor na lucidez na esperança, sempre político amoroso o arquiteto Sergio Ferro
Queridos, muito obrigado ao Sérgio Ferro, depoimento lindo, me emocionou e mobilizou muito! Obrigado Tutaméia pela oportunidade de conhecer um pouco da trajetória deste grande homem, que me inspira. É preciso estar atento, forte, lutar (seja com que que armas) e esperançar sempre.
estupenda iniciativa de Tutaméia. Parabéns prá vocês, para os entrevistados, para todos os brasileiros.
Tutaméia, estou acompanhando cada uma das entrevistas. Vocês fazem um grande trabalho.❤
Entrevista emocionante! Grande arquiteto que nos da orgulho.
Grande e inesquecivel professor Sergio Ferro foi fundamental para minha formacao. Aulas maravilhosas, iluminadas, fundamentais para entendermos o mundo. Minha profunda gratidao!!!!
Que depoimento forte!!!
Senhor Sergio Ferro,
Sua luta de sobrevivência diante de tanta barbárie que observou, viveu e tenta nos alertar para enfrentar e mesmo sobreviver a ela, é extremamente sensível e emocionante. Aceite minha gratidão por reviver e nos relatar esses momentos tão marcantes e difíceis...❤
Belíssimo depoimento, tão humano! Obrigada, Prof.Sérgio Ferro, obrigada, Tutameia!
Obrigada por ouvir esse professor, eu não o conhecia. Uma alma vibrante e participante hoje. Maravilha❤
- Excelente! Obrigado pela série! Gratidão pela motivação que vocês propiciam!
Parabéns e força para o prof. Sérgio Ferro. Orgulho deste senhor ❤
Obrigado
Muito!!!!!
Que mensagem mais linda do prof. Sérgio! Tomara que possamos contar com ele ainda aqui nesse plano para assistir belas vitórias!
Obrigada !
"Memória de um tempo em que se lutar por seus direitos é um defeito que m4t4." Gonzaguinha
Acho difícil repetir a juventude da década de 1960, 1970. Hoje temos jovens que só pensam em si.
Na LUZ do Paraíso,de RAMOS DE AZEVEDO à SÉRGIO FERRO.🌓
Entrevista muito forte! Mas com todo respeito, Sr. João Ferro, importantíssimo ir pra terapia mas procure um Delleziano! Vai ser mais potente e alegre! Padre investe na tristeza!! 😊
Debora, concordo inteiramente com você...
Esse pensamento de tristeza senti em toda a postura e fala do Senhor Sergio...
Porque sempre as forças armadas, que deveriam proteger o Brasil,o povo, sempre envolvidos em mentiras e golpes.
Precioso depoimento. Memória que se projeta na visão lúcida do presente e - apesar de toda a dor e dos sonhos destruídos - em alternativas de luta para que haja um futuro.
Um depoimento muito rico e de dentro da alma. Lindo
De fato muito triste.
Sobre Stalin (o grande líder político do Séc XX, revolucionário que conviveu e, pode-se dizer, igualou-se a Lênin) dizia-se, em reconhecimento à sua trajetória de lutas, sofrimentos e bravura: "assim foi temperado o aço".
Ouvindo e vendo o testemunho deste revolucionário, a quem cumprimento e 🫂 abraço, não resisti em homenageá-lo com esta frase: "ASSIM FOI TEMPERADO O FERRO".❤❤❤🚩🚩🚩
relatos muito lúcidos, muito necessários. parabéns. todos estes depoimentos deveriam chegar a Lula, para relembrá-lo do que foi a ditadura militar.
Fui aluna do Sergio Ferro no IADÊ.
É preciso estar atento e forte. Não temos tempo de temer a morte. Caetano Veloso.
_O que nós salvou é que nós não éramos operários, éramos quem não pode desaparecer!_
"Nunca houve justiça na maldade militar"
Que interessante : "é mais comum do que se pensa, muitos religiosos se transformam em marxistas". En termos preventivos de mais golpes : sabem porquê os brasileiros no exterior não se solidarizam/organizam ?....
🌷🇦🇪🌿
😔
A milícia estava tão escancarada como atualmente?
A meĺhor das entrvistas muitó humana! 44:24
É mais do necessário não esquecer da nossa história enquanto um povo. Negar isso é negar a vida. Lula mostra ao que veio. Esqueceu do que sofreu enquanto sindicalista. A história mostrará.pra ele o seu erro histórico.
Discordo, pois Lula nunca teve uma base de sustentação nos três mandatos. Ele está fazendo o que pode para governar com esse congresso e senado, ambos os piores da história. Lula nunca teve moleza.
O povo precisa entender que o legislativo é mais importante que o executivo e assim passar a eleger políticos compromissados com as causas sociais.
Podemos eleger um presidente de esquerda como Lula, mas se ele governar com a maioria esmagadora de parlamentares da direita e da ultra-direita, como hoje temos, as coisas não andam.
Talvez você se engane, Lula está pacientemente aguardando o momento certo.
Não é prudente tocar no vespeiro das forças armadas, enquanto a justiça não acabar com os vários julgamentos que estão por acontecer. Cada ação no seu tempo....
Grande entrevista,uma verdadeira aula,obrigado por tão rica oportunidade,de conhecer um pouco mais desta tragédia que foi essa, tão cruel , assassina e covarde ditadura militar.