Sou cego e, mesmo assim, adorei ver o Jardim Botânico através de Clarice e Aracy. Por isso, não entendi a preocupação, por parte da autora, de o texto não vir a ser transcrito para o braille. Será que sorver essas imagens através dos dedos poderia ofender de alguma forma a uma pessoa cega? Lê-lo, mesmo que com os ouvidos, foi absolutamente prazeroso pra mim. Fui transportado para lá… Construí toda essa belíssima imagem em minha mente, assim como acontece com qualquer leitor. Senti até os aromas do parque e a roupa molhada pela água da fonte!…
A cegueira é de quem não tem a delicadeza da percepção é uma metáfora....algumas pessoas tem o dom da visão mas nunca vão entender o que ela viu. Não traduzir... pq eu também vi o que ela viu ...vá lá e tenha a sua experiência....e não traduza a ninguém...é seu apenas...e os cegos de visão deficiente também podem ver
Senti como uma provocação corajosa, que poderia ser até considerada cruel ou de mau gosto mas, se a gente atentar bem, é só um jeito de enaltecer a imagem. Porém, acessar a imagem nao é privilégio só de quem vê. Ela, inteligente, sabia disso. Aposto que iria adorar esse depoimento de uma pessoa cega que enxergou, sem ver, toda a cena, apropriando-se nao só da imagem mas das sensações, graças à imaginação. Lindo relato!
Querido Glauco quem realmente sabe vê não precisa dos olhos, parabéns pela visão interior que tens que na verdade são poucos os que a possui! É possível sim sentir sem ver , mergulhar sem tocar e até dançar sem canção!
Senti a experiência muito mais sensorial que visual! Infinitamente mais um movimento da alma do que um passeio de olhos... por mais que a paisagem tenha sido o sinal para o despertar da visão interior... tudo o que ela relata senti profundamente de olhos fechados. As frutinhas de aroeira vi o rosa avermelhado sim, mas o rosto de pedra jorrando água... senti o áspero seguido do frescor molhado numa tarde de verão... vontade de tomar banho de mangueira no quintal! E que voz a da Aracy... que cadência, ritmo, entonação, e todas as coisas invisíveis que passam dela pra nós...
Muitas vezes o que me salvou foi improvisar um ato gratuito. Ato gratuito, se tem causas, são desconhecidas. E se tem consequências, são imprevisíveis. O ato gratuito é o oposto da luta pela vida e na vida. Ele é o oposto da nossa corrida pelo dinheiro, pelo trabalho, pelo amor, pelos prazeres, pelos táxis e ônibus, pela nossa vida diária enfim - que esta é toda paga, isto é, tem o seu preço. Uma tarde dessas, de céu puramente azul e pequenas nuvens branquíssimas, estava eu escrevendo à máquina - quando alguma coisa em mim aconteceu. Era o profundo cansaço da luta. E percebi que estava sedenta. Uma sede de liberdade me acordaria. Eu estava simplesmente exausta de morar num apartamento. Estava exausta de tirar ideias de mim mesma. Estava exausta do barulho da máquina de escrever. Então a sede estranha e profunda me apareceu. Eu precisava - precisava com urgência - de um ato de liberdade: do ato que é por si só. Um ato que manifestasse fora de mim o que eu secretamente era. E necessitava de um ato pelo qual eu não precisava pagar. Não digo pagar com dinheiro mas sim, de um modo mais amplo, pagar o alto preço que custa viver. Então minha própria sede guiou-me. Eram 2 horas da tarde de verão. Interrompi meu trabalho, mudei rapidamente de roupa, desci, tomei um táxi que passava e disse ao chofer: vamos ao Jardim Botânico. “Que rua?”, perguntou ele. “O senhor não está entendendo”, expliquei-lhe, “não quero ir ao bairro e sim ao Jardim do bairro.” Não sei por que olhou-me um instante com atenção. Deixei abertas as vidraças do carro, que corria muito, e eu já começara minha liberdade deixando que um vento fortíssimo me desalinhasse os cabelos e me batesse no rosto grato de olhos entrefechados de felicidade. Eu ia ao Jardim Botânico para quê? Só para olhar. Só para ver. Só para sentir. Só para viver. Saltei do táxi e atravessei os largos portões. A sombra logo me acolheu. Fiquei parada. Lá a vida verde era larga. Eu não via ali nenhuma avareza: tudo se dava por inteiro ao vento, no ar, à vida, tudo se erguia em direção ao céu. E mais: dava também o seu mistério. O mistério me rodeava. Olhei arbustos frágeis recém-plantados. Olhei uma árvore de tronco nodoso e escuro, tão largo que me seria impossível abraçá-lo. Por dentro dessa madeira de rocha, através de raízes pesadas e duras como garras - como é que corria a seiva, essa coisa quase intangível que é a vida? Havia seiva em tudo como há sangue em nosso corpo. De propósito não vou descrever o que vi: cada pessoa tem que descobrir sozinha. Apenas lembrarei que havia sombras oscilantes, secretas. De passagem falarei de leve na liberdade dos pássaros. E na minha liberdade. Mas é só. O resto era o verde úmido subindo em mim pelas minhas raízes incógnitas. Eu andava, andava. Às vezes parava. Já me afastara muito do portão de entrada, não o via mais, pois entrara em tantas alamedas. Eu sentia um medo bom - como um estremecimento apenas perceptível de alma - um medo bom de talvez estar perdida e nunca mais, porém nunca mais! achar a porta de saída. Havia naquela alameda um chafariz de onde a água corria sem parar. Era uma cara de pedra e de sua boca jorrava a água. Bebi. Molhei-me toda. Sem me incomodar: esse exagero estava de acordo com a abundância do Jardim. O chão estava às vezes coberto de bolinhas de aroeira, daquelas que caem em abundância nas calçadas de nossa infância e que pisávamos não sei por quê, com enorme prazer. Repeti então o esmagamento das bolinhas e de novo senti o misterioso gosto bom. Estava com um cansaço benfazejo, era hora de voltar, o sol já estava mais fraco. Voltarei num dia de muita chuva - só para ver o gotejante jardim submerso.”
Foi como um raiar de sol , inevitável flecha que foram estes versos em meu peito, lembrando-me da vitalidade infantil que a vida adulta levará, pois adulto sou e adulterado fui. Porém a lagrima que escapou regou a memoria de quando sorria por também estar sobre o verde livre da avareza brindado a levasa de uma infância solta e pura como o gotilhar da boa e velha chuva. Obrigado Clarice.
Que espetáculo! A literatura liberta, salva e humaniza. Em tempos de barbárie, esse texto me impulsiona a a agir gratuitamente e aliviar um pouco o peso da existência nesse país tão adoecido e inóspito.
Muitas vezes, o que me salvou foi improvisar um ato gratuito. Ato gratuito, se tem causas, são desconhecidas. E se tem conseqí¼ências, são imprevisíveis. O ato gratuito é o oposto da luta pela vida e na vida. Ele é o oposto da nossa corrida pelo dinheiro, pelo trabalho, pelo amor, pelos prazeres, pelos táxis e ínibus, pela nossa vida diária enfim - que esta é toda paga, isto é, tem o seu preço. Uma tarde dessas, de céu puramente azul e pequenas nuvens branquíssimas, estava eu escrevendo à máquina - quando alguma coisa em mim aconteceu. Era o profundo cansaço da luta. E percebi que estava sedenta. Uma sede de liberdade me acordara. Eu estava simplesmente exausta de morar num apartamento. Estava exausta de tirar idéias de mim mesma. Estava exausta do barulho da máquina de escrever. Então a sede estranha e profunda me apareceu. Eu precisava - precisava com urgência - de um ato de liberdade: do ato que é por si só. Um ato que manifestasse fora de mim o que eu não precisava pagar. Não digo pagar com dinheiro mas sim, de um modo mais amplo, pagar o alto preço que custa viver. Então minha própria sede guiou-me. Eram 2 horas da tarde de verão. Interrompi meu trabalho, mudei rapidamente de roupa, desci, tomei um táxi que passava e disse ao chofer: vamos ao Jardim Botânico. “Que rua?”, perguntou ele. “O senhor não está entendendo”, expliquei-lhe, “não quero ir ao bairro e sim ao Jardim do bairro.” Não sei por que olhou-me um instante com atenção. Deixei abertas as vidraças do carro, que corria muito, e eu já começara minha liberdade deixando que um vento fortíssimo me desalinhasse os cabelos e me batesse no rosto grato de olhos entrefechados de felicidade. Eu ia ao Jardim Botânico para quê? Só para olhar. Só para ver. Só para sentir. Só para viver. Saltei do táxi e atravessei os largos portões. A sombra logo me acolheu. Fiquei parada. Lá a vida verde era larga. Eu não via ali nenhuma avareza: tudo se dava por inteiro ao vento, no ar, à vida, tudo se erguia em direção ao céu. E mais: dava também o seu mistério. O mistério me rodeava. Olhei arbustos frágeis recém-plantados. Olhei uma árvores de tronco nodoso e escruo, tão largo que me seria impossível abraçá-lo. Por dentro dessa madeira de rocha, através de raízes pesadas e duras como garras - como é que corria a seiva, essa coisa quase intangível que é a vida? Havia seiva em tudo como há sangue em nosso corpo. De propósito não vou descrever o que vi: cada pessoa tem que descobrir sozinha. Apenas lembrarei que havia sombras oscilantes, secretas. De passagem falarei de leve na liberdade dos pássaros. E na minha liberdade. Mas é só. O resto era o verde úmido subindo em mim pelas minhas raízes incógnitas. Eu andava, andava. Às vezes parava. Já me afastara muito do portão de entrada, não o via mais, pois entrara em tantas alamedas. Eu sentia um medo bom - como um estremecimento apenas perceptível de alma - um medo bom de talvez estar perdida e nunca mais, porém nunca mais! achar a porta de saída. Havia naquela alameda um chafariz de onde a água corria sem parar. Era uma cara de pedra e de sua boca jorrava a água. Bebi. Molhei-me toda. Sem me incomodar: esse exagero estava de acordo com a abundância do Jardim. O chão estava í s vezes coberto de bolinhas de ararueira, daquelas que caem em abundância nas calçadas da nossa infância e que pisamos, não sei por que, com enorme prazer. Repeti então o esmagamento das bolinhas e de novo senti o misterioso gosto bom. Estava com um cansaço benfazejo, era hora de voltar, o sol já estava mais fraco. Voltarei num dia de chuva - só para ver o gotejante jardim submerso. Nota da autora: peço licença para pedir à pessoa que tão bondosamente traduz meus textos em braile para os cegos que não traduza este. Não quero ferir os olhos que não vêem.
Para Kelvin, com amor fraterno. Por ter parado no Passeio Público e ter apreciado e compartilhado um momento simples e valioso da vida. Agradeço também a Clarice, e Aracy em memória e ao criador deste canal.
Tive vontade de sair correndo e me encontrar eu um outro lugar...um lugar meu...um lugar onde minha alma possa gritar..chorar...sorrir..sem medo..sem rumo.sem.tempo pra voltar.
Clarice Lispector, é uma poetisa. É UM ENCANTO ESSA DECLAMAÇÃO do "O ato gratuito". Viva isso no Jardim Botânico do Rio, lendo e sentindo - talvez - esse mesmo entusiasmo, essa mesma vida que o espirito da Clarice viveu. Será algo mágico.
Washington pratique o ato gratuito de estar comigo. Só para ver, sentir, viver um "poquitito" cmperto de mim. Observe a seiva que corre em seu corpo. Deixe a liberdade sábia penetrar em sua alma. Ache a porta de saída , deixe-a entreaberta para que possa brincar, no bom sentido. Então, o "jogo de cintura" pra lá, pra cá pra cá, pra lá. Tudo em um vai e vem calmo e sereno como a brisa e o orvalho da manhã. 🥰💕
*Absolutamente extraordinárias Clarice e Aracy! Obrigadísdima! A essência da pobre condição humana num retrato tão cotidianamente exposto... Perfeito! E em apenas 6 minutos - incomensuráveis minutos existenciais...*
Como é interessante asemelhança do que descreve com o que estamos vivendo nesta pandemia! Creio que hoje há milhares de pessoas que desejam um ato gratuito como nos cobta o texto!
Preciso dessa liberdade, ao menos um pequeno instante agarrada a ela, posso ser jovem, mas estou exausta, a vida vem me cançando cada vez mais, sao pequenos momentos como esse ouvindo estas cronicas que me perco em uma completa alternativa realidade
Esse poema de Clarice Lispector é realmente denso e profundo. Aracy deu vida pra ele e que declamação fantástica. Tenho uma impressão que Clarice Lispector não pertencia este mundo..
Lindo!! Viajei também, me reenergizei com esse conto e claro emocionei-me...como não se emocionar com um texto tão Clarice, tão Lispector, tão humano??
Simplesmente, sensacional! Uma das grandes pérolas de Clarice!! Ela nos arrasta para um Jardim botânico vívido, com sua experiência tão imensamente sensorial e completamente atenta ao PRESENTE! Que maravilha de partilha!! "Nenhuma avareza", como ela mesma sentiu por lá....
Desde 2018 me sinto diferente ,hoje aos 54 anos desta vida na terra (como minúsculo mesmo), querendo da vida não somente as cousas desse mundo alucinado de aparências e máscaras. Conheci hoje 01/03/2022 ,pelo meu Sobrinho João, esse com S maiusculo, a Clarice pela Araci ! Arrepiei , ri ,sorri, viajei ... Gratidão a tudo que está perto e que agora sim estou descobrindo que a vida vai além, muito além das coisas, da matérias e das pessoas com suas ideias limitadas. Vou com a vento e a alma ....com um medo bom ...
Acho que me emocionei um pouco. Será excesso de estrogênio? Eu juro que não estou comendo soja e, da última vez que fiz um ciclo, fiz o TPC - Terapia Pós Ciclo - corretamente. (Pseudo poema de um marombeiro, em curtas palavras, por ele mesmo) rsrs Eu sempre me acordo com bom humor. Adoro o ar e o silêncio da manhã! Grande Clarice Balabanian por Aracy Lispector! Obrigado canal Sebo Itinerante por esta preciosidade atemporalmente apreciável!
Virei Clarice por alguns minutos... me vi saindo de casa, sentindo o vento e entrando no Jardim Botânico!!! A narração perfeita nos transporta para dentro do texto!!!!
Muitas vezes, o que me salvou foi improvisar um ato gratuito. Ato gratuito, se tem causas, são desconhecidas. E se tem conseqí¼ências, são imprevisíveis. O ato gratuito é o oposto da luta pela vida e na vida. Ele é o oposto da nossa corrida pelo dinheiro, pelo trabalho, pelo amor, pelos prazeres, pelos táxis e ínibus, pela nossa vida diária enfim - que esta é toda paga, isto é, tem o seu preço. Uma tarde dessas, de céu puramente azul e pequenas nuvens branquíssimas, estava eu escrevendo à máquina - quando alguma coisa em mim aconteceu. Era o profundo cansaço da luta. E percebi que estava sedenta. Uma sede de liberdade me acordara. Eu estava simplesmente exausta de morar num apartamento. Estava exausta de tirar idéias de mim mesma. Estava exausta do barulho da máquina de escrever. Então a sede estranha e profunda me apareceu. Eu precisava - precisava com urgência - de um ato de liberdade: do ato que é por si só. Um ato que manifestasse fora de mim o que eu não precisava pagar. Não digo pagar com dinheiro mas sim, de um modo mais amplo, pagar o alto preço que custa viver. Então minha própria sede guiou-me. Eram 2 horas da tarde de verão. Interrompi meu trabalho, mudei rapidamente de roupa, desci, tomei um táxi que passava e disse ao chofer: vamos ao Jardim Botânico. “Que rua?”, perguntou ele. “O senhor não está entendendo”, expliquei-lhe, “não quero ir ao bairro e sim ao Jardim do bairro.” Não sei por que olhou-me um instante com atenção. Deixei abertas as vidraças do carro, que corria muito, e eu já começara minha liberdade deixando que um vento fortíssimo me desalinhasse os cabelos e me batesse no rosto grato de olhos entrefechados de felicidade. Eu ia ao Jardim Botânico para quê? Só para olhar. Só para ver. Só para sentir. Só para viver. Saltei do táxi e atravessei os largos portões. A sombra logo me acolheu. Fiquei parada. Lá a vida verde era larga. Eu não via ali nenhuma avareza: tudo se dava por inteiro ao vento, no ar, à vida, tudo se erguia em direção ao céu. E mais: dava também o seu mistério. O mistério me rodeava. Olhei arbustos frágeis recém-plantados. Olhei uma árvores de tronco nodoso e escruo, tão largo que me seria impossível abraçá-lo. Por dentro dessa madeira de rocha, através de raízes pesadas e duras como garras - como é que corria a seiva, essa coisa quase intangível que é a vida? Havia seiva em tudo como há sangue em nosso corpo. De propósito não vou descrever o que vi: cada pessoa tem que descobrir sozinha. Apenas lembrarei que havia sombras oscilantes, secretas. De passagem falarei de leve na liberdade dos pássaros. E na minha liberdade. Mas é só. O resto era o verde úmido subindo em mim pelas minhas raízes incógnitas. Eu andava, andava. Às vezes parava. Já me afastara muito do portão de entrada, não o via mais, pois entrara em tantas alamedas. Eu sentia um medo bom - como um estremecimento apenas perceptível de alma - um medo bom de talvez estar perdida e nunca mais, porém nunca mais! achar a porta de saída. Havia naquela alameda um chafariz de onde a água corria sem parar. Era uma cara de pedra e de sua boca jorrava a água. Bebi. Molhei-me toda. Sem me incomodar: esse exagero estava de acordo com a abundância do Jardim. O chão estava í s vezes coberto de bolinhas de ararueira, daquelas que caem em abundância nas calçadas da nossa infância e que pisamos, não sei por que, com enorme prazer. Repeti então o esmagamento das bolinhas e de novo senti o misterioso gosto bom. Estava com um cansaço benfazejo, era hora de voltar, o sol já estava mais fraco. Voltarei num dia de chuva - só para ver o gotejante jardim submerso. Nota da autora: peço licença para pedir à pessoa que tão bondosamente traduz meus textos em braile para os cegos que não traduza este. Não quero ferir os olhos que não vêem. Tags: causos de taxista, Chuva, Clarice Lispector, Crônistas Brasileiros, Flanar, Jardim Botânico
A poesia dá a gente a liberdade de pensar e refletir sobre você mesma. você se imagina como uma raiz ou qualquer outra coisa. lhe leva a outro universo de você mesma. 🐛🦋parabéns Clarice Lispectror.🐛🦋
" Que mistérios tem Clarice " , nenhum... Essa estonteante interpretação de Araci, deixa tudo tão claro....palmas para Clarice, e para Araci Balabanian 👏👏👏👏👏
Lembrei-me d um tempo em q eu saía do subúrbio e ia ao J Botânico, apenas para passear. Gostava d me sentar num banco e observar a Natureza. Sentir a brisa, o cheiro das flores, ouvir e "ver" o vento nas árvores. Clarice é toda sensações! Q deleite é ter Clarice e Aracy juntas nesses tempos bicudos d pandemia!
Clarice e Aracy: dois ícones de suas artes: a de escrever e a de representar... Duas grandes mulheres...
Eternamente maravilhisas!
muito lindo
Sou cego e, mesmo assim, adorei ver o Jardim Botânico através de Clarice e Aracy. Por isso, não entendi a preocupação, por parte da autora, de o texto não vir a ser transcrito para o braille.
Será que sorver essas imagens através dos dedos poderia ofender de alguma forma a uma pessoa cega?
Lê-lo, mesmo que com os ouvidos, foi absolutamente prazeroso pra mim.
Fui transportado para lá…
Construí toda essa belíssima imagem em minha mente, assim como acontece com qualquer leitor. Senti até os aromas do parque e a roupa molhada pela água da fonte!…
A cegueira é de quem não tem a delicadeza da percepção é uma metáfora....algumas pessoas tem o dom da visão mas nunca vão entender o que ela viu. Não traduzir... pq eu também vi o que ela viu ...vá lá e tenha a sua experiência....e não traduza a ninguém...é seu apenas...e os cegos de visão deficiente também podem ver
Concordo. Eu de olhos fechados senti cada cena que ela viveu. Alias fechar os olhos aguça mais os sentidos.
Senti como uma provocação corajosa, que poderia ser até considerada cruel ou de mau gosto mas, se a gente atentar bem, é só um jeito de enaltecer a imagem. Porém, acessar a imagem nao é privilégio só de quem vê. Ela, inteligente, sabia disso. Aposto que iria adorar esse depoimento de uma pessoa cega que enxergou, sem ver, toda a cena, apropriando-se nao só da imagem mas das sensações, graças à imaginação. Lindo relato!
Querido Glauco quem realmente sabe vê não precisa dos olhos, parabéns pela visão interior que tens que na verdade são poucos os que a possui!
É possível sim sentir sem ver , mergulhar sem tocar e até dançar sem canção!
Senti a experiência muito mais sensorial que visual! Infinitamente mais um movimento da alma do que um passeio de olhos... por mais que a paisagem tenha sido o sinal para o despertar da visão interior... tudo o que ela relata senti profundamente de olhos fechados. As frutinhas de aroeira vi o rosa avermelhado sim, mas o rosto de pedra jorrando água... senti o áspero seguido do frescor molhado numa tarde de verão... vontade de tomar banho de mangueira no quintal! E que voz a da Aracy... que cadência, ritmo, entonação, e todas as coisas invisíveis que passam dela pra nós...
Muitas vezes o que me salvou foi improvisar um ato gratuito. Ato gratuito, se tem causas, são desconhecidas. E se tem consequências, são imprevisíveis.
O ato gratuito é o oposto da luta pela vida e na vida. Ele é o oposto da nossa corrida pelo dinheiro, pelo trabalho, pelo amor, pelos prazeres, pelos táxis e ônibus, pela nossa vida diária enfim - que esta é toda paga, isto é, tem o seu preço.
Uma tarde dessas, de céu puramente azul e pequenas nuvens branquíssimas, estava eu escrevendo à máquina - quando alguma coisa em mim aconteceu.
Era o profundo cansaço da luta.
E percebi que estava sedenta. Uma sede de liberdade me acordaria. Eu estava simplesmente exausta de morar num apartamento. Estava exausta de tirar ideias de mim mesma. Estava exausta do barulho da máquina de escrever. Então a sede estranha e profunda me apareceu. Eu precisava - precisava com urgência - de um ato de liberdade: do ato que é por si só. Um ato que manifestasse fora de mim o que eu secretamente era. E necessitava de um ato pelo qual eu não precisava pagar. Não digo pagar com dinheiro mas sim, de um modo mais amplo, pagar o alto preço que custa viver.
Então minha própria sede guiou-me. Eram 2 horas da tarde de verão. Interrompi meu trabalho, mudei rapidamente de roupa, desci, tomei um táxi que passava e disse ao chofer: vamos ao Jardim Botânico. “Que rua?”, perguntou ele. “O senhor não está entendendo”, expliquei-lhe, “não quero ir ao bairro e sim ao Jardim do bairro.” Não sei por que olhou-me um instante com atenção.
Deixei abertas as vidraças do carro, que corria muito, e eu já começara minha liberdade deixando que um vento fortíssimo me desalinhasse os cabelos e me batesse no rosto grato de olhos entrefechados de felicidade.
Eu ia ao Jardim Botânico para quê? Só para olhar. Só para ver. Só para sentir. Só para viver.
Saltei do táxi e atravessei os largos portões. A sombra logo me acolheu. Fiquei parada. Lá a vida verde era larga. Eu não via ali nenhuma avareza: tudo se dava por inteiro ao vento, no ar, à vida, tudo se erguia em direção ao céu. E mais: dava também o seu mistério.
O mistério me rodeava. Olhei arbustos frágeis recém-plantados. Olhei uma árvore de tronco nodoso e escuro, tão largo que me seria impossível abraçá-lo. Por dentro dessa madeira de rocha, através de raízes pesadas e duras como garras - como é que corria a seiva, essa coisa quase intangível que é a vida? Havia seiva em tudo como há sangue em nosso corpo.
De propósito não vou descrever o que vi: cada pessoa tem que descobrir sozinha. Apenas lembrarei que havia sombras oscilantes, secretas. De passagem falarei de leve na liberdade dos pássaros. E na minha liberdade. Mas é só. O resto era o verde úmido subindo em mim pelas minhas raízes incógnitas. Eu andava, andava. Às vezes parava. Já me afastara muito do portão de entrada, não o via mais, pois entrara em tantas alamedas. Eu sentia um medo bom - como um estremecimento apenas perceptível de alma - um medo bom de talvez estar perdida e nunca mais, porém nunca mais! achar a porta de saída.
Havia naquela alameda um chafariz de onde a água corria sem parar. Era uma cara de pedra e de sua boca jorrava a água. Bebi. Molhei-me toda. Sem me incomodar: esse exagero estava de acordo com a abundância do Jardim. O chão estava às vezes coberto de bolinhas de aroeira, daquelas que caem em abundância nas calçadas de nossa infância e que pisávamos não sei por quê, com enorme prazer. Repeti então o esmagamento das bolinhas e de novo senti o misterioso gosto bom.
Estava com um cansaço benfazejo, era hora de voltar, o sol já estava mais fraco.
Voltarei num dia de muita chuva - só para ver o gotejante jardim submerso.”
😍🙏
Que mulher detalhista, inteira, sensível, perceptiva, sensitiva.
É gratificante ouvir como relata
fatos, emoções, sensações.
Incrivel como a Aracy traz vida ao texto pela voz!
Sensacional, a dicção, a entonação e força da voz da Aracy. Combina certinho com a escrita de Clarice. Casou perfeitamente.
Lindo
Me arrepio ouvindo a narração dela. ❤️
Siiiimmm! Muito incrível 👏
SIM
Foi como um raiar de sol , inevitável flecha que foram estes versos em meu peito, lembrando-me da vitalidade infantil que a vida adulta levará, pois adulto sou e adulterado fui. Porém a lagrima que escapou regou a memoria de quando sorria por também estar sobre o verde livre da avareza brindado a levasa de uma infância solta e pura como o gotilhar da boa e velha chuva. Obrigado Clarice.
Me senti entrando no Jardim botânico... ahhh Clarice, q falta sinto de ti ... q voz poderosa dona Aracy!!!! ❤
Para Islas, com serenidade e fraternidade.
Que espetáculo! A literatura liberta, salva e humaniza. Em tempos de barbárie, esse texto me impulsiona a a agir gratuitamente e aliviar um pouco o peso da existência nesse país tão adoecido e inóspito.
Ouvi um poema mim faz tão bem🌻🌻🌻🌻🌻🌻🌻
Amei a expressão de Araci pelo sentimento de liberdade pela sensibilidade ao não querer ferir o outro.
Muitas vezes, o que me salvou foi improvisar um ato gratuito. Ato gratuito, se tem causas, são desconhecidas. E se tem conseqí¼ências, são imprevisíveis. O ato gratuito é o oposto da luta pela vida e na vida. Ele é o oposto da nossa corrida pelo dinheiro, pelo trabalho, pelo amor, pelos prazeres, pelos táxis e ínibus, pela nossa vida diária enfim - que esta é toda paga, isto é, tem o seu preço.
Uma tarde dessas, de céu puramente azul e pequenas nuvens branquíssimas, estava eu escrevendo à máquina - quando alguma coisa em mim aconteceu. Era o profundo cansaço da luta.
E percebi que estava sedenta. Uma sede de liberdade me acordara. Eu estava simplesmente exausta de morar num apartamento. Estava exausta de tirar idéias de mim mesma. Estava exausta do barulho da máquina de escrever. Então a sede estranha e profunda me apareceu. Eu precisava - precisava com urgência - de um ato de liberdade: do ato que é por si só. Um ato que manifestasse fora de mim o que eu não precisava pagar. Não digo pagar com dinheiro mas sim, de um modo mais amplo, pagar o alto preço que custa viver.
Então minha própria sede guiou-me. Eram 2 horas da tarde de verão. Interrompi meu trabalho, mudei rapidamente de roupa, desci, tomei um táxi que passava e disse ao chofer: vamos ao Jardim Botânico. “Que rua?”, perguntou ele. “O senhor não está entendendo”, expliquei-lhe, “não quero ir ao bairro e sim ao Jardim do bairro.” Não sei por que olhou-me um instante com atenção.
Deixei abertas as vidraças do carro, que corria muito, e eu já começara minha liberdade deixando que um vento fortíssimo me desalinhasse os cabelos e me batesse no rosto grato de olhos entrefechados de felicidade.
Eu ia ao Jardim Botânico para quê? Só para olhar. Só para ver. Só para sentir. Só para viver. Saltei do táxi e atravessei os largos portões. A sombra logo me acolheu. Fiquei parada. Lá a vida verde era larga. Eu não via ali nenhuma avareza: tudo se dava por inteiro ao vento, no ar, à vida, tudo se erguia em direção ao céu. E mais: dava também o seu mistério.
O mistério me rodeava. Olhei arbustos frágeis recém-plantados. Olhei uma árvores de tronco nodoso e escruo, tão largo que me seria impossível abraçá-lo. Por dentro dessa madeira de rocha, através de raízes pesadas e duras como garras - como é que corria a seiva, essa coisa quase intangível que é a vida? Havia seiva em tudo como há sangue em nosso corpo.
De propósito não vou descrever o que vi: cada pessoa tem que descobrir sozinha. Apenas lembrarei que havia sombras oscilantes, secretas. De passagem falarei de leve na liberdade dos pássaros. E na minha liberdade. Mas é só. O resto era o verde úmido subindo em mim pelas minhas raízes incógnitas. Eu andava, andava. Às vezes parava. Já me afastara muito do portão de entrada, não o via mais, pois entrara em tantas alamedas. Eu sentia um medo bom - como um estremecimento apenas perceptível de alma - um medo bom de talvez estar perdida e nunca mais, porém nunca mais! achar a porta de saída.
Havia naquela alameda um chafariz de onde a água corria sem parar. Era uma cara de pedra e de sua boca jorrava a água. Bebi. Molhei-me toda. Sem me incomodar: esse exagero estava de acordo com a abundância do Jardim.
O chão estava í s vezes coberto de bolinhas de ararueira, daquelas que caem em abundância nas calçadas da nossa infância e que pisamos, não sei por que, com enorme prazer. Repeti então o esmagamento das bolinhas e de novo senti o misterioso gosto bom. Estava com um cansaço benfazejo, era hora de voltar, o sol já estava mais fraco.
Voltarei num dia de chuva - só para ver o gotejante jardim submerso.
Nota da autora: peço licença para pedir à pessoa que tão bondosamente traduz meus textos em braile para os cegos que não traduza este. Não quero ferir os olhos que não vêem.
Sair da rotina, perder a compostura e voltar a ter a liberdade de criança.
Essa é a maior verdade que eu já vislumbrei ser criança é tão bom que até os que passaram dificuldades sentem saudade, os melhores culpa.
A liberdade da ignorância e do não saber que vem com a inocência. Bem-estar, na verdade.
Que texto mais lindo, meu D'us. Sinto essa sede de liberdade também.
Para Kelvin, com amor fraterno. Por ter parado no Passeio Público e ter apreciado e compartilhado um momento simples e valioso da vida.
Agradeço também a Clarice, e Aracy em memória e ao criador deste canal.
Meu amigo, foi exatamente isso que me ocorreu. Genial!!! Muito obrigado por apresentar
Tive vontade de sair correndo e me encontrar eu um outro lugar...um lugar meu...um lugar onde minha alma possa gritar..chorar...sorrir..sem medo..sem rumo.sem.tempo pra voltar.
"Não quero ferir olhos que não vêem".
Este é o tamanho do amor de Clarice pelo Outro. Que sorte ela teve de ter sido ela.
Não foi sorte amigo. Foi missão ❤
Clarice Lispector, é uma poetisa. É UM ENCANTO ESSA DECLAMAÇÃO do "O ato gratuito". Viva isso no Jardim Botânico do Rio, lendo e sentindo - talvez - esse mesmo entusiasmo, essa mesma vida que o espirito da Clarice viveu. Será algo mágico.
Linda 🌹 a natureza é a mais pura conexão do ser humano,fora do teatro que é a vida 😍
Muito bacana !
Viva pra sempre essas duas grandes mulheres , Aracy e Clarice !
Washington pratique o ato gratuito de estar comigo. Só para ver, sentir, viver um "poquitito" cmperto de mim.
Observe a seiva que corre em seu corpo.
Deixe a liberdade sábia penetrar em sua alma. Ache a porta de saída , deixe-a entreaberta para que possa brincar, no bom sentido. Então, o "jogo de cintura" pra lá, pra cá pra cá, pra lá. Tudo em um vai e vem calmo e sereno como a brisa e o orvalho da manhã.
🥰💕
Lindo
Exatamente onde encontramos a beleza da vida;Na simplicidade da natureza!
🤜🤛
Também. Clarice atemporal e independente da situação da humanidade. Tanta lucidez dos sentimentos mais profundo.
Clarice por Balabanian imperdivel , maravilhoso ....
De repente era tudo o que eu precisava ouvir nesta manhã de domingo.
Aracy encarna o texto. Incrível !
Meu Deus! A alma do mundo nas mãos de uma mulher! Clarice é luz!
Perfeito Clarice..Perfeita Aracy...lindas
Sempre teve sensibilidade e consciência.É assim,sempre foi e sempre será.
*Absolutamente extraordinárias Clarice e Aracy! Obrigadísdima! A essência da pobre condição humana num retrato tão cotidianamente exposto... Perfeito! E em apenas 6 minutos - incomensuráveis minutos existenciais...*
Aracy é a voz de Clarice. Traduz sua alma com amor e perfeição.
Sinto-me preenchida quando ouço. É poesia. É prece❤️🌹. Obrigada 🥰
Como é interessante asemelhança do que descreve com o que estamos vivendo nesta pandemia! Creio que hoje há milhares de pessoas que desejam um ato gratuito como nos cobta o texto!
Pensei nisso. Vontade imensa de ir a um parque. Da última vez que fui uma pessoa sem mascara espirrou ao meu lado. 🤣
Que coisa linda, meu Deus! Pareço estar no jardim com Clarice, respirando a seiva da vida.
Vc é muito importante para todos nós Brasileiros..
Grande Sabedoria ESTAMOS Sentindo a sua falta nas Telinha 🤩🤩💋💋
Clarice é maravilhosa. Consegue tirar da alma e colocar no papel.
Preciso dessa liberdade, ao menos um pequeno instante agarrada a ela, posso ser jovem, mas estou exausta, a vida vem me cançando cada vez mais, sao pequenos momentos como esse ouvindo estas cronicas que me perco em uma completa alternativa realidade
Me identifico com essa sensação de liberdade que Clarice descreve ...Exatamente eu sinto isso tbm! 😍💚🌿💧🙏
Maravilha de texto! Clarice Lispector , única. Araci dá vida a esta pérola. 🥰
Coisa mais linda. Esse texto me alimentou.
Muito feliz com a identificação na voz da artista do texto da grande escritora e com o feliz lugar onde tudo se passa.
Esse poema de Clarice Lispector é realmente denso e profundo. Aracy deu vida pra ele e que declamação fantástica. Tenho uma impressão que Clarice Lispector não pertencia este mundo..
Sim...não pertencia...
Que deleite... um ato de liberdade 🙏🏽🙌🏻
Lindo poema, Clarice nos faz sonhar.
A simplicidade da vida que nos faz viver intensamente como criança atrás de bala
Amo e sempre identifiquei-me com o pensamento de Clarice Lispector.
Parabéns pela interpretação!!
Meu chamo Clarice também e consigo sentir todo esse grito de liberdade como você Clarice ... Gratidão a vocês duas de todo o meu coração ... Namastê
Lindo poema..
Na vida é assim mesmo..
Buscamos na natureza o renovar de nossas forças...
Sem dúvida meu favorito!!!
Cada vez que leio ou ouço os textos de Clarice, ou até mesmo vejo a sua entrevista me compreendo um pouco mais...
Lindo!! Viajei também, me reenergizei com esse conto e claro emocionei-me...como não se emocionar com um texto tão Clarice, tão Lispector, tão humano??
Show. Clarice, mistério tão necessário.
Aracy dá um show de interpretação.
Ai Meu Deus!Que primor! Clarice.Aracy! Gratidão...
Simplesmente, sensacional! Uma das grandes pérolas de Clarice!! Ela nos arrasta para um Jardim botânico vívido, com sua experiência tão imensamente sensorial e completamente atenta ao PRESENTE! Que maravilha de partilha!! "Nenhuma avareza", como ela mesma sentiu por lá....
Desde 2018 me sinto diferente ,hoje aos 54 anos desta vida na terra (como minúsculo mesmo), querendo da vida não somente as cousas desse mundo alucinado de aparências e máscaras. Conheci hoje 01/03/2022 ,pelo meu Sobrinho João, esse com S maiusculo, a Clarice pela Araci ! Arrepiei , ri ,sorri, viajei ... Gratidão a tudo que está perto e que agora sim estou descobrindo que a vida vai além, muito além das coisas, da matérias e das pessoas com suas ideias limitadas. Vou com a vento e a alma ....com um medo bom ...
Aracy Balabanian, além de grande atriz, é também uma declamadora ímpar.
Poema incrível da Clarice é que voz bonita da Aracy declamando!
Grande intérprete de Clarice ! Aracy, és maravilhosa😍👏👏👏👏
Terminei de ler....que lindo!!!
Ambas Viscerais!
Ouço com os olhos fechados... Mais de uma vez.
Ahhhhhh!!!!!
Por conhecer o texto não imaginava que ouvir teria um efeito tão único... Incrível.
Nossa, que maravilha!
Voce e Clarisse são uma Dupla perfeita.
Verdade Fábio, uma com uma maravilhosa produção de reflexão profunda e a outra na suavidade da interpretação dando vida ao poema!
Encantador! Que delicadeza de espírito!
Nossa...é um presente o que esta atriz está me dando...é tão lindo ouvi la. Consigo sentir a cada verso o que Clarisse escreveu.
#gratidão!
Cada palavra escrita de presente para nós e tão bem representada
Clarice minha paixão. Muito bem interpretado por outra pessoa iluminada. Obrigada.
Simplesmente maravilhosos Clarice e aracir amo essas mulheres extraordinárias patrimônio da sabedoria Humana
Lindo ,lindo!!
Duas deusas da nossa cultura 🧚♀️💞🧚♂️
Viajei...
Me identifico com esse texto de Clarice Lispector. Parabéns, Arací você da vida com sua narração e interpretação 👏🏽👏🏽❤️❤️
Apaixonante, eterna, Clarice. 🌬️
Profundamente tocante!!! Obrigada Clarisse! Tb já fiz fiz esta experiência no Jardim Botânico… Idos anos 80…🌷🍁🍀
Perdão Aracy… você trouxe vida ao texto!
Acho que me emocionei um pouco. Será excesso de estrogênio? Eu juro que não estou comendo soja e, da última vez que fiz um ciclo, fiz o TPC - Terapia Pós Ciclo - corretamente. (Pseudo poema de um marombeiro, em curtas palavras, por ele mesmo) rsrs Eu sempre me acordo com bom humor. Adoro o ar e o silêncio da manhã! Grande Clarice Balabanian por Aracy Lispector! Obrigado canal Sebo Itinerante por esta preciosidade atemporalmente apreciável!
Interessante a sua percepção
Que maravilha!!! Que texto! Que interpretação! Estou encantada, com tamanha tradução de sentimentos, sensações dessas maravilhosas!!!
Virei Clarice por alguns minutos... me vi saindo de casa, sentindo o vento e entrando no Jardim Botânico!!! A narração perfeita nos transporta para dentro do texto!!!!
Muitas vezes, o que me salvou foi improvisar um ato gratuito. Ato gratuito, se tem causas, são desconhecidas. E se tem conseqí¼ências, são imprevisíveis. O ato gratuito é o oposto da luta pela vida e na vida. Ele é o oposto da nossa corrida pelo dinheiro, pelo trabalho, pelo amor, pelos prazeres, pelos táxis e ínibus, pela nossa vida diária enfim - que esta é toda paga, isto é, tem o seu preço.
Uma tarde dessas, de céu puramente azul e pequenas nuvens branquíssimas, estava eu escrevendo à máquina - quando alguma coisa em mim aconteceu. Era o profundo cansaço da luta.
E percebi que estava sedenta. Uma sede de liberdade me acordara. Eu estava simplesmente exausta de morar num apartamento. Estava exausta de tirar idéias de mim mesma. Estava exausta do barulho da máquina de escrever. Então a sede estranha e profunda me apareceu. Eu precisava - precisava com urgência - de um ato de liberdade: do ato que é por si só. Um ato que manifestasse fora de mim o que eu não precisava pagar. Não digo pagar com dinheiro mas sim, de um modo mais amplo, pagar o alto preço que custa viver.
Então minha própria sede guiou-me. Eram 2 horas da tarde de verão. Interrompi meu trabalho, mudei rapidamente de roupa, desci, tomei um táxi que passava e disse ao chofer: vamos ao Jardim Botânico. “Que rua?”, perguntou ele. “O senhor não está entendendo”, expliquei-lhe, “não quero ir ao bairro e sim ao Jardim do bairro.” Não sei por que olhou-me um instante com atenção.
Deixei abertas as vidraças do carro, que corria muito, e eu já começara minha liberdade deixando que um vento fortíssimo me desalinhasse os cabelos e me batesse no rosto grato de olhos entrefechados de felicidade.
Eu ia ao Jardim Botânico para quê? Só para olhar. Só para ver. Só para sentir. Só para viver. Saltei do táxi e atravessei os largos portões. A sombra logo me acolheu. Fiquei parada. Lá a vida verde era larga. Eu não via ali nenhuma avareza: tudo se dava por inteiro ao vento, no ar, à vida, tudo se erguia em direção ao céu. E mais: dava também o seu mistério.
O mistério me rodeava. Olhei arbustos frágeis recém-plantados. Olhei uma árvores de tronco nodoso e escruo, tão largo que me seria impossível abraçá-lo. Por dentro dessa madeira de rocha, através de raízes pesadas e duras como garras - como é que corria a seiva, essa coisa quase intangível que é a vida? Havia seiva em tudo como há sangue em nosso corpo.
De propósito não vou descrever o que vi: cada pessoa tem que descobrir sozinha. Apenas lembrarei que havia sombras oscilantes, secretas. De passagem falarei de leve na liberdade dos pássaros. E na minha liberdade. Mas é só. O resto era o verde úmido subindo em mim pelas minhas raízes incógnitas. Eu andava, andava. Às vezes parava. Já me afastara muito do portão de entrada, não o via mais, pois entrara em tantas alamedas. Eu sentia um medo bom - como um estremecimento apenas perceptível de alma - um medo bom de talvez estar perdida e nunca mais, porém nunca mais! achar a porta de saída.
Havia naquela alameda um chafariz de onde a água corria sem parar. Era uma cara de pedra e de sua boca jorrava a água. Bebi. Molhei-me toda. Sem me incomodar: esse exagero estava de acordo com a abundância do Jardim.
O chão estava í s vezes coberto de bolinhas de ararueira, daquelas que caem em abundância nas calçadas da nossa infância e que pisamos, não sei por que, com enorme prazer. Repeti então o esmagamento das bolinhas e de novo senti o misterioso gosto bom. Estava com um cansaço benfazejo, era hora de voltar, o sol já estava mais fraco.
Voltarei num dia de chuva - só para ver o gotejante jardim submerso.
Nota da autora: peço licença para pedir à pessoa que tão bondosamente traduz meus textos em braile para os cegos que não traduza este. Não quero ferir os olhos que não vêem.
Tags: causos de taxista, Chuva, Clarice Lispector, Crônistas Brasileiros, Flanar, Jardim Botânico
Viva Clarice. Sempre.
Maravilhoso poema e interpretação. Caminhei no Jardim, me encontrei nas palavras...
Que texto!!!!! Espetàcular. Bem propìcio para esse tempo difìcil e inserto que estamos vivendo.
Que lindo na voz de Aracy, emocionante!💋🙏
A poesia nos salva dessa selva de pedras!👏👏👏👏
A poesia dá a gente a liberdade de pensar e refletir sobre você mesma. você se imagina como uma raiz ou qualquer outra coisa. lhe leva a outro universo de você mesma. 🐛🦋parabéns Clarice Lispectror.🐛🦋
Amo esse tipo de trabalho. Leituras, declamações, interpretações. ❤❤❤
Descanse em paz Aracy!!!! 😢
Perfeito ❤️👏🏼👏🏼👏🏼
Que coisa linda de fechar os olhos e se perder ouvindo/sentindo cada detalhe, cada entrelinha!
Me emocionei muito! Gratidão 31/03/24
Tô aqui... pensando...
Na maravilha que é tirar do íntimo coisas tão simples e impactantes...
Deus a receba em uma linda morada querida Aracy.
" Que mistérios tem Clarice " , nenhum... Essa estonteante interpretação de Araci, deixa tudo tão claro....palmas para Clarice, e para Araci Balabanian 👏👏👏👏👏
Me vejo tanto na Clarisse...
❤🦋
"Só para sentir...Só para viver..."
Continuo gostando de arte acho tão bom.
Dizer mais o quê? Aracy Balabanian interpreta muito bem o texto de um dos ícones da nossa literatura mais enigmáticos!
O mágico fica real.
Lembrei-me d um tempo em q eu saía do subúrbio e ia ao J Botânico, apenas para passear. Gostava d me sentar num banco e observar a Natureza. Sentir a brisa, o cheiro das flores, ouvir e "ver" o vento nas árvores. Clarice é toda sensações! Q deleite é ter Clarice e Aracy juntas nesses tempos bicudos d pandemia!
Balabania excelente interpretacao ....
Obrigada Araci! Veio na hora certa pra mim.❤️
Nossa!!!!! Quê forte.Lindoooo!!!!
Eterna Aracy!!! Descanse em paz❤
Q maravilha, meu Deus!
O meu preferido ❤ perfeito, cirúrgico
Lindíssimo poema.