Clarice Lispector - Perdoando Deus por Aracy Balabanian
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- Опубликовано: 17 ноя 2015
- Porque eu me imaginava mais forte. Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil. É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria e não o que é. É porque ainda não sou eu mesma, e então o castigo é amar um mundo que não é ele.
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seboitinerante
Obrigado
Clarice era de uma inteligência e perspicácia inigualáveis. Um verdadeiro presente para a cultura brasileira.
"Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente..."
❤️❤️❤️
Uau!
Nossa senhora ❤
Clarice era tão sensível que se via pelo avesso o avesso de cada um pode ser insuportável e o avesso de Clarice é como água no deserto uma gota de palavra mata a sede
"Eu que sem ao menos ter me percorrido toda, já decidi amar o meu contrário?!"
Jesus nunca vi na minha vida uma intervenção assim nem um texto assim nem sabia que era possível tal interpretação e tal texto .tô perplexa, espantada, admirada e apaixonada .
Suas palavras definem o que sinto.Certamente esse conto é inimaginável por alguém que não seja Clarice. Essa combinação de palavras é sobrenatural, penetrar nelas (pelo menos em parte delas) é uma benção a qual sou grato.
Eu pensei a mesma coisa, Olha a tamanha sabedoria que essa mulher tinha
É inimaginável como ela se desconecta e vê tudo na maior verdade e nitidez
A melhor intérprete para os textos da Clarice
Simmm
Tbm acho
Aracy interpretou (foi a ) Clarice no teatro. Maravilhosa.
@@alexandrecapelli2445 perfeita
@@sapienciaesutileza Rita Elmor por exemplo, que também fez uma boa interpretação, mas Aracy foi melhor.
Minha nova paixão é ouvir Clarice pela interpretação da Aracy. Tenho vontade de chorar de tão bonito que é.
Eu ia andando pela Avenida Copacabana e olhava distraída edifícios, nesga de mar, pessoas, sem pensar em nada. Ainda não percebera que na verdade não estava distraída, estava era de uma atenção sem esforço, estava sendo uma coisa muito rara: livre. Via tudo, e à toa. Pouco a pouco é que fui percebendo que estava percebendo as coisas. Minha liberdade então se intensificou um pouco mais, sem deixar de ser liberdade. Não era tour de propriétaire, nada daquilo era meu, nem eu queria. Mas parece-me que me sentia satisfeita com o que via.
Tive então um sentimento de que nunca ouvi falar. Por puro carinho, eu me senti a mãe de Deus, que era a Terra, o mundo. Por puro carinho, mesmo, sem nenhuma prepotência ou glória, sem o menor senso de superioridade ou igualdade, eu era por carinho a mãe do que existe. Soube também que se tudo isso “fosse mesmo” o que eu sentia - e não possivelmente um equívoco de sentimento - que Deus sem nenhum orgulho e nenhuma pequenez se deixaria acarinhar, e sem nenhum compromisso comigo. Ser-Lhe-ia aceitável a intimidade com que eu fazia carinho. O sentimento era novo para mim, mas muito certo, e não ocorrera antes apenas porque não tinha podido ser. Sei que se ama ao que é Deus. Com amor grave, amor solene, respeito, medo, e reverência. Mas nunca tinham me falado de carinho maternal por Ele. E assim como meu carinho por um filho não o reduz, até o alarga, assim ser mãe do mundo era o meu amor apenas livre.
E foi quando quase pisei num enorme rato morto. Em menos de um segundo estava eu eriçada pelo terror de viver, em menos de um segundo estilhaçava-me toda em pânico, e controlava como podia o meu mais profundo grito. Quase correndo de medo, cega entre as pessoas, terminei no outro quarteirão encostada a um poste, cerrando violentamente os olhos, que não queriam mais ver. Mas a imagem colava-se às pálpebras: um grande rato ruivo, de cauda enorme, com os pés esmagados, e morto, quieto, ruivo. O meu medo desmesurado de ratos.
Toda trêmula, consegui continuar a viver. Toda perplexa continuei a andar, com a boca infantilizada pela surpresa. Tentei cortar a conexão entre os dois fatos: o que eu sentira minutos antes e o rato. Mas era inútil. Pelo menos a contigüidade ligava-os. Os dois fatos tinham ilogicamente um nexo. Espantava-me que um rato tivesse sido o meu contraponto. E a revolta de súbito me tomou: então não podia eu me entregar desprevenida ao amor? De que estava Deus querendo me lembrar? Não sou pessoa que precise ser lembrada de que dentro de tudo há o sangue. Não só não esqueço o sangue de dentro como eu o admito e o quero, sou demais o sangue para esquecer o sangue, e para mim a palavra espiritual não tem sentido, e nem a palavra terrena tem sentido. Não era preciso ter jogado na minha cara tão nua um rato. Não naquele instante. Bem poderia ter sido levado em conta o pavor que desde pequena me alucina e persegue, os ratos já riram de mim, no passado do mundo os ratos já me devoraram com pressa e raiva. Então era assim?, eu andando pelo mundo sem pedir nada, sem precisar de nada, amando de puro amor inocente, e Deus a me mostrar o seu rato? A grosseria de Deus me feria e insultava-me. Deus era bruto. Andando com o coração fechado, minha decepção era tão inconsolável como só em criança fui decepcionada. Continuei andando, procurava esquecer. Mas só me ocorria a vingança. Mas que vingança poderia eu contra um Deus Todo-Poderoso, contra um Deus que até com um rato esmagado podia me esmagar? Minha vulnerabilidade de criatura só. Na minha vontade de vingança nem ao menos eu podia encará-Lo, pois eu não sabia onde é que Ele mais estava, qual seria a coisa onde Ele mais estava e que eu, olhando com raiva essa coisa, eu O visse? no rato? naquela janela? nas pedras do chão? Em mim é que Ele não estava mais. Em mim é que eu não O via mais.
Então a vingança dos fracos me ocorreu: ah, é assim? pois então não guardarei segredo, e vou contar. Sei que é ignóbil ter entrado na intimidade de Alguém, e depois contar os segredos, mas vou contar - não conte, só por carinho não conte, guarde para você mesma as vergonhas Dele - mas vou contar, sim, vou espalhar isso que me aconteceu, dessa vez não vai ficar por isso mesmo, vou contar o que Ele fez, vou estragar a Sua reputação.
. .mas quem sabe, foi porque o mundo também é rato, e eu tinha pensado que já estava pronta para o rato também. Porque eu me imaginava mais forte. Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil.
É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria - e não o que é. É porque ainda não sou eu mesma, e então o castigo é amar um mundo que não é ele. É também porque eu me ofendo à toa. É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa.
É porque sou muito possessiva e então me foi perguntado com alguma ironia se eu também queria o rato para mim. É porque só poderei ser mãe das coisas quando puder pegar um rato na mão. Sei que nunca poderei pegar num rato sem morrer de minha pior morte. Então, pois, que eu use o magnificat que entoa às cegas sobre o que não se sabe nem vê. E que eu use o formalismo que me afasta. Porque o formalismo não tem ferido a minha simplicidade, e sim o meu orgulho, pois é pelo orgulho de ter nascido que me sinto tão íntima do mundo, mas este mundo que eu ainda extraí de mim de um grito mudo. Porque o rato existe tanto quanto eu, e talvez nem eu nem o rato sejamos para ser vistos por nós mesmos, a distância nos iguala. Talvez eu tenha que aceitar antes de mais nada esta minha natureza que quer a morte de um rato.
Talvez eu me ache delicada demais apenas porque não cometi os meus crimes. Só porque contive os meus crimes, eu me acho de amor inocente. Talvez eu não possa olhar o rato enquanto não olhar sem lividez esta minha alma que é apenas contida. Talvez eu tenha que chamar de “mundo” esse meu modo de ser um pouco de tudo. Como posso amar a grandeza do mundo se não posso amar o tamanho de minha natureza? Enquanto eu imaginar que “Deus” é bom só porque eu sou ruim, não estarei amando a nada: será apenas o meu modo de me acusar. Eu, que sem nem ao menos ter me percorrido toda, já escolhi amar o meu contrário, e ao meu contrário quero chamar de Deus. Eu, que jamais me habituarei a mim, estava querendo que o mundo não me escandalizasse. Porque eu, que de mim só consegui foi me submeter a mim mesma, pois sou tão mais inexorável do que eu, eu estava querendo me compensar de mim mesma com uma terra menos violenta que eu. Porque enquanto eu amar a um Deus só porque não me quero, serei um dado marcado, e o jogo de minha vida maior não se fará. Enquanto eu inventar Deus, Ele não existe.
- Clarice Lispector, no livro “Felicidade clandestina”. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
Valeu, Brother! ❤🎉
"Enquanto eu inventar Deus, Ele não existe..."
Quantos ratos mortos já tive que suportar ao longo da vida! Maravilhosas Araci e Clarice❤️
Eu não tive opção: peguei e acolhi na mão em concha o ratinho dourado, recém-parido, ao lado da mãezinha abatida por algum passante...
"pensar que deus é bom só porque sou ruim" . Que tudo essa Clarice.
Clarice na voz da Aracy, me fez terminar a escuta do poema com lágrimas nos olhos e um assombro na alma!
Igualmente! Eu adoro
Gostaria de ouvir na voz da Marieta Severo
Esse poema, rasga a gente inteira.
Chamar um texto assim de fenomenal deve ser lugar comum.
[...] e é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando, é porque sempre tento chegar pelo meu modo, é porque ainda não sei ceder, é porque no fundo eu quero amar o que eu amaria e não o que é, é porque ainda não sou eu mesma então, o castigo é amar um mundo que não é ele, é também porque me ofendo à toa. É porque as vezes preciso que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa, é porque sou muito possessiva[...] talvez eu tenha que aceitar antes de mais nada esta minha natureza que quer a morte de um rato, talvez eu me ache delicada demais apenas porque ainda não cometi os meus crimes. Só porque contive os meus crimes eu me acho de amor inocente.
Muito eu esta parte!é um tapa na cara!
Quando nos santificamos em cima de erros alheios, criamos o nosso próprio Deus, e deixamos de lado a nossa natureza. Em busca de redimir a culpa que nos flagela durante toda uma vida, nos igualamos aos ratos. Na vdd, nós somos os ratos, caso isso não seja reconhecido dentro do nosso ventre. Clarice, eu te amo! Eu te amo de vdd. Isso sim é uma verdadeira oração de David
"Sou demais o sangue para esquecer o sangue". Intensa.
O olhar de Clarice Lispector me apequena como homem e me engrandece como menino...
A riqueza do conteúdo tão bem narrado contagia e provoca os comentários tão ☀️ de nos pobres mortais..⭐
*Clarice é qualquer coisa que o subconsciente aponta como a maior lógica...as palavras colocadas com o propósito de te tirar do"mundinho" e te fazer enxergar a vida sob outro prisma.*
"Só porque contive meus crimes eu me acho de amor inocente " porque vontade não nos falta em algum momento da vida comete-lo
❤🔥
nada me toca e me escava tão profundamente quanto esse poema
enquanto eu inventar Deus Ele não existe.
maravilhoso poema
Texto inteiro
Eu ia andando pela Avenida Copacabana e olhava distraída edifícios, nesga de mar, pessoas, sem pensar em nada. Ainda não percebera que na verdade não estava distraída, estava era de uma atenção sem esforço, estava sendo uma coisa muito rara: livre. Via tudo, e à toa. Pouco a pouco é que fui percebendo que estava percebendo as coisas. Minha liberdade então se intensificou um pouco mais, sem deixar de ser liberdade. Não era tour de propriétaire, nada daquilo era meu, nem eu queria. Mas parece-me que me sentia satisfeita com o que via.
Tive então um sentimento de que nunca ouvi falar. Por puro carinho, eu me senti a mãe de Deus, que era a Terra, o mundo. Por puro carinho, mesmo, sem nenhuma prepotência ou glória, sem o menor senso de superioridade ou igualdade, eu era por carinho a mãe do que existe. Soube também que se tudo isso “fosse mesmo” o que eu sentia - e não possivelmente um equívoco de sentimento - que Deus sem nenhum orgulho e nenhuma pequenez se deixaria acarinhar, e sem nenhum compromisso comigo. Ser-Lhe-ia aceitável a intimidade com que eu fazia carinho. O sentimento era novo para mim, mas muito certo, e não ocorrera antes apenas porque não tinha podido ser. Sei que se ama ao que é Deus. Com amor grave, amor solene, respeito, medo, e reverência. Mas nunca tinham me falado de carinho maternal por Ele. E assim como meu carinho por um filho não o reduz, até o alarga, assim ser mãe do mundo era o meu amor apenas livre.
E foi quando quase pisei num enorme rato morto. Em menos de um segundo estava eu eriçada pelo terror de viver, em menos de um segundo estilhaçava-me toda em pânico, e controlava como podia o meu mais profundo grito. Quase correndo de medo, cega entre as pessoas, terminei no outro quarteirão encostada a um poste, cerrando violentamente os olhos, que não queriam mais ver. Mas a imagem colava-se às pálpebras: um grande rato ruivo, de cauda enorme, com os pés esmagados, e morto, quieto, ruivo. O meu medo desmesurado de ratos.
Toda trêmula, consegui continuar a viver. Toda perplexa continuei a andar, com a boca infantilizada pela surpresa. Tentei cortar a conexão entre os dois fatos: o que eu sentira minutos antes e o rato. Mas era inútil. Pelo menos a contigüidade ligava-os. Os dois fatos tinham ilogicamente um nexo. Espantava-me que um rato tivesse sido o meu contraponto. E a revolta de súbito me tomou: então não podia eu me entregar desprevenida ao amor? De que estava Deus querendo me lembrar? Não sou pessoa que precise ser lembrada de que dentro de tudo há o sangue. Não só não esqueço o sangue de dentro como eu o admito e o quero, sou demais o sangue para esquecer o sangue, e para mim a palavra espiritual não tem sentido, e nem a palavra terrena tem sentido. Não era preciso ter jogado na minha cara tão nua um rato. Não naquele instante. Bem poderia ter sido levado em conta o pavor que desde pequena me alucina e persegue, os ratos já riram de mim, no passado do mundo os ratos já me devoraram com pressa e raiva. Então era assim?, eu andando pelo mundo sem pedir nada, sem precisar de nada, amando de puro amor inocente, e Deus a me mostrar o seu rato? A grosseria de Deus me feria e insultava-me. Deus era bruto. Andando com o coração fechado, minha decepção era tão inconsolável como só em criança fui decepcionada. Continuei andando, procurava esquecer. Mas só me ocorria a vingança. Mas que vingança poderia eu contra um Deus Todo-Poderoso, contra um Deus que até com um rato esmagado podia me esmagar? Minha vulnerabilidade de criatura só. Na minha vontade de vingança nem ao menos eu podia encará-Lo, pois eu não sabia onde é que Ele mais estava, qual seria a coisa onde Ele mais estava e que eu, olhando com raiva essa coisa, eu O visse? no rato? naquela janela? nas pedras do chão? Em mim é que Ele não estava mais. Em mim é que eu não O via mais.
Então a vingança dos fracos me ocorreu: ah, é assim? pois então não guardarei segredo, e vou contar. Sei que é ignóbil ter entrado na intimidade de Alguém, e depois contar os segredos, mas vou contar - não conte, só por carinho não conte, guarde para você mesma as vergonhas Dele - mas vou contar, sim, vou espalhar isso que me aconteceu, dessa vez não vai ficar por isso mesmo, vou contar o que Ele fez, vou estragar a Sua reputação.
. .mas quem sabe, foi porque o mundo também é rato, e eu tinha pensado que já estava pronta para o rato também. Porque eu me imaginava mais forte. Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil.
É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria - e não o que é. É porque ainda não sou eu mesma, e então o castigo é amar um mundo que não é ele. É também porque eu me ofendo à toa. É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa.
É porque sou muito possessiva e então me foi perguntado com alguma ironia se eu também queria o rato para mim. É porque só poderei ser mãe das coisas quando puder pegar um rato na mão. Sei que nunca poderei pegar num rato sem morrer de minha pior morte. Então, pois, que eu use o magnificat que entoa às cegas sobre o que não se sabe nem vê. E que eu use o formalismo que me afasta. Porque o formalismo não tem ferido a minha simplicidade, e sim o meu orgulho, pois é pelo orgulho de ter nascido que me sinto tão íntima do mundo, mas este mundo que eu ainda extraí de mim de um grito mudo. Porque o rato existe tanto quanto eu, e talvez nem eu nem o rato sejamos para ser vistos por nós mesmos, a distância nos iguala. Talvez eu tenha que aceitar antes de mais nada esta minha natureza que quer a morte de um rato.
Talvez eu me ache delicada demais apenas porque não cometi os meus crimes. Só porque contive os meus crimes, eu me acho de amor inocente. Talvez eu não possa olhar o rato enquanto não olhar sem lividez esta minha alma que é apenas contida. Talvez eu tenha que chamar de “mundo” esse meu modo de ser um pouco de tudo. Como posso amar a grandeza do mundo se não posso amar o tamanho de minha natureza? Enquanto eu imaginar que “Deus” é bom só porque eu sou ruim, não estarei amando a nada: será apenas o meu modo de me acusar. Eu, que sem nem ao menos ter me percorrido toda, já escolhi amar o meu contrário, e ao meu contrário quero chamar de Deus. Eu, que jamais me habituarei a mim, estava querendo que o mundo não me escandalizasse. Porque eu, que de mim só consegui foi me submeter a mim mesma, pois sou tão mais inexorável do que eu, eu estava querendo me compensar de mim mesma com uma terra menos violenta que eu. Porque enquanto eu amar a um Deus só porque não me quero, serei um dado marcado, e o jogo de minha vida maior não se fará. Enquanto eu inventar Deus, Ele não existe.
- Clarice Lispector, no livro “Felicidade clandestina”. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
Nunca canso desse texto ! É tão lindo que dói
Que maravilha !!! Estou me deliciando com essa grande atriz interpretando Clarice Lispector
Só consigo ouvir clarisse na voz de Araci. Fiquei encantada desde a primeira vez que ouvi um audiobook nessa linda voz.
Escuto esse poema há vários dias e a sensação quando ele acaba é a mesma: alívio e compreensão.
"Talvez eu me ache delicada demais, apenas pq ñ cometi os meus crimes" ❤
Que obra, mas oq esperar de Clarice? Timida, séria, discreta, incrível ... poucos adjetivos pra esse grande ser humano atemporal.
Q quarentena amigxs!!!!! Ouvindo poesias (e q interpretação dona Aracy!!) Revendo entrevistas maravilhosas de grandes personalidades (arquivos da TV cultura, graças a Deus rsrs)... e sigamos com o coração aquecido!!!!
E difícil ancorar 1 navio no espaço A vida é para os fortes GR Santa Clara as 3 tarde O que e que existe por trás dos olhos das meninas sérias Angústia e fala entupida ACC Bjos Bom mesmo e dar a alma como lavada A felicidade sempre está onde nos a pomos e nunca a pomos onde nos estamos IF Rudyard Joplin ler todo Desenvolver a tolerância M Dietrich corrigindo Kiplin A nau dos insensatos Katerine Não perguntei por quem os sinos dobram eles dobram por ti Ernest Hemingway F Pessoa Arre estou farto de semi deuses Sentir Sinta quem lê Livro Desassossego 1 e 2 E que somos apenas po e ão po voltaremos difícil lidar com a impermanência Frases mas somos apenas humanos e temos q reagir como se fossemos feito de 1 liga de inox titânio etc S Freud A arte de perder E Bishop perca 1 pouco há cada dia Ão tempo que passa WSM e tantas palavras mas A dor a vida é igual para todo mundo Arre estou farto de semi deuses F P Lacan A imunidade emocional embora sejamos obra de Deus somos falhos sujeitos a sentimentos nem sempre tão nobres assim FP Arre estou farto de semi deuses onde e que há gente no mundo B H Todo mundo precisa de 1 pouco de calor e 1 pouco de comida Tantas fiz Tantas fiz ACC Mário Quintana Eles passarão eu passarinho Por que será q nao há gente no mundo estou farto de semi deuses No final tudo acaba bem se não está no fim e pq ainda não acabou Tatiana S Dias tu és po é ão po voltaras L Eclesiastes tudo é vaidade Apenas 2 pouco cheinho de tempo e Tu és po é ão po voltaras ser humano e muito complexo e gente e pra brilhar não pra morrer de fome C V C B H a novidade q tem no brejo da Cruz e acriançada se alimentar de luz Que eram crianças eq comiam luz
Meu reino por 1 míseros frango acreditar doce essa pegadinha de escrever e mail senha telefone não mais Angry Fome viver C D S S D B Imperdível vc não vive sem mim não
NÃO Fome vc jazz se alimentou
São textos assim que nos fazem ver o quão insignificante nós somos... Obrigada Clarice ❤️
Como amo essa poesia, essa interpretação.
Brilhante.
Clarice sempre usando o inisitado pra falar do mais profundo.
Bela interpretação de Aracy.
Clarice e Aracy: ambas perfeitas ...tocam a alma ...
Nossa, que espetáculo. Vou ficar arrepiado por uma semana! Êita quanta gente boa neste Brasil!
"Enquanto eu inventar Deus, Ele não existe"
Perdemos duas grandes almas sensíveis ! Que interpretação 😭
Aracy nao morreu.
Sou demais o sangue para esquecer o sangue!!
"Enquanto eu inventar Deus, ele não existe"...que frase forte, meu Deus !!
Clarice Lispector em mais um de seus mergulhos profundos no nosso egoísmo perdido de nós mesmos.
Eu a primeira vez que ouvi chorei muito;chorei como um bebê e senti logo; como se me chacoalhassem,um misto de sentimentos;que só este poema causa!
Maravilha a sequência das palavras! O quanto somos destraidos, alienados sem perceber este lindo detalhe da vida! Vida todos os detalhes e não deixar passar nada despercebido! Há! Clarice!
Dizer o que? Nada, só sentir as entranhas da minha alma serem reviradas pela literatura dessa mulher incrível e a leitura precisa, grande mérito, da Aracy.
Aracy maravilhosa, Clarice genial ♥️
Nossa, que coisa mais linda, mais linda. Aracy, que dama maravilhosa.
Essa mulher era Simplimente genial grandiosa e muito simples nas suas lindas poesias
Excelente atuação na interpretação dessa obra prima obrigada escritora e a atriz gratidão.
Aracy.... Você é espetacular!
Quanta Clarice dentro de Você!
Sou Abençoada. Completamente!
"OS QUE MISTURAM O AMOR COM A VIOLÊNCIA, NUNCA TERÃO O VERDADEIRO AMOR."Muinto parece Madalena,parecia que era amada,mas era só desejada,quando disse não, os que a desejavam só tinham pedras nas mãos,e não rosas.
Por carinho a Deus, incrível, nós pedimos carinho a Deus, jamais o acarinhamos.Embora por coisas que não entendemos, nos irritamos.E no fim ela dá ma fechada espetacular!
Clarice é claridade e poesia em todo os lugares de nossos lugares tão comuns, tão por nós desejados e como todo desejo só desejado e depois outros desejos: o maior é o amor clariciado.
Duas deusas. Uma, da literatura; a outra, da interpretação.
Magnífico 🤌🤌🤌
“É somando as incompressões que se ama”
Divas maravilhosas!
Cada um agarrou com unhas e dentes a sua arte para nosso deleite...
Sem ar com essa interpretação! Duas divinas! Amo!
Caramba! Que potencial para a reflexão!!! Maravilhoso!
Deus não é um problema filosofico : Deus não existe ! Quem existe somos nós criados. Deus É !!
Espetacular! Clarice e Balabanian.
ESSA MULHER É EXTRAORDINARIA..EU AMO ..❤
Fascinante 👏👏👏👏
Eu não sabia que Clarice é tão apaixonante. Vou começar a ler livros dela agora.
Belíssima interpretação da Aracy Balabanian!
que narradora, meus amigos!!!!!!! muito obrigada por tornar isso acessivel!!
Adorei vc é o máximo,ótima interprete👏👏👏👏
O melhor conto da Clarice!
Bravo 👏👏👏👏
Eu simplesmente amoooo
Maravilhosas!!! Chorei horrores.
Se eu pudesse falar com ela pediria que narrasse todos os clássicos da literatura brasileira. Ahhh que festa eu faria😄😄!
R.I.P Clarice & Aracy! 🙏🏽🙏🏽🙏🏽😔😔😔💔💔💔
"... Enquanto eu inventar Deus ele não existe."
Lispector, que sensibilidade de escrita! Na voz interpretativa de Aracy Balabanian, que engrandece o poder da escrita!
Que ambas descansem em Paz! 🙏🇵🇹
Aliás as duas por que a aracy é maravilhosa voz linda e cheia de sentimentos
a clarice consegue descrever e estruturar o que eu sinto através de suas palavras, eu admiro tanto ela.
Duas mulheres fantásticas. 👏
Brilhante interpretação Aracy !👏👏👏👏👏
Sem dúvida a melhor intérprete de Clarice que já ouvi, teve uma época que escutava esse vídeo todos os dias. Acabei cruzando com ele agora por acaso e fiquei chocada: eu nunca tinha reparado que a Aracy tá segurando um paninho cobrindo a mão esquerda?!!! Isso é algo?!!!
Independente das palavras ou liame que utilize, Clarice destaca-se com elas, pois, ora embrenha-se em nossa psiquê, traslada ali como se estivesse na Avenida Copacabana e consegue fazer que, simultaneamente, optemos ficar em nosso status quo, mas também nos impulsiona ao horizonte; ora simplesmente derruba suas muralhas volúveis e expõe com esplendor seus próprios temores, desmazelos e virtudes, colocando-os sob os holofotes.
Verdade me vi nesse texto. Vislumbra nossa psique.
Maravilha !Está interpretação é emocionantes! Sou eu!
Parabéns Aracy Balabanian!!!!!!!!
Obrigada, maravilhosa por trazer Clarice com sua linda voz.obrigada, saúde
Eu fazer um áudio com essa poesia
Gente eu amo Clarice
Amei na voz da Aracy
Sensacional! Grande Araci! Bravo!
Meu deus, como é lindoo!!!!!
Caramba..a angústia de Clarice derramada na voz potente de Araci...lindo demais!
Em mim é ele não estava... EM MIM é que eu não o via mais!
Socorro... Que maravilhosa
Grande Aracy !
Muito bom ouvir essa excelente atriz declamando a eterna escritora Clarice Lispector !
Um dos melhores contos desse livro ♥️
não conhecia este texto, para tudo! Fiquei extasiada. Como esta interpretação eu jamais presenciei. Emocionante, uma capacidade inacreditável de entender o texto e transmitir sua essência, seus escondidos. Já ouvi um monte de vezes, de perder o fôlego. Que maravilha, isso tudo, ao alcance de um clique. Excelentes escolhas e maravilhosas interpretações.
Clarice Lispector é a escritora mais intensa da Língua Portuguesa. Fantástica!
Enquanto eu inventar Deus, Ele não existe 😮 Vdd. Queremos um Deus que faça nossas vontades, ou seja, se Ele não realizar, e eu ficar com raiva dEle, eu nunca o amei de verdade. 👏🏻👏🏻
Enquanto eu inventar Deus, Ele não existe.
Belo texto e interpretação de Araci...ahh se não fosse a ARTE,aonde iriamos parar?!!Muito obrigada!
Amo Clarice a poesia dela é plena forte e principalmente na voz dessa eterna atriz Aracy Viva Aracy
As incríveis Clarice e Aracy balabanian. PARABENS!!!!!!!!
Que texto incrível!!!
Clarice era mesmo alguém muito especial.👏👏👏👏
Clarice panteísta, ensinando a amar o real como ele é. Nem um pouco niilista, sabe que segurar o rato morto na mão implica amar um real mais real. Que felicidade eu tive ao ler esse conto!
Lindo! E profundo!