Primeiro, gostaria de dizer como gostei do seu vídeo, primeiro que vejo do canal. É raro ver alguém falando de Thomas Mann no RUclips Brasil e seu vídeo tem pontos muito interessantes. Morte em Veneza é meu livro favorito, então obrigado por isso. Agora vamos ao texto. Por mais que você tenha feito uma boa análise, eu discordo de alguns pontos dela e, como apaixonado pelo livro, gostaria de compartilhar algumas críticas que possam contribuir pra uma discussão. Pra entender Morte em Veneza, acho que é necessário antes entender o contexto da escrita da obra dentro da vida de Thomas Mann. A novela foi escrita em 1912, quando Mann tinha 37 anos. É claro nesse momento da obra do escritor a influência do romantismo alemão - Wagner e Goethe - e, principalmente, de Nietzsche. Ao meu ver, não devemos entender Morte em Veneza fora do escopo dessas influências. O pano de fundo clássico, com a referência ao diálogo platônico como você mencionou é tantas outras, é um pano de fundo, que constitui a base cognitiva do personagem principal - Aschenbach. O cerne do livro é justamente a crítica Nietzcheana ao classicismo platônico, encarnado ironicamente no personagem do escritor de 50 anos. Desenvolverei esse ponto a seguir. Uma das características principais da novela é a dicotomia, há muitas delas no livro. Uma dessas dicotomias se refere exatamente ao tema principal do livro: a pedofilia. A pedofilia em Mann, ou melhor, o homoerotismo (não se pode esquecer que Mann era homossexual), tem uma interpretação dúbia. Se ela é, por um lado, representada platonicamente através das digressões do protagonista, que enxerga em Tadzio a encarnação da beleza, há também o caráter naturalista da pedofilia - do desejo sexual expresso, que ganha mais força no final do livro. A outra dicotomia essencial é a clássica dicotomia que Nietzche desenvolve em A Origem da Tragédia, o apolinio e o dionisíaco. Mann desenvolve uma discussão dessas duas esferas que convivem no artista, e do eterno conflito que delas se provém. Bom, diante dessas referências iniciais, vamos ao seu vídeo. Pelo o que eu entendi, a sua interpretação parte da ideia de que Morte em Veneza é uma especie de conto moral, uma história que expõe os riscos do erotismo, do desejo e do dionisíaco e, portanto, uma história que adverte para a importância da virtude do artista - do seu auto controle, da sua disciplina, tão defendidos por Aschenbach no início do livro. Bom; é isso, mas também não é. Na minha visão, o quando se considera a crítica de Nietzche a Sócrates isso ganha muito sentido, não se pode interpretar Aschenbach como uma figura realmente séria. Ele é um personagem irônico, e é preciso entender isso. Sim, trata-se de uma tragédia, mas Mann também se utiliza da comédia para demonstrar em Aschenbach a falência e a hipocrisia desses valores clássicos da moralidade, do papel do artista como intelectual público de Estado, da cultura como subserviente a uma determinada ideia de civilização. Mann, em 1912, estava em sua fase mais relativista. Aschenbach é uma figura patética, do início ao fim. De certa forma, o livro também discorre sobre os perigos do erotismo, mas também discorre, e isso, creio eu, complementa sua análise, dos perigos da ordem e da idolatria da forma como excessos de um apolinismo frágil e auto destrutivo.
Visconti dá ao personagem o nome Gustav, em alusão ao próprio Mahler. Esta alusão está igualmente presente em outros personagens dos filmes de Visconti.
Olá Omar. Vc poderia fazer um vídeo falando sobre o q acha dos polímatas? Se acha q hj ainda é possível esta realidade. Já leu o livro O Polímata, de Peter Burke? Obrigada
Infelizmente já vi até um padre que gosto dizer que, apesar de não ser pecado, um católico não deve assistir a filmes que não tratem sobre Deus e a Igreja. Sobre esse negócio de criar escândalo com a presença de imoralidade, fico imaginando o que o padre acharia dessa obra, sendo ele tão rígido com aquilo que se deve evitar...
Um dia ouvi um padre dizer: catolico tem que ter amizades católicas. Claro que católico fala sobre outros assuntos que não são Deus e a Igreja.. creio que deu p entender.. e o padre está certo..
Não é errado mais não é saudáveis ver esses tipos de flime. Mas depende de cada um por os assuntos sobre a filosofia da Beleza somente pela Beleza é importante.
Este é um dos poucos canais conservadores que eu assisto, pois consegue se posicionar e ao mesmo tempo reconhecer o outro.
Para mim, foi incrível esse vídeo, muito obrigada, ass.Mariza
Gostei muito da análise. Faz também do livro e do filme o Leopardo também do Visconti.
👏👏👏
Realmente, às vezes é necessário dissecar certos caminhos...
Primeiro, gostaria de dizer como gostei do seu vídeo, primeiro que vejo do canal. É raro ver alguém falando de Thomas Mann no RUclips Brasil e seu vídeo tem pontos muito interessantes. Morte em Veneza é meu livro favorito, então obrigado por isso.
Agora vamos ao texto. Por mais que você tenha feito uma boa análise, eu discordo de alguns pontos dela e, como apaixonado pelo livro, gostaria de compartilhar algumas críticas que possam contribuir pra uma discussão.
Pra entender Morte em Veneza, acho que é necessário antes entender o contexto da escrita da obra dentro da vida de Thomas Mann. A novela foi escrita em 1912, quando Mann tinha 37 anos. É claro nesse momento da obra do escritor a influência do romantismo alemão - Wagner e Goethe - e, principalmente, de Nietzsche. Ao meu ver, não devemos entender Morte em Veneza fora do escopo dessas influências. O pano de fundo clássico, com a referência ao diálogo platônico como você mencionou é tantas outras, é um pano de fundo, que constitui a base cognitiva do personagem principal - Aschenbach. O cerne do livro é justamente a crítica Nietzcheana ao classicismo platônico, encarnado ironicamente no personagem do escritor de 50 anos. Desenvolverei esse ponto a seguir.
Uma das características principais da novela é a dicotomia, há muitas delas no livro. Uma dessas dicotomias se refere exatamente ao tema principal do livro: a pedofilia. A pedofilia em Mann, ou melhor, o homoerotismo (não se pode esquecer que Mann era homossexual), tem uma interpretação dúbia. Se ela é, por um lado, representada platonicamente através das digressões do protagonista, que enxerga em Tadzio a encarnação da beleza, há também o caráter naturalista da pedofilia - do desejo sexual expresso, que ganha mais força no final do livro.
A outra dicotomia essencial é a clássica dicotomia que Nietzche desenvolve em A Origem da Tragédia, o apolinio e o dionisíaco. Mann desenvolve uma discussão dessas duas esferas que convivem no artista, e do eterno conflito que delas se provém.
Bom, diante dessas referências iniciais, vamos ao seu vídeo. Pelo o que eu entendi, a sua interpretação parte da ideia de que Morte em Veneza é uma especie de conto moral, uma história que expõe os riscos do erotismo, do desejo e do dionisíaco e, portanto, uma história que adverte para a importância da virtude do artista - do seu auto controle, da sua disciplina, tão defendidos por Aschenbach no início do livro.
Bom; é isso, mas também não é.
Na minha visão, o quando se considera a crítica de Nietzche a Sócrates isso ganha muito sentido, não se pode interpretar Aschenbach como uma figura realmente séria. Ele é um personagem irônico, e é preciso entender isso. Sim, trata-se de uma tragédia, mas Mann também se utiliza da comédia para demonstrar em Aschenbach a falência e a hipocrisia desses valores clássicos da moralidade, do papel do artista como intelectual público de Estado, da cultura como subserviente a uma determinada ideia de civilização. Mann, em 1912, estava em sua fase mais relativista. Aschenbach é uma figura patética, do início ao fim. De certa forma, o livro também discorre sobre os perigos do erotismo, mas também discorre, e isso, creio eu, complementa sua análise, dos perigos da ordem e da idolatria da forma como excessos de um apolinismo frágil e auto destrutivo.
Falou tudo, otimo comentário
Verdadeiramente trágico...
Visconti dá ao personagem o nome Gustav, em alusão ao próprio Mahler. Esta alusão está igualmente presente em outros personagens dos filmes de Visconti.
Olá Omar. Vc poderia fazer um vídeo falando sobre o q acha dos polímatas? Se acha q hj ainda é possível esta realidade.
Já leu o livro O Polímata, de Peter Burke?
Obrigada
👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼
Infelizmente já vi até um padre que gosto dizer que, apesar de não ser pecado, um católico não deve assistir a filmes que não tratem sobre Deus e a Igreja. Sobre esse negócio de criar escândalo com a presença de imoralidade, fico imaginando o que o padre acharia dessa obra, sendo ele tão rígido com aquilo que se deve evitar...
Um dia ouvi um padre dizer: catolico tem que ter amizades católicas. Claro que católico fala sobre outros assuntos que não são Deus e a Igreja.. creio que deu p entender.. e o padre está certo..
@@Elizabete422 Ele não falou nesse sentido, isso ele deixou claro.
Graças aos deuses, não livrei das religiões!
Não é errado mais não é saudáveis ver esses tipos de flime. Mas depende de cada um por os assuntos sobre a filosofia da Beleza somente pela Beleza é importante.