Invisibilidade do racismo na psicoterapia

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  • Опубликовано: 31 июл 2024
  • Cinquenta e quatro por cento da população brasileira é negra. A história do Brasil é marcada pela história da escravização da população negra trazida de distintas nações africanos por quase 4 séculos. O Brasil foi o último país nas Américas a abolir a escravidão e o fez sem nenhuma política reparadora ou de inclusão, seja pela distribuição de terra, garantia de acesso à educação, à cidadania, à condição de habitação ou infraestrutura.
    A escravidão foi abolida, mas a mente - sobretudo de pessoas brancas- continuou a ser escravocrata e o racismo se reproduz em todas as esferas, desde as institucionais quanto às práticas invisíveis (mas nem por isso menos dolorosas) do cotidiano. As violências persistem. Vários dados estatísticos comprovam isso claramente, desde a incidência de homicídios contra jovens homens negros (verdadeiro genocídio) quanto o aumento de violência contra a mulher negra (mesmo que a incidência sobre mulheres brancas tenha diminuído), por exemplo. Além disso, o preconceito e a discriminação racial se fazem presentes no cotidiano das pessoas negras e em seu exercício consciente ou não, por parte das pessoas brancas.
    O racismo é uma forma de opressão, de agressão e de violência, a qual afeta direta e indiretamente a saúde mental das pessoas negras. O impacto da discriminação racial na saúde mental como objeto de estudo tem ganhado força mundialmente. Os estudos sugerem uma conexão entre racismo e saúde física/mental que parece continuar ao longo da vida da pessoa que é/foi alvo de racismo. São diversos os sintomas físicos e psíquicos associados, tais como: taquicardia, hipertensão arterial, úlcera gástrica, ansiedade, ataques de pânico, depressão, dificuldade de se abrir, ataques de raiva violenta e aparentemente não provocada, comprometimento da identidade e distorção do autoconceito.
    E também: Transtornos Mentais Comuns (depressão e ansiedade).
    Como demostramos em uma pesquisa que realizamos em um grande hospital psiquiátrico de uma capital brasileira, grande parte dos usuários dos serviços em Saúde Mental são usuariAs, são as mulheres negras. Há uma medicalização da violência estrutural, da qual o racismo estrutural é o elemento mais importante.
    Levando isso em consideração, precisamos nos perguntar como a psicologia, e especificamente a psicologia clínica, tem pensado e tratado o fenômeno do racismo e seus impactos em quem o sofre e sua influência em quem o pratica? Como já apresentamos na live sobre psicologia enquanto tecnologia de gênero (quem não assistiu, assista), é necessário também pensarmos o quanto a psicologia pode se constituir como tecnologia racial, pois ao pensar o sujeito como universal (leia-se branco), a psicologia acaba por reproduzir uma lógica colonialista que invisibiliza o sofrimento e as violências sofridas pelas pessoas negras, e praticado pelas pessoas brancas.
    Como isso tem sido tratado no Brasil? E especificamente: Como a psicologia clínica, através da prática psicoterápica, tem ouvido, acolhido, e feito intervenções em relação a isso?
    Nessa live, é apresentada uma pesquisa realizada com mulheres negras sobre os atendimentos que tiveram com psicólogos clínicos, brancos e negros. As experiências de racismo são apontadas como um resíduo do processo psicoterapêutico, pois ou não são abordadas, ou são deslegitimadas por muitos dos profissionais. Isso fez com que essas mulheres evitassem trazer ou tratar dessas experiências na psicoterapia, construindo uma "parede de vidro".
    Nossa convidada especial foi a psicóloga, mestra em psicologia e doutora em Psicologia Clínica e Cultura, Marizete Gouveia.
    Como tivemos problemas técnicos, a entrevista ocorreu em dois vídeos, os quais foram colados. Agradecimento especial a Daniele Leal e Paulo Leal por terem nos auxiliado nessa tarefa!

Комментарии • 41

  • @leo.849
    @leo.849 3 года назад +45

    Assunto delicado. A maioria não quer nem escutar.
    Minha psicóloga quis me convencer que não frequento determinados lugares por preconceito meu, que se posso pagar não devo me preocupar.
    Mas não adianta poder pagar e ser mal tratada, perceber olhares estranhos. E não é justo só ser bem tratado(a) se puder pagar.
    Evito tratar esse assunto com ela.

  • @eloahc
    @eloahc 3 года назад +36

    Não sei se muitas pessoas estão preparadas para esta conversa, mas que pesquisa maravilhosa! Gostaria de pontuar o quanto é bom assistir pesquisadoras mais experientes, pois a academia é extremamente etarista. Nós, mulheres maduras, temos muito a oferecer à pesquisa. Me senti representada em 3 categorias!!! Aguardo ansiosa esta análise sobre terapeutas brancos.

  • @KellySantos-dm8km
    @KellySantos-dm8km 3 года назад +11

    É uma compreensão em vídeo. Tenho consciência que preciso da terapia, mas uma das coisas que me bloqueiam, talvez não conseguir me expressar pautando questões raciais, o que é muito importante. Me desmotiva o fato de alguém que está para ajudar, não compreender e levar a sério esse assunto tão delicado.

  • @giselydamasceno4065
    @giselydamasceno4065 3 года назад +11

    Gostaria de ter essa leveza para falar. Parabéns 👏

  • @monicabomfim201
    @monicabomfim201 3 года назад +6

    Maravilhosa live! Gratidão Marizete Gouveia e Valéria Zanello! Tive a grata satisfação de ter tido uma psicóloga branca que me fortaleceu para o enfrentamento ao racismo e reconhecia a minhas questões como legítimas,

  • @tauaneoliveira7280
    @tauaneoliveira7280 2 года назад +6

    Live maravilhosa!
    A terapia é extremamente importante, mas é decepcionante os terapeutas não terem consciência de classe. O Brasil é um país extremamente racista e muitas vezes um problema social e racial é interpretado como um problema individual.

    • @jrpage10
      @jrpage10 Год назад

      No Brasil o negro não vive, sobrevive

  • @danielesimaoiris
    @danielesimaoiris 2 года назад +5

    Acabei de encontrar este vídeo em um momento que senti tudo isso que foi abordado no vídeo com a minha terapeuta. Já tentei por diversas vezes abordar tema raciais com ela e me foi levado para o campo universal, que eu me colocava nesta posição e que não tem nada a ver com a cor da pele e sim como eu me sinto. Hoje está claro para mim a falta de atualização no campo da psicologia. Muito bom este conteúdo. Parabéns pela pesquisa.

    • @valeskazanello7636
      @valeskazanello7636  2 года назад +3

      Tem várias/os profissionais que trabalham com a perspectiva racial, querida. Isso faz muito diferença no acolhimento, na escuta e nas intervenções! Racismo adoece e precisamos levar isso muito a sério!!! ;)

  • @nadjaramosdeavilaavila8091
    @nadjaramosdeavilaavila8091 3 года назад +13

    Parabens pelo seu excelente trabalho! Sou negra e fiz terapia com uma psicóloga branca que teve sempre uma escuta empática e compreensiva sobre os terríveis impactos do racismo na minha vida.

  • @carmemparente6191
    @carmemparente6191 3 года назад +9

    Cada vez mais maravilhada com esta professora e participantes das lives!!! Aprendendo, desenvolvendo e libertando!!!

  • @jenifersantos3508
    @jenifersantos3508 Год назад +4

    Sou preta e m vi em algumas falas, principalmente as q aonde o homem nunca "assume" o relacionamento. Já tive homens q ficavam como namorados comigo dentro d casa e na rua nem dar a mão dava....enfim, o q importa é o processo de auto cura q nós podemos fazer e os vídeos da Valeska m ajudam muitoooo nisso. Gratidão 🙏🏾

  • @francimarapereira2002
    @francimarapereira2002 3 года назад +9

    Duas maravilhosas!

    • @legado-civilizacaocultura4950
      @legado-civilizacaocultura4950 3 года назад

      ruclips.net/video/5MsfyScIn9g/видео.html

    • @stefaniapereira6062
      @stefaniapereira6062 3 года назад +2

      @@legado-civilizacaocultura4950
      De acordo com este entrevistado, que é negro, racismo é mimimi. O maior problema da sociedade esta em crianças serem criadas sem pai. Então a "salvação" está em ter a presença de um homem na casa?
      Alguém encaminha os vídeos da professora Valeka para esse homem. 😊

    • @legado-civilizacaocultura4950
      @legado-civilizacaocultura4950 3 года назад

      @@stefaniapereira6062 A primeira coisa que você deve ter em mente é de demolir qualquer espantalho criado na ágora pública. Ninguém nega racismo. Nega-se racismo estrutural, mais uma estupidez identitária marxista/ frankfurtiana aventada para dividir a sociedade. O segundo ponto é que sim, como uma mãe faz falta, pais ausentes geram problemas na educação dos filhos. A grande questão da sociedade atual é o reducionismo infanto-juvenil com que os "adultos" tem tratado temas tão importantes. É deprimente ver tanto beautifil people com sua auto-compaixão atrapalhando o salutar desenvolvimento de homens e mulheres fortes.

  • @Drikissima91
    @Drikissima91 Год назад +2

    Que horrivel. A pessoa fragilizada vem se abrir, buscar uma cura emocional na terapia e acaba sofrendo racismo dos proprios terapeutas. A pessoa com certeza sai mais abalada. Tem que trocar de psicologx.

  • @elianerosa4400
    @elianerosa4400 2 года назад +2

    Conhecimento importantíssimo.

  • @nataliabmg100
    @nataliabmg100 3 года назад +5

    Isso é muito real.. Estou fazendo terapia, busquei por causa de um.fim de relacionamento.. Não cogito falar sobre essas questões com a psi. Tentarei p ver como vai ser.

    • @valeskazanello7636
      @valeskazanello7636  3 года назад +2

      Se ela não der conta ou usar algo fugidio, indique para ela essa live!!!!! 😉

    • @nataliabmg100
      @nataliabmg100 3 года назад +1

      @@valeskazanello7636 sem dúvidas! Estou encantada com seus vídeos.. Me abriu muito os olhos. Obrigada por compartilhar todo seu conhecimento. ❤

    • @valeskazanello7636
      @valeskazanello7636  3 года назад +2

      @@nataliabmg100 vamos juntas, querida! ❤️💪🏼💪🏾⭐️

  • @PatriciaSantos-cn1ms
    @PatriciaSantos-cn1ms Год назад +2

    Me identifiquei mto com essa pesquisa. Algumas poucas vezes q entrei no assunto racismo eu percebi q a terapeuta não entendia absolutamente nada, então eu finalizei o processo e esse assunto eu trato com minhas amizades de militância.

    • @jrpage10
      @jrpage10 Год назад

      Não tem psicólogo na militância?

  • @janaina4360
    @janaina4360 3 года назад +3

    Seus vídeos são bons demais, muito importantes! Parabéns pelo seu trabalho!

  • @analima-modoremoto3966
    @analima-modoremoto3966 3 года назад +2

    Assunto muito necessário!!!

  • @luzienerodrigues199
    @luzienerodrigues199 3 года назад +2

    Excelente live, muito obrigada por nos informar!

  • @sandraxrubia
    @sandraxrubia 2 года назад +1

    Maravilhoso o teu trabalho, Valeska!

  • @isabelfigueiredo4023
    @isabelfigueiredo4023 3 года назад +3

    Pesquisa incrível da Marizete!

  • @andreaaznar
    @andreaaznar 3 года назад +1

    Excelente tema. Obrigada pela pesquisa.

  • @kelyluminesce
    @kelyluminesce 3 года назад +1

    Tema fundamental! Muito obrigada!

  • @porto_madge
    @porto_madge 3 года назад +1

    Parabéns pelo trabalho. Fundamental para a categoria de psicólog@s brasileiros.

  • @dilareis5037
    @dilareis5037 3 года назад +1

    Parabéns pelo trabalho

  • @marcaocampos
    @marcaocampos 3 месяца назад

    Qto mais cota nas universidades, mais profissionais diversos pra atender adequadamente demandas diversas

  • @marcaocampos
    @marcaocampos 3 месяца назад

    E vc, negro que estranhamente é contra as cotas, que alcançou uma posição social confortável, que faz terapia. Ja tinha pensado nesse desdobramento das cotas?