Criminalização da interrupção da gravidez no Brasil

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  • Опубликовано: 26 янв 2021
  • No Brasil, a interrupção legal da gravidez se dá em 3 situações: estupro, risco de vida da mãe e, mais recentemente, anencefalia. Porém, temos assistido, nos últimos anos, a um crescimento do discurso "pro-vida", que dá mais peso ao direito da expectativa de vida de uma das partes do que a realidade vivida da outra, no caso, a mulher. Esse movimento tem colocado em xeque não apenas a possibilidade de expansão dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, como também ameaçado mesmo os direitos já adquiridos, como por exemplo, o acesso ao aborto legal em casos de estupro (garantido desde 1940). Os argumentos utilizados pelos que se dizem "pro-vida" não são recentes, já se faziam presentes há décadas na história de nosso pais, como por exemplo, na própria Assembleia constituinte de 1987. Em geral, a mulher é vista como mulher-mãe, ou seja destaca-se a presença de representações que naturalizam a maternidade nas mulheres e colocam como uma de suas, ou talvez a maior de suas funções, a maternidade. Se a Lei é criada sobre esse pressuposto, acabará servindo como tecnologia de gênero em sua aplicação no judiciário, servindo para punir mulheres que performam fora desse script (seja interrompendo a gestação, seja se comportando como uma mãe “má”, considerada negligente). Essa representação tem raízes profundas e, para entendê-la, precisamos realizar um resgate histórico. A expropriação da função reprodutora das mulheres foi essencial para a consolidação e o avanço do capitalismo, e serviu de base para a classificação binária essencialista entre homens e mulheres, trabalho público e exercício "vocacional" das atividades domésticas, no âmbito privado. Se os homens ficaram com a função produtora, coube às mulheres a função re-produtora; pois gerar e cuidar de pessoas é uma tarefa fundamental (ainda que desvalorizada) para fornecer reserva de mão de obra. O surgimento do capitalismo coincide assim com uma guerra contra as mulheres e a necessidade de controlar a função reprodutiva (Federici, 2018). Portanto, quando se fala de patriarcado, é fundamental destacar que vivemos em um patriarcado CAPITALISTA, no qual o controle da capacidade reprodutora das mulheres é essencial.
    Na primeira parte do vídeo são tratadas essas questões. Posteriormente, é realizada uma entrevista com a profa Madge Porto (UFAC) sobre sua pesquisa acerca dos discursos proferidos na audiência pública relativa à Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 442, realizada em agosto de 2018 e que provocou a discussão sobre a interrupção voluntária da gravidez até a 12ª semana de gestação. Em sua pesquisa foram analisados tanto os discursos favoráveis quanto os contrários à descriminalização do abortamento voluntário, apresentados ao Supremo Tribunal Federal.

Комментарии • 30

  • @mariaestelacera2549
    @mariaestelacera2549 2 года назад +20

    Em todas questões sobre aborto, toda culpa, crítica, abusos, ofensas, depreciação, só afetam a mulher que fez aborto, pergunto, pq não afeta o homem que tbm é o "grávido" (o pai, oq tem 50% de participação, o espermatozóide que se juntou ao óvulo da mulher e daí deu origem a um feto), pq o homem não é cobrado, violentado pela justiça ?????

  • @elianerosa4400
    @elianerosa4400 Год назад +3

    Queria mais lives sobre esse assunto!! Grata por esse!! Ainda é raríssimo encontrar sobre esse tema. Amo seus conteúdos ❣️

  • @onirotopia
    @onirotopia 3 года назад +6

    muito obrigada, professora. a análise científica da questão é um oásis para a saúde. seguimos

  • @danielatrindade8042
    @danielatrindade8042 3 года назад +13

    Faço parte de um grupo no Facebook onde as pessoas pedem para alguém editar a foto delas. Quando é mulher que pede, os caras nos comentários gostam de xingar elas a troco de nada, é vaca, marmita, tudo fazendo montagem nas imagens. Também tinha uma enfermeira acima do peso e já viu né. Então eu lembrei dos seus vídeos, das suas lives... infelizmente o Brasil é muito machista!

    • @regeejean119
      @regeejean119 Год назад +4

      Isso já não é nem machismo, é misoginia. E não denunciam esses comentários?

    • @regeejean119
      @regeejean119 Год назад +3

      São caras que tem muita raiva das mulheres devido eles não conseguirem pegar as bonitas, só que o ódio e a revolta deles se voltam pra todas

    • @_hurryup
      @_hurryup Год назад

      @@regeejean119 nao da para prever muito bem o que o facebook exclui ou não... eu mesma já denunciei postagens que xingavam mulheres de puT@s, v4di@s, depósito etc e o facebook n faz nada! ultimamente minhas denúncias só funcionam quando são publicações com apologia a homicídio ou ameaças explícitas

    • @_hurryup
      @_hurryup Год назад +4

      @@regeejean119 eu acho engraçado isso. Os homens podem se espelhar em músicos famosos, jogadores de futebol e sonhar com carros importados, mansões e as mais belas mulheres. Já as mulheres não podem sequer escolher um homem que as atraiam, que considerem interessantes que logo são atacadas. Já vi homens chamando mulheres de eugenistas... ok... mas se vc ver quase todos eles sonham com loiras de olhos claros, vide o Elliot Rodger. Eles podem fzr escolhas e sonhar, as mulheres, não.

  • @umnaoplanejado
    @umnaoplanejado 3 года назад +8

    Maravilhosa. Você me fortalece a continuar meus estudos nesse assunto tão necessário: mulheres que optaram não ter Filhos.

  • @Drikissima91
    @Drikissima91 Год назад +1

    Argumentos maravilhosos.

  • @flaviasanz8509
    @flaviasanz8509 3 года назад +1

    Adoro os conteúdos desse canal. Retomei esses dias a leitura do seu livro 💜💜💜💜💜

  • @lauraalmeida2293
    @lauraalmeida2293 3 года назад +1

    Tava com saudades das lives 💕

  • @luiza3135
    @luiza3135 Год назад +4

    Por que ninguém traz o papel do homem no aborto? Ok o aborto ser crime. Mas induzir alguém a abortar não deveria ser crime também?

  • @FernandaKn
    @FernandaKn 3 года назад +2

    Que interessante saber que algumas religiosas não se colocaram a favor da criminalização.

  • @user-ux7wx1uq5q
    @user-ux7wx1uq5q 6 месяцев назад

    Maravilhosaaa, obrigada

  • @rodolfoboimarinho6504
    @rodolfoboimarinho6504 3 года назад +19

    Pró vida até nascer. Depois que nasceu (e realmente virou vida) está sujeito ao abandono, aos abusos inclusive religiosos e condenado a uma vida de gado.

  • @flaviasanz8509
    @flaviasanz8509 3 года назад +1

    Essa convidada foi maravilhosa!!!!! 💜💜💜

  • @simonemiranda
    @simonemiranda 3 года назад

    Muito esclarecedor. Gratidão

  • @analarissamarqui6017
    @analarissamarqui6017 3 года назад +1

    Professoras, boa noite. Poderiam disponibilizar o link dos livros citados nesse episódio? Obrigada.

  • @tanildaaraujo7528
    @tanildaaraujo7528 Год назад +1

    Regra tbem é dizer que filho é pra sempre e aborto também para sempre, como se fosse impossivel superar.

  • @RENATASOLE
    @RENATASOLE 3 года назад +12

    Boa tarde,maravilhosas ... Eu fiz um aborto clandestino aos 17 anos. Fui na casa de uma mulher ( acho q ela era enfermeira ) . Ela me colocou numa cama ,enfiou um bico de pato em mim e ,com uma tesoura , rompeu a bolsa. Voltei pra casa colocando pedaços enormes de sangue coagulado ,sentindo muita dor. Meu namorado me levou pra um hospital público. A primeira coisa q perguntaram foi se tinha sido provocado ou natural. Ingenuamente assumi e fui muito maltratada. Minha sogra veio, me transferiu pra um hospital privado e foi feita a curetagem. Foi traumático demais. Tudo foi traumático. E ainda tinha o namorado atormentado pela culpa cristã.

    • @valeskazanello7636
      @valeskazanello7636  3 года назад +10

      Muito triste, querida, e infelizmente ainda atual para muitas mulheres!

    • @porto_madge
      @porto_madge 3 года назад +9

      Obrigada por compartilhar sua história. Quando mulheres conseguem fazer esse tipo de relato como vc fez, mostra a todas nós o quanto essa experiência faz parte da vida das mulheres, mulheres comuns, como qualquer uma de nós e o quanto poderia ser diferente sem pudéssemos ter acesso ao abortamento voluntário de forma segura e legal.

    • @tiagonascimento396
      @tiagonascimento396 Год назад

      Foi maravilhoso, repete.

    • @regeejean119
      @regeejean119 Год назад +5

      @@tiagonascimento396 Que o aborto seja legalizado logo no Brasil, mas se não for e eu souber que alguma mulher está precisando fazer eu arrumo o dinheiro pra ir fazer legalmente no Uruguai

    • @malupalhares6145
      @malupalhares6145 Год назад

      ​@@tiagonascimento396😤😡🤮

  • @mauriciobortoloto
    @mauriciobortoloto 3 года назад

    Muito bom, como sempre!

  • @christianederoodetorres9054
    @christianederoodetorres9054 2 года назад +1

    Admiro muitíssimo seu trabalho e continuarei admirando. Li seu livro com profundo interesse. Sou mulher, médica, mãe de três filhos, um não programado. Não sou religiosa e tenho formação em pesquisa, com doutorado completado em 2020. Isso tudo para dizer um pouco de que lugar eu falo. Assisti essa live por que aprecio as controvérsias, nelas que aprendemos. Entretanto, realmente não me convencem ainda os argumentos contra a criminalização do aborto. Eu poderia enumerar os motivos, mas não é o propósito aqui. Me mantenho na posição de que o feto não pode ser o alvo do não desejo materno, somente entendo o aborto provocado quando do risco iminente da vida materna. A meu ver, toda a energia gasta a favor da criminalização seria melhor empregada de outra forma, no suporte à mulher, desejando ela doar para adoção ou não.

  • @GraziB.A.
    @GraziB.A. 3 года назад +10

    Não é o conto de Haya, né? É a série "The Handmaides Talle", que foi originado no conto de Haya.
    Essa distopia já é realidade. Não temos controle sobre nossos corpos, é o estado machista e capitalista que tem.