A Cena do Ódio (completa e legendada - HD) de Almada Negreiros por Mário Viegas

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  • Опубликовано: 13 сен 2024

Комментарии • 36

  • @antonioleitao8269
    @antonioleitao8269 3 года назад +9

    Almada Negreiro, meu grande pintor, meu grande prosaico, meu grande amigo desde vivo e depois de nos encontrarmos vivos seja onde for!
    Vamos continuar a pintar, a declamar matando miseráveis do crime e dar amor a quem nos ama!
    Até qualquer dia grande revolucionário amigo companheirão!!!
    O Poeta Pintor
    António Leitão

  • @VitorMadeira
    @VitorMadeira 8 лет назад +37

    Os portugueses que sentem dúvidas acerca da sua identidade, deveriam todos ser obrigados a assistir a este genial pedaço de arte.

  • @celiamoura4752
    @celiamoura4752 5 лет назад +13

    Do melhor que já foi feito na nossa Cultura! Dois seres geniais. Obrigada!

  •  10 месяцев назад +1

    Génio + Génio = 2 Génios. José de Almada Negreiros + Mário Viegas. Obrigado pela partilha.

  • @alvarocorreia3763
    @alvarocorreia3763 3 года назад +5

    Mário Viegas Grande Gênio.

  • @joaofreitasmendes9314
    @joaofreitasmendes9314 Год назад +3

    Maravilha!

  • @gracamateus9115
    @gracamateus9115 8 лет назад +6

    Emocionante! Excelente

  • @paulabarros1982
    @paulabarros1982 2 года назад +3

    É mesmo arrebatador. Fantástico! Todos os portugueses deviam ouvir a cena do ódio!

  • @antoniotavares3619
    @antoniotavares3619 2 года назад +1

    Obrigado Almada e Mário Viegas

  • @baeticus1
    @baeticus1 9 лет назад +6

    Brilhante ! Bravo !

  • @paulopereira5422
    @paulopereira5422 2 года назад +1

    Quando se juntam dois génios, dá nisto....obrigado.

  • @Ana74301
    @Ana74301 Год назад +2

    The Best

  • @g.f.5288
    @g.f.5288 3 года назад +5

    Eu sou as sete pragas sobre o Nilo e a alma dos Bórgias a penar!

  • @TheRuibrito
    @TheRuibrito 2 года назад +1

    brilhante!!

  • @NunoCruz-s3c
    @NunoCruz-s3c 9 месяцев назад

    Está quase tudo.. bravo

  • @josemora4771
    @josemora4771 8 лет назад +3

    Muito bom!

  • @MsSimbiose
    @MsSimbiose 11 месяцев назад

    Genial

  • @Oblante
    @Oblante  9 лет назад +34

    Ergo-Me Pederasta apupado d'imbecis,
    Divinizo-Me Meretriz, ex-líbris do Pecado,
    e odeio tudo o que não Me é por Me rirem o Eu!
    Satanizo-Me Tara na Vara de Moisés!
    O castigo das serpentes é-Me riso nos dentes,
    Inferno a arder o Meu Cantar!
    Sou Vermêlho-Niagara dos sexos escancarados nos chicotes
    dos cossácos!
    Sou Pan-Demónio-Trifauce enfermiço de Gula!
    Sou Génio de Zaratrusta em Taças de Maré-Alta!
    Sou Raiva de Medusa e Danação do Sol!
    Ladram-Me a Vida por vivê-La
    e só Me deram Uma!
    Hão-de lati-La por sina!
    Agora quero vivê-La!
    Hei-de Poeta cantá-La em Gala sonora e dina
    Hei-de Glória desanuviá-La!
    Hei-de Guindaste içá-La Esfinge
    da Vala pedestre onde Me querem rir!
    Hei-de trovão-clarim levá-La Luz
    às Almas-Noites do Jardim das Lágrimas!
    Hei-de bombo rufá-La pompa de Pompeia
    nos Funerais de Mim!
    Hei-de Alfange-Mahoma
    cantar Sodoma na Voz de Nero!
    Hei-de ser Fuas sem Virgem do Milagre,
    hei-de ser galope opiado e doido, opiado e doido...
    Hei-d' Átila, hei-de Nero, hei-de Eu,
    cantar Atila, cantar Nero, cantar Eu!
    Sou Narciso do Meu Ódio!
    - O Meu ódio é Lanterna de Diógenes,
    é cegueira de Diógenes,
    é cegueira da Lanterna!
    (O Meu Ódio tem tronos d' Herodes,
    histerismos de Cleópatra, perversões de Catarina!)
    O Meu ódio é Dilúvio Universal sem Arcas de Noé, só
    Dilúvio Universal!
    e mais Universal ainda:
    Sempre a crescer, sempre a subir...
    até apagar o Sol!
    Sou trono de Abandono, mal-fadado,
    nas iras dos Bárbaros meus Avós.
    Oiço ainda da Berlinda d'Eu ser sina
    gemidos vencidos de fracos,
    ruídos famintos de saque,
    ais distantes de Maldição eterna em Voz antiga!
    Sou ruínas rasas, inocentes
    como as asas de rapinas afogadas.
    Sou relíquias de mártires impotentes
    sequestradas em antros do Vício.
    Sou clausura de Santa professa,
    Mãe exilada do Mal, Hóstia d'Angústia no Claustro,
    freira demente e donzela,
    virtude sozinha da cela
    em penitência do sexo!
    Sou rasto espezinhado d'Invasores
    que cruzaram o meu sangue, desvirgando-o.
    Sou a Raiva atávica dos Távoras,
    o sangue bastardo de Nero,
    o ódio do último instante
    do Condenado inocente!
    A podenga do Limbo mordeu raivosa
    as pernas nuas da minh'Alma sem baptismo...
    Ah! que eu sinto, claramente,
    que nasci de uma praga de ciúmes!
    Eu sou as sete pragas sobre o Nilo e a Alma dos Bórgias a
    penar!
    Tu, que te dizes Homem!
    Tu, que te alfaiatas em modas
    e fazes cartazes dos fatos que vestes
    p'ra que se não vejam as nódoas de baixo!
    Tu, qu'inventaste as Ciências e as Filosofias,
    as Políticas, as Artes e as Leis,
    e outros quebra-cabeças de sala
    e outros dramas de grande espectáculo
    Tu, que aperfeiçoas a arte de matar.
    Tu, que descobriste o cabo da Boa-Esperança
    e o Caminho Marítimo da índia
    e as duas Grandes Américas,
    e que levaste a chatice a estas Terras
    e que trouxeste de lá mais chatos p'raqui
    e qu'inda por cima cantaste estes Feitos...
    Tu, qu'inventaste a chatice e o balão,
    e que farto de te chateares no chão
    te foste chatear no ar,
    e qu'inda foste inventar submarinos
    p'ra te chateares também por debaixo d'água,
    Tu, que tens a mania das Invenções e das Descobertas
    e que nunca descobriste que eras bruto,
    e que nunca inventaste a maneira de o não seres
    Tu consegues ser cada vez mais besta
    e a este progresso chamas Civilização!
    Vai vivendo a bestialidade na Noite dos meus olhos,
    vai inchando a tua ambição-toiro
    'té que a barriga te rebente rã.
    Serei Vitória um dia -Hegemonia de Mim!
    e tu nem derrota, nem morto, nem nada.
    O Século-dos-Séculos virá um dia
    e a burguesia será escravatura
    se for capaz de sair de Cavalgadura!
    Hei-de, entretanto, gastar a garganta
    a insultar-te, ó besta!
    Hei-de morder-te a ponta do rabo
    e por-te as mãos no chão, no seu lugar!
    Ahi! Saltimbanco-bando de bandoleiros nefastos!
    Quadrilheiros contrabandistas da Imbecilidade!
    Ahi! Espelho-aleijão do Sentimento,
    macaco-intruja do Alma-realejo!
    Ahi! macrelle da Ignorância!
    Silenceur do Génio-Tempestade!
    Spleen da Indigestão!
    Ahi! meia-tigela, travão das Ascensões!
    Ahi! povo judeu dos Cristos mais que Cristo!
    Ó burguesia! Ó ideal com i pequeno
    Ó ideal ricócó dos Mendes e Possidonios
    Ó cofre d'indigentes
    Cuja personalidade é a moral de todos!
    Ó geral da mediocridade!
    Ó claque ignóbil do Vulgar, protagonista do normal!
    Ó Catitismo das lindezas d'estalo!
    Ahi! lucro do fácil,
    cartilha-cabotina dos limitados, dos restringidos!
    Ai! dique-impecilho do Canal da Luz!
    Ó coito d'impotentes
    a corar ao sol no riacho da Estupidez!
    Ahi! Zero-barómetro da Convicção!
    bitola dos chega, dos basta, dos não quero mais!
    Ahi! Plebeísmo Aristocratizado no preço do panamá!
    erudição de calça de xadrez!
    competência de relógio d'oiro
    e correntes com suores do Brasil,
    e berloques de cornos de búfalo!
    E eu vivo aqui desterrado e Job
    da Vida-gémea d'Eu ser feliz!
    E eu vivo aqui sepultado vivo
    na Verdade de nunca ser Eu!
    Sou apenas o Mendigo de Mim-Próprio,
    órfão da Virgem do meu sentir.
    E como queres que eu faça fortuna
    se Deus, por escárnio, me deu Inteligência,
    e não tenho sequer, irmãs bonitas
    nem uma mãe que se venda para mim?
    (Pesam-me quilos no Meu querer
    as salas de espera de Mim.
    Tu chegas sempre primeiro...
    Eu volto sempre amanhã...
    Agora vou esperar que morras.
    Mas tu és tanto que não morres...
    Vou deixar d'esp'rar que morras
    - Vou deixar d'esp'rar por mim!)
    Ah! que eu sinto, claramente, que nasci
    de uma praga de ciúmes!
    Eu sou as sete pragas sobre o Nilo
    e a alma dos Bórgias a penar!
    E tu, também, vieille-roche, castelo medieval
    fechado por dentro das tuas ruínas!
    Fiel epitáfio das crónicas aduladoras!
    E tu também ó sangue azul antigo
    que já nasceste co'a biografia feita!
    Ó pajem loiro das cortesias-avozinhas!
    Ó pergaminho amarelo-múmia
    das grandes galas brancas das paradas
    e das Vitórias dos torneios-lotarias
    com donzelas-glórias!
    Ó resto de cetros, fumo de cinzas!
    Ó lavas frias do Vulcão pirotécnico
    com chuvas d'oiro e cabeleiras prateadas!
    Ó estilhacos heráldicos de Vitrais
    despegados lentamente sobre o tanque do silêncio!
    Ó Cedro secular
    debruçado no muro da Quinta sobre a estrada
    a estorvar o caminho da Mala-posta!
    E vós também, ó Gentes do Pensamento,
    ó Personalidades, ó Homens!
    Artistas de todas as partes, cristãos sem pátria,
    Cristos vencidos por serem só Um!
    E vós, ó Génios da Expressão,
    e vós também, ó Génios sem Voz!
    ó além-infinito sem regressos, sem nostalgias,
    Espectadores gratuitos do Drama-Imenso de Vós-Mesmos!
    Profetas clandestinos
    do Naufrágio de Vossos Destinos!
    E vós também, técnicos-irmãos-gémeos
    do meu sentir internacional!
    Ó escravos da Independência!
    Vós que não tendes prémios
    por se ter passado a vez de os ganhardes,
    e famintos e covardes
    entreteis a fome em revoltas do Mau-Génio
    no boémia da bomba e da pólvora!
    E tu também, ó Beleza Canalha
    Co'a sensibilidade manchada de vinho!
    Ó lírio bravo da Floresta-Ardida
    à meia-porta da tua Miséria!
    Ó Fado da Má-Sina
    com ilustrações a giz
    e letra da Maldição!
    Ó fera vadia das vielas açaimada na Lei!
    Ó xale e lenço a resguardar a tísica!
    Ó franzinas do fanico
    co'a sífilis ao colo por essas esquinas!
    Ó nu d'aluguer
    na meia-luz dos cortinados corridos!
    Ó oratório da meretriz a mendigar gorjetas
    p'rá sua Senhora da Boa-Sorte!
    Ó gentes tatuadas do calão!
    Ó carro vendado da Penitenciária!
    E tu também, ó Humilde, ó Simples!
    enjaulados na vossa ignorância!
    Ó pé descalço a calejar o cérebro!
    Ó músculos da saúde de ter fechada a casa de pensar!
    Ó alguidar de açorda fria
    na ceia-fadiga da dor-candeia!
    Ó esteiras duras pra dormir e fazer filhos!
    Ó carretas da Voz do Operário
    com gente de preto a pé e filarmónica atrás!
    Ó campas rasas, engrinaldadas,
    com chapões de ferro e balões de vidro!

    • @Oblante
      @Oblante  9 лет назад +4

      Ó bota rota de mendigo abandonada no pó do caminho!
      Ó metamorfose-selvagem das feras da cidade!
      Ó geração de bons ladrões crucificados na Estupidez!
      Ó sanfona-saloia do fandango dos campinos!
      Ó pampilho das Lezírias inundadas de Cidade!
      ó trouxa d'aba larga da minha lavadeira,
      Ó rodopio azul da saia azul de Loures!
      E vós varinas que sabeis a sal
      E que trazeis o Mar no vosso avental,
      As Naus da Fenícia ainda não voltaram?!
      E vós também, ó moças da Província
      que trazeis o verde dos campos
      no vermelho das faces pintadas!
      E tu também, ó mau gosto
      co'a saia de baixo a ver-se
      e a falta d'educação!
      Ó oiro de pechisbeque (esperteza dos ciganos)
      a luzir no vermelho verdadeiro da blusa de chita!
      Ó tédio do domingo com botas novas
      e música n'Avenida!
      Ó santa Virgindade
      a garantir a falta de lindeza!
      Ó bilhete postal ilustrado
      com aparições de beijos ao lado!
      E vós ó gentes que tendes patrões,
      autómatos do dono a funcionar barato!
      Ó criadas novas chegadas de fora p'ra todo o serviço!
      Ó costureiras mirradas,
      emaranhadas na vossa dor!
      Ó reles caixeiros, pederastas do balcão,
      a quem o patrão exige modos lisonjeiros
      e maneiras agradáveis pròs fregueses!
      Ó Arsenal fadista de ganga azul e coco socialista!
      Ó saídas pôr-do-sol das Fábricas d'Agonia!
      E vós também, ó toda a gente, que todos tendes patrões!
      E vós também, nojentos da Política
      que explorais eleitos o Patriotismo!
      Macrots da Pátria que vos pariu ingénuos
      e vos amortalha infames!
      E vós também, pindéricos jornalistas
      que fazeis cócegas e outras coisas
      à opinião pública!
      E tu também rebento fardado:
      Futrica-te espantalho engalonado,
      apoia-te das patas de barro,
      Larga a espada de matar
      e põe o penacho no rabo!
      Ralha-te mercenário, asceta da Crueldade!
      Espuma-te no chumbo da tua Valentia!
      Agoniza-te Rilhafoles armado!
      Desuniversidadiza-te da doutorança da chacina,
      da ciência da matança!
      Groom fardado da Negra,
      pária da Velha!
      Encaveira-te nas esporas luzidias de seres fera!
      Despe-te da farda,
      desenfia-te da Impostura, e põe-te nu, ao léu
      que ficas desempregado!
      Acouraça-te de senso,
      vomita de vez o morticínio,
      enche o pote de raciocínio,
      aprende a ler corações,
      que há muito mais a fazer
      do que fazer revoluções!
      Ruína com tuas próprias peças-colossos
      as tuas próprias peças colossais,
      que de 42 a 1 é meio-caminho andado!
      Rebusca no seres selvagem
      no teu cofre do extermínio
      o teu calibre máximo!
      Põe de parte a guilhotina,
      dá férias ao garrote!
      Não dês língua aos teus canhões,
      nem ecos às pistolas,
      nem vozes às espingardas!
      - São coisas fora de moda!
      Põe-te a fazer a bomba
      que seja uma bomba tamanha
      que tenha dez raios da Terra.
      Põe-lhe dentro a Europa inteira,
      os dois pólos e as Américas,
      a Palestina, a Grécia, o mapa
      e, por favor, Portugal!
      Acaba de vez com este planeta,
      faze-te Deus do Mundo em dar-lhe fim!
      (Há tanta coisa que fazer, Meu Deus!
      e esta gente distraída em guerras!)
      Eu creio na transmigração das almas
      por isto de Eu viver em Portugal.
      Mas eu não me lembro o mal que fiz
      durante o Meu avatar de burguês.
      Oh! Se eu soubesse que o Inferno
      não era como os padres mo diziam:
      uma fornalha de nunca se morrer...
      mas sim, um Jardim da Europa
      à beira-mar plantado...
      Eu teria tido certamente mais juízo,
      teria sido até o mártir São Sebastião!
      E inda há quem faça propaganda disto:
      a pátria onde Camões morreu de fome
      e onde todos enchem a barriga de Camões!
      Se ao menos isto tudo se passasse
      numa Terra de mulheres bonitas!
      Mas as mulheres portuguesas
      são a minha impotência!
      E tu, meu rotundo e pançudo-sanguessuga,
      meu desacreditado burguês apinocado
      da rua dos bacalhoeiros do meu ódio
      co'a Felicidade em casa a servir aos dias!
      Tu tens em teu favor a glória fácil
      igual à de outros tantos teus pedaços
      que andam desajuntados neste Mundo,
      desde a invenção do mau cheiro,
      a estorvar o asseio geral.
      Quanto mais penso em ti, mais tenho Fé e creio
      que Deus perdeu de vista o Adão de barro
      e com pena fez outro de bosta de boi
      por lhe faltar o barro e a inspiração!
      E enquanto este Adão dormia
      os ratos roeram-lhe os miolos,
      e das caganitas nasceu: a Eva burguesa!
      Tu arreganhas os dentes quando te falam d'Orpheu
      e pões-te a rir, como os pretos, sem saber porquê.
      E chamas-me doido a Mim
      que sei e sinto o que Eu escrevi!
      Tu que dizes que não percebes;
      rir-te-ás de não perceberes?
      Olha Hugo! Olha Zola, Cervantes e Camões,
      e outros que não são nada por te cantarem a ti!
      Olha Nietzche! Wilde! Olha Rimbaub e Dowson!
      Cesário, Antero e outros tantos mundos!
      Beethoven, Wagner e outros tantos génios
      que não fizeram nada,
      que deixaram este mundo tal qual!
      Olha os grandes os que são estragados por ti!
      O teu máximo é ser a besta e ter bigodes.
      A questão é estar instalado.
      Se te livras de burguês e sobes a talento, a génio,
      a seres alguém,
      o Bem que tu fizeres é um décimo de seres fera!
      E de que serve o livro e a ciência
      se a experiência da vida
      é que faz compreender a ciência e o livro?
      Antes não ter ciências!
      Antes não ter livros!
      Antes não ter Vida!
      Eu queria cuspir-te a cara e os bigodes,
      quando te vejo apalermado p'las esquinas
      a dizeres piadas às meninas,
      e a gostar das mulheres que não prestam
      e a fazer-lhes a corte
      e a apalpar-lhes o rabo,
      esse tão cantado belo cu
      que creio ser melhor o teu ideal
      que a própria mulher do cu grande!
      E casaste-te com Ela,
      porque o teu ideal pegado a Ela,
      e agora à brocha limpas a calva em pinga
      à coca de cunhas p'ró Cunha examinador
      do teu décimo nono filho
      dezanove vezes parvo!
      (É o caso mais exemplar de Constância e fidelidade
      a tua história sexual co'a Felisberta,
      desde o teu primogénito tanso
      'té ao décimo nono idiota.)
      'Té no matrimónio te maldigo, infame cobridor!
      Espécie de verme das lamas dos pântanos
      que de tanto se encharcar em gozos
      o seu corpo se atrofiou
      e o sexo elefantizado foi todo o seu corpo!
      Em toda a parte tu és o admirador
      e em toda a parte a tua ignorância
      tem a cumplicidade da incompetência
      dos que te falam 'té dos lugares sagrados.
      Sim! Eu sei que tu és juiz
      e qu'inda ontem prometeste à tua amante,
      despedindo-a num beijo de impotente,
      a condenação dos réus que tivesses
      se Ela faltasse à matinée da Boa-Hora!
      Pulha! E és tu que do púlpito
      d'essa barriga d'Água da Curia
      dás a ensinança de trote
      aos teus dezanove filhos?!
      Cocheiros, contai: dezanove!!!
      Zute! bruto-parvo-nada
      que Me roubaste tudo:
      'té Me roubaste a Vida
      e não Me deixaste nada!
      nem Me deixaste a Morte!
      Zute! poeira-pingo-micróbio
      que gemes pequeníssimos gemidos gigantes
      grávido de uma dor profeta colossal.
      Zute! elefante-berloque parasita do que não presta!
      Zute! bugiganga-celulóide-bagatela!
      Zute, besta!
      Zute, bácoro!!
      Zute, merda!!!
      Em toda a parte o teu papel é admirar,
      mas (caso inf'liz)
      nunca acertas numa admiração feliz.
      Lês os jornais e admiras tudo do princípio ao fim
      e se por desgraça vem um dia sem jornais,
      tens de ficar em casa nos chinelos
      porque nesse dia, felizmente,
      não tens opinião pra levares à rua.
      Mas nos outros dias lá estás a discutir.
      É que a Natureza é compensadora:
      quem não tem dinheiro p'ra ir ao Coliseu
      deve ter cá fora razões p'ra se rir.
      Só te oiço dizer dos outros
      a inveja de seres como eles.
      Nem ao menos, pobre fadista,
      a veleidade de seres mais bruto?
      Até os teus desejos são avaros
      como as tuas unhas sujas e ratadas.
      Ó meu gordo pelintrão,
      água-morna suja, broa do outro v'rao!
      Os homens são na proporção dos seus desejos
      e é por isso que eu tenho a Concepção do Infinito...
      Não te cora ser grande o teu avô
      e tu apenas o seu neto, e tu apenas o seu esperma?
      Não te dói Adão mais que tu?
      Não te envergonha o teres antes de ti

    • @Oblante
      @Oblante  9 лет назад +6

      outros muito maiores que tu?
      Jamais eu quereria vir a ser um dia
      o que o maior de todos já o tivesse sido
      eu quero sempre muito mais
      e mais ainda muito pr'além-demais-Infinito...
      Tu não sabes, meu bruto, que nós vivemos tão pouco
      que ficamos sempre a meio-caminho do Desejo?
      Em toda a parte o bicho se propaga,
      em toda a parte o nada tem estalagem.
      O meu suplício não é somente de seres meu patrício
      ou o de ver-te meu semelhante,
      tu, mesmo estrangeiro, és besta bastante.
      Foi assim que te encontrei na Rússia
      como vegetas aqui e por toda a parte,
      e em todos os ofícios e em todas as idades.
      Lá suportei-te muito! Lá falavas russo
      e eu só sabia o francês.
      Mas na França, em Paris - a grande capital,
      apesar de fortificada,
      foi assolada por esta espécie animal.
      E andam p'los cafés como as pessoas
      e vestem-se na moda como elas,
      e de tal maneira domésticos
      que até vão às mulheres
      e até vão aos domésticos.
      Felizmente, que na minha pátria,
      a minha verdadeira mãe, a minha santa Irlanda,
      apenas vivi uns anos d'Infância,
      apenas me acodem longinquamente
      as festas ensuoradas do priest da minha aldeia,
      apenas ressuscitam sumidamente
      as asfixias da tísica-mater,
      apenas soam como revoltas
      as pistolas do suicídio de meu pai,
      apenas sinto infantilmente
      no leito de uma morta
      o gelo de umas unhas verdes,
      um frio que não é do Norte,
      um beijo grande como a vida de um tísico a morrer.
      Ó Deus! Tu que m'os levaste é que sabias
      o ódio que lhes teria
      se não tivessem ficado por ali!
      Mas antes, mil vezes antes, aturar os burgueses da My
      Ireland
      que estes desta Terra
      que parece a pátria deles!
      Ó Horror! Os burgueses de Portugal
      têm de pior que os outros
      o serem portugueses!
      A Terra vive desde que um dia
      deixou de ser bola do ar
      p'ra ser solar de burgueses.
      Houve homens de talento, génios e imperadores.
      Precisaram-se de ditadores,
      que foram sempre os maiores.
      Cansou-se o mundo a estudar
      e os sábios morreram velhos
      fartos de procurar remédios,
      e nunca acharam o remédio de parar.
      E inda eu hoje vivo no século XX
      a ver desfilar burgueses
      trezentas e sessenta e cinco vezes ao ano,
      e a saber que um dia
      são vinte e quatro horas de chatice
      e cada hora sessenta minutos de tédio
      e cada minuto sessenta segundos de spleen!
      Ora bolas para os sábios e pensadores!
      Ora bolas para todas as épocas e todas as idades!
      Bolas pròs homens de todos os tempos,
      e prà intrujice da Civilização e da Cultura!
      Eu invejo-te a ti, ó coisa que não tens olhos de ver!
      Eu queria como tu sentir a beleza de um almoço pontual
      e a f'licidade de um jantar cedinho
      co'as bestas da família.
      Eu queria gostar das revistas e das coisas que não prestam
      porque são muitas mais que as boas
      e enche-se o tempo mais!
      Eu queria, como tu, sentir o bem-estar
      que te dá a bestialidade!
      Eu queria, como tu, viver enganado da vida e da mulher,
      e sem o prazer de seres inteligente pessoalmente!
      Eu queria, como tu, não saber que os outros não valem nada
      p'ra os poder admirar como tu!
      Eu queria que a vida fosse tão divina
      como tu a supões, como tu a vives!
      Eu invejo-te, ó pedaço de cortiça
      a boiar à tona d'água, à mercê dos ventos,
      sem nunca saber que fundo que é o Mar!
      Olha para ti!
      Se te não vês, concentra-te, procura-te!
      Encontrarás primeiro o alfinete
      que espetaste na dobra do casaco,
      e depois não percas o sítio,
      porque está decerto ao pé do alfinete.
      Espeta-te nele para não te perderes de novo,
      e agora observa-te!
      Não te escarneças! Acomoda-te em sentido!
      Não odeies ainda qu'inda agora começaste!
      Enioa-te no teu nojo, mastodonte!
      Indigesta-te na palha dessa tua civilização!
      Desbesunta-te dessa vermência!
      Destapa a tua decência, o teu imoral pudor!
      Albarda-te em senso! Estriba-te em Ser!
      Limpa-te do cancro amarelo e podre!
      Do lazareto de seres burro!
      Desatrela-te do cérebro-carroça!
      Desata o nó-cego da vista!
      Desilustra-te, descultiva-te, despole-te,
      que mais vale ser animal que besta!
      Deixa antes crescer os cornos que outros adornos da
      Civilização!
      Queria-te antes antropófago porque comias os teus
      - talvez o mundo fosse o Mundo
      e não a retrete que é!
      Ahi! excremento do Mal, avergonha-te
      no infinitamente pequeno de ti com o teu papagaio:
      Ele fala como tu e diz coisas que tu dizes
      e se não sabe mais é por tua culpa, meu mandrião!
      E tu, se não fossem os teus pais,
      davas guinchos, meu saguim!
      - Tu és o papagaio de teus pais!
      Mas há mais, muito mais
      que a tua ignorância-miopia te cega.
      Empresto-te a minha Inteligência. Toma!
      Vê agora e não desmaies ainda!
      Então eu não tinha razão?
      P'ra que me chamavas doido
      quando eu m'enjoava de ti?
      Ah! Já tens medo?!
      Porque te rias da vida
      e ias ensuorar as virilhas nos fauteuils das revistas
      co'as pernas fogo de vistas
      das coristas de petróleo?
      Porque davas palmas aos compéres e actorecos
      pelintras e fantoches
      antes do palco, no palco e depois do palco?
      Ora dize-Me com franqueza:
      Era por eles terem piada?
      Então por a não terem
      Ah! Era p'ra tu teres piada, meu bruto?!
      Porque mandaste de castigo os teus filhos p'r'ás Belas-Artes
      quando ficaram mal na instrução primária?
      Porque é que dizes a toda a gente que o teu filho idiota
      estuda p'ra poeta?
      Porque te casaste com a tua mulher
      se dormes mais vezes co'a tua criada?
      Porque bateste no teu filho quando a mestra
      te contou as indecências na aula?
      Não te lembras das que tu fizeste
      com a própria mestra de moral?
      Ou queres tu ser decente,
      tu, que tens dezanove filhos?!
      Porque choraste tanto quando te desonraram a filha?
      Porque lhe quiseste matar o amante?
      Não achas isto natural? Não achas isto interessante?
      Porque não choraste também pelo amante?...
      Deixa! Deixa! Não te quero morto com medo de ti-próprio!
      Eu quero-te vivo, muito vivo, a sofrer!
      Não te despetes do alfinete!
      Eu abro a janela para não cheirar mal!
      Galopa a tua bestialidade
      na memória que eu faço dos teus coices,
      Cavalga o teu insecticismo na tua sela de D. Duarte!
      Arreia-te de Bom-Senso um segundo! Peço-te de joelhos.
      Encabresta-te de Humanidade
      e eu passo-te uma zoologia para as mãos
      p'ra te inscreveres na divisão dos Mamíferos.
      Mas anda primeiro ao Jardim Zoológico!
      Vem ver os chimpanzés! Acorpanzila-te neles se te ousas!
      Sagra-te de cu-azul a ver se eles te querem!
      Lá porque aprendeste a andar de mãos no ar
      não quer dizer que sejas mais chimpanzé que eles!
      Larga a cidade masturbadora, febril,
      rabo decepado de lagartixa,
      labirinto cego de toupeiras,
      raça de ignóbeis míopes, tísicos, tarados,
      anémicos, cancerosos e arseniados!
      Larga a cidade!
      Larga a infâmia das ruas e dos boulevards
      Esse vaivém cínico de bandidos mudos
      Esse mexer esponjoso de carne viva
      Esse ser-lesma nojento e macabro
      Esse S ziguezague de chicote auto-fustigante
      Esse ar expirado e espiritista...
      Esse Inferno de Dante por cantar
      Esse ruído de sol prostituído, impotente e velho
      Esse silêncio pneumónico
      de lua enxovalhada sem vir a lavadeira!
      Larga a cidade e foge!
      Larga a cidade!
      Vence as lutas da família na vitória de a deixar.
      Larga a casa, foge dela, larga tudo!
      Nem te prendas com lágrimas, que lágrimas são cadeias!
      Larga a casa e verás - vai-se-te o Pesadelo!
      A família é lastro, deita-a fora e vais ao céu!
      Mas larga tudo primeiro, ouviste?
      Larga tudo!
      - Os outros, os sentimentos, os instintos,
      e larga-te a ti também, a ti principalmente!
      Larga tudo e vai para o campo
      e larga o campo também, larga tudo!
      - Põe-te a nascer outra vez!
      Não queiras ter pai nem mãe,
      não queiras ter outros nem Inteligência!
      A Inteligência é o meu cancro
      Eu sinto-A na cabeça com falta de ar!
      A Inteligência é a febre da Humanidade
      e ninguém a sabe regular!
      E há já Inteligência a mais, pode parar por aqui!
      Depois põe-te a viver sem cabeça,
      Vê só o que os olhos virem,
      Cheira os cheiros da Terra
      Come o que a Terra der,
      Bebe dos rios e dos mares,
      - Põe-te na Natureza!
      Ouve a Terra, escuta-A.
      A Natureza à vontade só sabe rir e cantar!
      Depois, põe-te à coca dos que nascem
      e não os deixes nascer.
      Vai depois pla noite nas sombras
      e rouba a toda a gente a Inteligência
      E raspa-lhos a cabeça por dentro

    • @manuelcostaleite4583
      @manuelcostaleite4583 4 года назад

      Ricardo A Baila o

    • @luisdias3364
      @luisdias3364 3 года назад

      @@Oblante l

  • @EsquizofreniadasArtes
    @EsquizofreniadasArtes 5 лет назад +2

    Génio!

    • @carlosrogerio140
      @carlosrogerio140 4 года назад +1

      Tive a felicidade de ter estado com o Mário Viegas no serviço militar (Chefia do Serviço de Intendência) em frente à Sé de Santo António de Maio a Outubro de 74. A excelência de pessoa é a mesma como ator.

  • @themanueloterrabful
    @themanueloterrabful 7 лет назад +3

    ESTOU GOSTO!

    • @fernandamarques704
      @fernandamarques704 2 года назад

      Mas que obra fantástica realidade nua é crua. Teve que esperar que nascesse o genial Mário Viegas para a dizer em todo o seu expoente completamente avassalador. Sem dúvida dois génios.

  • @alor1427
    @alor1427 8 лет назад +3

    AltCena!

  • @ViniciusFfreytag
    @ViniciusFfreytag 5 лет назад +5

    Almada é vertiginoso!

    • @aramis9692
      @aramis9692 4 года назад +3

      Com a voz e declamação únicas de Mário Viegas 👈🤗

    • @ViniciusFfreytag
      @ViniciusFfreytag 2 года назад +2

      @@aramis9692 Sim! Simplesmente o que o poema precisa. Toda a potência, amargor, violência...

  • @NunoCruz-s3c
    @NunoCruz-s3c 9 месяцев назад

    Eis o deixar para trás a hipocrisia imemorial e vomitar a incómoda realidade