Alves Redol
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- Опубликовано: 10 фев 2025
- ENTREVISTA TRANSMITIDA POR RÁDIO CLUBE PORTUGUÊSNA RUBRICA PERFIL DUM ARTISTA
EM 28 DE JANEIRO DE 1958
Esta colecção procura vivamente o encontro sensitivo e intelectual entre os homens de cultura, de qualquer idade ou grupo, espalhados pelo território do planeta onde se fala e escreve a língua portuguesa. Abre a colecção Alves Redol. O seu ofício profundo: escrtor. Mas talvez o mais apaixonante dele tivesse sido o «ofício de viver».
Alves Redol por ele próprio, assim se poderia designar a entrevista que apresentamos ao público. Com efeito, é a sua vida vinculada à arte literária que nos aparece prementemente neste intenso, quase dramático, diálogo entre o escritor Alves Redol e o público, servindo conscienciosamente de moderador Igrejas Caeiro.
Será necessário resumir a longa, perturbante, por vezes amargurada, outras serena e esperançosa, entrevista de Redol? Cremos que não. Aliás, cada auditor, consoante os seus caprichos, a sua invenção e a sua própria sensibilidade e razão, irá extrair as suas conclusões... Melhor: de cada vez que intente uma síntese, mesmo provisória, verificará que a não tem ali à mão de semear, pois a palavra ouvida não chega tanto aos fundos da memória como a letra. Ou, pelo menos, assim parece a quem ainda viva do mundo dos conceitos. Será possível ou desejável que se venha a viver ùnicamente no mundo das imagens? E haverá acaso tal oposição? A cada um seu juízo e sua opção.
Vejamos alguns pontos onde o disco pode provocar a nevralgia desejada: a permanente tensão entre contar-se como homem e contar-se como infante e adolescente. O Homem estará quase sempre à frente da narrativa. Mas nele, como pulsão aguda e obsessiva, habita vivíssima a experiência traumatizante da infância, quando dos seis para os sete anos, os Venâncios, tios e avô, herois lendários de miúdo em busca de sensações fortes, morrem brutalmente na Forja: um, dois, o avô Venâncio Alves, mais dois ainda, tudo numa horrorosa correria para o abismo. Outro ponto não menos empolgante: aquele em que o futuro escritor descobre a Borda d'Agua, e, ao longe, no alto da ladeira, por onde cavalgam as mulas e a carrocinha de Venâncio, ao longe, perfilada no horizonte, a fabulosa Lisboa...
Ver-se-á também como o escritor se descobriu nos seus amigos, alguns grandes intelectuais como o Professor Rodrigues Lapa ou o escritor Mário Dionísio, outros gente humilde e anónima que ele evoca num alvoroço disciplinado, recordando os nomes, os ofícios, lembrando o que lhe ofereceram, desde a vida ao combustível perene dos seus livros.