O que é declamar? É recitar versos com gestos expressivos. É dar vida às palavras frias, inertes, mórbidas e tristes através da entonação impecável e deliciosamente sentida. Parabéns pela interpretação apaixonada, Isa!
No livro da DarkSide, Medo Clássico, de Edgar Allan Poe, tem tanto a tradução de Machado de Assis como de Fernando Pessoa. Vale a pena... E ainda traz, na introdução, "a Filosofia da Composição"..., e nunca mais... And Nevermore
"Ouvir" antes de Morrer!!! O prazer da leitura é aqui posto no palco... Cuidado! desse jeito a gente vai se acostumar com a preguiça de ler... tudo só brincadeira. Parabéns!!!
Conheci esse poema em uma aula do saudoso professor Nicolau Sevcenko na graduação de História da USP. Uma verdadeira obra prima. Sua leitura fez jus a ela.
Isabella: obrigado por sua leitura e seus comentários! Mesmo muito criticada, a tradução de Machado de Assis é muito emocionante. Quem traduz é também co-autor.
Excelente, Isa! 👏 Ah, Edgar Allan Poe... Costumo chamá-lo de "Shakespeare das Trevas."😈 Além de O Corvo, já li algumas coisas legais dele: O Gato Preto, A Máscara da Morte Escarlate, A Queda da Casa de Usher e O Barril de Amontillado.
Isa, depois de ouvir sua leitura, fiquei curioso e procurei outras. Acredite: a sua versão é a única que me transmite emoção! Parabéns, adoro seu conteúdo!!!
Destaco este trecho: "Ah! bem me lembro! bem me lembro! Era no glacial dezembro; Cada brasa do lar sobre o chão refletia A sua última agonia. Eu, ansioso pelo sol, buscava Sacar daqueles livros que estudava Repouso (em vão!) à dor esmagadora Destas saudades imortais"...
Tenho esse poema em casa e ouvi seu recital acompanhando no livro e foi uma experiência fantástica principalmente pelo efeito musical. Parabéns! Queria muito, muito, muito te ouvir também recitando a tradução de Fernando Pessoa mas já fiquei deveras feliz com a versão de Machado.
Adoro Allan Poe e procurei em muitos lugares para comprar esse livro que você está apresentando e não encontrei. Gostaria de vender esse que você tem? Demais a capa e realmente é um sonho de consumo. Parabéns pela declamação.
Puxa, Isa, meu sonho era ver você resenhando Entrevista com o Vampiro ou qualquer um dos livros da Anne Rice, a rainha do romance gótico. Seria lindo demais! Ainda vou te mandar de presente o livro original e também a graphic novel de Entrevista com o Vampiro, que é um primor! 😍 Quero ver se você não vai ficar doidinha, até salivando, quando vir aquela belezura! Kkkk 🤭
@@campanula5258 né? Meu também. Li o livro e vi o filme com uns 13 anos e isso me levou a comprar todos os livros da Anne Rice desde então... São 24 anos de amor pelo trabalho da autora e pelos personagens... 😍
O corvo na versão só machado de assis Em certo dia, à hora, à hora Da meia-noite que apavora, Eu caindo de sono e exausto de fadiga, Ao pé de muita lauda antiga, De uma velha doutrina, agora morta, Ia pensando, quando ouvi à porta Do meu quarto um soar devagarinho E disse estas palavras tais: "É alguém que me bate à porta de mansinho; Há de ser isso e nada mais." Ah! bem me lembro! bem me lembro! Era no glacial dezembro; Cada brasa do lar sobre o chão refletia A sua última agonia. Eu, ansioso pelo sol, buscava Sacar daqueles livros que estudava Repouso (em vão!) à dor esmagadora Destas saudades imortais Pela que ora nos céus anjos chamam Lenora, E que ninguém chamará jamais. E o rumor triste, vago, brando, Das cortinas ia acordando Dentro em meu coração um rumor não sabido Nunca por ele padecido. Enfim, por aplacá-lo aqui no peito, Levantei-me de pronto e: "Com efeito (Disse) é visita amiga e retardada Que bate a estas horas tais. É visita que pede à minha porta entrada: Há de ser isso e nada mais." Minhalma então sentiu-se forte; Não mais vacilo e desta sorte Falo: "Imploro de vós - ou senhor ou senhora - Me desculpeis tanta demora. Mas como eu, precisando de descanso, Já cochilava, e tão de manso e manso Batestes, não fui logo prestemente, Certificar-me que aí estais." Disse: a porta escancaro, acho a noite somente, Somente a noite, e nada mais. Com longo olhar escruto a sombra, Que me amedronta, que me assombra, E sonho o que nenhum mortal há já sonhado, Mas o silêncio amplo e calado, Calado fica; a quietação quieta: Só tu, palavra única e dileta, Lenora, tu como um suspiro escasso, Da minha triste boca sais; E o eco, que te ouviu, murmurou-te no espaço; Foi isso apenas, nada mais. Entro co'a alma incendiada. Logo depois outra pancada Soa um pouco mais tarde; eu, voltando-me a ela: "Seguramente, há na janela Alguma coisa que sussurra. Abramos. Ela, fora o temor, eia, vejamos A explicação do caso misterioso Dessas duas pancadas tais. Devolvamos a paz ao coração medroso. Obra do vento e nada mais." Abro a janela e, de repente, Vejo tumultuosamente Um nobre Corvo entrar, digno de antigos dias. Não despendeu em cortesias Um minuto, um instante. Tinha o aspecto De um lord ou de uma lady. E pronto e reto Movendo no ar as suas negras alas. Acima voa dos portais, Trepa, no alto da porta, em um busto de Palas; Trepado fica, e nada mais. Diante da ave feia e escura, Naquela rígida postura, Com o gesto severo - o triste pensamento Sorriu-me ali por um momento, E eu disse: "Ó tu que das noturnas plagas Vens, embora a cabeça nua tragas, Sem topete, não és ave medrosa, Dize os teus nomes senhoriais: Como te chamas tu na grande noite umbrosa?" E o Corvo disse: "Nunca mais." Vendo que o pássaro entendia A pergunta que lhe eu fazia, Fico atônito, embora a resposta que dera Dificilmente lha entendera. Na verdade, jamais homem há visto Coisa na terra semelhante a isto: Uma ave negra, friamente posta, Num busto, acima dos portais, Ouvir uma pergunta e dizer em resposta Que este é o seu nome: "Nunca mais." No entanto, o Corvo solitário Não teve outro vocabulário, Como se essa palavra escassa que ali disse Toda sua alma resumisse. Nenhuma outra proferiu, nenhuma, Não chegou a mexer uma só pluma, Até que eu murmurei: "Perdi outrora Tantos amigos tão leais! Perderei também este em regressando a aurora." E o Corvo disse: "Nunca mais." Estremeço. A resposta ouvida É tão exata! é tão cabida! "Certamente, digo eu, essa é toda a ciência Que ele trouxe da convivência De algum mestre infeliz e acabrunhado Que o implacável destino há castigado Tão tenaz, tão sem pausa, nem fadiga, Que dos seus cantos usuais Só lhe ficou, na amarga e última cantiga, Esse estribilho: "Nunca mais." Segunda vez, nesse momento, Sorriu-me o triste pensamento; Vou sentar-me defronte ao Corvo magro e rudo; E mergulhando no veludo Da poltrona que eu mesmo ali trouxera Achar procuro a lúgubre quimera. A alma, o sentido, o pávido segredo Daquelas sílabas fatais, Entender o que quis dizer a ave do medo Grasnando a frase: "Nunca mais." Assim, posto, devaneando, Meditando, conjecturando, Não lhe falava mais; mas se lhe não falava, Sentia o olhar que me abrasava, Conjecturando fui, tranqüilo, a gosto, Com a cabeça no macio encosto, Onde os raios da lâmpada caiam, Onde as tranças angelicais De outra cabeça outrora ali se desparziam, E agora não se esparzem mais. Supus então que o ar, mais denso, Todo se enchia de um incenso. Obra de serafins que, pelo chão roçando Do quarto, estavam meneando Um ligeiro turíbulo invisível; E eu exclamei então: "Um Deus sensível Manda repouso à dor que te devora Destas saudades imortais. Eia, esquece, eia, olvida essa extinta Lenora." E o Corvo disse: "Nunca mais." "Profeta, ou o que quer que sejas! Ave ou demônio que negrejas! Profeta sempre, escuta: Ou venhas tu do inferno Onde reside o mal eterno, Ou simplesmente náufrago escapado Venhas do temporal que te há lançado Nesta casa onde o Horror, o Horror profundo Tem os seus lares triunfais, Dize-me: "Existe acaso um bálsamo no mundo?" E o Corvo disse: "Nunca mais." "Profeta, ou o que quer que sejas! Ave ou demônio que negrejas! Profeta sempre, escuta, atende, escuta, atende! Por esse céu que além se estende, Pelo Deus que ambos adoramos, fala, Dize a esta alma se é dado inda escutá-la No Éden celeste a virgem que ela chora Nestes retiros sepulcrais. Essa que ora nos céus anjos chamam Lenora!" E o Corvo disse: "Nunca mais." "Ave ou demônio que negrejas! Profeta, ou o que quer que sejas! Cessa, ai, cessa!, clamei, levantando-me, cessa! Regressa ao temporal, regressa À tua noite, deixa-me comigo. Vai-te, não fica no meu casto abrigo Pluma que lembre essa mentira tua, Tira-me ao peito essas fatais Garras que abrindo vão a minha dor já crua." E o Corvo disse: "Nunca mais." E o Corvo aí fica; ei-lo trepado No branco mármore lavrado Da antiga Palas; ei-lo imutável, ferrenho. Parece, ao ver-lhe o duro cenho, Um demônio sonhando. A luz caída Do lampião sobre a ave aborrecida No chão espraia a triste sombra; e fora Daquelas linhas funerais Que flutuam no chão, a minha alma que chora Não sai mais, nunca, nunca mais!
Tem uma tradução de um jornalista chamado Milton Amado que é na minha humilde opinião a melhor que eu já li desta obra. Não estou desmerecendo Machado de Assis ou Fernando Pessoa, aliás li as duas versões e achei as traduções dignas de sua reputação, mas a do Milton Amado tocou meu coração. Você ficou maravilhosa recitando o poema Isa. Bjs😘
Não consigo ler Allan Poe, cada vez que tentei ler algum conto tive pesadelos, e olha que eu não sou uma pessoa impressionável. Mas esse poema, lido tão habilmente, achei lindo.
Isa que conheci agora, não outrora és tão bela que me apavora no canal já estou inscrito, tendo isso dito procurarei algo para fazer, talvez uma leitura já que nisso, somente nisso ninguém interrompe minha aventura. huahuah amei o canal - Por euzinho mesmo (Harrison C.)
Amo ouvir música enquanto leio. Músicas que combinem com a leitura... poderia me falar qual é a música que vc usou neste vídeo e no conto da morte vermelha? Amaria ler os livros dele com essas músicas.
Coincidência. Comprei o corvo ontem. Tenho uma certa resistência para ler Edgar Alan Poe. Mais uma vez um pedido, Isa. Fala um pouco de Graciliano Ramos. Super escritor e meio injustiçado pela mídia, talvez!
Hola, soy de Colombia. Hace poco descubrí tu canal y he quedado encantada, entiendo un poco el portugués y agradecería si por favor le agregas subtítulos. Gracias y felicitaciones.
Eu compraria tranquilamente um audiobook lido por você. Hoje mesmo falei sobre O Corvo, adoro esse poema.
Vou fazer um comentário fútil e bobo, lá vai: Isa cada dia mais encantadora!
O que é declamar? É recitar versos com gestos expressivos. É dar vida às palavras frias, inertes, mórbidas e tristes através da entonação impecável e deliciosamente sentida. Parabéns pela interpretação apaixonada, Isa!
Bicho, eu declameu seu comentário, enquanto lia mentalmente.
@@lucasvitoriano5570 bicho, tu fez uma intertextualidade, declamou um comentário sobre declamação skkskskskskks
A alegria da Isa lendo o poema é contagiante!!
MARAVILHA. Parabéns. O Melhor poema que já ouvi. Abraços
Amei. Mais poesias no canal, por favor!
No livro da DarkSide, Medo Clássico, de Edgar Allan Poe, tem tanto a tradução de Machado de Assis como de Fernando Pessoa.
Vale a pena...
E ainda traz, na introdução, "a Filosofia da Composição"..., e nunca mais...
And Nevermore
Machado sempre presente neste canal! Amo...
"Ouvir" antes de Morrer!!! O prazer da leitura é aqui posto no palco... Cuidado! desse jeito a gente vai se acostumar com a preguiça de ler... tudo só brincadeira. Parabéns!!!
Conheci esse poema em uma aula do saudoso professor Nicolau Sevcenko na graduação de História da USP. Uma verdadeira obra prima. Sua leitura fez jus a ela.
Com essa voz suave e melodiosa lhe cairia bem poemas infantis ou românticos
Isabella: obrigado por sua leitura e seus comentários! Mesmo muito criticada, a tradução de Machado de Assis é muito emocionante. Quem traduz é também co-autor.
Feliz dia das Bruxas, Isa! E feliz aniversário para Carlos Drummond de Andrade também;)
Ela é tao doce que o corvo virou um bem-te-vi. E isso foi ótimo.
Faz uma live só de poemas do edgar
Sua oratória é maravilhosa, da um prazer escutar você falar, ótimo vídeo, um podcast com vc seria ótimo KKK sucesso sempre
Excelente, Isa! 👏
Ah, Edgar Allan Poe...
Costumo chamá-lo de "Shakespeare das Trevas."😈
Além de O Corvo, já li algumas coisas legais dele: O Gato Preto, A Máscara da Morte Escarlate, A Queda da Casa de Usher e O Barril de Amontillado.
O poço e pêndulo também é incrível.
@@lucashenrique8714 sim!! Para mim foi o melhor dele!
Berenice é muito bom e angustiante também
@@brenalima3442 ah os dentes...
@@danielamariabruczkoskideli3909 exato😮😢
Ficou ótimo Isa! Aliás, volte com o quadro "Nocautes Literários", é uma delícia te ouvir recitar! Sinto falta daquele quadro :)
Isa, depois de ouvir sua leitura, fiquei curioso e procurei outras. Acredite: a sua versão é a única que me transmite emoção! Parabéns, adoro seu conteúdo!!!
Bravo! Maravilha! Parabéns! Uma leitura como esta...Nunca mais!!!
Fechei os olhos e apreciei essa maravilha! Arrepiante!
Parece que a música e o poema foram feitos um para o outro.Obrigado pela experiência, me eapaixonei.
SALVOU MEU DIA
Pense numa paz que esse canal me traz!
E o corvo disse: Nunca, nunca mais.
"Never more" e a esposa se chamava "leonor"....
Destaco este trecho:
"Ah! bem me lembro! bem me lembro!
Era no glacial dezembro;
Cada brasa do lar sobre o chão refletia
A sua última agonia.
Eu, ansioso pelo sol, buscava
Sacar daqueles livros que estudava
Repouso (em vão!) à dor esmagadora
Destas saudades imortais"...
Tenho esse poema em casa e ouvi seu recital acompanhando no livro e foi uma experiência fantástica principalmente pelo efeito musical. Parabéns! Queria muito, muito, muito te ouvir também recitando a tradução de Fernando Pessoa mas já fiquei deveras feliz com a versão de Machado.
Gostei demais. É meu poema favorito... Mas eu ainda continuo achando que a melhor tradução para O Corvo é a que o nosso Ilustre Milton Amado fez.
Eu tenho a que foi traduzida pelo Fernando Pessoa. Gostei muito da sua leitura, enriqueceu minha compreensão. Obrigada!!!
Essa moça é solar! Cheguei agora e não saio mais. Nunca, nunca mais....
De arrepiar! Um dos melhores videos do ano.
Sugestão: uma resenha do poema Tabacaria, do Pessoa!!
Adorei o poema. Gostaria de mais postagens sobre poesias .Obrigada! 😘
Machado de Assis é um gênio.
Mas, o poema é de Edgar Allan Poe. Machado é um dos tradutores para o Português.
@@Galloss1936 , eu sei. Foi a tradução dele que elogiei. Mas ele produziu textos maravilhosos. É um dos meus escritores brasileiros preferidos.
@@patricialima0702 Tá bom. Entendi.
Como é lindo escutar vc ler parabéns
Adoro Allan Poe e procurei em muitos lugares para comprar esse livro que você está apresentando e não encontrei. Gostaria de vender esse que você tem? Demais a capa e realmente é um sonho de consumo. Parabéns pela declamação.
Puxa, Isa, meu sonho era ver você resenhando Entrevista com o Vampiro ou qualquer um dos livros da Anne Rice, a rainha do romance gótico. Seria lindo demais! Ainda vou te mandar de presente o livro original e também a graphic novel de Entrevista com o Vampiro, que é um primor! 😍 Quero ver se você não vai ficar doidinha, até salivando, quando vir aquela belezura! Kkkk 🤭
Up! Meu livro favorito de minha autora favorita.
@@campanula5258 né? Meu também. Li o livro e vi o filme com uns 13 anos e isso me levou a comprar todos os livros da Anne Rice desde então... São 24 anos de amor pelo trabalho da autora e pelos personagens... 😍
@@samygontijo Perfeito! Eu indico se você gostou tanto de Anne rice (como não?) a série Alma e sangue da Nazarethe fonseca, é fantástico.
Eu não consegui ler um livro dela. Picota demais ela
Porém, o filme com o Pitt e o outro é bem feito mesmo
Uau. Parece um dos contos dele. Muito bom.
Que tradução maravilhosa. Vc é maravilhosa...
Faz a resenha do poema "If" de Rudiard Kipling é fantástico inclusive a tradução perfeita no português.
Salve Machado de Assis !
Ganhou mais um seguidor. Linda, inteligente e tem uma voz ótima. Impossível não seguir
2:28 começa
obg!!
Palmas, Palmas e palmas. Excelente conto Isa.
Uau! Que maravilha!
Fantastica interpretacao...
Perfeita sua interpretação!!!
E nada mais.
Fechei até os olhos 🖤
Que belo👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾mais leitura,muito mais...
Adorei sua leitura! Sonoridade muito boa de ouvir!👏🏻
Declamação linda, magnífica!
Parabéens!!! Perfeita!!! Amei!!!
Nevermore!
Incrível!
Eu to mt viciado, quero comprar o livro pra ontem
Maravilhosa !...
Maravilhoso essa leitura.
O corvo na versão só machado de assis
Em certo dia, à hora, à hora
Da meia-noite que apavora,
Eu caindo de sono e exausto de fadiga,
Ao pé de muita lauda antiga,
De uma velha doutrina, agora morta,
Ia pensando, quando ouvi à porta
Do meu quarto um soar devagarinho
E disse estas palavras tais:
"É alguém que me bate à porta de mansinho;
Há de ser isso e nada mais."
Ah! bem me lembro! bem me lembro!
Era no glacial dezembro;
Cada brasa do lar sobre o chão refletia
A sua última agonia.
Eu, ansioso pelo sol, buscava
Sacar daqueles livros que estudava
Repouso (em vão!) à dor esmagadora
Destas saudades imortais
Pela que ora nos céus anjos chamam Lenora,
E que ninguém chamará jamais.
E o rumor triste, vago, brando,
Das cortinas ia acordando
Dentro em meu coração um rumor não sabido
Nunca por ele padecido.
Enfim, por aplacá-lo aqui no peito,
Levantei-me de pronto e: "Com efeito
(Disse) é visita amiga e retardada
Que bate a estas horas tais.
É visita que pede à minha porta entrada:
Há de ser isso e nada mais."
Minhalma então sentiu-se forte;
Não mais vacilo e desta sorte
Falo: "Imploro de vós - ou senhor ou senhora -
Me desculpeis tanta demora.
Mas como eu, precisando de descanso,
Já cochilava, e tão de manso e manso
Batestes, não fui logo prestemente,
Certificar-me que aí estais."
Disse: a porta escancaro, acho a noite somente,
Somente a noite, e nada mais.
Com longo olhar escruto a sombra,
Que me amedronta, que me assombra,
E sonho o que nenhum mortal há já sonhado,
Mas o silêncio amplo e calado,
Calado fica; a quietação quieta:
Só tu, palavra única e dileta,
Lenora, tu como um suspiro escasso,
Da minha triste boca sais;
E o eco, que te ouviu, murmurou-te no espaço;
Foi isso apenas, nada mais.
Entro co'a alma incendiada.
Logo depois outra pancada
Soa um pouco mais tarde; eu, voltando-me a ela:
"Seguramente, há na janela
Alguma coisa que sussurra. Abramos.
Ela, fora o temor, eia, vejamos
A explicação do caso misterioso
Dessas duas pancadas tais.
Devolvamos a paz ao coração medroso.
Obra do vento e nada mais."
Abro a janela e, de repente,
Vejo tumultuosamente
Um nobre Corvo entrar, digno de antigos dias.
Não despendeu em cortesias
Um minuto, um instante. Tinha o aspecto
De um lord ou de uma lady. E pronto e reto
Movendo no ar as suas negras alas.
Acima voa dos portais,
Trepa, no alto da porta, em um busto de Palas;
Trepado fica, e nada mais.
Diante da ave feia e escura,
Naquela rígida postura,
Com o gesto severo - o triste pensamento
Sorriu-me ali por um momento,
E eu disse: "Ó tu que das noturnas plagas
Vens, embora a cabeça nua tragas,
Sem topete, não és ave medrosa,
Dize os teus nomes senhoriais:
Como te chamas tu na grande noite umbrosa?"
E o Corvo disse: "Nunca mais."
Vendo que o pássaro entendia
A pergunta que lhe eu fazia,
Fico atônito, embora a resposta que dera
Dificilmente lha entendera.
Na verdade, jamais homem há visto
Coisa na terra semelhante a isto:
Uma ave negra, friamente posta,
Num busto, acima dos portais,
Ouvir uma pergunta e dizer em resposta
Que este é o seu nome: "Nunca mais."
No entanto, o Corvo solitário
Não teve outro vocabulário,
Como se essa palavra escassa que ali disse
Toda sua alma resumisse.
Nenhuma outra proferiu, nenhuma,
Não chegou a mexer uma só pluma,
Até que eu murmurei: "Perdi outrora
Tantos amigos tão leais!
Perderei também este em regressando a aurora."
E o Corvo disse: "Nunca mais."
Estremeço. A resposta ouvida
É tão exata! é tão cabida!
"Certamente, digo eu, essa é toda a ciência
Que ele trouxe da convivência
De algum mestre infeliz e acabrunhado
Que o implacável destino há castigado
Tão tenaz, tão sem pausa, nem fadiga,
Que dos seus cantos usuais
Só lhe ficou, na amarga e última cantiga,
Esse estribilho: "Nunca mais."
Segunda vez, nesse momento,
Sorriu-me o triste pensamento;
Vou sentar-me defronte ao Corvo magro e rudo;
E mergulhando no veludo
Da poltrona que eu mesmo ali trouxera
Achar procuro a lúgubre quimera.
A alma, o sentido, o pávido segredo
Daquelas sílabas fatais,
Entender o que quis dizer a ave do medo
Grasnando a frase: "Nunca mais."
Assim, posto, devaneando,
Meditando, conjecturando,
Não lhe falava mais; mas se lhe não falava,
Sentia o olhar que me abrasava,
Conjecturando fui, tranqüilo, a gosto,
Com a cabeça no macio encosto,
Onde os raios da lâmpada caiam,
Onde as tranças angelicais
De outra cabeça outrora ali se desparziam,
E agora não se esparzem mais.
Supus então que o ar, mais denso,
Todo se enchia de um incenso.
Obra de serafins que, pelo chão roçando
Do quarto, estavam meneando
Um ligeiro turíbulo invisível;
E eu exclamei então: "Um Deus sensível
Manda repouso à dor que te devora
Destas saudades imortais.
Eia, esquece, eia, olvida essa extinta Lenora."
E o Corvo disse: "Nunca mais."
"Profeta, ou o que quer que sejas!
Ave ou demônio que negrejas!
Profeta sempre, escuta: Ou venhas tu do inferno
Onde reside o mal eterno,
Ou simplesmente náufrago escapado
Venhas do temporal que te há lançado
Nesta casa onde o Horror, o Horror profundo
Tem os seus lares triunfais,
Dize-me: "Existe acaso um bálsamo no mundo?"
E o Corvo disse: "Nunca mais."
"Profeta, ou o que quer que sejas!
Ave ou demônio que negrejas!
Profeta sempre, escuta, atende, escuta, atende!
Por esse céu que além se estende,
Pelo Deus que ambos adoramos, fala,
Dize a esta alma se é dado inda escutá-la
No Éden celeste a virgem que ela chora
Nestes retiros sepulcrais.
Essa que ora nos céus anjos chamam Lenora!"
E o Corvo disse: "Nunca mais."
"Ave ou demônio que negrejas!
Profeta, ou o que quer que sejas!
Cessa, ai, cessa!, clamei, levantando-me, cessa!
Regressa ao temporal, regressa
À tua noite, deixa-me comigo.
Vai-te, não fica no meu casto abrigo
Pluma que lembre essa mentira tua,
Tira-me ao peito essas fatais
Garras que abrindo vão a minha dor já crua."
E o Corvo disse: "Nunca mais."
E o Corvo aí fica; ei-lo trepado
No branco mármore lavrado
Da antiga Palas; ei-lo imutável, ferrenho.
Parece, ao ver-lhe o duro cenho,
Um demônio sonhando. A luz caída
Do lampião sobre a ave aborrecida
No chão espraia a triste sombra; e fora
Daquelas linhas funerais
Que flutuam no chão, a minha alma que chora
Não sai mais, nunca, nunca mais!
Amei a leitura!!!! Beijos
Muito bom! 👏👏👏
Simplesmente.... Lindooo
Obrigado Isa!!! Por mais um excelente video.
Caraaaaa, que poema massaaaa
Quero resenha do Poço e o Pêndulo 😍, por favorzinho ❤
Sim por favor faça a leitura Sim eu também gostaria de ver o vídeo
Maravilhosa!
Declamação impecável, parabéns Isa!!!
cada dia mais radiante...bjs
Nossa, eu amo esse conto... sei ele de cor! Na versão do Pessoa kkkk
Acho a versão do Alexei Bueno maravilhosa também
Agradeço por isso, tá muito perfeito!!! s2
Tem uma tradução de um jornalista chamado Milton Amado que é na minha humilde opinião a melhor que eu já li desta obra. Não estou desmerecendo Machado de Assis ou Fernando Pessoa, aliás li as duas versões e achei as traduções dignas de sua reputação, mas a do Milton Amado tocou meu coração.
Você ficou maravilhosa recitando o poema Isa.
Bjs😘
Você viu? O leitor Ronaldo Thomé Junior postou aqui essa tradução.
www.casadobruxo.com.br/poesia/e/edgar06.htm
Amei o vídeo de hoje!
uuuaaalll!!!! Parabens
Deu saudades dos seus podcast
Poema fantástico!
Amei.......
Não consigo ler Allan Poe, cada vez que tentei ler algum conto tive pesadelos, e olha que eu não sou uma pessoa impressionável. Mas esse poema, lido tão habilmente, achei lindo.
Incrível 💖💖
E o que mais rola neste poema é "umbrais" e "nunca mais"
Excelente
Maravilhosa.
Que coisa linda!!!!
Adoreiiiiiiii, lê O Poço e o Pêndulo
Esplêndido. Parabéns!!!!!!!!
Isa que conheci agora, não outrora
és tão bela que me apavora
no canal já estou inscrito, tendo isso dito
procurarei algo para fazer, talvez uma leitura
já que nisso, somente nisso
ninguém interrompe minha aventura.
huahuah
amei o canal
- Por euzinho mesmo (Harrison C.)
Adoreeeeeeeeeeei
Ótimo conteúdo.
SALVOU MEU TRABALHO
Adorei Isa 😍 ❣
Próximo ano têm que ser Lovecraft! Isa perfeita sempre 💚
Acabo de conhecer seu canal e virei seu fã ❤
Muito bom!
Estava ansiosa para este vídeooo!
Amo ouvir música enquanto leio. Músicas que combinem com a leitura... poderia me falar qual é a música que vc usou neste vídeo e no conto da morte vermelha? Amaria ler os livros dele com essas músicas.
Coincidência. Comprei o corvo ontem. Tenho uma certa resistência para ler Edgar Alan Poe.
Mais uma vez um pedido, Isa. Fala um pouco de Graciliano Ramos. Super escritor e meio injustiçado pela mídia, talvez!
Maravilha
adorei na sua voz
AAAAAAHHHH ESTOU ESPERANDO ISSO DESDE AQUELA RESENHA DE "O CORVO"
Acabei de voltar pra conferir
#176
20/04/2018
Tá vendo? O canal tarda mas não falha hahahaha Não tinha notado que foi há tanto tempo...
Hola, soy de Colombia. Hace poco descubrí tu canal y he quedado encantada, entiendo un poco el portugués y agradecería si por favor le agregas subtítulos. Gracias y felicitaciones.
Amei , nunca mais !
uhuuuuu