O HOMEM QUE SABIA JAVANÊS, LIMA BARRETO - Nocautes Literários
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- Опубликовано: 29 мар 2021
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Esse conto é tão Brasil 😪 É incrível.
Texto mais que original. Temos muitos professores de javanês e também muitos especialistas em tudo hoje em dia. Socorro!!
Parte 2
Era uma casa enorme que parecia estar deserta; estava mal tratada, mas não
sei porque me veio pensar que nesse mau tratamento havia mais desleixo e cansaço
de viver que mesmo pobreza. Devia haver anos que não era pintada. As paredes
descascavam e os beirais do telhado, daquelas telhas vidradas de outros tempos,
estavam desguarnecidos aqui e ali, como dentaduras decadentes ou mal cuidadas.
Olhei um pouco o jardim e vi a pujança vingativa com que a tiririca e o
carrapicho tinham expulsado os tinhorões e as begônias. Os crótons continuavam,
porém, a viver com a sua folhagem de cores mortiças. Bati. Custaram-me a abrir.
Veio, por fim, um antigo preto africano, cujas barbas e cabelo de algodão davam à
sua fisionomia uma aguda impressão de velhice, doçura e sofrimento.
Na sala, havia uma galeria de retratos: arrogantes senhores de barba em
colar se perfilavam enquadrados em imensas molduras douradas, e doces perfis de
senhoras, em bandós, com grandes leques, pareciam querer subir aos ares,
enfunadas pelos redondos vestidos à balão; mas, daquelas velhas coisas, sobre as
quais a poeira punha mais antiguidade e respeito, a que gostei mais de ver foi um
belo jarrão de porcelana da China ou da Índia, como se diz. Aquela pureza da louça,
a sua fragilidade, a ingenuidade do desenho e aquele seu fosco brilho de luar,
diziam-me a mim que aquele objeto tinha sido feito por mãos de criança, a sonhar,
para encanto dos olhos fatigados dos velhos desiludidos...
Esperei um instante o dono da casa. Tardou um pouco. Um tanto trôpego,
com o lenço de alcobaça na mão, tomando veneravelmente o simonte de antanho,
foi cheio de respeito que o vi chegar. Tive vontade de ir-me embora. Mesmo se não
fosse ele o discípulo, era sempre um crime mistificar aquele ancião, cuja velhice
trazia à tona do meu pensamento alguma coisa de augusto, de sagrado. Hesitei,
mas fiquei.
- Eu sou, avancei, o professor de javanês, que o senhor disse precisar.
- Sente-se, respondeu-me o velho. O senhor é daqui, do Rio?
- Não, sou de Canavieiras.
- Como? fez ele. Fale um pouco alto, que sou surdo, - Sou de Canavieiras,
na Bahia, insisti eu. - Onde fez os seus estudos?
- Em São Salvador.
- Em onde aprendeu o javanês? indagou ele, com aquela teimosia peculiar
aos velhos.
Ô loko bicho! Kkkkkkkkk
Esta obra é o retrato de que a cultura no Brasil é lastreada pela aparência,conveniência e hipocrisia.
Parte 4 do conto
Ficava extático, como se estivesse a ouvir palavras de um anjo. E eu crescia
aos seus olhos !
Fez-me morar em sua casa, enchia-me de presentes, aumentava-me o
ordenado. Passava, enfim, uma vida regalada.
Contribuiu muito para isso o fato de vir ele a receber uma herança de um seu
parente esquecido que vivia em Portugal. O bom velho atribuiu a cousa ao meu
javanês; e eu estive quase a crê-lo também.
Fui perdendo os remorsos; mas, em todo o caso, sempre tive medo que me
aparecesse pela frente alguém que soubesse o tal patuá malaio. E esse meu temor
foi grande, quando o doce barão me mandou com uma carta ao Visconde de Caruru,
para que me fizesse entrar na diplomacia. Fiz-lhe todas as objeções: a minha
fealdade, a falta de elegância, o meu aspecto tagalo. - "Qual! retrucava ele. Vá,
menino; você sabe javanês!" Fui. Mandou-me o visconde para a Secretaria dos
Estrangeiros com diversas recomendações. Foi um sucesso.
O diretor chamou os chefes de seção: "Vejam só, um homem que sabe
javanês - que portento!"
Os chefes de seção levaram-me aos oficiais e amanuenses e houve um
destes que me olhou mais com ódio do que com inveja ou admiração. E todos
diziam: "Então sabe javanês? É difícil? Não há quem o saiba aqui!"
O tal amanuense, que me olhou com ódio, acudiu então: "É verdade, mas eu
sei canaque. O senhor sabe?" Disse-lhe que não e fui à presença do ministro.
A alta autoridade levantou-se, pôs as mãos às cadeiras, concertou o pincenez no nariz e perguntou: "Então, sabe javanês?" Respondi-lhe que sim; e, à sua
pergunta onde o tinha aprendido, contei-lhe a história do tal pai javanês. "Bem,
disse-me o ministro, o senhor não deve ir para a diplomacia; o seu físico não se
presta... O bom seria um consulado na Ásia ou Oceania. Por ora, não há vaga, mas
vou fazer uma reforma e o senhor entrará. De hoje em diante, porém, fica adido ao
meu ministério e quero que, para o ano, parta para Bale, onde vai representar o
Brasil no Congresso de Lingüística. Estude, leia o Hovelacque, o Max Müller, e
outros!"
Imagina tu que eu até aí nada sabia de javanês, mas estava empregado e iria
representar o Brasil em um congresso de sábios.
O velho barão veio a morrer, passou o livro ao genro para que o fizesse
chegar ao neto, quando tivesse a idade conveniente e fez-me uma deixa no
testamento.
Pus-me com afã no estudo das línguas maleo-polinésicas; mas não havia
meio!
Bem jantado, bem vestido, bem dormido, não tinha energia necessária para
fazer entrar na cachola aquelas coisas esquisitas. Comprei livros, assinei revistas:
Revue Anthropologique et Linguistique, Proceedings of the English-Oceanic
Association, Archivo Glottologico Italiano, o diabo, mas nada! E a minha fama
crescia. Na rua, os informados apontavam-me, dizendo aos outros: "Lá vai o sujeito
que sabe javanês." Nas livrarias, os gramáticos consultavam-me sobre a colocação
dos pronomes no tal jargão das ilhas de Sonda. Recebia cartas dos eruditos do
interior, os jornais citavam o meu saber e recusei aceitar uma turma de alunos
sequiosos de entenderem o tal javanês. A convite da redação, escrevi, no Jornal do
Comércio um artigo de quatro colunas sobre a literatura javanesa antiga e
moderna...
- Como, se tu nada sabias? interrompeu-me o atento Castro.
- Muito simplesmente: primeiramente, descrevi a ilha de Java, com o auxílio
de dicionários e umas poucas de geografias, e depois citei a mais não poder.
- E nunca duvidaram? perguntou-me ainda o meu amigo.
- Nunca. Isto é, uma vez quase fico perdido. A polícia prendeu um sujeito,
um marujo, um tipo bronzeado que só falava uma língua esquisita. Chamaram
diversos intérpretes, ninguém o entendia. Fui também chamado, com todos os
respeitos que a minha sabedoria merecia, naturalmente. Demorei-me em ir, mas fui
afinal. O homem já estava solto, graças à intervenção do cônsul holandês, a quem
ele se fez compreender com meia dúzia de palavras holandesas. E o tal marujo era
javanês - uf!
Chegou, enfim, a época do congresso, e lá fui para a Europa. Que delícia!
Assisti à inauguração e às sessões preparatórias. Inscreveram-me na seção do tupiguarani e eu abalei para Paris. Antes, porém, fiz publicar no Mensageiro de Bale o
meu retrato, notas biográficas e bibliográficas. Quando voltei, o presidente pediu-me
desculpas por me ter dado aquela seção; não conhecia os meus trabalhos e julgara
que, por ser eu americano brasileiro, me estava naturalmente indicada a seção do
tupi- guarani. Aceitei as explicações e até hoje ainda não pude escrever as minhas
obras sobre o javanês, para lhe mandar, conforme prometi.
Acabado o congresso, fiz publicar extratos do artigo do Mensageiro de Bale,
em Berlim, em Turim e Paris, onde os leitores de minhas obras me ofereceram um
banquete, presidido pelo Senador Gorot. Custou-me toda essa brincadeira, inclusive
o banquete que me foi oferecido, cerca de dez mil francos, quase toda a herança do
crédulo e bom Barão de Jacuecanga.
Não perdi meu tempo nem meu dinheiro. Passei a ser uma glória nacional e,
ao saltar no cais Pharoux, recebi uma ovação de todas as classes sociais e o
presidente da república, dias depois, convidava-me para almoçar em sua
companhia.
Dentro de seis meses fui despachado cônsul em Havana, onde estive seis
anos e para onde voltarei, a fim de aperfeiçoar os meus estudos das línguas da
Malaia, Melanésia e Polinésia.
- É fantástico, observou Castro, agarrando o copo de cerveja.
- Olha: se não fosse estar contente, sabes que ia ser ?
- Que?
- Bacteriologista eminente. Vamos?
- Vamos.
Obrigada por isso 🙏🏻
obrigada! ajudou muito
O Homem que Sabia Javanês, de Lima Barreto
Em uma confeitaria, certa vez, ao meu amigo Castro, contava eu as partidas
que havia pregado às convicções e às respeitabilidades, para poder viver.
Houve mesmo, uma dada ocasião, quando estive em Manaus, em que fui
obrigado a esconder a minha qualidade de bacharel, para mais confiança obter dos
clientes, que afluíam ao meu escritório de feiticeiro e adivinho. Contava eu isso.
O meu amigo ouvia-me calado, embevecido, gostando daquele meu Gil Blas
vivido, até que, em uma pausa da conversa, ao esgotarmos os copos, observou a
esmo:
- Tens levado uma vida bem engraçada, Castelo !
- Só assim se pode viver... Isto de uma ocupação única: sair de casa a
certas horas, voltar a outras, aborrece, não achas? Não sei como me tenho
agüentado lá, no consulado !
- Cansa-se; mas, não é disso que me admiro. O que me admira, é que
tenhas corrido tantas aventuras aqui, neste Brasil imbecil e burocrático.
- Qual! Aqui mesmo, meu caro Castro, se podem arranjar belas páginas de
vida. Imagina tu que eu já fui professor de javanês!
- Quando? Aqui, depois que voltaste do consulado?
- Não; antes. E, por sinal, fui nomeado cônsul por isso.
- Conta lá como foi. Bebes mais cerveja?
- Bebo.
Mandamos buscar mais outra garrafa, enchemos os copos, e continuei:
- Eu tinha chegado havia pouco ao Rio estava literalmente na miséria. Vivia
fugido de casa de pensão em casa de pensão, sem saber onde e como ganhar
dinheiro, quando li no Jornal do Comércio o anuncio seguinte:
"Precisa-se de um professor de língua javanesa. Cartas, etc." Ora, disse cá
comigo, está ali uma colocação que não terá muitos concorrentes; se eu capiscasse
quatro palavras, ia apresentar-me. Saí do café e andei pelas ruas, sempre a
imaginar-me professor de javanês, ganhando dinheiro, andando de bonde e sem
encontros desagradáveis com os "cadáveres". Insensivelmente dirigi-me à Biblioteca
Nacional. Não sabia bem que livro iria pedir; mas, entrei, entreguei o chapéu ao
porteiro, recebi a senha e subi. Na escada, acudiu-me pedir a Grande Encyclopédie,
letra J, a fim de consultar o artigo relativo a Java e a língua javanesa. Dito e feito.
Fiquei sabendo, ao fim de alguns minutos, que Java era uma grande ilha do
arquipélago de Sonda, colônia holandesa, e o javanês, língua aglutinante do grupo
maleo-polinésico, possuía uma literatura digna de nota e escrita em caracteres
derivados do velho alfabeto hindu.
A Encyclopédie dava-me indicação de trabalhos sobre a tal língua malaia e
não tive dúvidas em consultar um deles. Copiei o alfabeto, a sua pronunciação
figurada e saí. Andei pelas ruas, perambulando e mastigando letras. Na minha
cabeça dançavam hieróglifos; de quando em quando consultava as minhas notas;
entrava nos jardins e escrevia estes calungas na areia para guardá-los bem na
memória e habituar a mão a escrevê-los.
À noite, quando pude entrar em casa sem ser visto, para evitar indiscretas
perguntas do encarregado, ainda continuei no quarto a engolir o meu "a-b-c" malaio,
e, com tanto afinco levei o propósito que, de manhã, o sabia perfeitamente.
Convenci-me que aquela era a língua mais fácil do mundo e saí; mas não tão cedo
que não me encontrasse com o encarregado dos aluguéis dos cômodos:
- Senhor Castelo, quando salda a sua conta?
Respondi-lhe então eu, com a mais encantadora esperança:
- Breve... Espere um pouco... Tenha paciência... Vou ser nomeado professor
de javanês, e...
Por aí o homem interrompeu-me:
- Que diabo vem a ser isso, Senhor Castelo?
Gostei da diversão e ataquei o patriotismo do homem:
- É uma língua que se fala lá pelas bandas do Timor. Sabe onde é?
Oh! alma ingênua! O homem esqueceu-se da minha dívida e disse-me com
aquele falar forte dos portugueses:
- Eu cá por mim, não sei bem; mas ouvi dizer que são umas terras que
temos lá para os lados de Macau. E o senhor sabe isso, Senhor Castelo?
Animado com esta saída feliz que me deu o javanês, voltei a procurar o
anúncio. Lá estava ele. Resolvi animosamente propor-me ao professorado do idioma
oceânico. Redigi a resposta, passei pelo Jornal e lá deixei a carta. Em seguida, voltei
à biblioteca e continuei os meus estudos de javanês. Não fiz grandes progressos
nesse dia, não sei se por julgar o alfabeto javanês o único saber necessário a um
professor de língua malaia ou se por ter me empenhado mais na bibliografia e
história literária do idioma que ia ensinar.
Ao cabo de dois dias, recebia eu uma carta para ir falar ao doutor Manuel
Feliciano Soares Albernaz, Barão de Jacuecanga, à Rua Conde de Bonfim, não me
recordo bem que numero. E preciso não te esqueceres que entrementes continuei
estudando o meu malaio, isto é, o tal javanês. Além do alfabeto, fiquei sabendo o
nome de alguns autores, também perguntar e responder "como está o senhor?" - e
duas ou três regras de gramática, lastrado todo esse saber com vinte palavras do
léxico.
Não imaginas as grandes dificuldades com que lutei, para arranjar os
quatrocentos réis da viagem! É mais fácil - podes ficar certo - aprender o javanês...
Fui a pé. Cheguei suadíssimo; e, Com maternal carinho, as anosas mangueiras, que
se perfilavam em alameda diante da casa do titular, me receberam, me acolheram e
me reconfortaram. Em toda a minha vida, foi o único momento em que cheguei a
sentir a simpatia da natureza...
Caramba, eu li esse conto semana passada e fiquei imaginando que miséria o nosso amigo Castelo não faria tendo à sua inteira disposição um wi-fi e um smartphone kkkkkk
Parte 3
Não contava com essa pergunta, mas imediatamente arquitetei uma mentira.
Contei-lhe que meu pai era javanês. Tripulante de um navio mercante, viera ter à
Bahia, estabelecera-se nas proximidades de Canavieiras como pescador, casara,
prosperara e fora com ele que aprendi javanês.
- E ele acreditou? E o físico? perguntou meu amigo, que até então me ouvira
calado.
- Não sou, objetei, lá muito diferente de um javanês. Estes meus cabelos
corridos, duros e grossos e a minha pele basané podem dar-me muito bem o
aspecto de um mestiço de malaio...Tu sabes bem que, entre nós, há de tudo: índios,
malaios, taitianos, malgaches, guanches, até godos. É uma comparsaria de raças e
tipos de fazer inveja ao mundo inteiro.
- Bem, fez o meu amigo, continua.
- O velho, emendei eu, ouviu-me atentamente, considerou demoradamente
o meu físico, pareceu que me julgava de fato filho de malaio e perguntou-me com
doçura:
- Então está disposto a ensinar-me javanês?
- A resposta saiu-me sem querer: - Pois não.
- O senhor há de ficar admirado, aduziu o Barão de Jacuecanga, que eu,
nesta idade, ainda queira aprender qualquer coisa, mas...
- Não tenho que admirar. Têm-se visto exemplos e exemplos muito
fecundos... ?
- O que eu quero, meu caro senhor....
- Castelo, adiantei eu.
- O que eu quero, meu caro Senhor Castelo, é cumprir um juramento de
família. Não sei se o senhor sabe que eu sou neto do Conselheiro Albernaz, aquele
que acompanhou Pedro I, quando abdicou. Voltando de Londres, trouxe para aqui
um livro em língua esquisita, a que tinha grande estimação. Fora um hindu ou
siamês que lho dera, em Londres, em agradecimento a não sei que serviço prestado
por meu avô. Ao morrer meu avô, chamou meu pai e lhe disse: "Filho, tenho este
livro aqui, escrito em javanês. Disse-me quem mo deu que ele evita desgraças e traz
felicidades para quem o tem. Eu não sei nada ao certo. Em todo o caso, guarda-o;
mas, se queres que o fado que me deitou o sábio oriental se cumpra, faze com que
teu filho o entenda, para que sempre a nossa raça seja feliz." Meu pai, continuou o
velho barão, não acreditou muito na história; contudo, guardou o livro. Às portas da
morte, ele mo deu e disse-me o que prometera ao pai. Em começo, pouco caso fiz
da história do livro. Deitei-o a um canto e fabriquei minha vida. Cheguei até a
esquecer-me dele; mas, de uns tempos a esta parte, tenho passado por tanto
desgosto, tantas desgraças têm caído sobre a minha velhice que me lembrei do
talismã da família. Tenho que o ler, que o compreender, se não quero que os meus
últimos dias anunciem o desastre da minha posteridade; e, para entendê-lo, é claro,
que preciso entender o javanês. Eis aí.
Calou-se e notei que os olhos do velho se tinham orvalhado. Enxugou
discretamente os olhos e perguntou-me se queria ver o tal livro. Respondi-lhe que
sim. Chamou o criado, deu-lhe as instruções e explicou-me que perdera todos os
filhos, sobrinhos, só lhe restando uma filha casada, cuja prole, porém, estava
reduzida a um filho, débil de corpo e de saúde frágil e oscilante.
Veio o livro. Era um velho calhamaço, um in-quarto antigo, encadernado em
couro, impresso em grandes letras, em um papel amarelado e grosso. Faltava a
folha do rosto e por isso não se podia ler a data da impressão. Tinha ainda umas
páginas de prefácio, escritas em inglês, onde li que se tratava das histórias do
príncipe Kulanga, escritor javanês de muito mérito.
Logo informei disso o velho barão que, não percebendo que eu tinha chegado
aí pelo inglês, ficou tendo em alta consideração o meu saber malaio. Estive ainda
folheando o cartapácio, à laia de quem sabe magistralmente aquela espécie de
vasconço, até que afinal contratamos as condições de preço e de hora,
comprometendo-me a fazer com que ele lesse o tal alfarrábio antes de um ano.
Dentro em pouco, dava a minha primeira lição, mas o velho não foi tão
diligente quanto eu. Não conseguia aprender a distinguir e a escrever nem sequer
quatro letras. Enfim, com metade do alfabeto levamos um mês e o Senhor Barão de
Jacuecanga não ficou lá muito senhor da matéria: aprendia e desaprendia.
A filha e o genro (penso que até aí nada sabiam da história do livro) vieram a
ter notícias do estudo do velho; não se incomodaram. Acharam graça e julgaram a
coisa boa para distraí-lo.
Mas com o que tu vais ficar assombrado, meu caro Castro, é com a
admiração que o genro ficou tendo pelo professor de javanês. Que coisa Única! Ele
não se cansava de repetir: “É um assombro! Tão moço! Se eu soubesse isso, ah!
onde estava !”
O marido de Dona Maria da Glória (assim se chamava a filha do barão), era
desembargador, homem relacionado e poderoso; mas não se pejava em mostrar
diante de todo o mundo a sua admiração pelo meu javanês. Por outro lado, o barão
estava contentíssimo. Ao fim de dois meses, desistira da aprendizagem e pedira-me
que lhe traduzisse, um dia sim outro não, um trecho do livro encantado. Bastava
entendê-lo, disse-me ele; nada se opunha que outrem o traduzisse e ele ouvisse.
Assim evitava a fadiga do estudo e cumpria o encargo.
Sabes bem que até hoje nada sei de javanês, mas compus umas histórias
bem tolas e impingi-as ao velhote como sendo do crônicon. Como ele ouvia aquelas
bobagens !...
Conhecimento: quanto mais se tem, mais se quer, mas só se torna útil ao compartilhar! parabens pelo video!
Isa, faz leitura conjunta de Triste Fim de Policarpo Quaresma 🤗 Queria muita essa leitura com vc como mediadora. ❤️🤗😚
Eu apoio
Eu amaria
Simplesmente perfeito,eu ameii
Conto incrível de Lima Barreto... Como sempre um crítico mordaz da sociedade brasileira. Trabalho este conto com meus alunos do 3ano do Ensino Médio... Parabéns pela leitura.
Ouço os Nocautes da Isa como podcast. Estou cuidando de vários assuntos no PC com a Isa em segundo plano.
Isa...senti muita falta deste quadro, amo a leitura de contos
Meu autor predileto. Nova Californiana também e ótimo e se le em uma hora
Caramba, Isa! Voltei no tempo agora, lembro de meu pai falando sobre esse conto desde que me entendo por gente por conta do protagonista ser natural de Canavieiras, assim como minha avó. Com o passar do tempo acabei me esquecendo de tirar um tempinho pra ler...
os nocautes literários são sempre incríveis, mas esse em especial me deixou muito feliz, obrigada ♥️
Ai ai, que saudade arretada de levar um belo soco literário, e ser nocauteada com esses contos incríveis!
Obrigada. Li e ouvi o conto..kkkk
@@cristianebarbosa5894 De nada, podendo ajudar, tamo aí
Eu amo ler esse Conto do Autor Lima Barretto bom video
Bom dia Isa!
Pernambuco esperando Nocautes Literário novamente 💗
Obrigado menina! Você lê muito bem. Eu já conhecia o conto mas com sua voz eu não consegui parar de ouvir. Sou inscrito e gostaria de continuar ouvindo outras hostórias. Valeu!
A troca de ângulo nos diálogos merece um prêmio.
Que delícia ouvir sua leitura de um conto tão divertido e com uma crítica tão refinada! A linguagem nem atrapalha de tão incrível ❤️
Sincronicidade incrível, comecei a ler Lima Barreto semana passada e tô adorando ❤
A biografia dele assim como sua obra e incrível!
Muito divertido esse conto. Leitura impecável!
Não sei se a Isa grava com diferentes câmeras, mas a gravação desse vídeo é bem melhor. Não fica aquela sensação de blur...
Adoro os nocautes!!! Faça sempre por favor!!🙏💋
Ahh, Isa! Adoro quando vc posta os nocautes. Não pare nunca 🥰 leia Lygia quando der
ESSE CONTO É MARAVILHOSO! ❤
Virei colaborador financeiro seu .... vc me inspirou a ler mais ainda... e agora estou incentivando meus alunos e ex alunos compartilhando seus vídeos.... parabéns, Isa
Ainda existem muitos que são: "Fluentes em Javanês". E são encontrados no mais alto e até no mais baixo escalão. Bom dia
Que saudade desse quadro, Isa!! Adorei este conto
Lima Barreto é sensacional 👏. Adoro esse conto - acho que a Globo fez uma adaptação para a televisão há alguns anos -, mas a minha obra favorita é "Os Bruzundangas". Impossível ler esse livro e não ver o quanto simplesmente não arredamos os pés do século 19. Ele era certeiro demais!!!
Nossa lavei toda a louça viajando nesse conto, mto bem interpretado me senti no bar ouvindo nosso herói que sabia falar javanês 👏👏👏👏👏
Por favor Isa faz mais nocautes literários aqui e nas plataformas de áudio, sem dúvida é meu quadro favorito!
Grande Lima Barreto, cheio de ironias para com a sociedade brasileira de seu tempo, que continua mais ou menos igual até hoje. Bela leitura, cheia de expressividade e verve, isa!!
Adorei! É um dos meus quadros favoritos do bookstagram 😍
Um alento para o coração contar com a sua companhia nestes tempos cabulosos cabulosos!
Achei muito interessante essa história!. Isa, vc é mto incrível e uma profissional Maravilhosa. Leia por favor: A dama das Camelias. Bjos 😘
Isa que tal LC de O nome da rosa!? 🌹🌹🌹🌹
Isaaa, hahahaha, obrigada por esse conto de ironia e humor fino😹💛 O quadro Nocautes é o melhor, tem muita qualidade na sua narração, por isso apoiamos sempre :)
É um dos melhores contos que já li!
Ninguém perguntou😂😮
Me encantoooo, por favor Isa, sigue haciendo más de esto🙏💛
Do Lima Barreto li Os Bruzundangas - não recomendo pra leitores iniciantes como eu
Adoro o quadro literário, a voz da Isa é maravilhosa. Gostaria que houvesse leitura de mais contos, quem sabe um por semana? 😍
Gostaria de dar uma dica: que os comentários fossem dado ao final e que primeiramente o conto fosse lido de uma só vez.
Oba! Muito bom! Baixei aqui e fiquei lendo contigo.
Infelizmente caso parecida eu vi nos dias de hoje.
esse conto é incrivelmente foda
👏👏👏 Grata por me relembrar as leituras de contos que minha mãe fazia em casa 😍😍😍
ESSE É MARAVILHOSO, ISA. Obrigado.
Eu amo esse quadro! 😍
Mds! Falei desse conto esses no seu insta. Adorei!!
Maravilhosos nocautes! Alguns aqui e outros ainda no Spotify são puro deleite. Obrigado!
ADORÁVEL a sua interpretação! 👏👏👏👏👏
Assistindo todos os vídeos do canal! Isa, você é maravilhosa. Gostei demais de suas interpretações na leituras. 🎉 Parabéns 👏!
Sugestão literária: O Declínio De Um Homem, de Osamu Dazai. Um alter ego de um ser humano que não se sente um ser humano.
Conheci o seu canal ontem e já tô viciada! Parabéns, Isa! Você é cativante.
Muito bom, Isa! Tô ouvindo pela segunda vez, acompanhando a leitura do livro pelo e-book.
Esse conto me fez lembrar do filme "narradores de Javé" que personagem tbm era um picareta desse tipo
Nuss n sabia que existia o livro Eu sou a lenda!!! Fiquei olhando a estante e achei kk
Que delícia de conto! Essas leituras são tão boas! Obrigada
Lima Barreto é tão maravilhoso....
nossa adorei esse quadro! primeira vez no canal, e isso me cativou bastante! Os comentários ms auxiliaram em uma prova sobre o livro. Amei! Tu é esplêndida
Aaaaah que alegria a volta desse quadro!! ❤❤
Amo Lima Barreto, me identifico muito com ele, escritor incisivo com relação à problemas sociais brasileiros. Quando li Triste fim de Policarpo Quaresma chorei de tristeza.
Nocautes literários são perfeitos! Por favor continue!!
A leitura fica ainda melhor com essa análise sensacional. Muito obrigado!!
Amei a proposta do vídeo :) ótima interpretação do texto....
já conhecia esse conto, mas igual vc contando ficou maravilhoso. bjs
Lendo com vc. Obrigada! 🥰
Conto atualissimo! Retrata muito bem os dias de hoje. Haja vista os políticos que estão no poder!
Isa, leia "Zaíta esqueceu de guardar os brinquedos" de Conceição Evaristo. Um verdadeiro NOCAUTE literário. Está no livro Olhos d'água.
Esse livro inteiro é um nocaute... li aos poucos, sentindo o quanto consegui a cada dia.... eventualmente volto a algum conto e sempre me afeta profundamente 😪✊🏾
Leitura fantástica, comecei a ler a pouco e hoje participarei de uma noite do livro que trás como tema o livro do vídeo, decidi pesquisar antes pois ainda não o conhecia e gostei muito de acompanhar essa leitura.
Amo muito a leitura e os textos escolhidos!
Excelente Isa
Ótima narração! Obrigado, Isabella! =)
Parabéns, seu canal é excelente!!!! Perfeito...
Oi Isa! Por favor, não pare com este quadro. Hoje, dia 31 de de março, acordei de madrugada e esperei amanhecer assistindo o seu vídeo. Foi muito bom acordar assim haha. Li esse conto anos atrás. É tão bom reler/ouvir narrativas que marcaram nossa vida.
Muito bom ouvir essa história!
Eu amo esse quadro, não deixe ele nunca!
Delicioso este conto!!!! Obrigada pela leitura!
O melhor conto do magistral Lima Barreto!! Um dos três maiores escritores brasileiros pra mim!
Não conhecia esse “quadro” do canal! Sou nova por aqui! Amei!❤️
tu é demais, Isabella!
Video maravilhoso! Parabens pelo seu trabalho.
Adorei sua forma de contar a história.
Amo Lima Barreto!
Amei, que maravilha fazer janta e ouvir um conto👏👏
Eu amo esse tipo de vídeo ❤️
Gratidão🌹
Eu queria ter uma Professora de Literatura Linda assim! Bela Isabela!
Adorei a leitura e comentários!
Muito bom! Obrigada 👏👏👏
Conheci o canal hoje haha.
Que moça linda, parabéns pelo conteúdo 😊
Maravilhoso!🤎
Estou de olho em um livro de contos dele que sai pela companhia das letras.
Esse conto é muito bom, divertido! Adoro seus Nocautes, sempre de muita qualidade .👏👏👏👏👏
Meu Deus! Eu AMO essa menina!
Amo esses videos de nocautes.....bjus gratidão!!!
Amei a leitura. Parabéns 👏👏👏
Eu amoooo,li quando era adolescente, apaixonada,já escrevi até algo sobre 😍🙀
Estou maravilhada !!! SENSACIONAL ... Estou com medo de não fazer mais nada, dá vontade de ficar o dia inteiro ouvindo.
Lisa, mais uma vez: PARABÉNS!