"O Lugar" é uma obra profundamente pessoal da autora francesa Annie Ernaux, publicada em 1983. Neste livro, Ernaux traça um retrato íntimo e cru de seu pai, mesclando a autobiografia com a reflexão social e política sobre as classes sociais na França do pós-guerra. O ponto central da narrativa é a morte do pai da narradora, que impulsiona uma reflexão sobre o ambiente em que ele viveu e o papel dele na vida dela. Ernaux explora a distância crescente entre ela, uma mulher que teve a oportunidade de ascender socialmente e academicamente, e seu pai, que permaneceu em um universo simples e rural. Essa separação, tanto intelectual quanto emocional, é um dos temas mais marcantes do livro. O estilo de Ernaux é direto e despojado, muitas vezes chamado de "escrita plana". Isso reflete sua escolha de evitar o lirismo e a ficcionalização, preferindo uma escrita quase documental, que tenta capturar a realidade com precisão. Essa simplicidade formal contrasta com a complexidade dos sentimentos e das questões de classe e identidade que emergem ao longo da obra. Ao longo da narrativa, Ernaux explora o embate entre a memória pessoal e coletiva, o que significa pertencer a uma classe social e como a ascensão social afeta as relações familiares e a identidade. A autora aborda a vergonha, a culpa e a luta interna por romper com o passado sem desrespeitar aqueles que permaneceram nele. _"O Lugar"_ é um livro de memória, mas também de crítica social, oferecendo um olhar afiado e empático sobre as mudanças de classe e o peso que elas impõem nas relações humanas. Ernaux, com sua prosa contida e poderosa, consegue transformar sua experiência pessoal em um retrato universal de transformação e perda, mostrando como a ascensão social pode ser, ao mesmo tempo, uma conquista e uma forma de exílio. A leitura de _"O Lugar"_ é uma reflexão sobre identidade, pertencimento e as divisões sociais que moldam nossa maneira de estar no mundo. Ernaux consegue captar o sentimento de deslocamento de quem ascende socialmente, mas nunca consegue se desprender completamente de suas raízes.
Que resenha sensacional, Francine!
Acho que esse livro da Annie deve conversar com o Léxico Familiar da Natalia Ginzburg.
Não li esse da Natalia, mas fiquei interessada por conta do seu comentário ❤️
"O Lugar" é uma obra profundamente pessoal da autora francesa Annie Ernaux, publicada em 1983. Neste livro, Ernaux traça um retrato íntimo e cru de seu pai, mesclando a autobiografia com a reflexão social e política sobre as classes sociais na França do pós-guerra.
O ponto central da narrativa é a morte do pai da narradora, que impulsiona uma reflexão sobre o ambiente em que ele viveu e o papel dele na vida dela. Ernaux explora a distância crescente entre ela, uma mulher que teve a oportunidade de ascender socialmente e academicamente, e seu pai, que permaneceu em um universo simples e rural. Essa separação, tanto intelectual quanto emocional, é um dos temas mais marcantes do livro.
O estilo de Ernaux é direto e despojado, muitas vezes chamado de "escrita plana". Isso reflete sua escolha de evitar o lirismo e a ficcionalização, preferindo uma escrita quase documental, que tenta capturar a realidade com precisão. Essa simplicidade formal contrasta com a complexidade dos sentimentos e das questões de classe e identidade que emergem ao longo da obra.
Ao longo da narrativa, Ernaux explora o embate entre a memória pessoal e coletiva, o que significa pertencer a uma classe social e como a ascensão social afeta as relações familiares e a identidade. A autora aborda a vergonha, a culpa e a luta interna por romper com o passado sem desrespeitar aqueles que permaneceram nele.
_"O Lugar"_ é um livro de memória, mas também de crítica social, oferecendo um olhar afiado e empático sobre as mudanças de classe e o peso que elas impõem nas relações humanas. Ernaux, com sua prosa contida e poderosa, consegue transformar sua experiência pessoal em um retrato universal de transformação e perda, mostrando como a ascensão social pode ser, ao mesmo tempo, uma conquista e uma forma de exílio.
A leitura de _"O Lugar"_ é uma reflexão sobre identidade, pertencimento e as divisões sociais que moldam nossa maneira de estar no mundo. Ernaux consegue captar o sentimento de deslocamento de quem ascende socialmente, mas nunca consegue se desprender completamente de suas raízes.