Lacan e a ética da psicanálise
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- Опубликовано: 9 фев 2025
- Nesse quarto vídeo da série “Ética da imanência” vamos falar da relação entre moral e ética, ou entre as leis da cidade e as leis do desejo, segundo Lacan a partir do seu Seminário 7, particularmente de sua última aula nesse seminário, intitulada “Os paradoxo da Ética; ou: agistes em conformidade com o teu desejo?”. Se a análise nos permite avaliar nossas ações, estas já são avaliadas por uma sociedade e seus valores morais. Se a experiência psicanalítica pode fornecer um sentido para as nossas ações, essa medida não pode ser dada pelo serviço de bens da cidade e seus valores. A medida é, como dizia Antígona, as leis do céu, que não foram escritas por mãos humanas. Ou seja, as leis do desejo. Sendo uma experiência trágica, mas por vezes cômica, a psicanálise toca a dimensão da desmedida própria ao desejo, que não serve a nenhum bem, mas que avalia todos os bens, que avalia os valores vigentes e o preço que se paga por encarná-los. Esse preço, na relação tensa do sujeito com os significantes, pode ser a culpa - seja subjetiva ("sou eu o culpado”) ou objetiva (“a culpa é dos outros”). Essa culpa moral, que nos faz sofrer com as dívidas sociais, é o que a psicanálise trata. E ao tratá-la, se percebe o único sentimento de culpa que, segundo Lacan, faz sentido para a experiência psicanalítica: estar em falta com seu próprio desejo, dever satisfação a si. Se o homem ordinário, que trai o seu desejo para realizar o desejo do Outro, paga com sua culpa, o sujeito singular, como a heroína, é o que vai até o fim para afirmar o seu desejo, o seu bem. Pois o bem é pagar o preço do desejo, que é a metonímia do nosso ser, o deslocamento do sujeito enquanto vir-a-ser. Se paga, obviamente, com sua própria carne, com nossa satisfação, com nossa maneira de gozar. Se o desejo de ciência, tal como está no mundo, segundo Lacan, nos deixa um resto de culpa, a ética ou ciência do desejo, tal como praticado pela psicanálise, nos deixa um resto de gozo, de satisfação - que é o único bem para o desejo, para além dos bens do mundo moral.