Clarice Lispector- Contos #10 Macacos (Audiobook)

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  • Опубликовано: 16 янв 2025

Комментарии • 19

  • @JoaoGabriel-lz2zz
    @JoaoGabriel-lz2zz Год назад +2

    Uma amiga entendeu de que amargura era feita a minha aceitação, de que crime se alimentava meu ar sonhador, e rudemente me salvou.

  • @adonescruz
    @adonescruz 4 года назад +4

    É lindo de mais o amor é saber não possuir. Gigante Clarice, Gigante.

  • @Anderson63043
    @Anderson63043 4 года назад +6

    Da primeira vez que tivemos em casa um mico foi perto do Ano Novo. Estávamos sem água e sem empregada, fazia-se fila para carne, o calor rebentara -- e foi quando, muda de perplexidade, vi o presente entrar em casa, já comendo banana, já examinando tudo com grande rapidez e um longo rabo. Mais parecia um macacão ainda não crescido, suas potencialidades eram tremendas. Subia pela roupa estendida na corda, de onde dava gritos de marinheiro, e jogava cascas de banana onde caíssem. E eu exausta. Quando me esquecia e entrava distraída na área de serviço, o grande sobressalto: aquele homem alegre ali. Meu menino menor sabia, antes de eu saber, que eu me desfaria do gorila: "E se eu prometer que um dia o macaco vai adoecer e morrer, você deixa ele ficar? e se você soubesse que de qualquer jeito ele um dia vai cair da janela e morrer lá embaixo?" Meus sentimentos desviavam o olhar. A inconsciência feliz e imunda do macaco-pequeno tornava-me responsável pelo seu destino, já que ele próprio não aceitava culpas. Uma amiga entendeu de que amargura era feita a minha aceitação, de que crimes se alimentava meu ar sonhador, e rudemente me salvou: meninos de morro apareceram numa zoada feliz, levaram o homem que ria, e no desvitalizado Ano Novo eu pelo menos ganhei uma casa sem macaco.
    Um ano depois, acabava eu de ter uma alegria, quando ali em Copacabana vi o agrupamento. Um homem vendia macaquinhos. Pensei nos meninos, nas alegrias que eles me davam de graça, sem nada a ver com as preocupações que também de graça me davam, imaginei uma cadeia de alegria: "Quem receber esta, que a passe a outro", e outro para outro, como o frêmito num rastro de pólvora. E ali mesmo comprei a que se chamaria Lisette.
    Quase cabia na mão. Tinha saia, brincos, colar e pulseira de baiana. E um ar de imigrante que ainda desembarca com o traje típico de sua terra. De imigrante também eram os olhos redondos.
    Quanto a essa, era mulher em miniatura. Três dias esteve conosco. Era de uma tal delicadeza de ossos. De uma tal extrema doçura. Mais que os olhos, o olhar era arredondado. Cada movimento, e os brincos estremeciam; a saia sempre arrumada, o colar vermelho brilhante. Dormia muito, mas para comer era sóbria e cansada. Seus raros carinhos eram só ordida leve que não deixava marca.
    No terceiro dia estávamos na área de serviço admirando Lisette e o modo como ela era nossa; "Um pouco suave demais", pensei com saudade do meu gorila. E de repente foi meu coração respondendo com muita dureza: "Mas isso não é doçura. Isto é morte". A secura da comunicação deixou-me quieta. Depois eu disse aos meninos: "Lisette está morrendo". Olhando-a, percebi então até que ponto de amor já tínhamos ido. Enrolei Lisette num guardanapo, fui com os meninos para o primeiro pronto-socorro, onde o médico não podia atender porque operava de urgência um cachorro. Outro táxi -- Lisette pensa que está passeando, mamãe -- outro hospital. Lá deram-lhe oxigênio.
    E com o sopro de vida, subitamente revelou-se uma Lisette que desconhecíamos. De olhos muito menos redondos, mais secretos, mais aos risos e na cara prognata e ordinária uma certa altivez irônica; um pouco mais de oxigênio, e deu-lhe uma vontade de falar que ela mal aguentava ser macaca; era, e muito teria a contar. Breve, porém, sucumbia de novo, exausta. Mais oxigênio e dessa vez uma injeção de soro a cuja picada ela reagiu com um tapinha colético, de pulseira tilintando. O enfermeiro sorriu: "Lisette, meu bem, sossega!"
    O diagnóstico: não ia viver, a menos que tivesse oxigênio à mão e, mesmo assim, improvável. "Não se compra macaco na rua", censurou-me ele abanando a cabeça, "às vezes já vem doente". Não, tinha-se que comprar macaca certa, saber da origem, ter pelo menos cinco anos de garantia do amor, saber do que fizera ou não fizera, como se fosse para casar. Resolvi um instante com os meninos. E disse para o enfermeiro: "O senhor está gostando muito de Lisette. Pois se o senhor deixar ela passar uns dias perto do oxigênio, no que ela ficar boa, ela é sua". Mas ele pensava. "Lisette é bonita!", implorei eu. "É linda", concordou ele pensativo. Depois ele suspirou e disse: "Se eu curar Lisette, ela é sua". Fomos embora, de guardanapo vazio.
    No dia seguinte telefonaram, e eu avisei aos meninos que Lisette morrera. O menor me perguntou: "Você acha que ela morreu de brincos?". Eu disse que sim. Uma semana depois o mais velho me disse: "Você se parece tanto com Lisette!" "Eu também gosto de você", respondi.

  • @dali.salvador
    @dali.salvador 3 года назад +2

    Morava a poucas quadras de Clarice, mas só tinha 6 anos quando ela se foi. Será que a conheci? Será que passei na mesma calçada dela? Só sei que conheci Lisete e a amo demais.

  • @vaniaredemski5633
    @vaniaredemski5633 4 года назад +9

    Esse conto me marcou muito. Ouvi minha professora lendo ele, talvez eu tinha 7 ou 8 anos... Nunca esqueci. Recentemente o li outra vez... e outra... outra. Me identifiquei

    • @elianconceicaoluz6224
      @elianconceicaoluz6224 2 года назад

      Nossa!
      7 a 8 anos...
      Quando leio esse conto, envelheço anos.

    • @vaniaredemski5633
      @vaniaredemski5633 2 года назад

      @@elianconceicaoluz6224 Quando eu TINHA 7 ou 8 anos! Leia de novo meu post😉

  • @cidaflordesantana8668
    @cidaflordesantana8668 4 года назад +1

    Só Clarice!!! Ela me faz rir e chorar num mesmo conto! 😍

  • @Isabela.abrahao
    @Isabela.abrahao 2 года назад

    Foi esse conto que me fez apaixonar por ela

  • @raimundoalvesbrandao5714
    @raimundoalvesbrandao5714 4 года назад

    Muito bom...muito reflexão.

  • @SrTon_
    @SrTon_ 4 года назад +1

    Olá estou aqui pq estou lendo o livro é estou gostando

  • @anaclaudiavieirasilvasimoe2872
    @anaclaudiavieirasilvasimoe2872 3 года назад

    Obrigado

  • @euestoudevoltapontocom
    @euestoudevoltapontocom 4 года назад

    Eu até agora nã conheci nada da Clarice, mas gostei muito dos contos.

    • @dali.salvador
      @dali.salvador 3 года назад

      Gostar é pouco para Clarice. Ela atinge locais da minha alma que nem mesmo eu alcanço.

  • @flaviano8228
    @flaviano8228 4 года назад

    Me emocionei!

  • @franciscoardiles5628
    @franciscoardiles5628 3 года назад

    Quem lê os contos?