Maus: a história de um sobrevivente - Art Spiegelman [HQ E TEOLOGIA]

O universo das histórias em quadrinhos, embora antigo, ainda foi pouco explorado pela Teologia em si. As HQs entram no espaço da cultura pop e dialogam com diversos temas, inclusive os religiosos. Muitas vezes esses temas não são evidentes e, em outros momentos, se tornam a base da narrativa (como é o caso do Mundo de Edena de Moebius). Na HQ Maus é o discurso teológico é inferido a partir da narrativa que, em si, não é teológica. No entanto, é uma história que permite a construção de um diálogo bacana entre a visão teológica e a puramente humana, visto que a angústia do drama vivido pelo protagonista me levou a muitas indagações existenciais e cristãs. É a partir deste enredo, que se desenvolve em meio às memórias de Vladek Spiegelman do período da Alemanha nazista que reflito brevemente, neste vídeo, sobre a questão da fragilidade da fé.
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[@joaolisboa2909]

Acho muito interessante pensar essa perspectiva do "mal" e do posicionamento da "fé" frente esse mal. Porém no caso de Maus, acredito que um tema muito pertinente para ser pensado teologicamente é a relação familiar do filho e do pai, bem como o perdão nisso tudo. Geralmente essas questões ficam a cargo da psicanálise/psicologia, mas vejo ótima contribuição da teologia nessa seara.

[@pedrobecker1218]

Ótima reflexão!! Essa obra é magnífica. Eu utilizei essa HQ como recurso imagético na escola, quando estava fazendo um dos estágios do curso de licenciatura em história. Os quadrinhos, durante o período da Guerra Fria, foram alvo de inúmeras políticas repressivas pelos governos de direita. Serviram de bode expiatório. Bastava haver uma revolta estudantil, que logo os quadrinhos seriam colocados como sendo os culpados por gerarem o "comportamento rebelde". E tudo isso encontrava respaldo em diversos intelectuais da época. Assim, criou-se a mentalidade de que os quadrinhos afastavam os jovens da "verdadeira e boa leitura". Infelizmente, ainda vemos resquícios dessa mentalidade nos dias de hoje. Por causa disso, os quadrinhos só passaram a ser estudados academicamente, em tempos relativamente recentes, por exemplo... lá no fundo, ainda há um certo preconceito em relação à leitura de quadrinhos. E é por isso (também) que, na minha percepção, esse vídeo é maravilhoso.

[@PensarTeologia]

Não sabia disso e muito obrigada por me informar! Decididamente gostaria de falar sobre outras HQs, se tiver sugestões de quadrinhos que dialogam com temas teológicos e/ou filosóficos, estou aberta. :D
Abraços!

[@pedrobecker1218]

Que bom que está aberta à leitura de quadrinhos!! Seria muito enriquecedor estabelecer diálogos entre quadrinhos e teologia/filosofia, levando em consideração que trata-se de um campo de estudo relativamente recente, né.
Bom, quanto a sugestões, eu acho que eu poderia pensar em bastante coisa. Particularmente, eu tenho uma afinidade maior com quadrinhos de seguimento japonês (os mangás) - talvez pelo meu primeiro contato ter sido com eles. Então eu teria mais facilidade de indicar algo desse seguimento em específico.
Um quadrinho que eu recomendo muito a leitura, pela sua natureza filosófica (e também por estar em um volume único, o que facilita), é o Ghost in the Shell (não faz muito que saiu um filme sobre). A trama desse quadrinho é ambientada num cenário cyberpunk, e possui uma temática existencialista bem bacana (aquela coisa: "se a máquina adquire consciência de si, e percebe que pode reproduzir através de clonagens, o que as diferenciam de nós?").

[@pedrobecker1218]

São muitas as obras que partem de premissas filosóficas e, por vezes, teológicas. Mas a construção (filosófica ou teológica) que fazemos por cima delas, são subjetivas, né... Então eu teria que parar, dar uma respirada e tentar lembrar de algum diálogo interessante que eu tenha encontrado ou estabelecido... vou fazer o seguinte, quando eu lembrar de algo bacana, eu mando a indicação nos comentários de vídeos mais recentes, ok?!?!
Ah, aliás, descobri o teu canal recentemente, através de um vídeo sobre o Tillich. O teu canal é ótimo!!! Abraços.

[@PensarTeologia]

Pedro, fico feliz que tenha curtido o canal e encontrado nele um conteúdo interessante. Quanto ao diálogo com quadrinhos, é subjetivo mesmo, por isso se chama "diálogo", rs, isto é, não é algo feito apenas de um pólo, mas de uma construção bipolar. Também gosto muito de mangás (li bastante na adolescência) e meu contato com quadrinhos é um pouco mais recente. Infelizmente não compro tantas HQs quanto gostaria, hahaha, e queria ter mais tempo para lê-las. Eu já vi o filme "Ghost in the shell" e achei bem bacana, sempre quis ler o quadrinho. Vamos ver né? Obrigada pela sugestão! Abraço! :)

[@diogosantana6448]

Lissa, recomendo intensamente um livro chamado "Jó, romance de um homem simples" (Ed. Companhia das Letras) do Joseph Roth, onde o problema do sofrimento também é levantado como questão central. A partir do meio do livro o romance é bem previsível, contudo, o Roth escreve de uma forma tão singular que é impossível não chorar mesmo intuindo como o texto irá acabar.

[@PensarTeologia]

Obrigada pela dica! O dilema de Jó sempre interessou muito, vou dar uma pesquisada sobre esta obra na internet e ver como adquiri-la! Abraços!

[@evertonfagner]

Muito bom.
O problema do mal é central na relação da teologia com outras ciências humanas. Gostaria de ve-la discorrendo teologicamente sobrr isso. Me parece um paradoxo insolúvel, mas no processo sobre ele sempre se aprende muito.
A pergunta seria: como responder com fé e respeito a quem sofre nesses niveis?
CS Lewis aceitou o desafio e escreveu o Cristianismo Puro e Simples no pós guerra, mas ele foi muito menos direto na questão e teve mais o objetivo de resgate da fé e da cultura religiosa cristã, não se ocupou tanto do amago da questão.

[@PensarTeologia]

A questão do mal é uma das que mais adoro discutir pois nos leva à ideia de sofrimento, sentimentos, emoções, ou seja, nos coloca perante a potência da subjetividade humana. Mas sim, existem muitos nós dentro dessa questão, especialmente quando a colocamos frente à Teologia (a própria Bíblia é bem explícita no que concerne a presença do mal dentro das relações de fé). É uma boa ideia fazer um vídeo sobre isso sim Everton, vou pensar sobre como abordar esse assunto de modo teológico-filosófico! Muito obrigada pelo comentário e dica de leitura (ainda não li esta obra do CS Lewis).
Neste vídeo eu tentei caminhar para uma outra noção, mais discreta, do "mal" que é sua função propulsora de dúvidas e descrédito. Quando enfrentamos situações de violência e dor, quando somos vítimas dessas situações, dois caminhos aparecem: (1) ou Deus se torna a única certeza; (2) ou Deus se torna o alvo de nossas maiores indagações. Nestas situações entramos em terríveis dilemas existenciais que podem nos levar ao caminho do fortalecimento da fé ou, ao contrário, do distanciamento de Deus. Percebi, com essa HQ, que é preciso encontrar Deus no sofrimento e não apenas na alegria...
Abraços!