TVE REVISTA 13 08 2024 - Machado de Assis e a Travessia do Rubicon

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  • Опубликовано: 11 сен 2024
  • Luanna: Por que Machado era atemporal? Por que ele conquista todas as gerações?
    Adelmo: A própria linguagem é atemporal. A comunicação sempre envolve psicologia. Se a gente observar as novelas, as intrigas, na televisão, qualquer filme trata disso, então, nesse sentido, ele nunca vai deixar de ser atual. Agora, o que é atual no Machado de Assis, e isso é o que intriga muito, é o mistério. O Machado de Assis é misterioso porque como era um ser humano que não fez nem o ginásio, não tem ensino superior, como pode ter se tornado o maior escritor brasileiro? Essa é uma pergunta que ninguém respondeu até hoje.
    Luanna: E foi esse enigma que te instigou a pesquisar a obra dele?
    Adelmo: Esse enigma que mobilizou a busca. O que tem de psicológico no Machado de Assis? Qual o mistério que ele tem? Então, na obra dele, como ele escreve muito nas entrelinhas, a crítica, que passou mais de 100 anos lendo a obra de Machado, não percebeu que ali ele tinha escondido alguns conceitos que seguram ele, para ele pode não derrapar.
    -Luanna: E o que é essa derrapada, só para eu entender?
    -Adelmo: É, por exemplo, falar o que não deve. Publicar um livro que... ele não teve nenhuma obra que fosse condenada.
    -Luanna: E a gente está falando do século XIX.
    -Adelmo: É uma época. Na juventude dele, ele teve um colega, chamado Joaquim Serra, que teve uma peça “Quem tem boca vai a Roma” (1857), proibida pela censura, e a partir dessa peça, a gente foi descobrir que ali tinha uns fundamentos de Machado de Assis (Caiporismo e Rubicon), o cuidado com a censura. Ele se tornou, inclusive, censor, para trabalhar dentro dos censores, para compreender o que podia ser censurado.
    Luanna: Você traz então no livro uma reflexão de como Machado de Assis antecipou alguns conceitos da psicologia. Por exemplo, o que?
    Adelmo: Por exemplo, a ideia de Travessia do Rubicon. Tem um capítulo aqui só sobre isso. O que é a travessia do Rubicon? Quando Júlio César resolveu aumentar o império romano, ganhando a Gália, atravessando o Rio Rubicon, que era um acordo que não podia atravessar, ele foi contra um acordo, então... esse conceito, “atravessar o Rubicon”, é assim, eu vou arriscar alguma coisa, mas eu posso me dar mal.
    Luanna: Essa análise, de si mesmo, você fala que o Machado fazia isso...?
    Adelmo: O tempo todo. Ele mesmo foi se cuidando para não atravessar o Rubicon afoitamente. Quando ele publicou Memórias póstumas, que é a virada da literatura dele, foi um risco. Ele ficou um pouco doente antes disso. Em 1878-1879, ficou 3 meses afastado do Rio, porque estava como que gestando uma ideia, uma gravidez, que saiu um livro. Uma revolução.
    Luanna: E mudou tudo.

Комментарии • 2

  • @MarciacristinaOsta
    @MarciacristinaOsta 29 дней назад

    Li essa obra e me impressionou a capacidade interpretativa do autor Adelmo Rossi. O livro "A Cruel Filosofia do Narcisismo", do mesmo autor, nos permite uma leitura sob a ótica do Narcisismo, modificando assim toda a interpretação das grandes obras. Em suas obras, Machado foi se tratando e se precavendo e mostrando nas entrelinhas a nós, vermes leitores, a capacidade de fazermos uma autoanálise através da literatura. Parabéns, Adelmo Rossi, pela obra elucidária!

  • @MarcosSilva-mx2lx
    @MarcosSilva-mx2lx 29 дней назад +1

    A apresentadora soube conduzir com primazia. O livro é revelador, já o adquiri, muda muito o conceito tradicional de se enxergar um autor clássico, nos pega pela mão e apresenta de forma detalhada os conceitos psicológicos escondidos na obra.