Christian, primeiramente desejo a você e toda equipe do canal um ano interessante, como dizia Contardo. Segundo, queria pedir que fizesse um vídeo sobre o filme O Segredo de Marrowbone. Um abraço, e "acheronta movebo".
E ele ainda estava ali, sempre no luto infinito da família... até que Eunice, vivida por Fernanda Torres, recebe a tão esperada certidão de óbito para um alívio momentâneo. O retrato de um luto, talvez não muito bem elaborado, aparece claramente, quando Fernanda Montenegro, representando a Eunice idosa e já demenciada, reflete aos nossos olhos a dor de uma ausência permanente e incurável. Os meandros do luto são como passeios num labirinto pessoal daqueles que pela perda passam; hora seguem em dúvida, por vezes transitam livres e soltas para viverem dentro ou fora de uma realidade onde há recordações da presença em eterno contraste com a dor da ausência. É um passeio duro e confortável ao mesmo tempo, dependendo de como fazemos nosso percurso vivencial.... Agradeço a visão crítica do prof. Christian que sempre nos auxilia a reflexão. Torcendo para que este filme seja premiado por sua importância a nossa cultura. 🎉❤
"Preste atenção no que eu não digo... " Minha filha é roteirista, animadora, escritora e ilustradora. Assistimos a esse filme juntas e tivemos uma conversa que incluiu questões formais: fotografia, cenário, concepção, desenvolvimento, o rítmo da trama, a escolha do ponto de vista na abordagem do tema central, e até atuação. No entanto, o que impede que esta obra seja reduzida a quaisquer limitações formais é sua capacidade de gerar polêmica, devido à coragem e iniciativa do diretor de expor esse tema-símbolo que a perpassa e que tem como efeito, exposto nas relações entre as personagens, o MEDO. O medo naquilo que não se diz abertamente, no que se omite, esconde; no que se cala, no que não se pode falar, opinar. O grande tema são os crimes hediondos que deram esteio e respaldo para a ditadura militar brasileira e, antes disso, para o que fundamentou o Estado brasileiro secular, o processo de colonização. O filme escolheu falar do que não se podia falar, não falando, mas evidenciando o horror naquilo que não foi dito sob pena de nunca mais poder dizer qualquer coisa.
Cris, ótima análise. Filme lindo! E teremos Desejo em Cena de O Quarto ao Lado? Seria uma trilogia do luto - ou da finitude - Substância, Estou Aqui e Quarto? Como percebe a discussão desses temas no nosso momento histórico-social?
Chris: ❤. Vou pôr o q escrevi no vídeo do Chavoso: cd artista de vdd fala sobre a realidade que conhece de vdd e esperando que nela tenha algo de universal que toque os outros
Um fato bastante psicanalítico é que a obra de Marcelo é uma investigação sobre o desejo da mãe - nesse sentido, é como Le Clézio inquirindo o desejo do pai em seu O Africano
O filho respondeu a todas as críticas no programa Roda Viva dizendo " é um filme sobre minha mãe". Só isso, não era para ser um manifesto sobre desigualdade social brasileira.
Fico só me perguntando se um dia será possível cada um de nós brasileiros "sermos Eunice", elaborar este luto eterno da ditadura e nos posicionamos coletivamente contra as violências que continuam a assolar nossa sociedade brasileira
Uma dúvida que me veio foi quando se colocou a questão do "laço social transformativo", de que mesmo policiais do regime merecem uma maior compreensão porque são seres humanos complexos e tudo o mais...a questão é: podemos exigir solidariedade e compaixão pelos algozes da parte de suas vítimas? Até que ponto o oprimido é obrigado a compreender e perdoar seu opressor? Até que ponto a violência dos de baixo pode ser contida por considerações de ordem psicológica? Por que os oprimidos não podem revidar? Não são os próprios opressores que reduzem a complexidade e dignidade humanas a pó, com suas condutas de extermínio, torturas, mutilações, violências simbólicas e tudo o mais? Por que então suas vítimas é que devem ser obrigadas a compreendê-los, se esse processo exige uma reciprocidade que é recusada e tem suas bases solapadas pelos próprios opressores? A falta de empatia dos de baixo pelos de cima não é justamente a contrapartida dialética da violência diuturna destes contra aqueles? Porque, partindo dos moldes psicologizantes em que foi colocada a questão, parece que Dunker precisa sempre achar uma maneira de salvar seu avô nacional-socialista da implacável ira bolchevique!
Seria interessante ter um pouco mais de rigor a crítica da relação entre a classe social e a ditadura civil militar. Olhando para o que diz o Chavoso da USP, a importância de refletir sobre a repressão da ditadura militar e contextualizar os sistemáticos abusos policiais que sempre ocorreram e estão ocorrendo, é mostrar o que ocorreu com a família Paiva, ainda acontece de modo cotidiano nas periferias do Brasil. Nesse sentido, nesse momento há famílias sofrendo com isso sem nenhuma visibilidade e legitimação para o que está se passando. Além disso, a ditadura não acabou para parte da sociedade, se a arbitrariedade estatal continua, apesar de cessar para parte da população. Nesta perspectiva, para quem há democracia no Brasil? Não me parece uma questão de deslegitimar a dor da família do filme, mas elucidar que somente tem legitimidade para esse sofrimento, arbitrariedade do Estado, uma determinada classe social
Me incomoda muito dizer que críticas ao fato do filme ser SIM feito pela perspectiva de um homem branco e privilegiado, e todo o contexto.... é uma espécie de comparação de sofrimentos. Não se trata disso. Estamos no Brasil, uma país que tem como tradição usar do "esquecimento" e deturpação da própria história para tentar apagar seus horrores. Um país em que a ditadura não terminou para boa parte da população preta e favelada que sofre violência inimagináveis TODOS OS DIAS. Essas críticas nos lembram que a violência que o Estado permanece. Que a nossa luta não terminou, e é muito importante saber de onde vem as narrativas e isso em NADA diminui a beleza do filme e o sofrimento dessa mãe de família tão bem representada no trabalho impecável da Fernanda Montenegro. Falta humildade das classes abastadas em aceitar de forma honesta outras visões sobre o que se tem produzido a respeito da barbárie do golpe de 64. Não há disputa de dores, gente. Só precisamos de honestidade e disposição em ouvir todos os pontos de vistas. A luta é uma só.
Análise minuciosa, eu não tinha chegado a esse grau de profundidade da obra, mesmo tendo vivido na década de 70. Para mim a cena mais acachapante foi o contraplongée da imagem do terrível Garrastazú.
Dunker, Nunca vi no seu canal sobre esse assunto.... O nome nao é muito psicanalitico, eu acho. Mas a passivo agressividade me parece MUITO DANOSA! Principalmente , aquelas que acontecem com tintas de carinho, com piadinhas e dirigidas aos filhos e aos netos. Percebo que pais narcisistas além da conta, ou mesmo com traumas recalcados, ou sei lá que caraleos é que eles têm, começam a " castrar" ou dividir subjetivamente seus filhos e netos causando angustias profunda e até perda de uma parte da infância.Normalmente, começa à medida que eles comecam a manifestar habilidades com a linguagem.A serem mais sujeitos de si mesmo,na concepçao de sujeito de senso comum Quando comecam a argumentar, desejar, desempenhar , vitalmente, E não parar na idade adulta. Na verdade piora. O sucesso , a alegria incomoda, irrita, exaspera... Isso quando se consegue sentir tudo isso. Como lidar, sendo filho, e como lidar com os seus filhos sendo vitima disso com seus avós, quando o encontro é inevitável? Ia ser muito bom esse assunto! Abraço
Este vídeo é um convite para a reflexão daqueles que, mesmo no campo da esquerda ou no campo da democracia, fazem críticas ácidas e destrutivas ao filme...mais especificamente, dando nome aos bois: Jones Manuel e Chavoso da USP.
Não podemos encobrir o sentimento das pessoas que não se vêem representadas pelo filme. Essas pessoas reconhecem que é um filme baseado em uma história "particular" de uma família, mas será que estamos prestando atenção na crítica como um mal estar ? Precisamos prestar atenção nos efeitos colaterais do filme em relação também com esses sentimentos, independente de como a psicanálise opera no sentido da gramática de "cálculo" do sofrimento.
Parabéns!! Muito boa sua análise. Nenhum discurso dará conta de todas facetas do ser. E uma dor é uma dor. Merece respeito. Escuta
O filme brasileiro do ano!!! 🎉🎉❤
No enterro do cachorro, o luto contido da família.. cena maravilhosa! Que filme!
Melhor crítica, reflexão sobre esse filme que eu já ouvi. Grata.
😢brigada, Christian! Amei sua análise e de Maria Homem - ajudando nós brasileiros a irmos além. Boa travessia! ❤
Maravilhosa resposta. Obrigada.
Christian, primeiramente desejo a você e toda equipe do canal um ano interessante, como dizia Contardo. Segundo, queria pedir que fizesse um vídeo sobre o filme O Segredo de Marrowbone. Um abraço, e "acheronta movebo".
Excelente filme, inclusive um alerta para 2026!!!! Qual o desejo da população?
Por isso eu sempre estou aqui nesse canal ❤. Obrigada!
Perfeito
Análise maravilhosa! 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻
Parabéns pela análise cuidadosa sempre, prof Dunker. Bom 2025 p Vc e toda equipe ❤🎉❤
E ele ainda estava ali, sempre no luto infinito da família... até que Eunice, vivida por Fernanda Torres, recebe a tão esperada certidão de óbito para um alívio momentâneo.
O retrato de um luto, talvez não muito bem elaborado, aparece claramente, quando Fernanda Montenegro, representando a Eunice idosa e já demenciada, reflete aos nossos olhos a dor de uma ausência permanente e incurável.
Os meandros do luto são como passeios num labirinto pessoal daqueles que pela perda passam; hora seguem em dúvida, por vezes transitam livres e soltas para viverem dentro ou fora de uma realidade onde há recordações da presença em eterno contraste com a dor da ausência. É um passeio duro e confortável ao mesmo tempo, dependendo de como fazemos nosso percurso vivencial....
Agradeço a visão crítica do prof. Christian que sempre nos auxilia a reflexão.
Torcendo para que este filme seja premiado por sua importância a nossa cultura. 🎉❤
Comentário perfeito
Fantástico
bela Análise Dunker!!!!!!!!O sofrimento é de todos nós,vítimas da ditadura!!!!!!Feliz Ano Novo!!!!!
"Preste atenção no que eu não digo... "
Minha filha é roteirista, animadora, escritora e ilustradora. Assistimos a esse filme juntas e tivemos uma conversa que incluiu questões formais: fotografia, cenário, concepção, desenvolvimento, o rítmo da trama, a escolha do ponto de vista na abordagem do tema central, e até atuação.
No entanto, o que impede que esta obra seja reduzida a quaisquer limitações formais é sua capacidade de gerar polêmica, devido à coragem e iniciativa do diretor de expor esse tema-símbolo que a perpassa e que tem como efeito, exposto nas relações entre as personagens, o MEDO.
O medo naquilo que não se diz abertamente, no que se omite, esconde; no que se cala, no que não se pode falar, opinar.
O grande tema são os crimes hediondos que deram esteio e respaldo para a ditadura militar brasileira e, antes disso, para o que fundamentou o Estado brasileiro secular, o processo de colonização.
O filme escolheu falar do que não se podia falar, não falando, mas evidenciando o horror naquilo que não foi dito sob pena de nunca mais poder dizer qualquer coisa.
Cris, ótima análise. Filme lindo! E teremos Desejo em Cena de O Quarto ao Lado? Seria uma trilogia do luto - ou da finitude - Substância, Estou Aqui e Quarto? Como percebe a discussão desses temas no nosso momento histórico-social?
E,Luz Vermelha no Tempo PorVir...🎉 excelente foco
Amei . Vi ontem . E que fotografia ( Adrian) em technicolor .
Você é brilhante.
Chris: ❤. Vou pôr o q escrevi no vídeo do Chavoso: cd artista de vdd fala sobre a realidade que conhece de vdd e esperando que nela tenha algo de universal que toque os outros
Capacidade de fazer história!!!! Excelente !!!👏👏
Ótima análise!!! Obrigada, Dunker!
Eu amei.❤❤
O golpe está mais perto do que imaginamos...chocante 😢
Sim, estamos aqui pra criar laços, sermos solidários. Construir forças regenerativas para as perdas a que estamos inerentes. Feliz 2025!!!
Mais simbólico e menos imaginário gnt ❤
Chris, você podia fazer um vídeo falando do Round 6!!
Um fato bastante psicanalítico é que a obra de Marcelo é uma investigação sobre o desejo da mãe - nesse sentido, é como Le Clézio inquirindo o desejo do pai em seu O Africano
Filme incrível. +Dunker -Chavoso, Jones
Boa tarde.
O filho respondeu a todas as críticas no programa Roda Viva dizendo " é um filme sobre minha mãe". Só isso, não era para ser um manifesto sobre desigualdade social brasileira.
Fico só me perguntando se um dia será possível cada um de nós brasileiros "sermos Eunice", elaborar este luto eterno da ditadura e nos posicionamos coletivamente contra as violências que continuam a assolar nossa sociedade brasileira
ouviu jones manuel?
O desaparecimento de Rubens Paiva, bem como de outros que desapareceram sem um corpo pra velar foi cruel
Uma dúvida que me veio foi quando se colocou a questão do "laço social transformativo", de que mesmo policiais do regime merecem uma maior compreensão porque são seres humanos complexos e tudo o mais...a questão é: podemos exigir solidariedade e compaixão pelos algozes da parte de suas vítimas? Até que ponto o oprimido é obrigado a compreender e perdoar seu opressor? Até que ponto a violência dos de baixo pode ser contida por considerações de ordem psicológica? Por que os oprimidos não podem revidar?
Não são os próprios opressores que reduzem a complexidade e dignidade humanas a pó, com suas condutas de extermínio, torturas, mutilações, violências simbólicas e tudo o mais? Por que então suas vítimas é que devem ser obrigadas a compreendê-los, se esse processo exige uma reciprocidade que é recusada e tem suas bases solapadas pelos próprios opressores? A falta de empatia dos de baixo pelos de cima não é justamente a contrapartida dialética da violência diuturna destes contra aqueles?
Porque, partindo dos moldes psicologizantes em que foi colocada a questão, parece que Dunker precisa sempre achar uma maneira de salvar seu avô nacional-socialista da implacável ira bolchevique!
Seria interessante ter um pouco mais de rigor a crítica da relação entre a classe social e a ditadura civil militar. Olhando para o que diz o Chavoso da USP, a importância de refletir sobre a repressão da ditadura militar e contextualizar os sistemáticos abusos policiais que sempre ocorreram e estão ocorrendo, é mostrar o que ocorreu com a família Paiva, ainda acontece de modo cotidiano nas periferias do Brasil. Nesse sentido, nesse momento há famílias sofrendo com isso sem nenhuma visibilidade e legitimação para o que está se passando. Além disso, a ditadura não acabou para parte da sociedade, se a arbitrariedade estatal continua, apesar de cessar para parte da população. Nesta perspectiva, para quem há democracia no Brasil? Não me parece uma questão de deslegitimar a dor da família do filme, mas elucidar que somente tem legitimidade para esse sofrimento, arbitrariedade do Estado, uma determinada classe social
Eu não gosto de análises assim porque eu só vejo Freud, não vejo o filme.
Me incomoda muito dizer que críticas ao fato do filme ser SIM feito pela perspectiva de um homem branco e privilegiado, e todo o contexto.... é uma espécie de comparação de sofrimentos. Não se trata disso. Estamos no Brasil, uma país que tem como tradição usar do "esquecimento" e deturpação da própria história para tentar apagar seus horrores. Um país em que a ditadura não terminou para boa parte da população preta e favelada que sofre violência inimagináveis TODOS OS DIAS. Essas críticas nos lembram que a violência que o Estado permanece. Que a nossa luta não terminou, e é muito importante saber de onde vem as narrativas e isso em NADA diminui a beleza do filme e o sofrimento dessa mãe de família tão bem representada no trabalho impecável da Fernanda Montenegro. Falta humildade das classes abastadas em aceitar de forma honesta outras visões sobre o que se tem produzido a respeito da barbárie do golpe de 64. Não há disputa de dores, gente. Só precisamos de honestidade e disposição em ouvir todos os pontos de vistas. A luta é uma só.
Análise minuciosa, eu não tinha chegado a esse grau de profundidade da obra, mesmo tendo vivido na década de 70. Para mim a cena mais acachapante foi o contraplongée da imagem do terrível Garrastazú.
Dunker,
Nunca vi no seu canal sobre esse assunto.... O nome nao é muito psicanalitico, eu acho.
Mas a passivo agressividade me parece MUITO DANOSA!
Principalmente , aquelas que acontecem com tintas de carinho, com piadinhas e dirigidas aos filhos e aos netos.
Percebo que pais narcisistas além da conta, ou mesmo com traumas recalcados, ou sei lá que caraleos é que eles têm, começam a " castrar" ou dividir subjetivamente seus filhos e netos causando angustias profunda e até perda de uma parte da infância.Normalmente, começa à medida que eles comecam a manifestar habilidades com a linguagem.A serem mais sujeitos de si mesmo,na concepçao de sujeito de senso comum
Quando comecam a argumentar, desejar, desempenhar , vitalmente,
E não parar na idade adulta. Na verdade piora. O sucesso , a alegria incomoda, irrita, exaspera...
Isso quando se consegue sentir tudo isso.
Como lidar, sendo filho, e como lidar com os seus filhos sendo vitima disso com seus avós, quando o encontro é inevitável?
Ia ser muito bom esse assunto!
Abraço
Este vídeo é um convite para a reflexão daqueles que, mesmo no campo da esquerda ou no campo da democracia, fazem críticas ácidas e destrutivas ao filme...mais especificamente, dando nome aos bois: Jones Manuel e Chavoso da USP.
"Ah mas o filme faz um recorte muito limitado da época, do ponto de vista de uma família classe média, branca"
Sim.
Descomplica, Christian "Lacan" Dunker! Desteoriza...
Ai cara, é um canal de psicanálise...se não quer teoria ai, vai ver outra coisa. Eu ein
Achei nada muito complexo o que ele disse
Não podemos encobrir o sentimento das pessoas que não se vêem representadas pelo filme. Essas pessoas reconhecem que é um filme baseado em uma história "particular" de uma família, mas será que estamos prestando atenção na crítica como um mal estar ? Precisamos prestar atenção nos efeitos colaterais do filme em relação também com esses sentimentos, independente de como a psicanálise opera no sentido da gramática de "cálculo" do sofrimento.