Aqui no nordeste (Piauí, não sei nos outros estados): eu não digo, eu não digo não, eu não digo nada, eu digo nada, eu digo é nada, e o nordestino cabra macho diz: eu digo é porra. Kkkkkkkkkkkkk
Muito bem feito, esse seu vídeo! Como falante de crioulo cabo-verdiano, eu gostaria de dar uma achega. O crioulo cabo-verdiano mostra claramente que esses dois «não» são categorias gramaticais diferentes, sobretudo porque, morfologicamente, são diferentes. Primeiro, existe aquilo que se chama «negação de constituinte». Para negar um constituinte da oração (verbo, adjetivo, advérbio, etc.) usa-se a palavra «ka». A negação do constituinte serve para dar um significado inverso ao constituinte que está a negar. Exemplos: «E’ ka ta bebe.» (Ele não bebe.) «E’ ta bebe agu’ ka jeladu.» (Ele bebe água não gelada.) «E’ txiga ka sédu, ka tardi, e’ txiga dentu d’ óra.» (Ele chegou não cedo, não tarde, ele chegou a horas.) Segundo, existe aquilo que se chama «negação frásica». Para isso, existe o vocábulo «nâu» (pode variar dialetalmente). A negação frásica é como se fosse para substituir uma frase inteira mas com o sentido negativo, é o contrário de «sin» (sim). Por exemplo, depois da pergunta: «Bu bai pa praia?» (Tu foste à praia?) em vez de se responder: «N ka bai pa praia.» (Eu não fui à praia.) responde-se pura e simplesmente: «Nâu.» (Não.) Juntando as duas coisas, o exemplo dado no título deste vídeo seria traduzido por: «N ka pode, nâu.» (Eu não posso, não) o que mostra que enquanto o «ka» está a negar o verbo, o «nâu» é apenas um reforço, não faz parte da oração anterior e pode, por si só, constituir uma frase. O inverso do exemplo no título seria: «N pode, sin.» (Eu posso, sim.) Eu espero ter contribuído com algo, continue a fazer bons vídeos.
Eu faço conlangs, línguas fictícias, e um dos meus fenômenos linguísticos preferidos que eu implementei em uma das minhas línguas é justamente o cíclo de Jespersen
@@cauaspelta1064 Eu não sou muito bom nessa arte ainda kkkk, mas geral eu começo ou pela fonologia e escolho os sons que desejo na minha língua, me baseando em uma estética particular: eu quero que ela pareça elegante? ou mais "bruta"? ou que soa mais como uma língua africana? europeia? ou uma língua de um povo vindo das américas? etc. ou eu começo por um elemento aleatório da língua. Por exemplo uma de minhas línguas eu comecei pelos números cardinais : um dois, três, etc. mas sem nem mesmo ter a intenção de criar uma nova língua. E só depois decidi desenvolvê-la. Ai depois eu não saberia como dizer o resto do passo a passo. Recomendaria ver videos sobre o assunto. O ato de criar línguas tem um nome, se chama Conlanging.
Acho esse tema lindo. E ai que as natlangs perdem pras as loglangs e verloglangs. O circulo de Jespersen hoje e visto como negação redudante, antigamente sita dupla negação, mas na verdade é um ilogicismo, pois na lógica lingusitica negacao dupla =uma afirmacao o que justamente nosso querido Otto Jespersen combatia enquanto vico e suas ideias combatem esse vício de fala até hoje.
Não! Essa questão do verbo em segunda posição já era parte da língua há muito tempo e é um traço marcante das línguas germânicas (principalmente em línguas como o alemão e o neerlandês). A ordem dos elementos em alto alemão antigo, por exemplo, é praticamente igual à do alemão padrão atual, só a negação que ia antes do verbo. :)
Difícil agüentar é o tal "Eu não fui, não." com essa vírgula intrusa, falsa e incompatível com a prosódia, puramente inventada por professores de português com a mente apequenada, reduzida à gramática normativa, sem o menor conhecimento de linguística.
Aqui no nordeste (Piauí, não sei nos outros estados): eu não digo, eu não digo não, eu não digo nada, eu digo nada, eu digo é nada, e o nordestino cabra macho diz: eu digo é porra. Kkkkkkkkkkkkk
Muito bem feito, esse seu vídeo! Como falante de crioulo cabo-verdiano, eu gostaria de dar uma achega.
O crioulo cabo-verdiano mostra claramente que esses dois «não» são categorias gramaticais diferentes, sobretudo porque, morfologicamente, são diferentes.
Primeiro, existe aquilo que se chama «negação de constituinte». Para negar um constituinte da oração (verbo, adjetivo, advérbio, etc.) usa-se a palavra «ka». A negação do constituinte serve para dar um significado inverso ao constituinte que está a negar. Exemplos:
«E’ ka ta bebe.» (Ele não bebe.)
«E’ ta bebe agu’ ka jeladu.» (Ele bebe água não gelada.)
«E’ txiga ka sédu, ka tardi, e’ txiga dentu d’ óra.» (Ele chegou não cedo, não tarde, ele chegou a horas.)
Segundo, existe aquilo que se chama «negação frásica». Para isso, existe o vocábulo «nâu» (pode variar dialetalmente). A negação frásica é como se fosse para substituir uma frase inteira mas com o sentido negativo, é o contrário de «sin» (sim). Por exemplo, depois da pergunta:
«Bu bai pa praia?» (Tu foste à praia?)
em vez de se responder:
«N ka bai pa praia.» (Eu não fui à praia.)
responde-se pura e simplesmente:
«Nâu.» (Não.)
Juntando as duas coisas, o exemplo dado no título deste vídeo seria traduzido por:
«N ka pode, nâu.» (Eu não posso, não)
o que mostra que enquanto o «ka» está a negar o verbo, o «nâu» é apenas um reforço, não faz parte da oração anterior e pode, por si só, constituir uma frase. O inverso do exemplo no título seria:
«N pode, sin.» (Eu posso, sim.)
Eu espero ter contribuído com algo, continue a fazer bons vídeos.
Eu faço conlangs, línguas fictícias, e um dos meus fenômenos linguísticos preferidos que eu implementei em uma das minhas línguas é justamente o cíclo de Jespersen
Vc posta sobre suas línguas?
Vc posta suas línguas?
Como é o passo a passo pra você fazer suas línguas fictícias
@@cauaspelta1064 Eu não sou muito bom nessa arte ainda kkkk, mas geral eu começo ou pela fonologia e escolho os sons que desejo na minha língua, me baseando em uma estética particular: eu quero que ela pareça elegante? ou mais "bruta"? ou que soa mais como uma língua africana? europeia? ou uma língua de um povo vindo das américas? etc. ou eu começo por um elemento aleatório da língua. Por exemplo uma de minhas línguas eu comecei pelos números cardinais : um dois, três, etc. mas sem nem mesmo ter a intenção de criar uma nova língua. E só depois decidi desenvolvê-la. Ai depois eu não saberia como dizer o resto do passo a passo. Recomendaria ver videos sobre o assunto. O ato de criar línguas tem um nome, se chama Conlanging.
Ah❤ que canal adorável
Literalmente pois eu adoro esse tipo de informação sobre as línguas.
Como sempre um ótimo vídeo. Já ouvi alguém falar "Ela é bonita, né? " aqui no Brasil.
Amo o ciclo de Jespersen! Tava até falando dele com um amigo esses dias. Vou mostrar o vídeo pra ele.
Compartilhe, compartilhe! :)
PiterKeo e Alomorfe! Dois dos meus canais preferidos ❤❤❤
Sani Vitor! Che bel video. Te ghè fato un bel łaoro! Deso no vao mia desmantegar parchè gavemo "no....mia" ntel vèneto hehehehe
Grasie! E tante altre łengue de'l norte łe gà sta maniera par negar na fraxa :)
Acho esse tema lindo.
E ai que as natlangs perdem pras as loglangs e verloglangs.
O circulo de Jespersen hoje e visto como negação redudante, antigamente sita dupla negação, mas na verdade é um ilogicismo, pois na lógica lingusitica negacao dupla =uma afirmacao o que justamente nosso querido Otto Jespersen combatia enquanto vico e suas ideias combatem esse vício de fala até hoje.
Vim aqui comentar qualquer coisa ❤ Ninguém faz vídeos melhores que esses não
Naaaah, eu só tento :P
Isso também vale pra negações do tipo “eu não tenho nada" ou "eu não bebi nada"? Porque se você não bebeu nada, significa que você bebeu alguma coisa
Também quero saber! Pelo pouco que sei, sim, seguiriam o mesmo raciocínio (não sei se a mesma regra)...
Fascinante
Vale dizer que essa negação dupla não é algo recente no português. Eu já encontrei exemplos dela em Gregorio de Matos e até em Camões
Ou eu ou você falamos desse jeito? Ou você ou eu falo desse jeito??
Faz um episódio sobre os sujeitos disjuntos com Ou..Ou
🤩🤩
Quando tivermos resultados hihihi :)
Primeiro eu dou um like e só depois é que eassisto.
👏👏👏👏👏
Se o alemão já teve um não antes do verbo, então a regra do verbo em segunda posição é uma inovação consideravelmente recente? 😮
Não! Essa questão do verbo em segunda posição já era parte da língua há muito tempo e é um traço marcante das línguas germânicas (principalmente em línguas como o alemão e o neerlandês). A ordem dos elementos em alto alemão antigo, por exemplo, é praticamente igual à do alemão padrão atual, só a negação que ia antes do verbo. :)
nao gostei pouco do tema do video nao! gostei foi muito!😊
Muito obrigado! Amei esse comentário, até tive que ler duas vezes HAHAHAHAHHAHA
Difícil agüentar é o tal "Eu não fui, não." com essa vírgula intrusa, falsa e incompatível com a prosódia, puramente inventada por professores de português com a mente apequenada, reduzida à gramática normativa, sem o menor conhecimento de linguística.
Pois é, essa vírgula é bem sem sentido, vem de uma interpretação errada do que acontece :')
Né não? Concordo
Eu não acredito que exista algum povo que fale o próprio idioma corretamente, simplesmente porque conhece linguística.
Essa vírgula faz sentido porque separa a oração da negação frásica. A negação frásica não faz parte da oração.
Não confunda ornitorrinco com otorrinolaringologista, ornitorrinco com otorrinolaringologista não se confundem.