UnB Marcia Neves Bodanzky
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- Опубликовано: 7 окт 2024
- UnB - A universidade interrompida
Tive o privilégio de ser da primeira turma de alunos da Universidade de Brasília.
Meu pai, Artur Neves, fundador da Editora Brasiliense e editor das obras completas de Monteiro Lobato, num encontro casual com Darcy Ribeiro no saguão do aeroporto de Congonhas, em 1962, foi convidado por ele a implantar a editora da UnB. Entusiasmado, ele seguiu impetuosamente o Darcy, no mesmo voo, sem mala, sem roupas, para um desafio maravilhoso: junto com os maiores professores e intelectuais brasileiros, construir uma universidade modelo.
Baseados nas ideias de Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro, dois pensadores da educação que conseguiam concretizar seus planos, mudando leis e atraindo pessoas idealistas como eles, fundaram em pouco tempo uma universidade de padrão internacional, erguida num campusque congregava professores e alunos numa alegre fraternidade. Oscar Niemeyer, Lucio Costa, Alcides da Rocha Miranda, Hermes Lima, Abgar Renault, Frei Mateus Rocha, José Leite Lopes, Maurício Rocha e Silva, Cyro dos Anjos, Eudoro de Souza, Agostinho da Silva, Amélia Toledo, Paulo Emílio Salles Gomes, Cláudio Santoro, eram nomes desse primeiro período da UnB.
E esse entusiasmo coletivo fez com que, em pouco tempo, a UnB se erguesse, realizando o primeiro vestibular, recebendo os primeiros alunos.
No dia 9 de abril de 1964, contudo, uma semana depois do golpe militar que alijou Jango Goulart do poder e acabou com a democracia no Brasil, dois mil soldados armados com metralhadoras invadiram o campus universitário. Num arremedo de caça às bruxas, eles apreendiam livros e bandeiras, cometendo equívocos risíveis, como arrebatar a bandeira japonesa, julgando que fosse da China comunista, ou exemplares de O vermelho e o Negro, magistral romance de Stendhal, como obra subversiva.
Mas o que dá pra rir, também dá pra chorar e foram amargos os dias que sucederam ao golpe: 16 coordenadores de curso e professores fugiram para não serem presos, alunos e líderes estudantis foram perseguidos e detidos.
Meu pai fugiu anonimante para São Paulo, sua cidade de origem, e nem mesmo nós, a sua família, sabíamos de seu paradeiro, como medida de segurança.
A universidade ficou acéfala e todos nós sentimos que o sonho acabara.
Ainda hoje me indago o que foi que motivou invasão tão precipitada, quando as coisas ainda não estavam tão organizadas, no novo regime. E, é claro, penso que foi um golpe de mestre, uma tentativa bem sucedida de acabar com a intelligentsia brasileira, deixando a UnB, tão promissora, como terra arrasada. Aquele celeiro de novas ideias e experimentações científicas e humanísticas, com a pretensão de ser um plano-piloto a ser replicado nas demais universidades brasileiras, ainda tentou resistir por quase um ano.
Mas a crise havia sido muito profunda, o golpe mortífero, culminando em outubro de 1965 com a demissão em massa de 223 dos professores remanescentes
O sonho acabara. Os dois reitores que sucederam Darcy e Anísio, os professores Zeferino Vaz e Laerte Ramos, não tinham a estatura nem a grandeza de seus antecessores e entraram numa política mesquinha de desmoralização do quadro docente da UnB que eles, injustamente, consideravam medíocre.
A quem se interessar pelo assunto, recomendo o excelente livro do Prof. Roberto A. Salmeron, A Universidade Interrompida - Brasília 1964-1965, Brasília, Editora da UnB, 1999.
Muito elucidativo também é ler o Plano Orientador da Universidade de Brasília, Brasília, Editora da UnB, 1962.
Excelente!! Meu amor professor universitário doutor em história vai amar esse depoimento.
Vídeo sensacional. Obrigada por compartilhar!
Olá Marcia, um belo depoimento! Um verdadeiro golpe de morte na Universidade e também num projeto educacional para o país... É importante essa sua fala também no sentido de nos ajudar a perceber os métodos golpistas do passado, que alguns tentam repetir no presente... Obrigada!
Olá Jorge, tudo bem?
Sou estudante da Faculdade de Comunicação UnB e estou, junto com dois amigos, preparando uma matéria sobre o golpe na UnB para a disciplina de Jornalismo em Televisão. Podemos usar trechos desse depoimento na nossa matéria?
Muito obrigada!
Olá, Nívea, aqui é a Marcia . Pode usar, sim, a minha fala sobre a UnB e o golpe. Depois me mande o trabalho de vocês. Um beijo.
um excelente depoimento.