Veronica Stigger: «O útero do mundo: Clarice Lispector, a arte, a histeria»
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- Опубликовано: 12 сен 2024
- Em textos como 'Água viva', Clarice Lispector retomou o elogio surrealista do impulso histérico na forma de um pensamento simultâneo da forma artística e do corpo humano como lugares de êxtase, isto é, de saída de si - e de saída, também, das ideias convencionais de arte e de humanidade. Nesta conferência, escrita paralelamente à preparação de uma exposição para o Museu de Arte Moderna de São Paulo, três conceitos extraídos da escritora-filósofa - grito ancestral, montagem humana e vida primária - servirão de balizas num percurso por uma série de obras visuais dos séculos XX e XXI.
Veronica Stigger é professora de História da Arte na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e coordena o curso de Criação Literária da Academia Internacional de Cinema. Como ficcionista, é autora dos livros O trágico e outras comédias (2003), Gran Cabaret Demenzial (2007), Os anões (2010), Massamorda (2011), Delírio de Damasco (2012), Minha novela (2013), Opisanie swiata (2013), Sul (2013, edição argentina; edição brasileira atualmente no prelo) e Nenhum nome é verdade (2016). Foi curadora das exposições Maria Martins: metamorfoses (MAM-SP, São Paulo, 2013) e, com Eduardo Sterzi, Variações do corpo selvagem: Eduardo Viveiros de Castro, fotógrafo (SESC Ipiranga, São Paulo, 2015).
Essa conferência chegou como uma sessão de terapia pra mim.
Que maravilha de conferência! Quanta luz sobre tão mal compreendido termo: histeria! Quanta revelação sobre a nossa potência mais fundamental, a criatividade. Muito interessante a relação buscada, muito original! Mergulhou na história do pensamento filosófico, indo de Platão a Deleuze, trazendo a tona a fascinante evolução da expressão artística refletida também na literatura de Clarice Lispector. O útero não apenas como elemento produtor da vida mas como símbolo mágico e metafórico, estruturador da criação artística. Iluminou o conceito de histeria retirando-o da marginalidade e da incompreensão histórica. Útero = histerus = histeria. Arte que foge do controle sendo pura paixão: "Uma histeria necessária para escrever". Se Freud já havia esclarecido, por que ainda não havíamos entendido?: "uma histeria é uma caricatura de uma obra de arte". Mostrando como a histeria emergiu do âmbito patológico e foi finalmente entendida como sendo "um meio supremo de expressão", deu à luz o verdadeiro sentido da capacidade de expressão artística humana, antes vista como loucura típica das mulheres. Mostrou o preconceito sobre a mulher, a repressão sobre o corpo feminino que se contorceu, sofreu e reagiu à potência da arte. "Experimentar o feminino terrível, diz Artaud, tentando explicar o caminho da expressão artística. A loucura e a histeria no “grito” expressando a possibilidade de entendimento em Clarice, quando o humano vai em busca do animal em si a fim de liberar forças ancestrais e adquirir um sentido real, além do humano. "Nós, que guardamos o grito como segredo inviolável", dizia Clarice. Então, no fundo desejamos o grito porque nos alimentamos essencialmente de arte. Mas teremos a coragem de gritar?
Vou mostrar essa palestra aos meus alunos. Certeza que lhes tocará imensamente, como a mim me tocou.
muito bom ❤️
Nunca fui com a cara de Clarice Lispector, embora tenha gostado (com inúmeras ressalvas) de aproximadamente meia dúzia de contos e de "A hora da estrela". Tentei ler "Água viva" e "A paixão Segundo GH", mas em menos de 50 páginas conclui que já poderia abandonar a leitura sem precisar conviver com nenhum tipo de remorso (aliás, essa talvez tenha sido a única epifania verdadeiramente grandiosa que tu tive ao longo da leitura). Em linhas gerais, eu diria que o que mais me torra a paciência diante de um típico texto de Clarice é aquilo que talvez melhor defina os méritos de sua escrita, segundo avaliação de críticos e o juízo de muitos de seus leitores, a saber, alguma coisa próxima de "estranhamento inquietante" e "intimismo". Essas duas "pulsões" sempre me pareceram excessivamente forçadas, desproporcionais e, justamente por isso, muito inverossímeis, razão pela qual eu não consigo me identificar com 10% do que ela diz, praticamente nada ali me comovi. "O principal recurso estético de Clarice é o psitacismo. Em condições normais, isso deveria ser classificado como charlatanismo retórico, e não reverenciado como experimentalismo poético.", disse certa vez uma amiga minha. Até hoje eu a inveja pela precisão aforística com que ela sintetizou o modo como eu vejo CL. Um abraço!