Li toda a trilogia que só recentemente foi lançada. O personagem que aparece no segundo livro demonstra a maturidade de um autor na construção de uma história. Wassermann deve ser leitura obrigatória para quem quer entender o zeitgeist alemão antes da segunda guerra.
Concordo com você! Estou no terceiro volume. Lá no perfil do Insta @leitor.vip tem 3 Diários de Leitura em vídeos do segundo volume que ainda não trouxe pra cá. Em breve o primeiro Diário do terceiro!
O Processo Maurizius tem uma estrutura narrativa extremamente original. Veja que há duas relações entre pai e filho, a de Pedro Paulo Maurizius e Leonardo Maurizius e a do Barão Andergast e Etzel Andergast. Daí a ação narrativa se passar quase que em dois momentos, o passado que se desenrola e se desvela à medida que Etzel, no presente narrativo, se posiciona e assume a luta pela verdade, mesmo que ela lhe custe a destruição do pai, como acontece no final. É uma luta geracional, política, espiritual. Etzel é uma personagem eminentemente trágica como a Antígona, sobre a qual diz Hegel que a decisão de sepultar o irmão morto enfrenta tanto o familiar (desobedece o marido, o Rei), o político (desobedece o edito do Rei) e o cósmico (fala em nome de um direito anterior ao panteão grego, fala em nome de um direito das entidades pré-helênicas sacrossantas da terra). Todos esses elementos são perturbados pela decisão trágica de Etzel. Heidegger aponta, a partir do primeiro Coro da Antígona, as expressões que definem o homem no trágico: hypsipolis ápolis e panthóporos áporos. Quer dizer, o mais eminente da pólis é sem pólis (hypsipolis ápolis). Veja que Etzel, como Antígona, é um protegido, filho de um magistrado, eminente, mas se preocupa e se desencaminha, foge, em busca da verdade, tornando-se "por todos os caminhos, sem caminho, desencaminhado" (panthóporos áporos). A experiência de Etzel desentranha aspectos sombrios da verdade e destroi a mentira de Warreme/Waschauer, esse sim uma espécie de Stavróguin, um demônio. A revelação da verdade, que nunca é total, traz de volta a mãe de Etzel. O livro põe em xeque o conceito de verdade platônico, trata-se de uma verdade que nunca se desvela totalmente. Não é, portanto, sobre justiça, mas sobre ética, sobre o ser, e sobre o fato de que o desvelamento da verdade nunca é total. Quanto mais se descobre o enigma do passado de Leonardo Mauritizius, Eli, Ana Jahn e Waremme, mais denso se torna o mistério. Não é da doxa que se trata, portanto. O livro toca no que Freud chama de "das Unheimlich", o estranho, formado pela palavra "Heim", casa. Ou seja, o não-familiar (Unheim) está no mais familiar. Etzel não conhece o pai, a mãe, o passado e o descobre ao encontrar o outro, tão estranho e tão familiar, Maurizius, que lhe desvela os aguilhões de seu passado e liberta sua mãe, condenada ao ostracismo pelo pai. E tantas coisas mais...Livro maravilhoso. Observem também que os tradutores são dois autores brasileiros de romances trágicos geniais, Adonias Filho e Octávio de Faria. Suas obras seguiram essa forma de representação dramática da verdade de Wassermann, assim como também dialogaram com Faulkner. Esse caras ficaram esquecidos pela história literária brasileira justamente porque não cabiam no escopo sociológico. Entre os nossos wassermannianos cito Lúcio Cardoso, Cornélio Pena, Adonias Filho, Otávio de Faira, José Geraldo Vieira.
@@mauricioizolan4850 obrigada pela contribuição! Acrescentaria também uma outra peça grega na analogia da destruição como consequência do conhecimento da verdade (que não se revela totalmente): Édipo Rei. O rastro de destruição começa antes mesmo de Antígona.
Terminei o livro ontem e corri para cá! Confirmei a certeza de que suas conexões e observações iriam enriquecer ainda mais a minha leitura!! Fiquei impactada com essa obra! Vc recomenda a leitura dos outros dois livros da trilogia?
Fico muito feliz que os diários tenham contribuído!! Com certeza vale a pena continuar, a trilogia vai numa crescente, meu personagem preferido só aparece no segundo livro (Dr. Kerkhoven). Os diários dos outros dois volumes já estão lá no perfil do Insta, mas trarei pra cá! ♥️😘
Comprei num sebo faz uns 20 dias, uma edição da Clássicos Modernos da Abril, de 1974. Paguei módicos R$ 20,00, e pasmem, o livro ainda está lacrado 😳, gente quem compra um livro e deixa ele 50 anos lacrado??? Bom, fiquei com pena de abrir e comprei outro já usado no ML, também da mesma edição, por R$ 10,00 mais frete. Chega essa semana, estou ansioso para começar a leitura.
Essa leitura vale muito a pena! Eu li a trilogia toda e vai numa crescente! Trarei os Diários de Leitura (os outros) para cá, mas já tem muita coisa no perfil do Instagram! 😉
Fiquei curiosa.
Vale muito a pena!!!
Li toda a trilogia que só recentemente foi lançada. O personagem que aparece no segundo livro demonstra a maturidade de um autor na construção de uma história. Wassermann deve ser leitura obrigatória para quem quer entender o zeitgeist alemão antes da segunda guerra.
Concordo com você! Estou no terceiro volume. Lá no perfil do Insta @leitor.vip tem 3 Diários de Leitura em vídeos do segundo volume que ainda não trouxe pra cá. Em breve o primeiro Diário do terceiro!
O Processo Maurizius tem uma estrutura narrativa extremamente original. Veja que há duas relações entre pai e filho, a de Pedro Paulo Maurizius e Leonardo Maurizius e a do Barão Andergast e Etzel Andergast. Daí a ação narrativa se passar quase que em dois momentos, o passado que se desenrola e se desvela à medida que Etzel, no presente narrativo, se posiciona e assume a luta pela verdade, mesmo que ela lhe custe a destruição do pai, como acontece no final. É uma luta geracional, política, espiritual. Etzel é uma personagem eminentemente trágica como a Antígona, sobre a qual diz Hegel que a decisão de sepultar o irmão morto enfrenta tanto o familiar (desobedece o marido, o Rei), o político (desobedece o edito do Rei) e o cósmico (fala em nome de um direito anterior ao panteão grego, fala em nome de um direito das entidades pré-helênicas sacrossantas da terra). Todos esses elementos são perturbados pela decisão trágica de Etzel. Heidegger aponta, a partir do primeiro Coro da Antígona, as expressões que definem o homem no trágico: hypsipolis ápolis e panthóporos áporos. Quer dizer, o mais eminente da pólis é sem pólis (hypsipolis ápolis). Veja que Etzel, como Antígona, é um protegido, filho de um magistrado, eminente, mas se preocupa e se desencaminha, foge, em busca da verdade, tornando-se "por todos os caminhos, sem caminho, desencaminhado" (panthóporos áporos). A experiência de Etzel desentranha aspectos sombrios da verdade e destroi a mentira de Warreme/Waschauer, esse sim uma espécie de Stavróguin, um demônio. A revelação da verdade, que nunca é total, traz de volta a mãe de Etzel. O livro põe em xeque o conceito de verdade platônico, trata-se de uma verdade que nunca se desvela totalmente. Não é, portanto, sobre justiça, mas sobre ética, sobre o ser, e sobre o fato de que o desvelamento da verdade nunca é total. Quanto mais se descobre o enigma do passado de Leonardo Mauritizius, Eli, Ana Jahn e Waremme, mais denso se torna o mistério. Não é da doxa que se trata, portanto. O livro toca no que Freud chama de "das Unheimlich", o estranho, formado pela palavra "Heim", casa. Ou seja, o não-familiar (Unheim) está no mais familiar. Etzel não conhece o pai, a mãe, o passado e o descobre ao encontrar o outro, tão estranho e tão familiar, Maurizius, que lhe desvela os aguilhões de seu passado e liberta sua mãe, condenada ao ostracismo pelo pai. E tantas coisas mais...Livro maravilhoso. Observem também que os tradutores são dois autores brasileiros de romances trágicos geniais, Adonias Filho e Octávio de Faria. Suas obras seguiram essa forma de representação dramática da verdade de Wassermann, assim como também dialogaram com Faulkner. Esse caras ficaram esquecidos pela história literária brasileira justamente porque não cabiam no escopo sociológico. Entre os nossos wassermannianos cito Lúcio Cardoso, Cornélio Pena, Adonias Filho, Otávio de Faira, José Geraldo Vieira.
@@mauricioizolan4850 obrigada pela contribuição! Acrescentaria também uma outra peça grega na analogia da destruição como consequência do conhecimento da verdade (que não se revela totalmente): Édipo Rei. O rastro de destruição começa antes mesmo de Antígona.
E caso queira ver os demais vídeos que gravei sobre a trilogia, estão disponíveis no meu perfil do Insta: @leitor.vip
@leitorvip sim. É uma trilogia tb. Édipo Rei, Antígona e Édipo em Colono.
@ sim sim, eu li ambas as trilogias, a de Sófocles e a de Wassermann.
Terminei o livro ontem e corri para cá! Confirmei a certeza de que suas conexões e observações iriam enriquecer ainda mais a minha leitura!! Fiquei impactada com essa obra! Vc recomenda a leitura dos outros dois livros da trilogia?
Fico muito feliz que os diários tenham contribuído!! Com certeza vale a pena continuar, a trilogia vai numa crescente, meu personagem preferido só aparece no segundo livro (Dr. Kerkhoven). Os diários dos outros dois volumes já estão lá no perfil do Insta, mas trarei pra cá! ♥️😘
Comprei num sebo faz uns 20 dias, uma edição da Clássicos Modernos da Abril, de 1974. Paguei módicos R$ 20,00, e pasmem, o livro ainda está lacrado 😳, gente quem compra um livro e deixa ele 50 anos lacrado??? Bom, fiquei com pena de abrir e comprei outro já usado no ML, também da mesma edição, por R$ 10,00 mais frete. Chega essa semana, estou ansioso para começar a leitura.
Essa leitura vale muito a pena! Eu li a trilogia toda e vai numa crescente! Trarei os Diários de Leitura (os outros) para cá, mas já tem muita coisa no perfil do Instagram! 😉
Parei de assistir quando ela pronunciou o nome do escritor! Kkkkkkkkkkkkkkkkk
Ou seja, você não assistiu nada, lamento, perdeu um conteúdo de altíssima qualidade.