eu, que só sei abrir janelas - luz ribeiro

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  • Опубликовано: 5 сен 2024
  • mais um texto de antes (2019), registrada no hoje para guardar para todos os outros amanhãs
    poesia: eu que só sei abrir janelas - luz ribeiro
    ontem mesmo eu ouvi o marcelino ler jorge
    o texto falava sobre
    : o que ser quando crescer?
    escrevi :
    desde menina, escrevo
    mesmo sem saber
    fui dessas crianças com asas
    criadas em gaiolas
    de ver a rua pelas grades do portão
    janela com vista pra laje
    laje tão perto dos fios
    de alta tensão
    quase corajosa beirava
    os limites
    escorregar barrancos
    girar em ferros
    balançar na porta
    contar degraus
    comer
    :capim
    :tomate cereja
    :maria pretinha
    ... devorar o quintal ...
    aprendi a andar de bicicleta
    pedalando em círculos
    no mesmo espaço
    desconheci pedalar em linha reta
    programações preferidas
    :acordar cedo pra anotar comercial
    :fazer exercícios segurando pesinhos
    feitos de açúcar
    :fazer o cachorro de travesseiro
    :esperar o sábado chegar
    só pra assistir contos de fadas
    e dormir antes de começar
    lá atrás eu tenho saudade
    de dois tons de pretos
    saudade que eu pouco pronuncio
    por ser uma dor imensurável
    afinal a saudade
    essa foi mesmo feita pra doer
    um desses pretos
    me ensinou cedo sobre isso
    o outro mais cedo ainda
    ...
    cê já viu quanto leva pro preto apagar?
    ...
    dizem que eu queria ser
    :manequim modelo
    :artista
    :dançarina
    :cantora
    eu me lembro de querer ser
    :pai
    pra brincar de dia
    :professora
    talvez por gostar de aprender
    :grande pra abrir o portão
    que eu já alcançava
    :inventora, mas desde lá
    era dada a invenção
    queria visitar
    a marte
    a morte
    a sorte
    um lugar longe do chão
    quis muito ter amigos no recreio
    ser só por opção
    .
    .
    .
    antes de conhecer a canção
    descobri que soro tinha gosto de lágrima
    e igualmente ao choro
    dava pra fazer soro em casa
    e que ambos lembravam o gosto do mar
    quando sentia saudade do choro
    fazia soro
    quando lembrava do mar
    chorava
    já tentei ensinar
    meu sobrinho e duas cachorras
    a ler ao mesmo tempo
    nadar na caixa d’água
    em pé
    empinar pipa no varal
    balançar na rede
    banho de mangueira
    quando mãe lavava escada
    banho de chuva
    quando deus deixava
    dar nó na gravata do pai
    querer ser o cheiro
    do abraço da mãe
    embora aguasse por ver o que cabia fora
    gostava tanto do que tinha dentro
    que até hoje, suspeito
    que pouco abri o portão
    .

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