Oi Ana! O CREAS da minha cidade é organizado em núcleos para dividir os atendimentos. Trabalho no núcleo de atendimento a pessoa idosa, mas tenho muita dificuldade em colocar o Paefi no "papel". Percebo que muitas situações só se resolvem/resolveriam com um acolhimento institucional, pois não existe família a ser trabalhada ou tempo hábil para trabalhar com essa família, visto o rompimento de vínculo de uma vida toda. Gostaria de saber se você conhece algum material que ilustre esse trabalho com familias de pessoas idosas para que possamos nos orientar.
Olha Monica, a primeira questão é o CREAS organizado em núcleos, que não é previsto na Tipificação. Isso contradiz a matricialidade sociofamiliar, que veio para superar a antiga divisão por segmentos. Com exceção do Centro POP Rua, as unidades estatais (CRAS e CREAS) foram desenhadas para atender a família como um todo, independentemente das necessidades de seus membros idosos, crianças, adolescentes, etc. O trabalho com famílias, na proteção especial, envolve basicamente acompanhamento familiar e, neste acompanhamento, eu particularmente não indico grupos homogêneos por risco ou por público (grupos de RF de pessoas idosas, grupos de vítimas, grupos de agressores). Se a violência tem sido um modo de relação na família, quem a pratica e quem a sofre devem estar diluídos em meio a diversos grupos, com diversas formas de violência dirigidas a diversos segmentos. Os serviços complementares (SCFV) e os abrigos são organizados por segmentos (idoso, criança d adolescente, mulher em situação de violência). Mas o trabalho com famílias em CRAS e CREAS não são, afinal, somos uma política que trabalha em REDE, não em núcleo. Nessa lógica, é melhor eu ter vários CREAS que façam tudo (atendam todos os públicos) territorializados (norte, sul, leste) do que só um que atende situações de pessoas idosas, outro que atende situações de violência contra a mulher, outro contra a criança e todos “no centro” ou em um só território. Por não fechar com as duas diretrizes da PNAS (nem com a matricialidade sociofamiliar nem com a territorialização), eu começaria misturando esses CREAS, deixando todos dirigidos a todos os públicos e definido as regiões (essa parte seria adequar eles às diretrizes da PNAS). Realmente, do jeito que está é difícil colocar o Paefi em prática, pois um CREAS heterogêneo se relaciona com várias redes, e a família terá várias necessidades (para além das necessidades do idoso) que irão impactar diretamente nele. Sendo territotialozados, esses CREAS teriam presença nas suas respectivas regiões, receberiam os encaminhamentos (de famílias com risco a pessoas idosas, criança e adolescente, mulheres etc) antes de estar tão agravados, a partir de articulação com os encaminhadores da sua região. Esses CREAS encaminhariam as pessoas em situação de risco e seus familiares, conforme necessidade, para saúde mental, habitação, educação etc. , o que precisasse, afinal, o Paefi é acompanhamento familiar especializado + articulação de rede. E outra: na mesma família vc pode ter um idoso, uma criança e uma mulher em risco social 🤷🏻♀️outro ponto é o seguinte: se vcs já estão recebendo casos com situações “esgotadas”, talvez é um problema de fluxo e vcs estão recebendo os casos “muito tarde”, estão vindo para o CREAS casos que já teriam que ir direto para uma ILPI infelizmente. Possivelmente, tenha que ajustar o fluxo de encaminhamento para ILPI também e alinhar isso com todos os encaminhadores de todos os territórios (quando é hora de encaminhar e quando “passou da hora”)… toda vez que um município cria algo diferente da normativa, ele vai começando a criar problemas incomuns e tendo dificuldade para encontrar bibliografias de trabalho, já que o município está fora do padrão e a ideia de um “Sistema único” é justamente criar essa padronização. Eu repensaria essa organização por segmentos, que é considerada ultrapassada, territorializaria os CREAS e melhoraria a articulação de rede de cada CREAS com seu território de abrangência (UBS, serviços de outras políticas, CRAS para encaminharem ANTES da situação estar tão agravada e reconhecerem quando é média complexidade e quando já “virou alta”. Bom, se já virou alta, usar o fluxo da alta. (Tem que ter um fluxo…). Bem era isso… 😘🙌🏻🙌🏻🙌🏻 acho que isso ajudaria muito para executar o Paefi e as situações chegarem a tempo. Beijos 😘
@@SUASConversasem um simples comentário vc deu uma aula maravilhosa e incrível! Inclusive me alertou em muitas questões que posso ajudar meu município! Obrigada! ❤🎉
Olá Leidiane: eles podem, não necessariamente devem, mas podem sim. Assim como de um CRAS para um CREAS é uma referência e contrarreferência entre dois serviços de níveis de complexidade diferente do SUAS, de CREAS para abrigo/acolhimento pode ser sugerido também. O que não pode é sugerir DESTITUIÇÃO do poder familiar (aí seria uma perícia) ou dizer “as crianças devem ficar definitivamente com a família A ou B”. Esses exemplos seriam perícias. Já indicar que o PAEFI não está obtendo êxito e que o risco ao qual a pessoa está submetida permanece, não vejo problema nenhum (afinal, acolhimento é provisório) e tb é realizado por serviço do SUAS, então é uma referência/contrarreferência em certo sentido.
Complementando: como o acolhimento é uma medida judicial, pode-se inclusive escrever algo assim “Desde tanto tempo a família tal está em PAEFI e, a despeito dos esforços da equipe no trabalho social especializado, identificou-se que a situação de risco de FULANO se agravou. Consideram-se esgotadas as alternativas dos serviços deste nível de proteção neste momento e sugere-se que este juizado avalie, em caráter provisório e excepcional, a inserção de fulano em serviço de alta complexidade” . Afinal, estanho a criança ou adolescente em risco iminente, nós temos a obrigação de informar. E como o serviço de acolhimento é nosso (do SUAS), penso que podemos sim indicar. Mas a decisão é do juíz. Assim como o desacolhimento tb parte de sugestões da equipe do abrigo. Agora a destituição ou a definição de guarda envolvem perícias judiciais 😘
Oi Ana! O CREAS da minha cidade é organizado em núcleos para dividir os atendimentos. Trabalho no núcleo de atendimento a pessoa idosa, mas tenho muita dificuldade em colocar o Paefi no "papel". Percebo que muitas situações só se resolvem/resolveriam com um acolhimento institucional, pois não existe família a ser trabalhada ou tempo hábil para trabalhar com essa família, visto o rompimento de vínculo de uma vida toda.
Gostaria de saber se você conhece algum material que ilustre esse trabalho com familias de pessoas idosas para que possamos nos orientar.
Olha Monica, a primeira questão é o CREAS organizado em núcleos, que não é previsto na Tipificação. Isso contradiz a matricialidade sociofamiliar, que veio para superar a antiga divisão por segmentos. Com exceção do Centro POP Rua, as unidades estatais (CRAS e CREAS) foram desenhadas para atender a família como um todo, independentemente das necessidades de seus membros idosos, crianças, adolescentes, etc. O trabalho com famílias, na proteção especial, envolve basicamente acompanhamento familiar e, neste acompanhamento, eu particularmente não indico grupos homogêneos por risco ou por público (grupos de RF de pessoas idosas, grupos de vítimas, grupos de agressores). Se a violência tem sido um modo de relação na família, quem a pratica e quem a sofre devem estar diluídos em meio a diversos grupos, com diversas formas de violência dirigidas a diversos segmentos. Os serviços complementares (SCFV) e os abrigos são organizados por segmentos (idoso, criança d adolescente, mulher em situação de violência). Mas o trabalho com famílias em CRAS e CREAS não são, afinal, somos uma política que trabalha em REDE, não em núcleo. Nessa lógica, é melhor eu ter vários CREAS que façam tudo (atendam todos os públicos) territorializados (norte, sul, leste) do que só um que atende situações de pessoas idosas, outro que atende situações de violência contra a mulher, outro contra a criança e todos “no centro” ou em um só território. Por não fechar com as duas diretrizes da PNAS (nem com a matricialidade sociofamiliar nem com a territorialização), eu começaria misturando esses CREAS, deixando todos dirigidos a todos os públicos e definido as regiões (essa parte seria adequar eles às diretrizes da PNAS). Realmente, do jeito que está é difícil colocar o Paefi em prática, pois um CREAS heterogêneo se relaciona com várias redes, e a família terá várias necessidades (para além das necessidades do idoso) que irão impactar diretamente nele. Sendo territotialozados, esses CREAS teriam presença nas suas respectivas regiões, receberiam os encaminhamentos (de famílias com risco a pessoas idosas, criança e adolescente, mulheres etc) antes de estar tão agravados, a partir de articulação com os encaminhadores da sua região. Esses CREAS encaminhariam as pessoas em situação de risco e seus familiares, conforme necessidade, para saúde mental, habitação, educação etc. , o que precisasse, afinal, o Paefi é acompanhamento familiar especializado + articulação de rede. E outra: na mesma família vc pode ter um idoso, uma criança e uma mulher em risco social 🤷🏻♀️outro ponto é o seguinte: se vcs já estão recebendo casos com situações “esgotadas”, talvez é um problema de fluxo e vcs estão recebendo os casos “muito tarde”, estão vindo para o CREAS casos que já teriam que ir direto para uma ILPI infelizmente. Possivelmente, tenha que ajustar o fluxo de encaminhamento para ILPI também e alinhar isso com todos os encaminhadores de todos os territórios (quando é hora de encaminhar e quando “passou da hora”)… toda vez que um município cria algo diferente da normativa, ele vai começando a criar problemas incomuns e tendo dificuldade para encontrar bibliografias de trabalho, já que o município está fora do padrão e a ideia de um “Sistema único” é justamente criar essa padronização. Eu repensaria essa organização por segmentos, que é considerada ultrapassada, territorializaria os CREAS e melhoraria a articulação de rede de cada CREAS com seu território de abrangência (UBS, serviços de outras políticas, CRAS para encaminharem ANTES da situação estar tão agravada e reconhecerem quando é média complexidade e quando já “virou alta”. Bom, se já virou alta, usar o fluxo da alta. (Tem que ter um fluxo…). Bem era isso… 😘🙌🏻🙌🏻🙌🏻 acho que isso ajudaria muito para executar o Paefi e as situações chegarem a tempo. Beijos 😘
@@SUASConversas nossa, que esclarecedor! De fato tem muita coisa desalinhada no meu trabalho. Muito obrigada pela orientação! 😘
@@SUASConversasem um simples comentário vc deu uma aula maravilhosa e incrível! Inclusive me alertou em muitas questões que posso ajudar meu município! Obrigada! ❤🎉
Ótimo
Prefiro assistir a Ana falando.
Como pode ser a acolhida no serviço de centro pop?
Os técnicos do Creas devem dar sugestão de acolhimento institucional de crianças e adolescentes?
Olá Leidiane: eles podem, não necessariamente devem, mas podem sim. Assim como de um CRAS para um CREAS é uma referência e contrarreferência entre dois serviços de níveis de complexidade diferente do SUAS, de CREAS para abrigo/acolhimento pode ser sugerido também. O que não pode é sugerir DESTITUIÇÃO do poder familiar (aí seria uma perícia) ou dizer “as crianças devem ficar definitivamente com a família A ou B”. Esses exemplos seriam perícias. Já indicar que o PAEFI não está obtendo êxito e que o risco ao qual a pessoa está submetida permanece, não vejo problema nenhum (afinal, acolhimento é provisório) e tb é realizado por serviço do SUAS, então é uma referência/contrarreferência em certo sentido.
Complementando: como o acolhimento é uma medida judicial, pode-se inclusive escrever algo assim “Desde tanto tempo a família tal está em PAEFI e, a despeito dos esforços da equipe no trabalho social especializado, identificou-se que a situação de risco de FULANO se agravou. Consideram-se esgotadas as alternativas dos serviços deste nível de proteção neste momento e sugere-se que este juizado avalie, em caráter provisório e excepcional, a inserção de fulano em serviço de alta complexidade” . Afinal, estanho a criança ou adolescente em risco iminente, nós temos a obrigação de informar. E como o serviço de acolhimento é nosso (do SUAS), penso que podemos sim indicar. Mas a decisão é do juíz. Assim como o desacolhimento tb parte de sugestões da equipe do abrigo. Agora a destituição ou a definição de guarda envolvem perícias judiciais 😘
Muito obrigada!
Eu preciso de uma supervisão de PAEFI