Relato do Dia 5: A chuva foi incessante durante toda a noite. Me lembro das primeiras noites como essa em que dormi no meio da natureza em uma rede. Naquele tempo o sono era tão picado, a cada barulho minha mente já imaginava o pior, sentia que o mosqueteiro era meu escudo contra os perigos lá fora. Foi em um trekking nesse ano que fiz meu primeiro bivak com a @hell, foi na mantiqueira em uma noite de chuva incessante com sensação térmica de 3 graus que minha zona de conforto #evoluiu dormindo no chão, sem mosqueteiro e em um saco de dormir com zíper quebrado. Com certeza aquela foi a segunda noite mais difícil da minha vida. Ali nas galegas em eu estava na minha definição de paraíso! Acordamos com mais um dia de sol, preparamos um café da manhã reforçado! Pra quem não sabe, as refeições são sagradas nos acampamentos, ingrediente como Nutella são o lastro do bom humor nas expedições. #NutellaPatrocinaAGente Naquela manhã a entrada na água foi diferente, aprendemos a entrar de peixinho no caiaque! Mais uma lição da @hell que nesse ano foi tão importante na minha vida! Iniciamos nosso último trecho, contornando a ponta da lanjeiras que no dia anterior estivemos contemplando da terra a força das ondas. Com a eterna ondulação de sudeste adentramos a enseada de trindade, a praia brava e mais uma laje no caminho. Perto da ponta de trindade paramos para hidratação e mais um banquete no mar. Fica a dica das tradicionais bananinhas secas e castanhas como petiscos! Uma pausa para os mergulhos, cowboys por todo lado... nos preparamos e seguimos para o último costão da expedição. Segundo estudo recente do Instituto Brasileiro Passa Mal de Remadores (IBPMR), além de imitações fajutas de vídeos do RUclips ou do 007, a melhor forma de se distrair em uma remada é cantando. Se um dia você remar com a gente rapidamente vai perceber que a regra é cantar sempre! Nesse último trecho de duas horas aproveitávamos a última sessão de cantoria dessas nada afinadas meninas. Passamos pela cachoeira das escadas e contemplamos cada pedra cúbica da região. Chegando na última ponta, carinhosamente apelidada como Dedão da Amandinha, estávamos há poucos metros do nosso último desembarque! A ondulação de sudeste exigia que desembarcássemos a direita da praia, porém muitos banhistas estavam por ali. Tia Hells foi a primeira a desembarcar onde as placas apontavam perigo, nada razoável né? 🤣🆘. Noelix e Tiago em terra firme ✅. Era minha vez, Mari e eu tínhamos percebido que a última onda da série era maior. Confesso que ainda não entendo muito sobre zona de surf e tenho dificuldade de entender as ondulações na zona de impacto. Me posicionei onde achava que estava entre ondas.... foi aí que no descuido a última onda da série veio “OH NO OH NO OH NO”. #TelaAzul #Error404 O arquivo de comando não foi encontrado no meu cérebro... a onda me pegou por trás, virou o Ugly pra esquerda, tentei um apoio baixo mas que de apoio não teve nada ahahaha lá fui eu chegando com estilo na praia! #SQN Devido às chuvas o mar estava cheio de folhas e foi no estilo Groot, do guardiões da galáxia, com folhas na cabeça que levantei olhando pra tia hells e pensando “é jacaré, camarão que dorme a onda leva” e foi assim que o Ugly virou Ugly, Camarão! 🦐 Mari ainda no mar assustada e com a adrenalina lá em cima, usou a paciência e conseguiu desembarcar em segurança! Todas em terra firme antes das 11 da manhã! Ali era o nosso ponto final onde encontraríamos o resgate que nos levaria até Parati! A alegria era grande, tínhamos realizado a travessia de Parati até Camburi passando pela ponta da Joatinga e seus costões. Queremos voltar para Martins de Sá, mas até lá muita água vai passar pelos nossos palitinhos de caipirinha groenlandeses! No total foram 4 dias inteiros de expedição, ~90km remados, segundo o IBPMR cerca de 180 músicas cantadas (não exclusivas), 3 paródias elaboradas, mais de 50 xícaras de café ingeridas, duas mãos com queimaduras graves de sol, um sapatilha perdida, uma carta náutica perdida, um ataque de peixes, dezenas de albatrozes avistados, 5 pessoas com medo de queijo, 1 headlamp quebrada, 1 leme concertado e muito mais! Outro dia faço um post sobre os aprendizados de liderança, gestão de risco, de pessoas, de recursos e crises que aprendi! A cabeça já está pensando na próxima, mas antes disso início de 2021 já promete altos treinos de zona de surf em São Sebastrovão. Talvez tenhamos uma aventura por Ilhabela e quem sabe a volta dos que não foram em Ilha Grande?
Relato do Dia 2: O dia amanheceu nublado, acordamos às 5 e às 7 as pás já estavam na água! O nosso plano original pré viagem era dividido em 3 etapas: - 1 - Sairíamos do saco da Velha, contornaríamos a ilha do algodão cruzando na sequência nosso velho queridinho saco do mamangua - 2 - Apos cruzar remaríamos até a ponta da cajaiba fazendo o primeiro trecho levemente mais exposto - 3 - Da cajaiba contornaríamos por até a vila da joatinga onde dormiríamos e subiríamos no farol Na parte um a cantoria ia de djavan a dança da mãozinha. Tivemos a sorte de sermos atacadas por peixes voadores e sermos o livramento de nenhuma sereia ficar presa nas redes por aí. A animação era tanta que já cogitávamos fazer contornar a ponta da Joatinga naquele dia e falar feliz natal em Martins de Sá. Na segunda parte o caldo começou a azedar, aquele tempinho de boxxxxxta, a chuva intensa com pouca visibilidade e as fendas escuras da cajaiba já incentivavam aquele lado EMO que todas tivemos na adolescência. Apesar da pouca visibilidade utilizamos o fato de não sermos míopes e avistamos a ilha de Itaoca. Naquela prainha resolvemos parar para reavaliar nossos planos às 9 da manhã O clima de boxxxxta impediria que aportássemos na vila da joatinga, então faríamos o grande trecho da viagem com pouca visibilidade, mas a ondulação e vento pareciam estar favoráveis. A previsão de dois dias atrás informava que apenas no dia seguinte as ondas chegariam a 2 metros... essa era nossa janela. Reunimos as 4 pernilongas e o mosquito para tentar atualizar a previsão e tomar a decisão. Na improbabilidade da vida uma fagulha de 3G atualizou a previsão e como estávamos observando os comportamentos previstos estavam adiantados. Estavam TÃO adiantados que se saíssemos naquele momento atravessaríamos a ponta da joatinga no momento mais quebradeira, ondas de 2 metros com baixa visibilidade, nem o fato de não sermos míopes ajudaria nesse momento. Então a decisão foi: acende o fogareiro, prepara um café que são 10 da manhã e não vamos mais remar hoje.
Relato do Dia 1: Nesse final de ano, fui convidada a embarcar na loucura de realizar a travessia de Parati até Camburi com mais 3 meninas super poderosas e um agregado! Essa travessia é bem tradicional nos trekkings por aí, mas quando falamos de canoagem oceânica ela ganha outro nível de complexidade. Apesar de começar extremamente abrigada na bacia de Parati, conforme vamos ao sul passamos Ponta da Joatinga que segundo o fera Amyr Klink na visão dele pode ser mais temida que o Cabo Horn. Até aí já parecia loucura demais, mas se não bastasse a ponta, na sequência deveríamos transpor diversos costões onde o desembarque não é lá muito viável. Planejamos a viagem de cerca de 100km para 6 dias, trechos curtos para que tivéssemos margem de manobra caso a previsão não estivesse amigável. A @hell capitaneou a preparação, nos apoiando na organização, puxões de orelha e criação de cenários de acordo com a previsão. E por falar em preparação ela começou há 2 meses!! Foram os treinos de caiaque todo final de semana para garantir o condicionamento, cursos de aperfeiçoamento, aprender a montar kit reparo, primeiros socorros, cardápio e equipamentos de segurança tudo para que a gestão do risco não tivesse com o @deus. Chegado o dia, tínhamos na mão um forecast metereológico pouco animador, teríamos uma janela entre as chuvas de verão para fechar o trecho mais complexo, ondulação de 2m na ponta prevista para a janela. Abortar sempre foi uma opção para garantir a segurança de todos, mas o xadrezinho de condições percebidas vs previsão gerindo risco poderia fazer isso ser possível. E foi assim que a caravana de Salto saiu para São Paulo e na sequência para Parati onde terminaríamos os ajustes finais para partir!! Saímos no meio da tarde da Praia de Jabaquara rumo ao Saco da Velha. Um trecho curto e rápido, mas dado a garoa foi molhado (rs). Fomos recebidas no Saco da Velha com um cafezinho para esquentar da chuva e logo montamos acampamento afinal o dia seguinte seria um dos maiores trechos da expedição segundo nosso plano original.
Relato do Dia 4: No quarto dia da expedição o nosso plano original já havia ficado para trás há tanto tempo. É bizarro como as expedições nos ensinam que a única certeza do planos que temos é que eles não serão exatamente como imaginamos. Saímos da ponta negra determinadas a fechar a expedição naquele mesmo dia, 2 dias antes do planejado. Combinamos o café da manhã em antiguinhos e de lá seguiríamos a todo “vapor” para camburi. Rumo a Camburi passamos no estreito entre duas lajes: a do Sono e a de Laranjeiras. De repente, uma onda maior que a média quebra ha 2 metros de nós, instantaneamente Noelix, Mari e eu olhamos pra trás ativando o modo olhos de coruja, a trilha sonora do Oh No Oh No passou ligeiramente na nossa mente. Por ali procurávamos uma prainha deserta que o Mestre dos Magos (Chuchukz) tinha indicado para almoçarmos. Proa para uma praia com uma casa branca... tínhamos certeza que era ali! Algumas remadas a mais e adentramos na enseada, olhamos pra esquerda e avistamos um outro pedacinho de areia e instantemente a ficha caiu “ali sim tem a cara do tio Fuchs”. Chegamos então na Praia das Galetas, uma prainha deserta com um dia lindo de sol de sol nos fizeram mudar os planos uma vez! Aproveitaríamos o dia por ai e no final do dia acamparíamos na nossa nova ultima noite! Um dia inusitado na vida dessas remadoras, aproveitando o tempo bom na praia. Quem sabe finalmente tirar aquela marca de shorts da perna ou a eterna meia branca dos pés? A vibe da escalada baixou na galera e a diversão virou escalar boulders em potencial. Noelix abriu a via lava pé, haja formiga! Nessa prainha seguindo uma trilha entre as pedras é possível chegar bem próximo a ponta das laranjeiras, na maré baixa forma uma piscina natural onde é possível mergulhar. Nessa ponta tínhamos visão da faixa estreita que passamos entre as duas lajes e podíamos observar de perto das ondas quebrando nas pedras. Nessa buena onda cozinhamos debaixo de chuva nosso último jantar juntas. Fizemos a tradicional amarração dos barcos nas árvores, afinal já basta a lição de barco na água de ilha grande e #partiu cama, quer dizer rede!
Relato do Dia 3: É chegado o dia! Às 4:30 da manhã os despertadores tocam, mas não encontram nenhuma de nós dormindo, exceto nossa veterana @hell_amaral A energia ou medo eram tantos que pulamos da rede mais cedo! Segundo a previsão do dia anterior passaríamos pela ponta com ondulações de 1.5m e sem vento! Iniciamos a remada às 6, o misto de animação e preocupação faziam minha barriga gelar a cada ondulação maior com receio do que viria pela frente. Chegando na vila da Joatinga a fenda dos coqueiros anunciava que existia um lado de lá. Fizemos uma pausa para hidratação e fomos surpreendidas com um grupo dos grandes de águas vivas. O plano era abrir o máximo possível se estivesse uma quebradeira, eu pretendia chegar na Ilha Grande se fosse necessário. 🤷🏼♀️ Perto da virada da ponta o sol saiu para nos espiar e apresentar a Joatinga no seu lado mais bonito. ⛅️ As ondulações de 1.5m estavam regulares, apesar das lágrimas de algumas o clima fúnebre do dia anterior não existia mais. O sol iluminava aquele farol que naquele ponto parecia pequeno e me fazia perceber a infinidade do mundo que vivemos. 🌚 Algumas remadas e reunimos o grupo de gurias para contemplar o local. Como na maioria do mundo outdoor, o cenário das expedições de travessia em caiaque oceânico é majoritamente ocupado por homens. Nós estávamos ali, 4 gurias, contemplando um dos locais mais míticos. Éramos nós, juntas, que havíamos nos levados até aquele ponto, do carregamento do carro, a logística, cada remada e remelexo de quadril nas ondas que nem o tchakabum dançou! #ondaolhaonda Após o delírio coletivo decidimos evitar o desembarque em Martins de Sá... é necessário reconhecer os nossos limites e respeitar para não arder demais! Seguimos pelo costão do cairuçu onde finalmente nos deparamos com a máquina de lavar de ativar o modo alimentador de peixes. E haja comida de peixe né @mariana_merch 🥴🤢🐟 No modo sobe que sobe que sobe e desce que desce que desce remamos mais duas longas horas e posso jurar que aquela carta náutica estava fora de escala! Acho que nos últimos anos a ilha cairuçu das pedras resolveu crescer um pouquinho. 🤓🛸 Seguimos rumo a ponta negra com mais 2 horas de remada totalizando 6 horas e quase 30km remando sem desembarque. Na ponta negra a aventura continuou, algumas dificuldades para encontrar um lugar para dormir quase nos fizeram reembarcar rumo a antiguinhos, mas logo nós ajustamos e fomos abrigados no Camping da Branca onde o som da cerveijinha estralou e comemoramos juntas o feito daquele dia!
Que trip alucinante! Parabéns!!!
Que maaassa, parabéns mulherada, virei fã
Meu coração se encheu de felicidades ao ver este vídeo! eu te conheço desde pequena e era muito amigo e admirador do seu pai. Bjs minha querida
Não vejo a hora de iniciar. Parabéns pelo vídeo!
Relato do Dia 5:
A chuva foi incessante durante toda a noite. Me lembro das primeiras noites como essa em que dormi no meio da natureza em uma rede.
Naquele tempo o sono era tão picado, a cada barulho minha mente já imaginava o pior, sentia que o mosqueteiro era meu escudo contra os perigos lá fora. Foi em um trekking nesse ano que fiz meu primeiro bivak com a @hell, foi na mantiqueira em uma noite de chuva incessante com sensação térmica de 3 graus que minha zona de conforto #evoluiu dormindo no chão, sem mosqueteiro e em um saco de dormir com zíper quebrado. Com certeza aquela foi a segunda noite mais difícil da minha vida. Ali nas galegas em eu estava na minha definição de paraíso!
Acordamos com mais um dia de sol, preparamos um café da manhã reforçado! Pra quem não sabe, as refeições são sagradas nos acampamentos, ingrediente como Nutella são o lastro do bom humor nas expedições. #NutellaPatrocinaAGente
Naquela manhã a entrada na água foi diferente, aprendemos a entrar de peixinho no caiaque! Mais uma lição da @hell que nesse ano foi tão importante na minha vida!
Iniciamos nosso último trecho, contornando a ponta da lanjeiras que no dia anterior estivemos contemplando da terra a força das ondas. Com a eterna ondulação de sudeste adentramos a enseada de trindade, a praia brava e mais uma laje no caminho.
Perto da ponta de trindade paramos para hidratação e mais um banquete no mar. Fica a dica das tradicionais bananinhas secas e castanhas como petiscos! Uma pausa para os mergulhos, cowboys por todo lado... nos preparamos e seguimos para o último costão da expedição.
Segundo estudo recente do Instituto Brasileiro Passa Mal de Remadores (IBPMR), além de
imitações fajutas de vídeos do RUclips ou do 007, a melhor forma de se distrair em uma remada é cantando. Se um dia você remar com a gente rapidamente vai perceber que a regra é cantar sempre! Nesse último trecho de duas horas aproveitávamos a última sessão de cantoria dessas nada afinadas meninas.
Passamos pela cachoeira das escadas e contemplamos cada pedra cúbica da região.
Chegando na última ponta, carinhosamente apelidada como Dedão da Amandinha, estávamos há poucos metros do nosso último
desembarque! A ondulação de sudeste exigia que desembarcássemos a direita da praia, porém muitos banhistas estavam por ali.
Tia Hells foi a primeira a desembarcar onde as placas apontavam perigo, nada razoável né? 🤣🆘. Noelix e Tiago em terra firme ✅. Era minha vez, Mari e eu tínhamos percebido que a última onda da série era maior.
Confesso que ainda não entendo muito sobre zona de surf e tenho dificuldade de entender as ondulações na zona de impacto. Me posicionei onde achava que estava entre ondas.... foi aí que no descuido a última onda da série veio “OH NO OH NO OH NO”. #TelaAzul #Error404
O arquivo de comando não foi encontrado no meu cérebro... a onda me pegou por trás, virou o Ugly pra esquerda, tentei um apoio baixo mas que de apoio não teve nada ahahaha lá fui eu chegando com estilo na praia! #SQN Devido às chuvas o mar estava cheio de folhas e foi no estilo Groot, do guardiões da galáxia, com folhas na cabeça que levantei olhando pra tia hells e pensando “é jacaré, camarão que dorme a onda leva” e foi assim que o Ugly virou Ugly, Camarão! 🦐
Mari ainda no mar assustada e com a adrenalina lá em cima, usou a paciência e conseguiu desembarcar em segurança!
Todas em terra firme antes das 11 da manhã! Ali era o nosso ponto final onde encontraríamos o resgate que nos levaria até Parati! A alegria era grande, tínhamos realizado a travessia de Parati até Camburi passando pela ponta da Joatinga e seus costões. Queremos voltar para Martins de Sá, mas até lá muita água vai passar pelos nossos palitinhos de caipirinha groenlandeses!
No total foram 4 dias inteiros de expedição, ~90km remados, segundo o IBPMR cerca de 180 músicas cantadas (não exclusivas), 3 paródias elaboradas, mais de 50 xícaras de café ingeridas, duas mãos com queimaduras graves de sol, um sapatilha perdida, uma carta náutica perdida, um ataque de peixes, dezenas de albatrozes avistados, 5 pessoas com medo de queijo, 1 headlamp quebrada, 1 leme concertado e muito mais!
Outro dia faço um post sobre os aprendizados de liderança, gestão de risco, de pessoas, de recursos e crises que aprendi!
A cabeça já está pensando na próxima, mas antes disso início de 2021 já promete altos treinos de zona de surf em São Sebastrovão. Talvez tenhamos uma aventura por Ilhabela e quem sabe a volta dos que não foram em Ilha Grande?
Relato do Dia 2:
O dia amanheceu nublado, acordamos às 5 e às 7 as pás já estavam na água! O nosso plano original pré viagem era dividido em 3 etapas:
- 1 - Sairíamos do saco da Velha, contornaríamos a ilha do algodão cruzando na sequência nosso velho queridinho saco do mamangua
- 2 - Apos cruzar remaríamos até a ponta da cajaiba fazendo o primeiro trecho levemente mais exposto
- 3 - Da cajaiba contornaríamos por até a vila da joatinga onde dormiríamos e subiríamos no farol
Na parte um a cantoria ia de djavan a dança da mãozinha. Tivemos a sorte de sermos atacadas por peixes voadores e sermos o livramento de nenhuma sereia ficar presa nas redes por aí. A animação era tanta que já cogitávamos fazer contornar a ponta da Joatinga naquele dia e falar feliz natal em Martins de Sá.
Na segunda parte o caldo começou a azedar, aquele tempinho de boxxxxxta, a chuva intensa com pouca visibilidade e as fendas escuras da cajaiba já incentivavam aquele lado EMO que todas tivemos na adolescência.
Apesar da pouca visibilidade utilizamos o fato de não sermos míopes e avistamos a ilha de Itaoca. Naquela prainha resolvemos parar para reavaliar nossos planos às 9 da manhã
O clima de boxxxxta impediria que aportássemos na vila da joatinga, então faríamos o grande trecho da viagem com pouca visibilidade, mas a ondulação e vento pareciam estar favoráveis. A previsão de dois dias atrás informava que apenas no dia seguinte as ondas chegariam a 2 metros... essa era nossa janela.
Reunimos as 4 pernilongas e o mosquito para tentar atualizar a previsão e tomar a decisão. Na improbabilidade da vida uma fagulha de 3G atualizou a previsão e como estávamos observando os comportamentos previstos estavam adiantados. Estavam TÃO adiantados que se saíssemos naquele momento atravessaríamos a ponta da joatinga no momento mais quebradeira, ondas de 2 metros com baixa visibilidade, nem o fato de não sermos míopes ajudaria nesse momento.
Então a decisão foi: acende o fogareiro, prepara um café que são 10 da manhã e não vamos mais remar hoje.
PARABENS MENINAS, PELO DESAFIO.
Relato do Dia 1:
Nesse final de ano, fui convidada a embarcar na loucura de realizar a travessia de Parati até Camburi com mais 3 meninas super poderosas e um agregado!
Essa travessia é bem tradicional nos trekkings por aí, mas quando falamos de canoagem oceânica ela ganha outro nível de complexidade.
Apesar de começar extremamente abrigada na bacia de Parati, conforme vamos ao sul passamos Ponta da Joatinga que segundo o fera Amyr Klink na visão dele pode ser mais temida que o Cabo Horn.
Até aí já parecia loucura demais, mas se não bastasse a ponta, na sequência deveríamos transpor diversos costões onde o desembarque não é lá muito viável.
Planejamos a viagem de cerca de 100km para 6 dias, trechos curtos para que tivéssemos margem de manobra caso a previsão não estivesse amigável.
A @hell capitaneou a preparação, nos apoiando na organização, puxões de orelha e criação de cenários de acordo com a previsão. E por falar em preparação ela começou há 2 meses!! Foram os treinos de caiaque todo final de semana para garantir o condicionamento, cursos de aperfeiçoamento, aprender a montar kit reparo, primeiros socorros, cardápio e equipamentos de segurança tudo para que a gestão do risco não tivesse com o @deus.
Chegado o dia, tínhamos na mão um forecast metereológico pouco animador, teríamos uma
janela entre as chuvas de verão para fechar o trecho mais complexo, ondulação de 2m na ponta prevista para a janela. Abortar sempre foi uma opção para garantir a segurança de todos, mas o xadrezinho de condições percebidas vs previsão gerindo risco poderia fazer isso ser possível.
E foi assim que a caravana de Salto saiu para São Paulo e na sequência para Parati onde terminaríamos os ajustes finais para partir!!
Saímos no meio da tarde da Praia de Jabaquara rumo ao Saco da Velha. Um trecho curto e rápido, mas dado a garoa foi molhado (rs). Fomos recebidas no Saco da Velha com um cafezinho para esquentar da chuva e logo montamos acampamento afinal o dia seguinte seria um dos maiores trechos da expedição segundo nosso plano original.
Relato do Dia 4:
No quarto dia da expedição o nosso plano original já havia ficado para trás há tanto tempo. É bizarro como as expedições nos ensinam que a única certeza do planos que temos é que eles não serão exatamente como imaginamos.
Saímos da ponta negra determinadas a fechar a expedição naquele mesmo dia, 2 dias antes do planejado. Combinamos o café da manhã em antiguinhos e de lá seguiríamos a todo “vapor” para camburi.
Rumo a Camburi passamos no estreito entre duas lajes: a do Sono e a de Laranjeiras. De repente, uma onda maior que a média quebra ha 2 metros de nós, instantaneamente Noelix, Mari e eu olhamos pra trás ativando o modo olhos de coruja, a trilha sonora do Oh No Oh No passou ligeiramente na nossa mente.
Por ali procurávamos uma prainha deserta que o Mestre dos Magos (Chuchukz) tinha indicado para almoçarmos. Proa para uma praia com uma casa branca... tínhamos certeza que era ali! Algumas remadas a mais e adentramos na enseada, olhamos pra esquerda e avistamos um outro pedacinho de areia e instantemente a ficha caiu “ali sim tem a cara do tio Fuchs”.
Chegamos então na Praia das Galetas, uma prainha deserta com um dia lindo de sol de sol nos fizeram mudar os planos uma vez! Aproveitaríamos o dia por ai e no final do dia acamparíamos na nossa nova ultima noite!
Um dia inusitado na vida dessas remadoras, aproveitando o tempo bom na praia. Quem sabe finalmente tirar aquela marca de shorts da perna ou a eterna meia branca dos pés?
A vibe da escalada baixou na galera e a diversão virou escalar boulders em potencial. Noelix abriu a via lava pé, haja formiga!
Nessa prainha seguindo uma trilha entre as pedras é possível chegar bem próximo a ponta das laranjeiras, na maré baixa forma uma piscina natural onde é possível mergulhar.
Nessa ponta tínhamos visão da faixa estreita que passamos entre as duas lajes e podíamos observar de perto das ondas quebrando nas pedras.
Nessa buena onda cozinhamos debaixo de chuva nosso último jantar juntas. Fizemos a tradicional amarração dos barcos nas árvores, afinal já basta a lição de barco na água de ilha grande e #partiu cama, quer dizer rede!
Relato do Dia 3:
É chegado o dia! Às 4:30 da manhã os despertadores tocam, mas não encontram nenhuma de nós dormindo, exceto nossa veterana @hell_amaral A energia ou medo eram tantos que pulamos da rede mais cedo!
Segundo a previsão do dia anterior passaríamos pela ponta com ondulações de 1.5m e sem vento!
Iniciamos a remada às 6, o misto de animação e preocupação faziam minha barriga gelar a cada ondulação maior com receio do que viria pela frente.
Chegando na vila da Joatinga a fenda dos coqueiros anunciava que existia um lado de lá. Fizemos uma pausa para hidratação e fomos surpreendidas com um grupo dos grandes de águas vivas.
O plano era abrir o máximo possível se estivesse uma quebradeira, eu pretendia chegar na Ilha Grande se fosse necessário. 🤷🏼♀️
Perto da virada da ponta o sol saiu para nos espiar e apresentar a Joatinga no seu lado mais bonito. ⛅️
As ondulações de 1.5m estavam regulares, apesar das lágrimas de algumas o clima fúnebre do dia anterior não existia mais. O sol iluminava aquele farol que naquele ponto parecia pequeno e me fazia perceber a infinidade do mundo que vivemos. 🌚
Algumas remadas e reunimos o grupo de gurias para contemplar o local. Como na maioria do mundo outdoor, o cenário das expedições de travessia em caiaque oceânico é majoritamente ocupado por homens. Nós estávamos ali, 4 gurias, contemplando um dos locais mais míticos. Éramos nós, juntas, que havíamos nos levados até aquele ponto, do carregamento do carro, a logística, cada remada e remelexo de quadril nas ondas que nem o tchakabum dançou! #ondaolhaonda
Após o delírio coletivo decidimos evitar o desembarque em Martins de Sá... é necessário reconhecer os nossos limites e respeitar para não arder demais!
Seguimos pelo costão do cairuçu onde finalmente nos deparamos com a máquina de lavar de ativar o modo alimentador de peixes. E haja comida de peixe né @mariana_merch 🥴🤢🐟
No modo sobe que sobe que sobe e desce que desce que desce remamos mais duas longas horas e posso jurar que aquela carta náutica estava fora de escala! Acho que nos últimos anos a ilha cairuçu das pedras resolveu crescer um pouquinho. 🤓🛸
Seguimos rumo a ponta negra com mais 2 horas de remada totalizando 6 horas e quase 30km remando sem desembarque. Na ponta negra a aventura continuou, algumas dificuldades para encontrar um lugar para dormir quase nos fizeram reembarcar rumo a antiguinhos, mas logo nós ajustamos e fomos abrigados no Camping da Branca onde o som da cerveijinha estralou e comemoramos juntas o feito daquele dia!