Que meio ? Quantas pessoas viveram e vivem, no mesmo meio que esse Mineirinho viveu ? Será que todos eles ou, a grande maioria, viraram marginais ? Será que todos que vieram de uma classe mais abonada, são honestos ? Será que vocês não vêem que, é esse discurso, que fez o Brasil virar um dos países mais violento do mundo São vocês que adubam essa bandidagem É da mão de vocês que, escorre o sangue das vítimas
@@vitornathan5340 Penso que ela foi silenciada pela censura e pela ditadura. Afinal, era uma época onde grandes artistas expressavam os horrores da ditadura por meio da arte (literatura e música). Talvez se não fosse por isso, ela teria falado ainda mais sobre a truculência e arbitrariedade. Isso fica bem claro na entrevista onde ela fala que o papel dos escritores é "falar o menos possível". Parece que ela podia ver o que se passaria nos dias atuais. Ela era uma visionária.
"O décimo terceiro tiro me assassina - porque eu sou o outro. Porque eu quero ser o outro." Essa crônica é bárbara. São cem anos dela neste 10 de dezembro de 2020. Viva Clarice Lispector, que celebrou a alteridade, tão necessária nestes tempos sórdidos.
Como não amar esta crônica (Mineirinho)? Como não amar Clarice Lispector? Particularmente, não tenho palavras de como essa crônica me fez pensar e refletir sobre muitas coisas, sempre que leio ou ouço fico totalmente arrepiado!
eu fiz o trabalho no primeiro período deste conto e amei, nossa sem palavras para descrever, foi uma grande experiencia para mim, explicar cada detalhe deste conto desta grande escritora...Como eu queria ter conhecido esta diva...
Nossa! O "Mineirinho", ética, psicanálise, literatura, violência e justiça. Uma Médium tem uma paixão ardente por ele até hoje. O lado ( oculto dela do romance entre ela o Mineirinho ). É um clássico. Eu vou comentar este Livro!
Conto com uma visão utópica de uma pessoa sensível demais para a realidade primitiva dos homens.... a visão de uma pessoa civilizada que tenta dar sentido ao selvagem que ainda habita os corações de alguns homens. A parte em que ela diz que se mata demais por se ter medo demais, é de se "gargalhar" da tamanha inocência de Clarice, ela não percebia que alguns - deste ou do outro lado da Lei - matam não por descontrole ou excesso de sentimentos...mas sim por ausência deles.
Ele tinha uma namorada e era devoto de São Jorge... Bom , o mais fácil para quem acha certo os 13 tiros é pensar mesmo que ele n tinha sentimento, nem alma, nem dor... Acho que a visão utópica de pessoas como ela que salva o mundo. Humaniza. A inocência tem um poder que o mal desconhece.
@@luisrobertoakm sabe oque mais tem na cadeia?? Cristão! Tatuagem de Jesus Cristo é moda permanente no braço de ladrão. A mão que reza e dá carinho pros "seus", é a mesma mão que mata um dos "teus", por causa de relógio, celular, corrente de ouro, ou qualquer outro bem material. 13 tiros ou um apenas , não tornam ninguém santo, muito menos quem puxa o gatilho. As ovelhas não entendem quando Lobos matam Lobos, daí a inocência racionaliza um Lobo matando uma ovelha, porque simplesmente isso faz mais sentido.
*_Clarice Lispector_* _Mineirinho_ *(1978)* ( Para quem gosta de acompanhar a leitura) É, suponho que é em mim, como um dos representantes do nós, que devo procurar por que está doendo a morte de um facínora. E por que é que mais me adianta contar os treze tiros que mataram Mineirinho do que os seus crimes. Perguntei a minha cozinheira o que pensava sobre o assunto. Vi no seu rosto a pequena convulsão de um conflito, o mal-estar de não entender o que se sente, o de precisar trair sensações contraditórias por não saber como harmonizá-las. Fatos irredutíveis, mas revolta irredutível também, a violenta compaixão da revolta. Sentir-se dividido na própria perplexidade diante de não poder esquecer que Mineirinho era perigoso e já matara demais; e no entanto nós o queríamos vivo. A cozinheira se fechou um pouco, vendo-me talvez como a justiça que se vinga. Com alguma raiva de mim, que estava mexendo na sua alma, respondeu fria: “O que eu sinto não serve para se dizer. Quem não sabe que Mineirinho era criminoso? Mas tenho certeza de que ele se salvou e já entrou no céu”. Respondi-lhe que “mais do que muita gente que não matou”.Por que? No entanto a primeira lei, a que protege corpo e vida insubstituíveis, é a de que não matarás. Ela é a minha maior garantia: assim não me matam, porque eu não quero morrer, e assim não me deixam matar, porque ter matado será a escuridão para mim. Esta é a lei. Mas há alguma coisa que, se me faz ouvir o primeiro e o segundo tiro com um alívio de segurança, no terceiro me deixa alerta, no quarto desassossegada, o quinto e o sexto me cobrem de vergonha, o sétimo e o oitavo eu ouço com o coração batendo de horror, no nono e no décimo minha boca está trêmula, no décimo primeiro digo em espanto o nome de Deus, no décimo segundo chamo meu irmão. O décimo terceiro tiro me assassina - porque eu sou o outro. Porque eu quero ser o outro. Essa justiça que vela meu sono, eu a repudio, humilhada por precisar dela. Enquanto isso durmo e falsamente me salvo. Nós, os sonsos essenciais. Para que minha casa funcione, exijo de mim como primeiro dever que eu seja sonsa, que eu não exerça a minha revolta e o meu amor, guardados. Se eu não for sonsa, minha casa estremece. Eu devo ter esquecido que embaixo da casa está o terreno, o chão onde nova casa poderia ser erguida. Enquanto isso dormimos e falsamente nos salvamos. Até que treze tiros nos acordam, e com horror digo tarde demais - vinte e oito anos depois que Mineirinho nasceu - que ao homem acuado, que a esse não nos matem. Porque sei que ele é o meu erro. E de uma vida inteira, por Deus, o que se salva às vezes é apenas o erro, e eu sei que não nos salvaremos enquanto nosso erro não nos for precioso. Meu erro é o meu espelho, onde vejo o que em silêncio eu fiz de um homem. Meu erro é o modo como vi a vida se abrir na sua carne e me espantei, e vi a matéria de vida, placenta e sangue, a lama viva. Em Mineirinho se rebentou o meu modo de viver. Como não amá-lo, se ele viveu até o décimo-terceiro tiro o que eu dormia? Sua assustada violência. Sua violência inocente - não nas conseqüências, mas em si inocente como a de um filho de quem o pai não tomou conta. Tudo o que nele foi violência é em nós furtivo, e um evita o olhar do outro para não corrermos o risco de nos entendermos. Para que a casa não estremeça. A violência rebentada em Mineirinho que só outra mão de homem, a mão da esperança, pousando sobre sua cabeça aturdida e doente, poderia aplacar e fazer com que seus olhos surpreendidos se erguessem e enfim se enchessem de lágrimas. Só depois que um homem é encontrado inerte no chão, sem o gorro e sem os sapatos, vejo que esqueci de lhe ter dito: também eu. Eu não quero esta casa. Quero uma justiça que tivesse dado chance a uma coisa pura e cheia de desamparo em Mineirinho - essa coisa que move montanhas e é a mesma que o fez gostar “feito doido” de uma mulher, e a mesma que o levou a passar por porta tão estreita que dilacera a nudez; é uma coisa que em nós é tão intensa e límpida como uma grama perigosa de radium, essa coisa é um grão de vida que se for pisado se transforma em algo ameaçador - em amor pisado; essa coisa, que em Mineirinho se tornou punhal, é a mesma que em mim faz com que eu dê água a outro homem, não porque eu tenha água, mas porque, também eu, sei o que é sede; e também eu, que não me perdi, experimentei a perdição. A justiça prévia, essa não me envergonharia. Já era tempo de, com ironia ou não, sermos mais divinos; se adivinhamos o que seria a bondade de Deus é porque adivinhamos em nós a bondade, aquela que vê o homem antes de ele ser um doente do crime. Continuo, porém, esperando que Deus seja o pai, quando sei que um homem pode ser o pai de outro homem. E continuo a morar na casa fraca. Essa casa, cuja porta protetora eu tranco tão bem, essa casa não resistirá à primeira ventania que fará voar pelos ares uma porta trancada. Mas ela está de pé, e Mineirinho viveu por mim a raiva, enquanto eu tive calma. Foi fuzilado na sua força desorientada, enquanto um deus fabricado no último instante abençoa às pressas a minha maldade organizada e a minha justiça estupidificada: o que sustenta as paredes de minha casa é a certeza de que sempre me justificarei, meus amigos não me justificarão, mas meus inimigos que são os meus cúmplices, esses me cumprimentarão; o que me sustenta é saber que sempre fabricarei um deus à imagem do que eu precisar para dormir tranqüila e que outros furtivamente fingirão que estamos todos certos e que nada há a fazer. Tudo isso, sim, pois somos os sonsos essenciais, baluartes de alguma coisa. E sobretudo procurar não entender. Porque quem entende desorganiza. Há alguma coisa em nós que desorganizaria tudo - uma coisa que entende. Essa coisa que fica muda diante do homem sem o gorro e sem os sapatos, e para tê-los ele roubou e matou; e fica muda diante do São Jorge de ouro e diamantes. Essa alguma coisa muito séria em mim fica ainda mais séria diante do homem metralhado. Essa alguma coisa é o assassino em mim? Não, é desespero em nós. Feito doidos, nós o conhecemos, a esse homem morto onde a grama de radium se incendiara. Mas só feito doidos, e não como sonsos, o conhecemos. É como doido que entro pela vida que tantas vezes não tem porta, e como doido compreendo o que é perigoso compreender, e só como doido é que sinto o amor profundo, aquele que se confirma quando vejo que o radium se irradiará de qualquer modo, se não for pela confiança, pela esperança e pelo amor, então miseravelmente pela doente coragem de destruição. Se eu não fosse doido, eu seria oitocentos policiais com oitocentas metralhadoras, e esta seria a minha honorabilidade. Até que viesse uma justiça um pouco mais doida. Uma que levasse em conta que todos temos que falar por um homem que se desesperou porque neste a fala humana já falhou, ele já é tão mudo que só o bruto grito desarticulado serve de sinalização. Uma justiça prévia que se lembrasse de que nossa grande luta é a do medo, e que um homem que mata muito é porque teve muito medo. Sobretudo uma justiça que se olhasse a si própria, e que visse que nós todos, lama viva, somos escuros, e por isso nem mesmo a maldade de um homem pode ser entregue à maldade de outro homem: para que este não possa cometer livre e aprovadamente um crime de fuzilamento. Uma justiça que não se esqueça de que nós todos somos perigosos, e que na hora em que o justiceiro mata, ele não está mais nos protegendo nem querendo eliminar um criminoso, ele está cometendo o seu crime particular, um longamente guardado. Na hora de matar um criminoso - nesse instante está sendo morto um inocente. Não, não é que eu queira o sublime, nem as coisas que foram se tornando as palavras que me fazem dormir tranqüila, mistura de perdão, de caridade vaga, nós que nos refugiamos no abstrato. O que eu quero é muito mais áspero e mais difícil: quero o terreno.
Ela escreveu em 1064 uma fase complicada , o país vivia sob o regime militar , muitas mortes e torturas. Havia fome, desemprego ,tortura , silêncio . Os jovens se transformavam em delinquentes por falta de oportunidade ou revolta .
Só uma pergunta E as balas que o Mineirinho desferiu em suas vítimas ? A Clarice não se preocupou Aqui nos comentários, ninguém se preocupou Sempre a preocupação de vocês, é com o bandido, com a "vítima da sociedade" Sentir pena dos culpados é trair os inocentes! (Ayn Rand)
Olha Anderson, sinceramente você está distorcendo a realidade meu nobre. Percebe-se que ela fica abalada não com o fato da morte de um bandido, mas a frieza das autoridades. Treze tiros? Por que treze tiros? A raiva não pode tomar a alma de alguém em um momento tão delicado, como é abordar um criminoso. Por mais que ele tenha tido feito vítimas, todos tema oportunidade de aprenderem com o erro, e voltarem-se para o bom Deus. Por que o povo escolheu Jesus, ao invés de Barrabás? Pois Deus deu uma segunda chance. Estude a alma de uma escritora, e comemore conosco o centenário dessa gênia alma, que tanto fez ao Brasil. E lembre-se, o fato não foi proteger o bandido, mas a pessoa que ele era. Como você é, como eu sou, como sua mãe também é. Ele também foi filho, como você e eu somos.
A Clarice te explica: "Uma justiça que não se esqueça de que nós todos somos perigosos, e que na hora em que o justiceiro mata, ele não está mais nos protegendo nem querendo eliminar um criminoso, ele está cometendo o seu crime particular, um longamente guardado. Na hora de matar um criminoso - nesse instante está sendo morto um inocente."
"Uma bala bastava". Verdade à vontade de decide, pela morte prevaleceu, tenho em minhas mãos um fuzil, portanto à minha decisão é ceifa está vida "insignificante"! Cruel mais nos dias atuais infelismente é assim.
Flávio, acho que você não entendeu meu comentário? Fiz uma comparação entre o texto poético e a realidade que aconteceu há pouco tempo aqui no Brasil...
Na entrevista, Clarice diz: “Qualquer que tivesse sido o crime dele, uma bala bastava; o resto era vontade de matar” Que frase!!!
Eu vi a entrevista e achei espetacular a compreensão dela sobre a crueldade humana!!!
E quem nunca teve vontade de matar?
Dependendo da situação, a polícia vai disparar muito mais que 1 tiro, e isso não é vontade de matar.
@@JoaoLucas-il5hi isto não é sobre a polícia, é sobre nós.
@@oescafandrista Como assim?
1962 foram 13 tiros , Clarice, 2019 foram 80 com uma família inteira dentro... Só pioramos, Clarice, só pioramos...
Menina, pior que lembrei desse texto quando tudo isso aconteceu.Assustador!
Verdade 😰
E como esse conto se encaixa no nosso Brasil atual....
Rafaela Cotta A quatro anos foi feito e esse comentário ainda é válido
E hoje, poucos dias depois de 80 tiros?
@@emojidoet6934 A cinco idem
Há seis anos e nada mudou 😢
Até hj
Um dos contos mais inquietantes de Clarice Lispector. A ausência de justiça prévia só provoca a cegueira ao olhar o sujeito dito criminoso.
Dê uma grandeza de uma compaixão.. Como era profunda e grandiosa nossa querida Clarice.
VER HUMAN tempo: 5.25 - ruclips.net/video/-Ap1qI-3nhg/видео.html
"... A décima segunda bala me atinge, a décima terceira bala sou eu..."
finalmente a revolta que sinto nos dias atuais, fora explicada.
Como vc pode entender a essência da sua revolta se nem sabe o que fazer com as vírgulas ?
@@felipebettinirabello3049 e vc sabe o que fazer com sua arrogância?
Conto, que me fez fazer uma auto reflexão. Grande mulher.
Sensível demais!!! Antes do criminoso vem o homem..que foi modificado pelo meio. Brilhante Clarisse.
Que meio ?
Quantas pessoas viveram e vivem, no mesmo meio que esse Mineirinho viveu ? Será que todos eles ou, a grande maioria, viraram marginais ?
Será que todos que vieram de uma classe mais abonada, são honestos ?
Será que vocês não vêem que, é esse discurso, que fez o Brasil virar um dos países mais violento do mundo
São vocês que adubam essa bandidagem
É da mão de vocês que, escorre o sangue das vítimas
O que Clarice diria de um músico, inocente, morto com 80 tiros(!) por militares no fim de semana no Rio, segundo eles, por engano?
Você está falando sério, Thiago? O que aconteceu? De quem vc está falando? De um um músico? Quem é ele? Ou quem era ele?
Clarice diria que foi um fuzilamento!
Que profundo!!!! Clarice Lispector é um soco no estômago da hipocrisia humana.
_"Uma bala bastaria as demais... é _*_prepotência"_*
Só lembrando que o rapaz estava desarmado.
Prepotência
@@vitornathan5340 Penso que ela foi silenciada pela censura e pela ditadura. Afinal, era uma época onde grandes artistas expressavam os horrores da ditadura por meio da arte (literatura e música). Talvez se não fosse por isso, ela teria falado ainda mais sobre a truculência e arbitrariedade. Isso fica bem claro na entrevista onde ela fala que o papel dos escritores é "falar o menos possível". Parece que ela podia ver o que se passaria nos dias atuais. Ela era uma visionária.
Isso! Concordo plenamente. Ela sempre engolia suas palavras, e sempre generalizava como o papel "dos escritores" era falar o menos possível..
Toda vez choro...muito profundo...me causa um convulsão de sentimentos
Aconteceu ontem, com os oitenta tiros no carro de uma família no norte do Rio A diferença é que foi um engano.
Essa crônica doeu em mim. Ela deixou-me triste, perplexo e revoltado
Ver HUMAN tempo 5.25 - ruclips.net/video/-Ap1qI-3nhg/видео.html
Se ela sentiu isso em 13 tiros disparados em um facínora, imagina o que ela sentiria com 80 tiros em uma família de inocentes?
transborda sensibilidade, que mulher.
Eu só consigo me lembrar de Marielle... Longe de ser uma facínora, mas sua morte dói muito!
A juíza Patrícia Axcoli também foi assassinada por policiais bandidos. E foram 21 tiros.
em agosto de 2011.
"O décimo terceiro tiro me assassina - porque eu sou o outro. Porque eu quero ser o outro."
Essa crônica é bárbara. São cem anos dela neste 10 de dezembro de 2020. Viva Clarice Lispector, que celebrou a alteridade, tão necessária nestes tempos sórdidos.
Que profundo!!!! Clarice Lispector é pura psicologia!!!😍😍😍👏👏👏
13 ela achou o cúmulo. Imagine se ele soubesse dos 80 por " acidente ".
Como não amar esta crônica (Mineirinho)? Como não amar Clarice Lispector? Particularmente, não tenho palavras de como essa crônica me fez pensar e refletir sobre muitas coisas, sempre que leio ou ouço fico totalmente arrepiado!
eu fiz o trabalho no primeiro período deste conto e amei, nossa sem palavras para descrever, foi uma grande experiencia para mim, explicar cada detalhe deste conto desta grande escritora...Como eu queria ter conhecido esta diva...
Verdade!
Meu deuuuuuuus! Que crônica maravilhosa. Eu tô arrepiada!
Nossa! O "Mineirinho", ética, psicanálise, literatura, violência e justiça. Uma Médium tem uma paixão ardente por ele até hoje. O lado ( oculto dela do romance entre ela o Mineirinho ). É um clássico. Eu vou comentar este Livro!
Gratidão
Encantado! Obrigado...
,
Quão sensível, profunda... era essa escritora, por quem tive grande admiração.
Fantástica descrição,quanta sensibilidade e tão atual.
Só lhes digo uma coisa... Ter pena de criminosos é trair os inocentes!
Muito bom!
Gente que atual!! Maravilhoso!!!!!!
Clarice Lispector essa tem uma linda história de amor de vida.
Essa crônica é maravilhosa!!!
Que conto atual mds
Voltei aqui em 2021 porque a solução do caso Lázaro me lembrou Mineirinho.
Pensei a mesma coisa e fiz o mesmo :/
jun, 2020.
Quero! 👏
Clarice faz falta!
Verdade Brilhante!
Muito bom.
É muito atual esse conto. LÁZARO
Eu não quero a casa que abriga os sonsos e justos. Eu quero o terreno. Idem, Clarice.
amor!
Sensacional!
Grande é a ambição de querer escrever como Clarice
tão atual
Lindo !
tão lúcida
Hoje, mataram Lazaro, so me lembro de Mineirinho...
Também me lembrei!
Conto com uma visão utópica de uma pessoa sensível demais para a realidade primitiva dos homens.... a visão de uma pessoa civilizada que tenta dar sentido ao selvagem que ainda habita os corações de alguns homens. A parte em que ela diz que se mata demais por se ter medo demais, é de se "gargalhar" da tamanha inocência de Clarice, ela não percebia que alguns - deste ou do outro lado da Lei - matam não por descontrole ou excesso de sentimentos...mas sim por ausência deles.
Ver HUMAN tempo: 5.25 - ruclips.net/video/-Ap1qI-3nhg/видео.html
@@izabelcst já havia assistido a esse trecho. Agora discorra.
Ele tinha uma namorada e era devoto de São Jorge... Bom , o mais fácil para quem acha certo os 13 tiros é pensar mesmo que ele n tinha sentimento, nem alma, nem dor... Acho que a visão utópica de pessoas como ela que salva o mundo. Humaniza. A inocência tem um poder que o mal desconhece.
@@luisrobertoakm sabe oque mais tem na cadeia?? Cristão! Tatuagem de Jesus Cristo é moda permanente no braço de ladrão. A mão que reza e dá carinho pros "seus", é a mesma mão que mata um dos "teus", por causa de relógio, celular, corrente de ouro, ou qualquer outro bem material. 13 tiros ou um apenas , não tornam ninguém santo, muito menos quem puxa o gatilho. As ovelhas não entendem quando Lobos matam Lobos, daí a inocência racionaliza um Lobo matando uma ovelha, porque simplesmente isso faz mais sentido.
*_Clarice Lispector_*
_Mineirinho_
*(1978)*
( Para quem gosta de acompanhar a leitura)
É, suponho que é em mim, como um dos representantes do nós, que devo procurar por que está doendo a morte de um facínora. E por que é que mais me adianta contar os treze tiros que mataram Mineirinho do que os seus crimes. Perguntei a minha cozinheira o que pensava sobre o assunto. Vi no seu rosto a pequena convulsão de um conflito, o mal-estar de não entender o que se sente, o de precisar trair sensações contraditórias por não saber como harmonizá-las. Fatos irredutíveis, mas revolta irredutível também, a violenta compaixão da revolta. Sentir-se dividido na própria perplexidade diante de não poder esquecer que Mineirinho era perigoso e já matara demais; e no entanto nós o queríamos vivo. A cozinheira se fechou um pouco, vendo-me talvez como a justiça que se vinga. Com alguma raiva de mim, que estava mexendo na sua alma, respondeu fria: “O que eu sinto não serve para se dizer. Quem não sabe que Mineirinho era criminoso? Mas tenho certeza de que ele se salvou e já entrou no céu”. Respondi-lhe que “mais do que muita gente que não matou”.Por que? No entanto a primeira lei, a que protege corpo e vida insubstituíveis, é a de que não matarás. Ela é a minha maior garantia: assim não me matam, porque eu não quero morrer, e assim não me deixam matar, porque ter matado será a escuridão para mim.
Esta é a lei. Mas há alguma coisa que, se me faz ouvir o primeiro e o segundo tiro com um alívio de segurança, no terceiro me deixa alerta, no quarto desassossegada, o quinto e o sexto me cobrem de vergonha, o sétimo e o oitavo eu ouço com o coração batendo de horror, no nono e no décimo minha boca está trêmula, no décimo primeiro digo em espanto o nome de Deus, no décimo segundo chamo meu irmão. O décimo terceiro tiro me assassina - porque eu sou o outro. Porque eu quero ser o outro.
Essa justiça que vela meu sono, eu a repudio, humilhada por precisar dela. Enquanto isso durmo e falsamente me salvo. Nós, os sonsos essenciais.
Para que minha casa funcione, exijo de mim como primeiro dever que eu seja sonsa, que eu não exerça a minha revolta e o meu amor, guardados. Se eu não for sonsa, minha casa estremece. Eu devo ter esquecido que embaixo da casa está o terreno, o chão onde nova casa poderia ser erguida. Enquanto isso dormimos e falsamente nos salvamos.
Até que treze tiros nos acordam, e com horror digo tarde demais - vinte e oito anos depois que Mineirinho nasceu - que ao homem acuado, que a esse não nos matem. Porque sei que ele é o meu erro. E de uma vida inteira, por Deus, o que se salva às vezes é apenas o erro, e eu sei que não nos salvaremos enquanto nosso erro não nos for precioso. Meu erro é o meu espelho, onde vejo o que em silêncio eu fiz de um homem. Meu erro é o modo como vi a vida se abrir na sua carne e me espantei, e vi a matéria de vida, placenta e sangue, a lama viva.
Em Mineirinho se rebentou o meu modo de viver. Como não amá-lo, se ele viveu até o décimo-terceiro tiro o que eu dormia? Sua assustada violência. Sua violência inocente - não nas conseqüências, mas em si inocente como a de um filho de quem o pai não tomou conta.
Tudo o que nele foi violência é em nós furtivo, e um evita o olhar do outro para não corrermos o risco de nos entendermos. Para que a casa não estremeça.
A violência rebentada em Mineirinho que só outra mão de homem, a mão da esperança, pousando sobre sua cabeça aturdida e doente, poderia aplacar e fazer com que seus olhos surpreendidos se erguessem e enfim se enchessem de lágrimas. Só depois que um homem é encontrado inerte no chão, sem o gorro e sem os sapatos, vejo que esqueci de lhe ter dito: também eu.
Eu não quero esta casa. Quero uma justiça que tivesse dado chance a uma coisa pura e cheia de desamparo em Mineirinho - essa coisa que move montanhas e é a mesma que o fez gostar “feito doido” de uma mulher, e a mesma que o levou a passar por porta tão estreita que dilacera a nudez; é uma coisa que em nós é tão intensa e límpida como uma grama perigosa de radium, essa coisa é um grão de vida que se for pisado se transforma em algo ameaçador - em amor pisado; essa coisa, que em Mineirinho se tornou punhal, é a mesma que em mim faz com que eu dê água a outro homem, não porque eu tenha água, mas porque, também eu, sei o que é sede; e também eu, que não me perdi, experimentei a perdição.
A justiça prévia, essa não me envergonharia. Já era tempo de, com ironia ou não, sermos mais divinos; se adivinhamos o que seria a bondade de Deus é porque adivinhamos em nós a bondade, aquela que vê o homem antes de ele ser um doente do crime. Continuo, porém, esperando que Deus seja o pai, quando sei que um homem pode ser o pai de outro homem.
E continuo a morar na casa fraca. Essa casa, cuja porta protetora eu tranco tão bem, essa casa não resistirá à primeira ventania que fará voar pelos ares uma porta trancada. Mas ela está de pé, e Mineirinho viveu por mim a raiva, enquanto eu tive calma.
Foi fuzilado na sua força desorientada, enquanto um deus fabricado no último instante abençoa às pressas a minha maldade organizada e a minha justiça estupidificada: o que sustenta as paredes de minha casa é a certeza de que sempre me justificarei, meus amigos não me justificarão, mas meus inimigos que são os meus cúmplices, esses me cumprimentarão; o que me sustenta é saber que sempre fabricarei um deus à imagem do que eu precisar para dormir tranqüila e que outros furtivamente fingirão que estamos todos certos e que nada há a fazer.
Tudo isso, sim, pois somos os sonsos essenciais, baluartes de alguma coisa. E sobretudo procurar não entender.
Porque quem entende desorganiza. Há alguma coisa em nós que desorganizaria tudo - uma coisa que entende. Essa coisa que fica muda diante do homem sem o gorro e sem os sapatos, e para tê-los ele roubou e matou; e fica muda diante do São Jorge de ouro e diamantes. Essa alguma coisa muito séria em mim fica ainda mais séria diante do homem metralhado. Essa alguma coisa é o assassino em mim? Não, é desespero em nós. Feito doidos, nós o conhecemos, a esse homem morto onde a grama de radium se incendiara. Mas só feito doidos, e não como sonsos, o conhecemos. É como doido que entro pela vida que tantas vezes não tem porta, e como doido compreendo o que é perigoso compreender, e só como doido é que sinto o amor profundo, aquele que se confirma quando vejo que o radium se irradiará de qualquer modo, se não for pela confiança, pela esperança e pelo amor, então miseravelmente pela doente coragem de destruição. Se eu não fosse doido, eu seria oitocentos policiais com oitocentas metralhadoras, e esta seria a minha honorabilidade.
Até que viesse uma justiça um pouco mais doida. Uma que levasse em conta que todos temos que falar por um homem que se desesperou porque neste a fala humana já falhou, ele já é tão mudo que só o bruto grito desarticulado serve de sinalização.
Uma justiça prévia que se lembrasse de que nossa grande luta é a do medo, e que um homem que mata muito é porque teve muito medo. Sobretudo uma justiça que se olhasse a si própria, e que visse que nós todos, lama viva, somos escuros, e por isso nem mesmo a maldade de um homem pode ser entregue à maldade de outro homem: para que este não possa cometer livre e aprovadamente um crime de fuzilamento.
Uma justiça que não se esqueça de que nós todos somos perigosos, e que na hora em que o justiceiro mata, ele não está mais nos protegendo nem querendo eliminar um criminoso, ele está cometendo o seu crime particular, um longamente guardado. Na hora de matar um criminoso - nesse instante está sendo morto um inocente. Não, não é que eu queira o sublime, nem as coisas que foram se tornando as palavras que me fazem dormir tranqüila, mistura de perdão, de caridade vaga, nós que nos refugiamos no abstrato.
O que eu quero é muito mais áspero e mais difícil: quero o terreno.
Obrigada por ter colocado todo o cinto aqui.
Cada bala .... cada dor.... todo o medo do mundo!
Ela escreveu em 1064 uma fase complicada , o país vivia sob o regime militar , muitas mortes e torturas. Havia fome, desemprego ,tortura , silêncio . Os jovens se transformavam em delinquentes por falta de oportunidade ou revolta .
Wow 🙏🙏🙏🙏😍😍
os olhos humanos
Pena que leu o conto trocando palavras.como a parte que diz que mineirinho já ''matara demais''.Por que trocou a palavra DEMAIS por ANTES?????
Só uma pergunta
E as balas que o Mineirinho desferiu em suas vítimas ?
A Clarice não se preocupou
Aqui nos comentários, ninguém se preocupou
Sempre a preocupação de vocês, é com o bandido, com a "vítima da sociedade"
Sentir pena dos culpados é trair os inocentes!
(Ayn Rand)
Olha Anderson, sinceramente você está distorcendo a realidade meu nobre. Percebe-se que ela fica abalada não com o fato da morte de um bandido, mas a frieza das autoridades. Treze tiros? Por que treze tiros? A raiva não pode tomar a alma de alguém em um momento tão delicado, como é abordar um criminoso. Por mais que ele tenha tido feito vítimas, todos tema oportunidade de aprenderem com o erro, e voltarem-se para o bom Deus. Por que o povo escolheu Jesus, ao invés de Barrabás? Pois Deus deu uma segunda chance. Estude a alma de uma escritora, e comemore conosco o centenário dessa gênia alma, que tanto fez ao Brasil.
E lembre-se, o fato não foi proteger o bandido, mas a pessoa que ele era. Como você é, como eu sou, como sua mãe também é. Ele também foi filho, como você e eu somos.
@@carteiro0 Justamente, o cidadão de bem acha que justiça e vingança são a mesma coisa. Talvez não sejam tão de bem assim quanto pensam
A Clarice te explica:
"Uma justiça que não se esqueça de que nós todos somos perigosos, e que na hora em que o justiceiro mata, ele não está mais nos protegendo nem querendo eliminar um criminoso, ele está cometendo o seu crime particular, um longamente guardado. Na hora de matar um criminoso - nesse instante está sendo morto um inocente."
VER HUMAN tempo 5.25 - ruclips.net/video/-Ap1qI-3nhg/видео.html
🥺
"Uma bala bastava". Verdade à vontade de decide, pela morte prevaleceu, tenho em minhas mãos um fuzil, portanto à minha decisão é ceifa está vida "insignificante"!
Cruel mais nos dias atuais infelismente é assim.
80 tiros
Qual é o ano de publicação do conto?
Silvia B 1977
@@AntonioLima-zs6ss EScrito em 1964 - no Livro de crônicas " Para não esquecer"
tento gostar dela aff
13 tiros num bandido foi tarde...
Agora 80 tiros numa família inocente... Que país é esse?? País do despreparo profissional, país da impunidade 😭😪
Primeiro: Que eu saiba ainda não existe pena de morte no Brasil. Segundo: E mesmo se existisse pena de morte no Brasil, policial é juiz?
Flávio, acho que você não entendeu meu comentário? Fiz uma comparação entre o texto poético e a realidade que aconteceu há pouco tempo aqui no Brasil...
@@marleneborba3033 Entendi errado. Desculpe.
Seu engano é achar que estes 13 tiros não têm nada a ver com os 80. Como disse Clarisse "1 tiro bastava, o resto era vontade de matar"
é a mãe de mineirinho narrando?