Sou arqueólogo e já passei por muitos problemas deste tipo, pesquisadores que diziam que eu não tinha uma boa biblioteca, pois li mangás e hqs; ou que isso nem poderia ser chamado de livros, e sim algo inferior e assim para frente. Hoje, só por implicância, faço trabalhos sobre a representação dos arqueólogos nos HQs e sempre repito com minha companheira: "Os jovens não vêm a gente por Indiana Jones, eles vêm através destas obras e se vocês as desconhecem, vcs desconhecem a sociedade atual" Adorei o vídeo, vou usar como referência
@@ttt9354 Não sou o Lucas, mas recomendo Martin Mystere e Planetary. É uma arqueologia mais emocionante que a realidade kkk, mas as histórias são centradas nesse tema.
"É estranho, para mim, que num país em que predominam analfabetos e pessoas sem o hábito de ler, alguém possa segregar alguma forma - qualquer uma - de leitura". Sérgio Coutinho
Tenho 43 anos e leio quadrinhos desde sempre. Uma coisa que sempre achei bem estranha é essa vinculação dos quadrinhos a figura do nerd. Principalmente depois da popularização da internet , quadrinho é coisa de nerd. Isso me soa estranho porque me lembro que quando eu era jovem, o público de quadrinhos era bem mais diversificado. O pessoal das artes plásticas, do cinema, da música... Todo mundo lia quadrinhos. E me parece que era nítido pra todos que quadrinhos são uma arte tão diversa quanto o cinema, a literatura...A revista Chiclete com Banana foi um fenômeno editorial. A Mad também. Desconfio que por causa da falência das pequenas e médias editoras por causa do Plano Collor, fazendo com que só restasse nas bancas Marvel, DC , Mônica e Disney durante anos, os quadrinhos ficaram gravados do imaginário coletivo como algo exclusivamente infantil.
Excelente comentário!! Não sou dessa época, então não tinha essa visão. Me parece fazer muito sentido. Pois, nossa produção nacional é ainda muito deficitária e consumimos, a despeito de algumas coisas boas serem produzidas por aqui, muito mais coisas estrangeiras, sobretudo dos EUA. Logo quadrinhos aqui virou sinônimo somente de DC/Marvel/super-heróis, Disney e Mônica.
é importante entender que o nerd é alguém que sabe muito sobre alguma coisa, nao apenas das ciencias ou algo do tipo. se alguém sabe muito sobre heavy metal (bandas, a historia das bandas, os integrantes das bandas, as musicas, composição etc.), ele é um nerd do metal; se alguém sabe muito sobre carros (como sao feitos, a historia por trás dos carros, as pessoas por tras do design, o mercado de carros antigos/novos/usados), ele é um nerd de carro; se alguém sabe muito sobre esportes, ele é um nerd dos esportes; e por aí vai.. partindo daí, nao podemos mais atrelar a figura do nerd àquela pessoa introspectiva, geralmente cheia de espinha e que é incapaz frente a importunações. vejo muito é essa relação que quem chama algo assim de "coisa de nerd" faz sempre, querendo dizer que nao é aquela pessoínha pequena...
Não sou dessa época em que os quadrinhos mais adultos eram populares no Brasil mas eu já ouvi falar sobre isso... Dizem que as bancas tinham bastante quadrinhos de terror (que eram os melhores do mundo na década de 50 eu acho sei lá) e que os adultos tbm gostavam de ler. Isso aconteceu pq um quadrinista japonês veio morar no Brasil e incentivou outros brasileiros a produzir tbm (foi o que eu ouvi falar em outro canal do RUclips)
Quando eu fazia mestrado, um colega (também mestrando) viu que eu lia quadrinhos e ficou perplexo. Ele tinha total desconhecimento da área (exceto por algumas referências básicas da Turma da Mônica). Ele pegou uma HQ minha e perguntou como se lia, se era da esquerda pra direita, qual a ordem de leitura, etc. Parecia uma pessoa que nunca tinha visto uma HQ na vida. No fim, eu é que fiquei perplexo com ele, hehe.
Acredito que esse preconceito é fruto do Comic Code Authority, a qual entrou em vigor na Década de 50. Desde que surgiu a idéia fundamentada por Wertham, os quadrinhos foram forçados a se limitarem em propostas mais infantis.
É de antes Ramon. O fato de Mônica e Disney ter espaço mercadológico no Brasil desde muito tempo já é oriundo dessa visão preconceituosa. Isso se deve, segundo minha visão, de que quadrinhos são obras populares, em sua essência. Por ser uma manifestação artistica popular, assim como várias outras manifestações, elas tendem a ser menosprezadas pelas elites (ocidentais). Isso também está presente em outras manifestações populares além das artes, religião por exemplo. Quantas universidades brasileiras ofertam algum curso de "cristianismo", "Bíblia", "judaísmo". "budismo", etc? Então existe uma mentalidade aristocratica elitista que escolhe objetos que predeterminam o que significa ser elite, ao tempo que excluem o restante.
Quando adolescente, sempre que eu conversava sobre as histórias que tava lendo, eu mentia que era de um livro/filme pq a glr sempre reagia com um preconceito fodido. Sério, roolava váaarios momentos onde eu descrevia uma história, a pessoa amava mas quando eu dizia que era de algum gibi, ela broxava na hora. E isso foi uma vergonha/preconceito internalizado meu que evoluiu pra: pera, mas essa é boa, ok? É mais perto da literatura, tipo Sandman... Ou seja, quadrinho não é um mérito e uma mídia em si, então precisa ser colocado em uma subcategoria e só ganha status quando é ''literário''. Hj, na facul (curso letras), já faço diferente, eu não apenas falo que é quadrinho MESMO uma história que recomendo, como também dou o prestígio devido e tento sempre diferenciar da literatura, já que uma coisa é uma coisa e outra é outra coisa; também cito em trabalhos e seminários. Rola preconceito? MUITO, um certo olhar chato e intelectual, maaas, eu sinto que o ambiente tem mudado, alguns profes meus citam quadrinhos durante a aula, porém ainda num tom meio: olha como ESSE quadrinho é bom, quase como se não existisse coisa boa e ruim em toda e qualquer arte. Contudo, já é um primeiro passo de ver ALGUM 'prestígio'. Finalizando, essa discussão tem até na literatura mesmo, o quanto a gnt vê essa distinção entre 'baixa' e 'alta' literatura; a glr desprestigiando um livro só porque é infanto-juvenil ou pq vendeu bastante.
Essa foto do livro do Kant com Superman dentro está muito boa, morri de ri. Eu sinto isso direto, no meu doutorado, o preconceito é muito grande. O seu canal me ajuda muito a ressignificar minha relação com os quadrinhos.
Eu fiz faculdade de artes visuais nos anos 2000 e entendo exatamente o que vc quer dizer. Tivemos um bate-boca com uma professora de escultura que argumentou na época (palavras dela) "não, não pode ser arte, senão vira aquilo, tudo é tudo, nada é nada" (juro). Conversando com outra professora em outra ocasião, eu dizia que tinha entrado na faculdade de artes visuais pq queria trabalhar com quadrinhos e ilustração; ela olhou pra mim com uma puta cara de nojo e disse "pq ilustração??!!". Eu tenho uma teoria que no caso da arte, essa galera dessa geração teve uma formação essencialmente modernista, acreditava na arte como forma de subjetividade suprema, no mito do artista como gênio/criador/demiurgo, desapegado do mundo dos mortais e das formas de maifestação populares, mesmo que algumas das vanguardas dos anos 60 e 70 tenham tentado superar isso. Concordo sim que é um discurso arrogante e elitista que nunca tentou entender as possibilidades dos quadrinhos como linguagem visual/narrativa/expressiva. De qualquer forma, parabéns pela iniciativa de tentar furar a bolha academica pra tratar desse assunto e parabéns tb pelo canal por manter o debate sempre em alto nível.
Descobri, há pouco mais de um ano, a leitura de quadrinhos. Achava sim uma leitura infantil, não intelectualizada e incapaz de gerar reflexão. Tinha, e ainda tenho, um alto apego à alta literatura. Porém, foi através de uma leitura despretensiosa de uma edição de Sandman, e da resenha que precedia o quadrinho, que descobri a riqueza contida nessa arte. Hoje gasto mais tempo lendo quadrinhos do que livros, mas sinto que tudo que li de alta literatura me permitiu ver os quadrinhos como essa fonte inesgotável de reflexão (claro que TB como fonte de entretenimento despretensioso). Ótimo vídeo!
literatura contra quadrinhos, é a mesma coisa de você bandas de rock de estilos diferentes brigando. Ou seja: imaturidade,conservadorismo e ignorancia. Essa elitização da academia é um problema imenso, além de uma metedologia engessada. Agora, se algum intelectual gringo, principalmente vindo da França,Australia,Suécia ou Nova zelandia, falar bem de quadrinho, ai esses orgulhosos cheio de empafia mudam de opinião rapidinho. E o pior é que o quadrinho, surgiu da literatura convencional.
Eu hoje nem me importo mais com esse preconceito. Leio gibis desde nova, o povo sempre falava "ela é meio esquisita, gosta de ler essas coisas de criança". Quando comecei a ler mangá então, nossa, era engraçado o preconceito porque além de ser como um quadrinho, é japonês, então o povo me achava mais esquisita ainda.
Kkkk fiz ensino médio na antiga Escola Técnica Federal (90's). Em algumas disciplinas se eu deixasse meu gibi a mostra era mandado para a "coordenação" kķkkk. No curso de Engenharia, já na UF, em uma disciplina de "humanas" (acho que Psicologia Industrial (??)), o DSc em Psicologia me perguntou se eu tinha algum "transtorno mental" por ler gibi kkkkk.
Ivy, sou professor num IF e se um aluno deixar o gibi à mostra durante uma aula minha (filosofia, no caso) corre o risco do gibi virar assunto da aula. 😎
@@gildeonoliveiradovale8546 o IF é uma Evolução, Prof. Kkkkkk. Mas eu gostei muito da ETF, foi uma das melhores experiências de minha inútil existência.
No meio do audiovisual, "produção feita para TV" (novela, sitcom, programas de auditório) enfrentam preconceito similar (inclusive no espaço acadêmico sobre o tema). Se for mais específico, na minha área de atuação (animação), a mesma coisa - se o conteúdo é infantil, se não é educacional/pedagógico, se não é conteúdo do "circuito de festivais"... Tudo isso acaba gerando senão uma cara feia, no máximo algum elogio condescendente. Do lado de quem produz cabe não deixar que isso diminua nosso ânimo em realizar, e do lado acadêmico, em ampliar o repertório permitindo aos alunos um olhar mais amplo sobre aquele conteúdo tão menosprezado. Mesmo naqueles que não tem, em si, um aprofundamento tão evidente quanto as obras de referência da área, mas que estão conseguindo comunicar, expressar e despertar as emoções do leitor/espectador. As vezes um gibi da Mônica tem muito mais a oferecer do que a risada rápida que ele originalmente se propõe.
Acho que isso está mudando gradualmente. Hoje em dia, a maioria esmagadora dos jovens que conheço, que possuem interesse por leitura, política ou qualquer outra área intelectual, conhecem - ainda que de forma singela - alguns títulos como Maus, Persépolis, Sandman e outros. O fato é que as novas gerações puderam lidar com a cultura pop bem mais presente em suas vidas, isso desde a infância, refletindo nos jovens que são hoje. Hoje eu até diria que tá na moda ser geek. Em toda rodinha de universitário de cursos de letras, filosofia e cursos de humanas como um todo, tem um que assiste a animes, coleciona quadrinhos e por aí vai.
Amante de quadrinhos, roqueiro e fã de ficção científica, além de outros supostamente interesses menores, consegui ser excluído também da vida cultural deste país! Há muito que se fazer rumo à uma plena cidadania na qual seu trabalho é uma tremenda porta de acesso. Parabéns e obrigado.
Meri, quando era diretor social no clube de minha cidadezinha me incumbia também de criar as artes gráficas de divulgação de eventos. Portanto podemos sim, sermos gêmeos siameses!
No final todas as artes estão pra se ajudar e tirar inspirações umas das outras. Vejo um pessoal com preconceito com animação igual aos quadrinhos,mas quando ambos viram live action bate palma até sangrar.Tive professores que valorizaram no ensino médio,mas pelos alunos n serem assim eles n colocavam nas aulas.
Realmente, pra vencer um argumento preconceituoso sobre mangá sempre falo sobre Tezuka porque ele era formado em medicina validando o “pessoa de sucesso e normal”
Meu pai era um pouco assim, colocando quadrinhos em uma "cultura mais baixa". Mas felizmente depois que ele leu um Chabouté ficou fascinado e começou a abrir a mente pra esse universo.
"Uma sociedade embrutecida artisticamente tende a ser uma sociedade incapaz de celebrar a própria humanidade" não dá pra resumir melhor do que isso. Todos os tipos de arte precisam de um processo pra vc entender que forma, texto e subtexto podem ser bem refinados, mas essa marginalização (completa) dos quadrinhos é bem persistente e aquém método. Isso que é foda :/
Sou professor e teve um caso em que eu recomendei tiras e gibis para meu aluno ler, no intuito de melhorar interpretação de texto e vocabulário e os pais do aluno chamaram minha atenção para trocar a recomendação por algo, como eles disseram: "mais elevado e melhor escrito". Às vezes eu entro em choque com o desincentivo à leitura nesse país.
Muito bom vídeo. Eu não sou pesquisador de quadrinhos especificamente, mas trabalho com discursos midiáticos e relações étnico-raciais, e como leitor tenho me arriscado a escrever algo sobre HQs nesse tópico. A gente vê o preconceito até na hora de publicar. Muitas negativas de revistas acadêmicas com pareceres mais preconceituosos que técnicos (tanto sobre o tema, quanto sobre o objeto). No início, até por desconhecimento, associava quadrinhos à literatura para "valorizar" no mercado acadêmico, agora não mais.
Interessante a abordagem que tu expôs em seu vídeo. Eu sou mestrando em letras e sinceramente estou de saco cheio da pieguice embolorada dos ditos barões do conhecimento. Já se tem muita pesquisa sobre Machado, Rosa, Lispector e Graciliano Ramos ( que é o autor que pesquiso). A academia fica reproduzindo discursos auto elogiosos para si mesma, enquanto a realidade se modifica e apresenta novas formas de arte e de sociabilidade no mundo material. Eu mesmo sempre tive um profundo mal estar quando, em minha graduação os quadrinhos só serviram para demonstrar as variações linguísticas na matéria de sociolinguística com a Turma da Mônica, pobreza de visão e a simples instrumentalização da arte dos quadrinhos para o simples exercício descritivo da realidade, ficava puto com isso. Eu mesmo penso em fazer meu doutorado daqui há alguns anos sobre O Eternauta e outras narrativas de ficção científica latino americana, analisar se há uma perspectiva de futuro e de utopia/distopia sobre as lentes do homem latino americano. Para isso criei uma pergunta em minha cabeça e que me motiva a fazer esta pesquisa. Qual seria essa pergunta : Existe um Latinofuturismo?
@@lucianoandrade7798 , eu discordo de ti no tocante à pensar que Eternauta é apenas uma obra com crítica social. A ficção científica tem como uma de sua força motora a própria crítica social e a alegorização da realidade do tempo presente por meio de um deslocamento temporal para o futuro. Eternauta pode ser lida como uma alegoria à colonização europeia no continente Americano. A neve como as doenças que acarretaram a morte de boa parte das populações nativas da região. Acerca da questão de não podermos ter uma ficção científica, isso para mim é apenas um pensamento colonizado. Será que apenas americanos e europeus podem pensar sobre o futuro, conjecturar sobre nós e o desenvolvimento da técnica junto com as mudanças do homem em contato com a máquina, Será mesmo? Além do fato que existem quadrinhos africanos feito por africanos que são afrofuturistas. No mais, devemos pensar sobre o futuro, a América Latina deve pensar sobre si de maneira a se colocar de maneira altiva nesse mundo que estará por vir.
Caro professor,é com muita alegria em saber que existe alguém com sua formação que entende o nosso gosto. Obs:tenho os meus autores preferidos de livros também. Obrigado por tudo.
É um preconceito que atinge principalmente a área das letras, o simples fato dos quadrinhos trabalharem com a linguagem visual causa um estremecimento para quem está acostumado com literatura, vejo até as tiras serem mais aceitas, mas no sentido da linguagem verbal, sem grande compreensão estética.
Aff, inúmeras vezes. Me olham esquisito. Fica pior quando falo que são quadrinhos infantis. Alguns me dão parabéns pelo valoroso trabalho pedagógico das crianças (tipo vamos ensinar crianças a reciclar o lixo) . Mas a maioria me associam com alguma crise existencial relacionada a maternidade de mulher de meia idade e também a uma "preguiça intelectual" em estudar temas mais relevantes.
Felizmente tive uma trajetória bem mais suave em ambientes acadêmicos, acredito que em boa medida por ter passado pelas áreas de Design e da Comunicação. Não consigo lembrar de nenhum episódio sequer de estranhamento ou de desprezo por parte de colegas ou de professores, mesmo dos mais velhos, muito pelo contrário: não foram poucas as vezes em que demonstraram genuíno interesse pela minha pesquisa, que quase sempre teve a ver com os mangás. Tenho a impressão de que em Letras e em outras áreas o preconceito é bem maior - o que é irônico, já que, segundo levantamento de 2016 (Callari; Gentil), grande parte das pesquisas sobre quadrinhos produzidas em universidades brasileiras saem justamente de Letras! Então fica a dica para quem quer estudar quadrinhos na universidade: venham para Design e Comunicação! 😁
Minha impressão é que essa postura em relação aos quadrinhos é sintoma de um problema mais geral da academia: a “frequentação cultural” caiu muito entre os colegas de todas as áreas, a superespecialização ocupa todo o tempo das pessoas, não deixa mais espaço para o sensível, o estético. Converso com colegas de outras áreas, e em geral seu contato com a cultura é bastante superficial, e pouco variado. Mesmo nas áreas “culturais” propriamente ditas, o pessoal se rende ao mainstream intelectual, ao senso comum acadêmico, recortando suas pesquisas dentro do que é convencionalmente aceito. Não são todos, obviamente, acho que a brecha está até se alargando, mas ainda é minoritária. Renovações geracionais e até de classe, etnia e gênero, com os programas de inclusão, podem trazer um pouco mais de arejamento e diversidade para esse quadro (é a minha esperança).
Que coisa né? A Universidade/Academia é o lugar em que as pessoas deveriam ser mais receptivas com certas ideias, mas em grande parte das vezes é o lugar que “castra” e amolda as pessoas num certo lugar comum. Por esse motivo acho tão importante professores como você. Parabéns!! Ganhou mais um inscrito!
Bem, minha área de pesquisa/trabalho não é quadrinhos, mas literatura m gêneros e formulações que estão bem longe do canônico. Sempre sofri preconceitos dos mais diversos tipos, mas nunca me deixei abater: demonstrava pela leitura, como dito, a riqueza do material de minha pesquisa e ponto final. Com isso, consegui convencer (ou ao menos, tive a condescendência curiosa) não apenas bancas ou espectadores em seminários e palestras, mas mesmo editoras, convencidas de minhas propostas de curadora... Em tempo: minha dissertação sobre Lovecraft foi feita entre 2003 e 2006, quase vinte anos atrás. Na época, era um autor completamente desconhecido, citado aqui e ali por outros autores, em geral de forma negativa (ou por autores polêmicos, como Houellebecq). Não é que, em 20 anos, o jogo virou no caso dele?
A bolha estourou e os filmes da Marvel/DC estão terminando de fazer exatamente o esperado, não ajudar no aumento de leitores de HQ. E muito em breve teremos fanboy de filmes de heróis depreciando abertamente leitores de HQ. Se é que já não está ocorrendo.
É triste, mas já existe! Já vi marvetes que assistem os filmes e tratam os quadrinhos como lixo, coisa que só gente estranha lê! Sendo que como fãs da Marvel eles deveriam ter pelo menos respeito pelas obras, pois os filmes não existiriam sem eles!
Acho que podemos até inverter o raciocínio. Será que muitas vezes as obras e mídias mais prestigiosas são trabalhadas e retrabalhadas não por sua riqueza, mas pela mera busca por "pontos" de prestígio? Sinto que muitos leem apenas em busca de subir na tabelinha da erudição pelo valor pré-estabelecido que certos autores têm.
Comecei a ler The Narratology of Comics Art, e, depois de assistir este vídeo, me lembrei de uma coisa interessante que é comentada pelo Kai Mikkonen bem no início do livro. Ao introduzir a matéria a fim de tornar explícita a impossibilidade de aplicar aos quadrinhos de modo imediato os conceitos já desenvolvidos pela disciplina narratológica a propósito de outras formas de arte, o autor concede um certo destaque à argumentação do Groensteen em "O sistema dos quadrinhos" quando este faz ver uma apropriação indevida de métodos de análise aceitos no campo da pesquisa literária que, uma vez transpostos para os quadrinhos, privilegiam o aspecto verbal às custas do aspecto imagético (questão, aliás, que já foi tangenciada num vídeo deste canal, ao falar sobre o mencionado livro de Groensteen e sobre a inovação que ele traz em relação às análises de matriz estruturalista). O objetivo do autor, justamente, é o de tentar providenciar uma narratologia rigorosamente adequada à forma dos quadrinhos, de sorte que, logo no início, ele previne quanto à possibilidade de assumir que determinadas categorias apresentam valor geral para a estruturação de uma narrativa. E, a esse respeito, ele comenta um fenômeno bem curioso: em trabalhos que ajudaram a consolidar a disciplina narratológica na década de 80, às vezes ocorria de categorias tidas como básicas para o entendimento de uma narrativa serem exemplificadas com quadrinhos, ou mais especificamente com tirinhas. De acordo com o autor, tais exemplificações normalmente funcionavam a partir do pressuposto de que as tirinhas ilustravam o conceito teórico que se queria expor de maneira imediata, sem que houvesse, no entanto, uma preocupação dos autores de explicar como elas faziam isso: de certa forma, procedendo dessa maneira, eles mantinham que as ilustrações são o meio mais elementar de explicação e que, como tal, não podem ser explicadas. Eu me pergunto se uma coisa parecida não acontece com a nossa vida acadêmica: não é curioso ver, por exemplo, como uma parte considerável das prova de português através das quais os alunos são admitidos nas universidades consiste em análise de tirinhas (Calvin, Mafalda, Hagar, Turma da Mônica, etc.), como se os quadrinhos fossem tolerados apenas no limiar dos centros de pesquisa, mas não além? Acho sintomática esse tratamento que as tirinhas recebem: um instrumento útil para afiar a capacidade de interpretação dos futuros estudiosos, mas não um objeto verdadeiramente digno de sua consideração séria e refletida.
Eu tenho emprestado algumas obras pra minha cunhada, doutora em letras e assim tento mostrar pra ela, conversando sobre momentos de alguns artistas, situação politica e o que acontecia historicamente em paralelo, ela ainda não me retornou o ultimo quadrinho que emprestei mas tem sido pequenos passos pra ela normalizar essa midia como detentora de cultura
Alexandre, eu tenho um episódio muito caricato para contar... num programa CULTURAL semanal de televisão... Foi, há uns bons meses, no canal internacional TV5 Monde em que semanalmente um conjunto de jornalistas da cultura faz uma retrospetiva comentada das estreias nas várias vertentes das artes, sobretudo de origem francófona... E chegou-se ao comentário de uma adaptação de uma obra literária em banda desenhada... Aí, um dos intervenientes, que é também DIRETOR EXECUTIVO do mesmo canal internacional, desancou, sem nível e sem razão, na obra, partindo do pressuposto que só o facto de ser uma história aos quadradinhos retratando arte literária já era péssimo, sem valor... Gerou-se um certo ambiente incómodo no estúdio, mas como "opiniões" são somente "opiniões" e o dito senhor é diretor do canal, ficou tudo por ali... num PROGRAMA INTERNACIONAL DE CULTURA que é muito bom... salvo essas exeções. Quem não sabe é como quem não vê! É o que dá um certo pseudo-intelectualismo reinante! A mitificação pela negativa! Abraço!
Acho que as pessoas costumam entender que, em obras com texto e imagem, a função da imagem é facilitar da leitura do texto, tornando essa uma leitura menos sofisticada, e não enxergam nem aprendem a apreciar algo novo que surge da interação entre essas duas linguagens.
eu sempre digo que a pior maneira de experimentar uma obra de quadrinhos é olhar pra ela apenas pela dimensão literária (que acho das menos importantes) há um desprezo gigantesco desse nosso mundo "logocêntrico" pelo universo da imagem
Já sofri bastante com este preconceito, que se apoia em um total desconhecimento dessa arte e numa noção de que se trata de um material puramente infantil e dispensável. Muitos que conheço se recusam a reconhece-la como arte. Enfim, excelente vídeo.
Mas é incrível ver como o Cinema é muito mais aceito como arte maior, na verdade os quadrinhos carregam alguns estigmas, como se fosse algo pra criança e tal, mas concordo que temos que fazer a nossa parte em valorizar essa arte, convencendo quem estiver aberto em aprender.
Que vontade de ser seu aluno...que bom que temos Canal como o "Quadrinhos na Sarjeta"...eu passei por uma crítica por conta de uma grande ressaca literária, e nesse período redescobri os quadrinhos - que tinham feito parte de minha infância a adolescência - e com isso fui comprando quadrinhos e Mangás...e aí me questionaram como vc deixou de ler literatura para ler gibi?...eu simplesmente respondo: estou descobrinho novos mundos simples assim...Alexandre é sempre muito instigante e esclarecedor assistir seus vídeos...valeu...abração carioca...
Eu sinto a mesma coisa com relação aos jogos eletrônicos, sempre sendo tratados como algo menor justamente por não ter muitos especialistas no meio acadêmico tratando-os como arte, menosprezando completamente a capacidade de emocionar, de ensinar. Sempre sendo tratado como algo menor por ser algo relativamente novo.
Sensacional...esse preconceito acontece com todos que fazem leituras de quadrinhos, eu mesmo sofri isso numa escola em que eu dava aula! Sou professor da rede estadual aqui em Recife professor Alexandre, eu ensino Geografia. Grande abraço meu nobre amigo! Obrigado pela abordagem 💯💥💯👏🏻👏🏻👏🏻
Olá. Acho seu comentário muito pertinente. Sou graduado e pós em filosofia e teologia. Voltei a ler HQS uns dois ou três anos e senti esse preconceito. Ao mesmo tempo, gostaria de desenvolver alguma pesquisa na área. Mas ainda me falta subsidio teórico.
Uma importância essencial dos quadrinhos, num exemplo particular: eu quando criança era extremamente tímido, um 'bicho do mato'. Já tinha quadrinhos antes de saber ler e a vontade de aprender a ler foi a força que me fez encarar a árdua missão de ir pra escola. Ainda bem que em pouco tempo meu medo e timidez foram se dissipando e acabei tomando gosto de ir a escola mas os quadrinhos foram sem sombra de dúvida o fator principal pra que eu quebrasse essa barreira. E apesar dessa dita "elite intelectual" citada no vídeo ter esse desprezo por quadrinhos, é reconfortante ver pessoas como Umberto Eco, Jô Soares, o inigualável Federico Fellini entre tantos outros exaltarem os quadrinhos como forma de arte.
Maravilha, esse tema merece uma discussão ampla. Eu que estou na área das Artes Visuais, vejo muito o preconceito de artistas e professores com os quadrinhos, e não só os quadrinhos, mas outras formas de expressão como o Graffiti por exemplo. Isso demonstra o desconhecimento e ignorância desses artistas e professores com o que vem sendo produzido e é um modo se colocarem em um lugar acima dos outros, com sua pretensão e ignorância. No caso, acham até bom, é status falar mal, se colocam em uma narrativa de superioridade. Normalmente são artistas e professores medíocres que precisam legitimar seus trabalhos com essa narrativa, normalmente são cópias de artistas e pensadores bem sucedidos, e esses artistas e pensadores bem sucedidos normalmente são herdeiros de uma elite intelectual. Vejamos Chico Buarque, Helio Oiticica... Eu não aguento mais escutar sobre os mesmos artistas, é Helio Oiticica em todas as aulas que assisto do mestrado que estou fazendo, mas pouco se fala da origem dele, o tataravô era senhor de engenho, dono de terras e escravos. Tunga, seguindo a árvore genealógica dele você chega a um príncipe holandês, Nelson Leirner era filho de um empresário e colecionador, Tarsíla do Amaral riquíssima, e por aí vai ... os maiores artistas brasileiros nada mais são do que herdeiros e com isso conseguem uma projeção muito, mas muito maior e apagam, às vezes por querer, até para sobressaírem, narrativas de artistas com menos influência política e poder aquisitivo .... veja bem, não estou analisando a obra. São artistas maravilhosos. Mas é o caso, quando Rivane faz um trabalho que são balões de quadrinhos sem diálogo, que não tem nada demais, todo mundo aplaude, pelo lugar que ela se encontra na arte. Temos alguns trabalhos na história da arte que se relacionam diretamente com o universo dos quadrinhos, como as maravilhosas pinturas de Roy Lichtenstein. Outro artista maravilhoso, japonês, que tem influência do mangá no seu trabalho e que todo mundo adora é o Takashi Murakami. Isso depende muito do lugar que você opera, Laerte é respeitada no meio das artes visuais. Estes, ao meu ver, ajudam a desmistificar a arte e demonstram uma relação saudável e interessante entre mídias. Agora também vamos ser sincero que muita coisa em quadrinhos é boçal rs a maioria do que é produzido é ruim, tanto como roteiro como arte, muita fórmula e massificação. Mas isso também se aplica nas artes visuais, muita gente que só repete discursos, tem os modismos, etc... mas pagam de intelectuais como comentou. Mas se são herdeiros ainda sim funciona. Delonguei, mas esse tema também me é caro ... pois nesse momento estou justamente produzindo uma HQ, vindo de uma carreira e prática já estabelecida no universo das Artes Visuais.
Descobri esse canal recentemente e achei ele maravilhoso. Fico grato de ver alguem divulgado quadrinhos como eles de fato são, uma forma de arte. O que vc diz sobre quadrinhos sofrer preconceito acontece o mesmo com vídeo games, animações ou livros infato juvenis. Tudo que é feito para um público mais jovem parece ser automaticamente rotulado como uma arte menor, isso quando tem o privilégio de ser chamado de arte. Mas parece não ser meramente a associação com um público mais jovens, afinal existem animações para adultos como quadrinhos para adultos. Mesmo assim ainda recebem desprezo. Fico intrigado com essa tamanha estupidez. Penso em música tmb, por exemplo ritmos populares são considerados menores. Samba por muito sofre e sofreu muito preconceito. Não sei o que fazer para mudar isso a nao ser lamentar. Como vc diz temos que elevar a discussão. Essas artes "menores" tem mérito e são tão profundas quantos as artes que esses elitista gostam. É isso, bom trabalho!
todo dia acordo grato por existir o Quadrinhos na Sarjeta. Como é gratificante ver alguém que fale dessas obras que tanto amo como arte e não como um produto qualquer.
Já tive gibi confiscado por professor, e já tive colegas que riram da minha cara. Coincidentemente, nas duas ocasiões, estava com quadrinhos de Alan Moore na mão
Perfeita explicação. HQ´s sempre foram arte. Lembro que os mesmos que tiravam sarro com os quadrinhos hoje se dizem fãs dos filmes de heróis. Engraçado, ser fã de filme pode, ser fã pelos quadrinhos não.
O que me deixa otimista nesse assunto foi uma experiência que eu tive uns dois meses atrás na faculdade. Estou no quinto semestre do curso de Letras e tive uma matéria de literatura brasileira (prosa). A professora pediu num dos trabalhos para bolarmos um "mini projeto" de pesquisa, a ideia é elaborar um rascunho de uma tese com perguntas/problemas, referencial teórico e uma breve análise da obra escolhida. Eu quis fazer meu trabalho sobre quadrinhos e falei sobre o Sábado dos Meus Amores do Marcello Quintanilha e a relação dessa obra com o gênero da crônica jornalística, porém, o que mais me surpreendeu é que tiveram outros quatro trabalhos sobre quadrinhos na minha turma! Um sobre Maurício de Sousa, outro sobre o Cumbe do Marcelo D'Salete e acho que tiveram dois trabalhos sobre adaptações de obras literárias para quadrinhos. Isso me mostrou que aos poucos estão surgindo mais interessados em estudar quadrinhos na universidade, e isso me deu uma visão mais otimista do futuro, que mais pesquisas sobre quadrinhos serão produzidas no Brasil! A professora gostou muito dos trabalhos, ela mesma não conhecia quase nada de quadrinhos, mas foi super receptiva com os projetos da galera!
Acho que boa parte do problema acadêmico vem da dificuldade de aceitar a dita "baixa cultura" (ou cultura popular, se é que é possível fazer essa distinção). Os exemplos que você usou no episódio do professor deixam isso implícito na contraposição que ele (ou você) mencionou. Você tem razão quanto a sensibilidade que a arte (e os quadrinhos) desenvolve em nós. Aprendi a perceber as mudanças do ambiente urbano com Avenida Dropsie, do Will Eisner. Talvez o caminho seja pegar esses exemplos, como você tem feito.
Parabéns pelo Vídeo ! Acho que essa preconceito tem muito com o processos histórico da forma do produto revista era vendido ( hq com preço baratos, feito e material de baixa qualidade e descartável) vendida em banca de jornal. Até as tiras de jornal tbm pq acredito que ninguém ou quase ninguém coleciona. Não sei como era as livrarias dos anos 60 70 mas duvido muito que ela tinha algo para hq. Talvez bem nos anos 80. Então acho que o "valor" de comprar um obra literária em uma livraria e um gibi em uma banca de jornal tbm pode ter contribuído para forma a perceção de "arte maior" e" arte menor". O valor e a qualidade da hq tbm ajuda nesse preconceito Exemplo: vc quer presentear um professor senhorzinho e compra para ele a 1 versão do monstro do Pântano naquele papel jornal é uma coisa a outra é vc compra a versão absoluta do Monstro do Pântano ! Tão bonita que o cara vai da um olhada. Infelizmente a aparência do produto e a qualidade dele contribui em alguma medida. Mas é tudo achismos sobre um fator que poderia contribuir para preconceito.
Nesse quesito eu acho interessante que o mangá no Japão também foi feito para se ler a revista semanal no metro e jogar no lixo depois, tanto que essas revistas de mangás são feitas de papel recicláveis em preto e branco pra ser o mais barato possível. Os dois tipos de quadrinhos tiveram a mesma origem por assim dizer, mas enquanto mangá no Oriente conseguiu ganhar seu espaço, o mesmo não aconteceu no ocidente.
Isso também me soa como uma espécie de "adultidade frágil" ou algo do tipo, já que o pessoal pensa que todo quadrinho é pra criança. As pessoas tem aversão a qualquer coisa que remonte mesmo que um pouco a algo infantil, desde quadrinhos, anime, até mesmo desenhos, as pessoas tem aversão a simples ideia de assistir ou ler algo leve e divertido que não seja 100% reflexões extremamente profundas e de alto nível intelectual.
Foi a coisa mais difícil que já fiz na vida: um TCC na USP sobre V de Vingança e as percepções político-sociais que há na história. Pense em como foi difícil encontrar um orientador, e depois de encontra-lo, explicar como eu encaixaria Adorno, Chomsky, Orwell, Lenin, Marx, Gramsci, Ziblatt, Levitsky, Arendt, Hobsbawm em uma "estorinha com desenhos"....
Uma professora de literatura na minha graduação em Letras falou umas coisas depreciando as HQ uma vez...eu emprestei "Maus" pra ela, ela ficou maravilhada.
Com as animações, é a mesma coisa. Décadas atrás, fui à videolocadora, escolhi o VHS "Akira". A atendente viu a fita e contou que ela colocou Akira para o filhinho dela assistir, e ela assustou, achou violento, e tirou a fita na hora. As pessoas não conseguem entender que uma mídia como quadrinhos ou animações podem ter conteúdos adultos ou mensagens profundas.
Lembro que na escola, quando eu tava tipo na oitava série, toda semana no intervalo eu e um amigo íamos pra um dos computadores pra ler o novo capítulo de naruto. Uma menina passou atrás da gente e falou bem alto "Nossa eles ainda leem isso!".
Meu TCC na escola foi sobre a evolução sócio histórico do Japão, é óbvio que eu utilizei os mangás pra fazer esse trabalho. Pelo menos os professores gostaram do meu trabalho, mas imagino que numa universidade os professores nem terminariam de me ouvir. Concordo cem por cento com a mensagem do vídeo.
Eu to colecionando mangás e gostaria colecionar outros tipos de quadrinhos, mas quando chega as minhas entregas ou me perguntam sobre eu falo que são livros, caso meu pai soubesse que fossem mangás com o dinheiro do eu trabalho, ele provavelmente me mataria por estar "jogando dinheiro fora."
Os quadrinhos (mangás, hqs, gibis, enfim), muitas das vezes pode ser muito mais profundo, ter mais bagagem, carregar mais conhecimento que um livro, eu já li muitos mangás, mesmo que seja uma história disconexa com a realidade muita das vezes, o mesmo pode carregar muito conhecimento por trás, seja por críticas a sociedade, e até mesmo filosofias, muitos e muitos mesmo pode se achar uma filosofia por trás, cabe as vezes também à interpretação do leitor. No fim das contas ñ importa o meio de transmissão, a plataforma, mas sim o conteúdo, ou ainda mais, as vezes nem o conteúdo, o mais importante de fato é o leitor e sua interpretação sobre o assunto. (Isso claro, sem contar todo o trabalho por trás do autor, a criação da história, e do desenho, da personalidade, muitas coisas por trás, porque o fato é que quadrinho é arte, tão importante quanto qualquer outra)
Um dos vídeos mais interessantes que vi do canal, que acompanho há pouco tempo mas já estou buscando vídeos antigos, pelo conteúdo rico de cada um deles. Pra mim o fato de ter um acadêmico fazendo análises das obras é muito interessante, além do que os resultados são surpreendentes. Gosto muito de HQ e hoje em dia estou mais inclinado a ler esse tipo de mídia pela falta de tempo e uma certa encheção de saco de Dostoiévski... Sou psicólogo e acadêmico também, por isso acho muito importante que o canal reivindica e abre um espaço para acadêmicos pensarem, refletirem e publicarem suas ideias, sem precisar publicar um paper por obra/ensaio/análise. Obrigado pelos conteúdos, continue fazendo que eu continuo assistindo, abraço!
Preconceito sempre é ruim e deve acabar, óbvio. Dito isso, honestamente, eu acho que existe um charme todo próprio em amar uma arte que as elites esnobam. Ninguém lê quadrinhos por um "motivo" porque ler quadrinhos não "dá nada" a ninguém, seja na universidade, seja na hora de jogar charme em alguém, seja na hora de se achar inteligente. Não existe instrumentalização dos quadrinhos nesse sentido. Nós não lemos por nenhum motivo que minha avó vá entender. Mas lógico que é melhor que o preconceito acabe.
Os quadrinhos tem muito mais recursos que a literatura, mas seu potencial é mal explorado, principalmente porque tem bons desenhistas que acham que desenhar bem fará deles bons quadrinistas ou bons roteiristas. Além, é claro, de superar a logística de produção.
Excelente reflexão. Tb acho fundamental que nós, leitores, sempre nos posicionemos para elevar o tom do debate sobre hqs. E que procuremos sim, nós mesmos, expandir nossas leituras dentro da mídia, justamente para enriquecer todas as possibilidades de pensamento sobre esta mídia. Acho que o ficar em apenas um gênero é uma opção que deve ser respeitada, mas o crescimento de perspectiva e análise requer a busca de novos horizontes, propostas. E talvez seja isso o que nós mais precisemos hoje pra enriquecer o debate. Eu vejo que isto é uma tendência maravilhosa, até pelo boom de publicações que hoje chegam no Brasil, e pela produção nacional. E espero que isto só cresça.
Cheguei em seu canal a pouco tempo e agora estou maratonando os vídeos rs. Faço mestrado em educação, ligado a linha de pesquisa de linguagem, arte e educação. Enviei uma proposta de pesquisa em que envolvia produções imagéticas (escrita e desenho) em diálogo com afretamentos de uma etnia indígena. Na primeira reunião sobre o andamento da pesquisa apresentei os movimentos, leituras e blá, blá, e no final disse "assim, cheguei a conclusão que a minha dissertação seria no formato histórias em quadrinhos". Houve estranhamento, mas a maioria se animou na da possibilidade de pesquisa-criação. Sempre tento trazer gibis para as reuniões de laboratório e ainda sinto este preconceito, por mais velado e educado que seja. Parabéns pelo trabalho de divulgação científica que faz. É um trabalho que ajuda a criar novas aberturas à universidade. Os jovens não tem se interessado pela academia, por muitos motivos, mas um deles é o abismo entre o que a universidade oferece como possiblidade de pesquisa e o que as pessoas sentem afeto.
Caramba, professor, os seus vídeos são MARAVILHOSOS! Eu não sou consumidora de quadrinhos, mas tenho devorado seu conteúdo simplesmente pela forma com que o sr explica a cultura. Muito obrigada pelo seu trabalho! ☺
Alou a todos! Que bacana esse espaço de debate. Eu não sou especificamente acadêmico, minha atuação é mais do labor criativo, da indústria do entretenimento e tal. Mas eu fiz mestrado, com enfoque HQs e felizmente fui muito bem acolhido. Foi na Unicamp, de 2007 a 2010, no Instituto de Artes, departamento de Multimeios. Eu sou meio “institucionalizado” nesse assunto por guardar as melhores lembranças dessa experiência, especialmente no relacionamento com o corpo docente do Instituto de Artes quanto de outros, como o Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). Pela minha experiência na Unicamp, valeu a reputação de instituições que por tradição refuta um balizamento teórico fixo. Claro que lá existem outros pontos fixos, mas o caso é que se desenvolvia na época uma linha de chamada “pesquisa atelier” (algo assim). E que estimulava a experiência pessoal acompanhada de reflexões sobre o processo. Um caminho até meio vago, se visto pelo olhar crítico. O fato é que pude estudar com bolsa, convivendo com alunos do país todo, com professores que passei a admirar e saí de lá com um roteiro de longa metragem inspirado em Hqs. Então eu convivi mesmo com um horizonte de eventos pra essa abordagem dentro da academia.
Minha família sempre resistiu a entender meu amor por quadrinhos e principalmente por animes e mangas, dizendo que eu ia ficar depressivo, sozinho e que aquele desenho era ridículo, obviamente eles nunca consumiram um capítulo de nenhuma dessas coisas e apenas querem apontar dedos pra ver se eu fico mais parecido com eles e assisto futebol ou algo do tipo, minha forma de resistir foi apenas não mencionar nada e caso eles viessem atacar as coisas que eu gosto eu apenas mudo de assunto abruptamente, já tentei convencer subindo o tom como você bem colocou mas infelizmente a cabeça deles já está bem dura para coisas diferentes.
Há muitos anos atrás, eu trabalhava numa banca de revistas que ficava ao lado de uma universidade; um casal chegou e o rapaz disse: "Uau! Chegou a nova 'Espada Selvagem de Conan!'; e a garota: "Nossa! Você lê isso?!"; e eu pensei: "Esse perdeu a chance com essa garota..." Desde lá, todo mundo que eu conheci nas universidades não sacava nada de quadrinhos e ficava espantado quando sabia que eu levava isso a sério - muito parecido com a garota da banca de revista - e só então percebiam que a cultura deles não estava completa. É isso: preconceito cultural é só uma forma de ignorância profunda; como a dessa professora que olhava e não conseguia ver...
Sempre sofri uma certa rejeição em família, especialmente quando ultrapassei a adolescência e "continuei a ler quadrinhos". Mas nunca esquentei muito a cabeça, pois desde bem novo percebia a riqueza, a relevância, a potência desse universo fantástico. Um episódio interessante ocorreu na 1a Bienal de HQ, no RJ, em 1991. Fui a uma exposição com um amigo, que era não leitor, e ele ficou simplesmente fascinado com o que viu. "Não tinha ideia que era assim, não tinha ideia". Daí em diante, passou a consumir alguns títulos, Enki Bilal em especial, de quem virou fã incondicional.
Ótimo vídeo e reflexão! Me fez lembrar que no mestrado eu fiz uma pesquisa sobre indústria cultural e ideologias nos meios de comunicação de massa. O foco foi principalmente sobre filmes blockbusters, mas na introdução apresentei exemplos dos usos políticos em outras formas de arte, como pinturas históricas e quadrinhos. Uma orientadora achava que eu deveria tirar essa parte e outro orientador preferia que eu analisasse "filmes de arte". Realmente é complicado romper certas barreiras acadêmicas, mas se não forem rompidas a produção continuará estagnada e padronizada.
Acho que todo mundo que ama quadrinhos passou por um episódio parecido. Eu ilustro livros infantis sinto a mesma pressão. Parece que tudo o que é feito para crianças ou que é feito para crianças também sofre esse preconceito de ser tachado como inferior. Vide a apresentação do Oscar, que as apresentadoras insinuaram que animação não é cinema. Não importa muito todo o movimento feito para desvincular os quadrinhos da restrição do "para crianças", na prática ainda são ignorados.
Coincidentemente perdi a edição No 3 deste mesmo lançamento de Super vs Apocalypse durante o ensino fundamental, confiscada pela professora enquanto a lia dentro do livro didático. Durante a graduação, para um trabalho de análise do discurso, escolhi o posfácio de V de Vingança escrito pelo Moore. Definitivamente, o trabalho não foi bem recebido pela professora. Agora não sei dizer se devido ao material escolhido para análise ou pela própria qualidade do trabalho mesmo hahahahaha. Parabéns pelo canal e sucesso companheiro
Em 1987 eu tinha comprado o primeiro volume de "Força Psi" lançado pela editora Abril e levei pra escola. A professora me pegou lendo o quadrinho na sala de aula e tomou minha revista...me devolveu só dois dias depois. Era tenso ler quadrinhos de super-heróis nessa época, parecíamos alienígenas. Kkkkkkkk
Uma das melhores aulas que eu tive na FFLCH, foi com um quadrinho do Henfil, o Fradim. Teve até ahhhhh quando acabou a aula, o tema da aula foi sobre a produção cultural na ditadura. A aula era de Metodologia em História, e o quadrinho é uma fonte documental de cada período que ele foi publicado.
Sempre sofri preconceito por ler quadrinhos, mas isso jamais diminuiu meu apreço por essa forma de arte tão linda. Continuo lendo e colecionando e digo que não preciso da aprovação de ninguém, seja de intelectuais ou das pessoas em geral.
Eu entendi o que foi Woodstock com as tirinhas do Angeli, nos anos 1980. Sempre me orgulhei dos meus gibis que algumas pessoas nunca tiveram, pois meu primo trabalhava numa gráfica, a RGE. Poucos conseguem enxergar filosofia em HQs da Marvel e DC, eu sempre consegui refletir com os diálogos ali. Passei a ler Conan Doyle e o seu Sherlock Holmes, graças a uma paródia que a Disney fez com uma HQ do Mickey e o Cel. Cintra numa historinha que li milhares de vezes: O Cão dos Basquete Ville. 😍 Até me emociono só de lembrar. Eu tinha uns 6 anos, hoje já passei dos 45 e sigo fã de HQ com muita satisfação. Nem preciso falar da Turma da Mônica.
É o eterno embate entre "alta" e "baixa" cultura, parece que todos que falam de algum tipo de arte tem um video ou texto tendo que falar disso (ou pelo menos quem trabalha com artes de "baixa cultura). Video Game, Quadrinhos, pornografia, etc. parece que sempre precisa provar seu lugar e revalidar seu espaço como cultura.
Acredito que quanto mais se sabe de algo melhor se aproveita daquilo que se propõe a saber. Vejamos que o desfrute de se comer uma manga, suponhamos espada, é mais saboroso se conhecemos os benefícios: fonte de fibra, betacaroteno, vitaminas A, C, etc. Pois bem, também há diferentes qualidades de mangas, mangás e cajá-manga, ou seja, certamente saber sobre processos estruturais, enquadramento podem não interessar a todos, mas notadamente o leitor aproveita mais da viagem sabendo um pouco da navegação. Resultado: Quem não sabe que jiló é um grande aliado na perda de peso, ou na saúde bucal não come porque é amargo, ou quem acha que manga com leite faz mal não sabe o benefício que está perdendo.
Otimo video, Linck. Além de um grande questionamento proposto! Acredito que existe uma dificuldade em conseguir enchegar o grande potencial artistico, literário e estetico dos quadrinhos, devido a falta de base de conhecimentos dos leitores. Na grande maioria das vezes as analogias e referencias estão na cara do leitor. Mas ele nao tem um conhecimrnto de base pra ver isso. Ou apenas não quer ver msm. Vai saber.. kkkk.. Parabéns pelo canal. Sucesso sempre!
Acrescento duas coisas: 1) É universal, chamando à memória que roteiristas e desenhistas de HQs usaram pseudônimos para manter suas identidades profissionais não vinculadas aos super-heróis, ou quadrinhos eróticos, etc. Na prática é evitar retaliações (preconceito amplamente disseminado). 2) Para registrar a veracidade do vídeo, eu escrevo, "você ainda está nas Artes e é desse jeito, imagina em noutras áreas"? Eu também sou professor e pesquisador nas Ciências Biológicas. Seu exemplo se repete e com ares para diminuir (soando como "infantil") colegas de trabalho. Parabéns pelo vídeo, a sensação que dá ao assití-lo eu expresso assim: "Ufa! Não estamos sozinhos"!👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽
Mano. O engraçado é que essas mesmas pessoas lambem as bolas de gente que era aficcionada em quadrinhos, tipo Alain Resnais, Drummond, ou Dali e Picasso que tu citou.
Sem falar os cineastas Alejandro Jodorowsky, George A. Romero... Ect... No livro O descredenciamento filósofico da arte, o Arthur Danto faz até um pequeno elogio a arte dos quadrinhos, porque esses artistas foram os únicos que evoluíram e criaram mecanismo de movimento nos desenhos...
@@adjailsonribeiro6703, disse tudo. Tive uma professora no doutorado que desconsiderava quadrinhos pra caramba e ao mesmo tempo idolatrava o Jodorowsky como cineasta. Claro que tive que elucidar um pouco a questão.
Vejam só,, desde o mestrado, meu orientador me incluiu num grupo de ZAP, lá todos pesquisadores no mesmo filósofo. Minha interação no grupo é pequena, mesmo porque grupos assim são meio uma "igrejinha". Mas umas duas vezes toquei em assuntos de natureza filosófica e citei HQs, entre elas Watchmen e Relatório de Brodeck. O fiz também porque tem lá um outro colega leitor de HQs. Mas, o meu comentário foi recebido com silêncio. O próprio colega só disse um tímido "pois é". Há muita igrejinha no ambiente acadêmico. Em parte por essa necessidade de se afirmar como uma aristocracia.
Sinto algum preconceito também. Sou acadêmico como você.... Algo que gostaria de estudar é memória discursiva nos quadrinhos da Marvel ou DC. São camadas e camadas de interpretação de autores e leitores, e de leitores que viram autores, nessa indústria. Por mais que as editoras busquem "rebootar", essa memória retorna. Só me faltam estudantes interessados...
Eu precisei passar por 3 orientadores para poder desenvolver meu TCC da pós, o primeiro riu, o segundo não entendeu e a terceira foi sensacional. Acontece nas melhores universidades.
Eu lembro até hoje do dia que eu falei pra minha irmã (uma grande leitora de livros) ler Maus e ela disse o seguinte "não sei como você consegue ver valor em gibizinho, onde está a sua imaginação? Hq é pra quem tem preguiça de imaginar as cenas descritas." felizmente isso faz muito tempo e ela finalmente leu a primeira hq dela (mônica laços) por vontade própria. ela só pediu pra me emprestar o gibi quando eu terminasse de ler eu fiquei tão feliz que eu li ele muito mais rápido que o comum só pra ela ler.
Eu tive sorte. Há 20 anos na minha faculdade de jornalismo, na aula de história da arte, meu professor (Newton Scheufler) abriu minha cabeça para os grandes pintores da história fazendo correlação com quadrinhos do Batman. Eu amava aquelas aulas..
Realmente existe um pré conceito muito grande relacionado aos leitores de quadrinhos, aos quadrinhos de forma geral. Digo isso porque também fui muito mais preconceituoso do que hoje sou, infelizmente nunca fui um grande leitor, seja de livro e muito menos de quadrinhos. Sempre desejei ser um leitor, mas nunca fui capaz, apenas admirador dessa categoria. Desde o ano passado, em meio a pandemia estou descobrindo aos poucos "este universo de História em Quadrinhos". Depois de viver muitas frustações profissionais, aos 47 anos comecei a resgatar meu gosto por desenhar, tento aprender aos poucos o que jamais deveria ter desistido. E encontrei por acaso nas minhas pesquisas de desenhistas, um tal "Jeferson Costa" com suas ilustrações de JEREMIAS pele. Fiquei admirado com seus traços e cores. Me aprofundei na pesquisa e percebi que aquela HQ falava sobre racismo. Comprei a HQ de imediato. Eu fiquei estarrecido, me emocionei muito ao ler e ao saber que havia muitas HQs que eu iria gostar de ler. Eu não tinha a menor ideia que existiam HQ fora do mundo de Super Heróis. Logo em seguida eu passei a ler HQ e não parei mais: Maus, Persépolis, Dois Irmãos, Retalhos, Duas vidas, etc, etc, etc... Já cheguei há pouco mais de 200 quadrinhos e alguns livros também. Não li todos ainda, mas não pude evitar, virei um colecionador. Agora eu leio e estudo desenho para criar minha HQ, recomendo e presenteio. Quando falo o pouco que sei sobre HQs, (e realmente é bem pouco mesmo) para algumas pessoas, elas também ficam surpresas, muitos não sabem desse universo e esboçam curiosidade. Uma vez fui levar minha mãe no médico, levei comigo uma HQ " O Boxeador ", estava lendo na recepção quando o médico abriu a porta e chamou minha mãe, eu estava sentado de costas, do lado da porta da sala do médico, ouvi ele comentar" O que você está lendo aí ?". Eu falei pra ele que era uma HQ que abordava a biografia de um polonês judeu que virou boxeador para sobreviver em meio a 2º guerra mundial diante a perversidade nazista. Ele ficou muito admirado, um senhor de mais de 60 anos agora queria saber como se adquiria este tipo de leitura. Por consequência influenciei minhas filhas de 23 e 10 anos de idade, todas lendo quadrinhos. Porém tenho ciência que estou num processo de desconstrução do pré conceito e construção de um novo conceito, aliás este processo é permanente, para toda a vida.
Sou arqueólogo e já passei por muitos problemas deste tipo, pesquisadores que diziam que eu não tinha uma boa biblioteca, pois li mangás e hqs; ou que isso nem poderia ser chamado de livros, e sim algo inferior e assim para frente. Hoje, só por implicância, faço trabalhos sobre a representação dos arqueólogos nos HQs e sempre repito com minha companheira: "Os jovens não vêm a gente por Indiana Jones, eles vêm através destas obras e se vocês as desconhecem, vcs desconhecem a sociedade atual" Adorei o vídeo, vou usar como referência
Poderia dar um link pra tua pesquisa? Ou citar exemplos de representações de arqueólogos nos quadrinhos? Gostaria de ler o que você tem a dizer
@@ttt9354 Não sou o Lucas, mas recomendo Martin Mystere e Planetary. É uma arqueologia mais emocionante que a realidade kkk, mas as histórias são centradas nesse tema.
@@pennywisevt muito obrigado e você também pela dica
rapaz '-'
@@pennywisevt Anotei as recomendações, quero ler Martin. Obrigado pelas recomendações
"É estranho, para mim, que num país em que predominam analfabetos e pessoas sem o hábito de ler, alguém possa segregar alguma forma - qualquer uma - de leitura". Sérgio Coutinho
Tenho 43 anos e leio quadrinhos desde sempre. Uma coisa que sempre achei bem estranha é essa vinculação dos quadrinhos a figura do nerd. Principalmente depois da popularização da internet , quadrinho é coisa de nerd. Isso me soa estranho porque me lembro que quando eu era jovem, o público de quadrinhos era bem mais diversificado. O pessoal das artes plásticas, do cinema, da música... Todo mundo lia quadrinhos. E me parece que era nítido pra todos que quadrinhos são uma arte tão diversa quanto o cinema, a literatura...A revista Chiclete com Banana foi um fenômeno editorial. A Mad também. Desconfio que por causa da falência das pequenas e médias editoras por causa do Plano Collor, fazendo com que só restasse nas bancas Marvel, DC , Mônica e Disney durante anos, os quadrinhos ficaram gravados do imaginário coletivo como algo exclusivamente infantil.
Excelente comentário!! Não sou dessa época, então não tinha essa visão. Me parece fazer muito sentido. Pois, nossa produção nacional é ainda muito deficitária e consumimos, a despeito de algumas coisas boas serem produzidas por aqui, muito mais coisas estrangeiras, sobretudo dos EUA. Logo quadrinhos aqui virou sinônimo somente de DC/Marvel/super-heróis, Disney e Mônica.
é importante entender que o nerd é alguém que sabe muito sobre alguma coisa, nao apenas das ciencias ou algo do tipo. se alguém sabe muito sobre heavy metal (bandas, a historia das bandas, os integrantes das bandas, as musicas, composição etc.), ele é um nerd do metal; se alguém sabe muito sobre carros (como sao feitos, a historia por trás dos carros, as pessoas por tras do design, o mercado de carros antigos/novos/usados), ele é um nerd de carro; se alguém sabe muito sobre esportes, ele é um nerd dos esportes; e por aí vai..
partindo daí, nao podemos mais atrelar a figura do nerd àquela pessoa introspectiva, geralmente cheia de espinha e que é incapaz frente a importunações. vejo muito é essa relação que quem chama algo assim de "coisa de nerd" faz sempre, querendo dizer que nao é aquela pessoínha pequena...
Não sou dessa época em que os quadrinhos mais adultos eram populares no Brasil mas eu já ouvi falar sobre isso... Dizem que as bancas tinham bastante quadrinhos de terror (que eram os melhores do mundo na década de 50 eu acho sei lá) e que os adultos tbm gostavam de ler. Isso aconteceu pq um quadrinista japonês veio morar no Brasil e incentivou outros brasileiros a produzir tbm (foi o que eu ouvi falar em outro canal do RUclips)
Quando eu fazia mestrado, um colega (também mestrando) viu que eu lia quadrinhos e ficou perplexo. Ele tinha total desconhecimento da área (exceto por algumas referências básicas da Turma da Mônica). Ele pegou uma HQ minha e perguntou como se lia, se era da esquerda pra direita, qual a ordem de leitura, etc. Parecia uma pessoa que nunca tinha visto uma HQ na vida. No fim, eu é que fiquei perplexo com ele, hehe.
Ele sabia como se liga, apenas quis demonstrar desprezo e usou a desculpa da ignorância para demonstrar na verdade arrogância
Parte deste pre-conceito vem da ideia que quadrinhos se restringe a Mônica-Disney ou qualquer material infantil.
Discordo o preconceito e criado e foi gerado pela ideia de que é uma coisa somente e propria pra criancinha de 8,9,a 10 anos aqui no brasil e assim.
O próprio Mauricio de souza já falou que na infancia ele teve que queimar em praça publica alguns quadrinhos dele. Esse preconceito vem de muito antes
@@pau1no2ceu3cu4googl1 puxa.essa eu não sabia.muito triste.
Acredito que esse preconceito é fruto do Comic Code Authority, a qual entrou em vigor na Década de 50. Desde que surgiu a idéia fundamentada por Wertham, os quadrinhos foram forçados a se limitarem em propostas mais infantis.
É de antes Ramon. O fato de Mônica e Disney ter espaço mercadológico no Brasil desde muito tempo já é oriundo dessa visão preconceituosa.
Isso se deve, segundo minha visão, de que quadrinhos são obras populares, em sua essência. Por ser uma manifestação artistica popular, assim como várias outras manifestações, elas tendem a ser menosprezadas pelas elites (ocidentais).
Isso também está presente em outras manifestações populares além das artes, religião por exemplo. Quantas universidades brasileiras ofertam algum curso de "cristianismo", "Bíblia", "judaísmo". "budismo", etc?
Então existe uma mentalidade aristocratica elitista que escolhe objetos que predeterminam o que significa ser elite, ao tempo que excluem o restante.
Quando adolescente, sempre que eu conversava sobre as histórias que tava lendo, eu mentia que era de um livro/filme pq a glr sempre reagia com um preconceito fodido. Sério, roolava váaarios momentos onde eu descrevia uma história, a pessoa amava mas quando eu dizia que era de algum gibi, ela broxava na hora.
E isso foi uma vergonha/preconceito internalizado meu que evoluiu pra: pera, mas essa é boa, ok? É mais perto da literatura, tipo Sandman... Ou seja, quadrinho não é um mérito e uma mídia em si, então precisa ser colocado em uma subcategoria e só ganha status quando é ''literário''.
Hj, na facul (curso letras), já faço diferente, eu não apenas falo que é quadrinho MESMO uma história que recomendo, como também dou o prestígio devido e tento sempre diferenciar da literatura, já que uma coisa é uma coisa e outra é outra coisa; também cito em trabalhos e seminários. Rola preconceito? MUITO, um certo olhar chato e intelectual, maaas, eu sinto que o ambiente tem mudado, alguns profes meus citam quadrinhos durante a aula, porém ainda num tom meio: olha como ESSE quadrinho é bom, quase como se não existisse coisa boa e ruim em toda e qualquer arte. Contudo, já é um primeiro passo de ver ALGUM 'prestígio'.
Finalizando, essa discussão tem até na literatura mesmo, o quanto a gnt vê essa distinção entre 'baixa' e 'alta' literatura; a glr desprestigiando um livro só porque é infanto-juvenil ou pq vendeu bastante.
"Alta cultura" é só um nome elegante para "elitismo"
Que vergonha desse professor de artes!
Também já sofri piadinhas por ser um coroa que gosta de HQ... 😆
É complicado.na minha família ninguém lê nada,mas me criticam.
Um professor de arte que não gosta de quadrinhos é alguém que não gosta de pop art.
Eu pegaria meus materiais e mostraria através de uma tela o porque tal pessoa iria se arrepender.
@@jota-erre ora que quadrinhos e uma forma de arte
Essa foto do livro do Kant com Superman dentro está muito boa, morri de ri. Eu sinto isso direto, no meu doutorado, o preconceito é muito grande. O seu canal me ajuda muito a ressignificar minha relação com os quadrinhos.
Eu fiz faculdade de artes visuais nos anos 2000 e entendo exatamente o que vc quer dizer. Tivemos um bate-boca com uma professora de escultura que argumentou na época (palavras dela) "não, não pode ser arte, senão vira aquilo, tudo é tudo, nada é nada" (juro). Conversando com outra professora em outra ocasião, eu dizia que tinha entrado na faculdade de artes visuais pq queria trabalhar com quadrinhos e ilustração; ela olhou pra mim com uma puta cara de nojo e disse "pq ilustração??!!". Eu tenho uma teoria que no caso da arte, essa galera dessa geração teve uma formação essencialmente modernista, acreditava na arte como forma de subjetividade suprema, no mito do artista como gênio/criador/demiurgo, desapegado do mundo dos mortais e das formas de maifestação populares, mesmo que algumas das vanguardas dos anos 60 e 70 tenham tentado superar isso. Concordo sim que é um discurso arrogante e elitista que nunca tentou entender as possibilidades dos quadrinhos como linguagem visual/narrativa/expressiva.
De qualquer forma, parabéns pela iniciativa de tentar furar a bolha academica pra tratar desse assunto e parabéns tb pelo canal por manter o debate sempre em alto nível.
Descobri, há pouco mais de um ano, a leitura de quadrinhos. Achava sim uma leitura infantil, não intelectualizada e incapaz de gerar reflexão. Tinha, e ainda tenho, um alto apego à alta literatura. Porém, foi através de uma leitura despretensiosa de uma edição de Sandman, e da resenha que precedia o quadrinho, que descobri a riqueza contida nessa arte. Hoje gasto mais tempo lendo quadrinhos do que livros, mas sinto que tudo que li de alta literatura me permitiu ver os quadrinhos como essa fonte inesgotável de reflexão (claro que TB como fonte de entretenimento despretensioso). Ótimo vídeo!
Bem vindo ao clube kkk ,mas você pode continuar lendo os livros também.
literatura contra quadrinhos, é a mesma coisa de você bandas de rock de estilos diferentes brigando. Ou seja: imaturidade,conservadorismo e ignorancia.
Essa elitização da academia é um problema imenso, além de uma metedologia engessada. Agora, se algum intelectual gringo, principalmente vindo da França,Australia,Suécia ou Nova zelandia, falar bem de quadrinho, ai esses orgulhosos cheio de empafia mudam de opinião rapidinho.
E o pior é que o quadrinho, surgiu da literatura convencional.
Eu hoje nem me importo mais com esse preconceito. Leio gibis desde nova, o povo sempre falava "ela é meio esquisita, gosta de ler essas coisas de criança". Quando comecei a ler mangá então, nossa, era engraçado o preconceito porque além de ser como um quadrinho, é japonês, então o povo me achava mais esquisita ainda.
Eu me sentia um ET na família .E pior de tudo era ver eles conversando sobre novelas.
Abraço.
@@marcoantonioramos2326 puts, metade das tias que conheci.
Narciso desabona tudo que não é espelho.
Kkkk fiz ensino médio na antiga Escola Técnica Federal (90's). Em algumas disciplinas se eu deixasse meu gibi a mostra era mandado para a "coordenação" kķkkk. No curso de Engenharia, já na UF, em uma disciplina de "humanas" (acho que Psicologia Industrial (??)), o DSc em Psicologia me perguntou se eu tinha algum "transtorno mental" por ler gibi kkkkk.
Eu tenho.
@@lucianoandrade7798 deve ser
Mas já dizia o Frederic Werther que quem lê gibi é desajustado mesmo, hehehe
Ivy, sou professor num IF e se um aluno deixar o gibi à mostra durante uma aula minha (filosofia, no caso) corre o risco do gibi virar assunto da aula. 😎
@@gildeonoliveiradovale8546 o IF é uma Evolução, Prof. Kkkkkk. Mas eu gostei muito da ETF, foi uma das melhores experiências de minha inútil existência.
Vou esfregar isso aqui nos grupos de letras!!! Sensacional.
Somos 2
Kkk nem preciso comentar nada.
No meio do audiovisual, "produção feita para TV" (novela, sitcom, programas de auditório) enfrentam preconceito similar (inclusive no espaço acadêmico sobre o tema). Se for mais específico, na minha área de atuação (animação), a mesma coisa - se o conteúdo é infantil, se não é educacional/pedagógico, se não é conteúdo do "circuito de festivais"... Tudo isso acaba gerando senão uma cara feia, no máximo algum elogio condescendente. Do lado de quem produz cabe não deixar que isso diminua nosso ânimo em realizar, e do lado acadêmico, em ampliar o repertório permitindo aos alunos um olhar mais amplo sobre aquele conteúdo tão menosprezado. Mesmo naqueles que não tem, em si, um aprofundamento tão evidente quanto as obras de referência da área, mas que estão conseguindo comunicar, expressar e despertar as emoções do leitor/espectador. As vezes um gibi da Mônica tem muito mais a oferecer do que a risada rápida que ele originalmente se propõe.
Acho que isso está mudando gradualmente. Hoje em dia, a maioria esmagadora dos jovens que conheço, que possuem interesse por leitura, política ou qualquer outra área intelectual, conhecem - ainda que de forma singela - alguns títulos como Maus, Persépolis, Sandman e outros.
O fato é que as novas gerações puderam lidar com a cultura pop bem mais presente em suas vidas, isso desde a infância, refletindo nos jovens que são hoje. Hoje eu até diria que tá na moda ser geek. Em toda rodinha de universitário de cursos de letras, filosofia e cursos de humanas como um todo, tem um que assiste a animes, coleciona quadrinhos e por aí vai.
Amante de quadrinhos, roqueiro e fã de ficção científica, além de outros supostamente interesses menores, consegui ser excluído também da vida cultural deste país! Há muito que se fazer rumo à uma plena cidadania na qual seu trabalho é uma tremenda porta de acesso. Parabéns e obrigado.
Pra parecer mais comigo só faltou o desenhista!
Meri, quando era diretor social no clube de minha cidadezinha me incumbia também de criar as artes gráficas de divulgação de eventos. Portanto podemos sim, sermos gêmeos siameses!
@@grilocambui Aí gostei!
@@heavycolorsart :)
@@heavycolorsart Somos dois! kkkkkkk
No final todas as artes estão pra se ajudar e tirar inspirações umas das outras.
Vejo um pessoal com preconceito com animação igual aos quadrinhos,mas quando ambos viram live action bate palma até sangrar.Tive professores que valorizaram no ensino médio,mas pelos alunos n serem assim eles n colocavam nas aulas.
Realmente, pra vencer um argumento preconceituoso sobre mangá sempre falo sobre Tezuka porque ele era formado em medicina validando o “pessoa de sucesso e normal”
O dia que tivermos a visão que o Japão tem, escalaremos mais um degrau na nossa evolução cultural.
@@jeffersonmottadecarvalho8939 O pessoal daqui tem muito preconceito com o Japão e o oriente
Hum, isso explica a inspiração dele em Blackjack.
Usar a carta do "ele também era médico" é uma ótima estratégia
Meu pai era um pouco assim, colocando quadrinhos em uma "cultura mais baixa". Mas felizmente depois que ele leu um Chabouté ficou fascinado e começou a abrir a mente pra esse universo.
"Uma sociedade embrutecida artisticamente tende a ser uma sociedade incapaz de celebrar a própria humanidade" não dá pra resumir melhor do que isso.
Todos os tipos de arte precisam de um processo pra vc entender que forma, texto e subtexto podem ser bem refinados, mas essa marginalização (completa) dos quadrinhos é bem persistente e aquém método. Isso que é foda :/
O nome desse filme poderia ser: Um Pária na Facul
Sou professor e teve um caso em que eu recomendei tiras e gibis para meu aluno ler, no intuito de melhorar interpretação de texto e vocabulário e os pais do aluno chamaram minha atenção para trocar a recomendação por algo, como eles disseram: "mais elevado e melhor escrito". Às vezes eu entro em choque com o desincentivo à leitura nesse país.
Muito bom vídeo. Eu não sou pesquisador de quadrinhos especificamente, mas trabalho com discursos midiáticos e relações étnico-raciais, e como leitor tenho me arriscado a escrever algo sobre HQs nesse tópico. A gente vê o preconceito até na hora de publicar. Muitas negativas de revistas acadêmicas com pareceres mais preconceituosos que técnicos (tanto sobre o tema, quanto sobre o objeto). No início, até por desconhecimento, associava quadrinhos à literatura para "valorizar" no mercado acadêmico, agora não mais.
Interessante a abordagem que tu expôs em seu vídeo. Eu sou mestrando em letras e sinceramente estou de saco cheio da pieguice embolorada dos ditos barões do conhecimento. Já se tem muita pesquisa sobre Machado, Rosa, Lispector e Graciliano Ramos ( que é o autor que pesquiso). A academia fica reproduzindo discursos auto elogiosos para si mesma, enquanto a realidade se modifica e apresenta novas formas de arte e de sociabilidade no mundo material. Eu mesmo sempre tive um profundo mal estar quando, em minha graduação os quadrinhos só serviram para demonstrar as variações linguísticas na matéria de sociolinguística com a Turma da Mônica, pobreza de visão e a simples instrumentalização da arte dos quadrinhos para o simples exercício descritivo da realidade, ficava puto com isso.
Eu mesmo penso em fazer meu doutorado daqui há alguns anos sobre O Eternauta e outras narrativas de ficção científica latino americana, analisar se há uma perspectiva de futuro e de utopia/distopia sobre as lentes do homem latino americano. Para isso criei uma pergunta em minha cabeça e que me motiva a fazer esta pesquisa. Qual seria essa pergunta : Existe um Latinofuturismo?
Já estou interessado em ler sua tese!
@@lucianoandrade7798 , eu discordo de ti no tocante à pensar que Eternauta é apenas uma obra com crítica social. A ficção científica tem como uma de sua força motora a própria crítica social e a alegorização da realidade do tempo presente por meio de um deslocamento temporal para o futuro. Eternauta pode ser lida como uma alegoria à colonização europeia no continente Americano. A neve como as doenças que acarretaram a morte de boa parte das populações nativas da região.
Acerca da questão de não podermos ter uma ficção científica, isso para mim é apenas um pensamento colonizado. Será que apenas americanos e europeus podem pensar sobre o futuro, conjecturar sobre nós e o desenvolvimento da técnica junto com as mudanças do homem em contato com a máquina, Será mesmo? Além do fato que existem quadrinhos africanos feito por africanos que são afrofuturistas.
No mais, devemos pensar sobre o futuro, a América Latina deve pensar sobre si de maneira a se colocar de maneira altiva nesse mundo que estará por vir.
Caro professor,é com muita alegria em saber que existe alguém com sua formação que entende o nosso gosto.
Obs:tenho os meus autores preferidos de livros também.
Obrigado por tudo.
@@lucianoandrade7798 De fato, a literatura brasileira é muito limitada e eu já percebia isso: ela se limita a novelinhas sobre dor e injustiça
@@seugeraldo6148 Que comentário infeliz.... deve ser mais um colonizado que só valoriza o que vem de fora...
É um preconceito que atinge principalmente a área das letras, o simples fato dos quadrinhos trabalharem com a linguagem visual causa um estremecimento para quem está acostumado com literatura, vejo até as tiras serem mais aceitas, mas no sentido da linguagem verbal, sem grande compreensão estética.
Aff, inúmeras vezes. Me olham esquisito. Fica pior quando falo que são quadrinhos infantis.
Alguns me dão parabéns pelo valoroso trabalho pedagógico das crianças (tipo vamos ensinar crianças a reciclar o lixo) . Mas a maioria
me associam com alguma crise existencial relacionada a maternidade de mulher de meia idade e também a uma "preguiça intelectual" em estudar temas mais relevantes.
Felizmente tive uma trajetória bem mais suave em ambientes acadêmicos, acredito que em boa medida por ter passado pelas áreas de Design e da Comunicação. Não consigo lembrar de nenhum episódio sequer de estranhamento ou de desprezo por parte de colegas ou de professores, mesmo dos mais velhos, muito pelo contrário: não foram poucas as vezes em que demonstraram genuíno interesse pela minha pesquisa, que quase sempre teve a ver com os mangás. Tenho a impressão de que em Letras e em outras áreas o preconceito é bem maior - o que é irônico, já que, segundo levantamento de 2016 (Callari; Gentil), grande parte das pesquisas sobre quadrinhos produzidas em universidades brasileiras saem justamente de Letras! Então fica a dica para quem quer estudar quadrinhos na universidade: venham para Design e Comunicação! 😁
Realmente, em Design tem muito menos preconceito.
Minha impressão é que essa postura em relação aos quadrinhos é sintoma de um problema mais geral da academia: a “frequentação cultural” caiu muito entre os colegas de todas as áreas, a superespecialização ocupa todo o tempo das pessoas, não deixa mais espaço para o sensível, o estético. Converso com colegas de outras áreas, e em geral seu contato com a cultura é bastante superficial, e pouco variado. Mesmo nas áreas “culturais” propriamente ditas, o pessoal se rende ao mainstream intelectual, ao senso comum acadêmico, recortando suas pesquisas dentro do que é convencionalmente aceito. Não são todos, obviamente, acho que a brecha está até se alargando, mas ainda é minoritária. Renovações geracionais e até de classe, etnia e gênero, com os programas de inclusão, podem trazer um pouco mais de arejamento e diversidade para esse quadro (é a minha esperança).
Que coisa né? A Universidade/Academia é o lugar em que as pessoas deveriam ser mais receptivas com certas ideias, mas em grande parte das vezes é o lugar que “castra” e amolda as pessoas num certo lugar comum. Por esse motivo acho tão importante professores como você. Parabéns!! Ganhou mais um inscrito!
Bem, minha área de pesquisa/trabalho não é quadrinhos, mas literatura m gêneros e formulações que estão bem longe do canônico. Sempre sofri preconceitos dos mais diversos tipos, mas nunca me deixei abater: demonstrava pela leitura, como dito, a riqueza do material de minha pesquisa e ponto final. Com isso, consegui convencer (ou ao menos, tive a condescendência curiosa) não apenas bancas ou espectadores em seminários e palestras, mas mesmo editoras, convencidas de minhas propostas de curadora...
Em tempo: minha dissertação sobre Lovecraft foi feita entre 2003 e 2006, quase vinte anos atrás. Na época, era um autor completamente desconhecido, citado aqui e ali por outros autores, em geral de forma negativa (ou por autores polêmicos, como Houellebecq). Não é que, em 20 anos, o jogo virou no caso dele?
No meu trabalho,os colegas de lá,me perguntam se eu tive infância.
Obs:tem uns que não completaram o Encino médio.
A bolha estourou e os filmes da Marvel/DC estão terminando de fazer exatamente o esperado, não ajudar no aumento de leitores de HQ. E muito em breve teremos fanboy de filmes de heróis depreciando abertamente leitores de HQ.
Se é que já não está ocorrendo.
Já vi isso ocorrendo sim
É triste, mas já existe! Já vi marvetes que assistem os filmes e tratam os quadrinhos como lixo, coisa que só gente estranha lê! Sendo que como fãs da Marvel eles deveriam ter pelo menos respeito pelas obras, pois os filmes não existiriam sem eles!
Já vi gente taxando Guerra Civil de ruim porque a arte é "feia" e esquece todo o resto.
Acho que podemos até inverter o raciocínio. Será que muitas vezes as obras e mídias mais prestigiosas são trabalhadas e retrabalhadas não por sua riqueza, mas pela mera busca por "pontos" de prestígio? Sinto que muitos leem apenas em busca de subir na tabelinha da erudição pelo valor pré-estabelecido que certos autores têm.
Comecei a ler The Narratology of Comics Art, e, depois de assistir este vídeo, me lembrei de uma coisa interessante que é comentada pelo Kai Mikkonen bem no início do livro. Ao introduzir a matéria a fim de tornar explícita a impossibilidade de aplicar aos quadrinhos de modo imediato os conceitos já desenvolvidos pela disciplina narratológica a propósito de outras formas de arte, o autor concede um certo destaque à argumentação do Groensteen em "O sistema dos quadrinhos" quando este faz ver uma apropriação indevida de métodos de análise aceitos no campo da pesquisa literária que, uma vez transpostos para os quadrinhos, privilegiam o aspecto verbal às custas do aspecto imagético (questão, aliás, que já foi tangenciada num vídeo deste canal, ao falar sobre o mencionado livro de Groensteen e sobre a inovação que ele traz em relação às análises de matriz estruturalista). O objetivo do autor, justamente, é o de tentar providenciar uma narratologia rigorosamente adequada à forma dos quadrinhos, de sorte que, logo no início, ele previne quanto à possibilidade de assumir que determinadas categorias apresentam valor geral para a estruturação de uma narrativa. E, a esse respeito, ele comenta um fenômeno bem curioso: em trabalhos que ajudaram a consolidar a disciplina narratológica na década de 80, às vezes ocorria de categorias tidas como básicas para o entendimento de uma narrativa serem exemplificadas com quadrinhos, ou mais especificamente com tirinhas. De acordo com o autor, tais exemplificações normalmente funcionavam a partir do pressuposto de que as tirinhas ilustravam o conceito teórico que se queria expor de maneira imediata, sem que houvesse, no entanto, uma preocupação dos autores de explicar como elas faziam isso: de certa forma, procedendo dessa maneira, eles mantinham que as ilustrações são o meio mais elementar de explicação e que, como tal, não podem ser explicadas. Eu me pergunto se uma coisa parecida não acontece com a nossa vida acadêmica: não é curioso ver, por exemplo, como uma parte considerável das prova de português através das quais os alunos são admitidos nas universidades consiste em análise de tirinhas (Calvin, Mafalda, Hagar, Turma da Mônica, etc.), como se os quadrinhos fossem tolerados apenas no limiar dos centros de pesquisa, mas não além? Acho sintomática esse tratamento que as tirinhas recebem: um instrumento útil para afiar a capacidade de interpretação dos futuros estudiosos, mas não um objeto verdadeiramente digno de sua consideração séria e refletida.
Muito bom!!!!
Eu tenho emprestado algumas obras pra minha cunhada, doutora em letras e assim tento mostrar pra ela, conversando sobre momentos de alguns artistas, situação politica e o que acontecia historicamente em paralelo, ela ainda não me retornou o ultimo quadrinho que emprestei mas tem sido pequenos passos pra ela normalizar essa midia como detentora de cultura
Alexandre, eu tenho um episódio muito caricato para contar... num programa CULTURAL semanal de televisão... Foi, há uns bons meses, no canal internacional TV5 Monde em que semanalmente um conjunto de jornalistas da cultura faz uma retrospetiva comentada das estreias nas várias vertentes das artes, sobretudo de origem francófona... E chegou-se ao comentário de uma adaptação de uma obra literária em banda desenhada... Aí, um dos intervenientes, que é também DIRETOR EXECUTIVO do mesmo canal internacional, desancou, sem nível e sem razão, na obra, partindo do pressuposto que só o facto de ser uma história aos quadradinhos retratando arte literária já era péssimo, sem valor... Gerou-se um certo ambiente incómodo no estúdio, mas como "opiniões" são somente "opiniões" e o dito senhor é diretor do canal, ficou tudo por ali... num PROGRAMA INTERNACIONAL DE CULTURA que é muito bom... salvo essas exeções. Quem não sabe é como quem não vê! É o que dá um certo pseudo-intelectualismo reinante! A mitificação pela negativa!
Abraço!
você é de portugal?
Acho que as pessoas costumam entender que, em obras com texto e imagem, a função da imagem é facilitar da leitura do texto, tornando essa uma leitura menos sofisticada, e não enxergam nem aprendem a apreciar algo novo que surge da interação entre essas duas linguagens.
eu sempre digo que a pior maneira de experimentar uma obra de quadrinhos é olhar pra ela apenas pela dimensão literária (que acho das menos importantes)
há um desprezo gigantesco desse nosso mundo "logocêntrico" pelo universo da imagem
@@gaftube Esse preconceito é mais no Brasil?
Já sofri bastante com este preconceito, que se apoia em um total desconhecimento dessa arte e numa noção de que se trata de um material puramente infantil e dispensável. Muitos que conheço se recusam a reconhece-la como arte. Enfim, excelente vídeo.
Mas é incrível ver como o Cinema é muito mais aceito como arte maior, na verdade os quadrinhos carregam alguns estigmas, como se fosse algo pra criança e tal, mas concordo que temos que fazer a nossa parte em valorizar essa arte, convencendo quem estiver aberto em aprender.
Que vontade de ser seu aluno...que bom que temos Canal como o "Quadrinhos na Sarjeta"...eu passei por uma crítica por conta de uma grande ressaca literária, e nesse período redescobri os quadrinhos - que tinham feito parte de minha infância a adolescência - e com isso fui comprando quadrinhos e Mangás...e aí me questionaram como vc deixou de ler literatura para ler gibi?...eu simplesmente respondo: estou descobrinho novos mundos simples assim...Alexandre é sempre muito instigante e esclarecedor assistir seus vídeos...valeu...abração carioca...
Eu sinto a mesma coisa com relação aos jogos eletrônicos, sempre sendo tratados como algo menor justamente por não ter muitos especialistas no meio acadêmico tratando-os como arte, menosprezando completamente a capacidade de emocionar, de ensinar. Sempre sendo tratado como algo menor por ser algo relativamente novo.
Sensacional...esse preconceito acontece com todos que fazem leituras de quadrinhos, eu mesmo sofri isso numa escola em que eu dava aula! Sou professor da rede estadual aqui em Recife professor Alexandre, eu ensino Geografia. Grande abraço meu nobre amigo! Obrigado pela abordagem 💯💥💯👏🏻👏🏻👏🏻
Olá. Acho seu comentário muito pertinente. Sou graduado e pós em filosofia e teologia. Voltei a ler HQS uns dois ou três anos e senti esse preconceito. Ao mesmo tempo, gostaria de desenvolver alguma pesquisa na área. Mas ainda me falta subsidio teórico.
Uma importância essencial dos quadrinhos, num exemplo particular: eu quando criança era extremamente tímido, um 'bicho do mato'. Já tinha quadrinhos antes de saber ler e a vontade de aprender a ler foi a força que me fez encarar a árdua missão de ir pra escola. Ainda bem que em pouco tempo meu medo e timidez foram se dissipando e acabei tomando gosto de ir a escola mas os quadrinhos foram sem sombra de dúvida o fator principal pra que eu quebrasse essa barreira.
E apesar dessa dita "elite intelectual" citada no vídeo ter esse desprezo por quadrinhos, é reconfortante ver pessoas como Umberto Eco, Jô Soares, o inigualável Federico Fellini entre tantos outros exaltarem os quadrinhos como forma de arte.
Maravilha, esse tema merece uma discussão ampla. Eu que estou na área das Artes Visuais, vejo muito o preconceito de artistas e professores com os quadrinhos, e não só os quadrinhos, mas outras formas de expressão como o Graffiti por exemplo. Isso demonstra o desconhecimento e ignorância desses artistas e professores com o que vem sendo produzido e é um modo se colocarem em um lugar acima dos outros, com sua pretensão e ignorância. No caso, acham até bom, é status falar mal, se colocam em uma narrativa de superioridade. Normalmente são artistas e professores medíocres que precisam legitimar seus trabalhos com essa narrativa, normalmente são cópias de artistas e pensadores bem sucedidos, e esses artistas e pensadores bem sucedidos normalmente são herdeiros de uma elite intelectual. Vejamos Chico Buarque, Helio Oiticica... Eu não aguento mais escutar sobre os mesmos artistas, é Helio Oiticica em todas as aulas que assisto do mestrado que estou fazendo, mas pouco se fala da origem dele, o tataravô era senhor de engenho, dono de terras e escravos. Tunga, seguindo a árvore genealógica dele você chega a um príncipe holandês, Nelson Leirner era filho de um empresário e colecionador, Tarsíla do Amaral riquíssima, e por aí vai ... os maiores artistas brasileiros nada mais são do que herdeiros e com isso conseguem uma projeção muito, mas muito maior e apagam, às vezes por querer, até para sobressaírem, narrativas de artistas com menos influência política e poder aquisitivo .... veja bem, não estou analisando a obra. São artistas maravilhosos. Mas é o caso, quando Rivane faz um trabalho que são balões de quadrinhos sem diálogo, que não tem nada demais, todo mundo aplaude, pelo lugar que ela se encontra na arte. Temos alguns trabalhos na história da arte que se relacionam diretamente com o universo dos quadrinhos, como as maravilhosas pinturas de Roy Lichtenstein. Outro artista maravilhoso, japonês, que tem influência do mangá no seu trabalho e que todo mundo adora é o Takashi Murakami. Isso depende muito do lugar que você opera, Laerte é respeitada no meio das artes visuais. Estes, ao meu ver, ajudam a desmistificar a arte e demonstram uma relação saudável e interessante entre mídias. Agora também vamos ser sincero que muita coisa em quadrinhos é boçal rs a maioria do que é produzido é ruim, tanto como roteiro como arte, muita fórmula e massificação. Mas isso também se aplica nas artes visuais, muita gente que só repete discursos, tem os modismos, etc... mas pagam de intelectuais como comentou. Mas se são herdeiros ainda sim funciona. Delonguei, mas esse tema também me é caro ... pois nesse momento estou justamente produzindo uma HQ, vindo de uma carreira e prática já estabelecida no universo das Artes Visuais.
Descobri esse canal recentemente e achei ele maravilhoso. Fico grato de ver alguem divulgado quadrinhos como eles de fato são, uma forma de arte.
O que vc diz sobre quadrinhos sofrer preconceito acontece o mesmo com vídeo games, animações ou livros infato juvenis. Tudo que é feito para um público mais jovem parece ser automaticamente rotulado como uma arte menor, isso quando tem o privilégio de ser chamado de arte.
Mas parece não ser meramente a associação com um público mais jovens, afinal existem animações para adultos como quadrinhos para adultos. Mesmo assim ainda recebem desprezo.
Fico intrigado com essa tamanha estupidez. Penso em música tmb, por exemplo ritmos populares são considerados menores. Samba por muito sofre e sofreu muito preconceito.
Não sei o que fazer para mudar isso a nao ser lamentar. Como vc diz temos que elevar a discussão. Essas artes "menores" tem mérito e são tão profundas quantos as artes que esses elitista gostam. É isso, bom trabalho!
todo dia acordo grato por existir o Quadrinhos na Sarjeta. Como é gratificante ver alguém que fale dessas obras que tanto amo como arte e não como um produto qualquer.
Já tive gibi confiscado por professor, e já tive colegas que riram da minha cara. Coincidentemente, nas duas ocasiões, estava com quadrinhos de Alan Moore na mão
Logo com o melhor resolveram falar isso? Triste
Hoje em dia eles sabem quem ri por último.
Ou não, mas aí tu ri do mesmo jeito.
Perfeita explicação. HQ´s sempre foram arte. Lembro que os mesmos que tiravam sarro com os quadrinhos hoje se dizem fãs dos filmes de heróis. Engraçado, ser fã de filme pode, ser fã pelos quadrinhos não.
O que me deixa otimista nesse assunto foi uma experiência que eu tive uns dois meses atrás na faculdade. Estou no quinto semestre do curso de Letras e tive uma matéria de literatura brasileira (prosa). A professora pediu num dos trabalhos para bolarmos um "mini projeto" de pesquisa, a ideia é elaborar um rascunho de uma tese com perguntas/problemas, referencial teórico e uma breve análise da obra escolhida.
Eu quis fazer meu trabalho sobre quadrinhos e falei sobre o Sábado dos Meus Amores do Marcello Quintanilha e a relação dessa obra com o gênero da crônica jornalística, porém, o que mais me surpreendeu é que tiveram outros quatro trabalhos sobre quadrinhos na minha turma! Um sobre Maurício de Sousa, outro sobre o Cumbe do Marcelo D'Salete e acho que tiveram dois trabalhos sobre adaptações de obras literárias para quadrinhos.
Isso me mostrou que aos poucos estão surgindo mais interessados em estudar quadrinhos na universidade, e isso me deu uma visão mais otimista do futuro, que mais pesquisas sobre quadrinhos serão produzidas no Brasil! A professora gostou muito dos trabalhos, ela mesma não conhecia quase nada de quadrinhos, mas foi super receptiva com os projetos da galera!
Acho que boa parte do problema acadêmico vem da dificuldade de aceitar a dita "baixa cultura" (ou cultura popular, se é que é possível fazer essa distinção). Os exemplos que você usou no episódio do professor deixam isso implícito na contraposição que ele (ou você) mencionou.
Você tem razão quanto a sensibilidade que a arte (e os quadrinhos) desenvolve em nós. Aprendi a perceber as mudanças do ambiente urbano com Avenida Dropsie, do Will Eisner. Talvez o caminho seja pegar esses exemplos, como você tem feito.
Parabéns pelo Vídeo !
Acho que essa preconceito tem muito com o processos histórico da forma do produto revista era vendido ( hq com preço baratos, feito e material de baixa qualidade e descartável) vendida em banca de jornal. Até as tiras de jornal tbm pq acredito que ninguém ou quase ninguém coleciona.
Não sei como era as livrarias dos anos 60 70 mas duvido muito que ela tinha algo para hq. Talvez bem nos anos 80.
Então acho que o "valor" de comprar um obra literária em uma livraria e um gibi em uma banca de jornal tbm pode ter contribuído para forma a perceção de "arte maior" e" arte menor".
O valor e a qualidade da hq tbm ajuda nesse preconceito
Exemplo: vc quer presentear um professor senhorzinho e compra para ele a 1 versão do monstro do Pântano naquele papel jornal é uma coisa a outra é vc compra a versão absoluta do Monstro do Pântano ! Tão bonita que o cara vai da um olhada.
Infelizmente a aparência do produto e a qualidade dele contribui em alguma medida.
Mas é tudo achismos sobre um fator que poderia contribuir para preconceito.
Nesse quesito eu acho interessante que o mangá no Japão também foi feito para se ler a revista semanal no metro e jogar no lixo depois, tanto que essas revistas de mangás são feitas de papel recicláveis em preto e branco pra ser o mais barato possível. Os dois tipos de quadrinhos tiveram a mesma origem por assim dizer, mas enquanto mangá no Oriente conseguiu ganhar seu espaço, o mesmo não aconteceu no ocidente.
Isso também me soa como uma espécie de "adultidade frágil" ou algo do tipo, já que o pessoal pensa que todo quadrinho é pra criança. As pessoas tem aversão a qualquer coisa que remonte mesmo que um pouco a algo infantil, desde quadrinhos, anime, até mesmo desenhos, as pessoas tem aversão a simples ideia de assistir ou ler algo leve e divertido que não seja 100% reflexões extremamente profundas e de alto nível intelectual.
Foi a coisa mais difícil que já fiz na vida: um TCC na USP sobre V de Vingança e as percepções político-sociais que há na história. Pense em como foi difícil encontrar um orientador, e depois de encontra-lo, explicar como eu encaixaria Adorno, Chomsky, Orwell, Lenin, Marx, Gramsci, Ziblatt, Levitsky, Arendt, Hobsbawm em uma "estorinha com desenhos"....
Vídeo bem inspirador (apesar do título) para motivar o estudo acadêmico das histórias em quadrinhos. Obrigado, professor.
Um abraço.
Uma professora de literatura na minha graduação em Letras falou umas coisas depreciando as HQ uma vez...eu emprestei "Maus" pra ela, ela ficou maravilhada.
Com as animações, é a mesma coisa. Décadas atrás, fui à videolocadora, escolhi o VHS "Akira". A atendente viu a fita e contou que ela colocou Akira para o filhinho dela assistir, e ela assustou, achou violento, e tirou a fita na hora. As pessoas não conseguem entender que uma mídia como quadrinhos ou animações podem ter conteúdos adultos ou mensagens profundas.
Lembro que na escola, quando eu tava tipo na oitava série, toda semana no intervalo eu e um amigo íamos pra um dos computadores pra ler o novo capítulo de naruto. Uma menina passou atrás da gente e falou bem alto "Nossa eles ainda leem isso!".
Meu TCC na escola foi sobre a evolução sócio histórico do Japão, é óbvio que eu utilizei os mangás pra fazer esse trabalho.
Pelo menos os professores gostaram do meu trabalho, mas imagino que numa universidade os professores nem terminariam de me ouvir. Concordo cem por cento com a mensagem do vídeo.
Sem dúvida..sofro até hoje, mesmo publicando materiais em quadrinhos, e sendo pago por isso...é inacreditavel!!!
Eu to colecionando mangás e gostaria colecionar outros tipos de quadrinhos, mas quando chega as minhas entregas ou me perguntam sobre eu falo que são livros, caso meu pai soubesse que fossem mangás com o dinheiro do eu trabalho, ele provavelmente me mataria por estar "jogando dinheiro fora."
Os quadrinhos (mangás, hqs, gibis, enfim), muitas das vezes pode ser muito mais profundo, ter mais bagagem, carregar mais conhecimento que um livro, eu já li muitos mangás, mesmo que seja uma história disconexa com a realidade muita das vezes, o mesmo pode carregar muito conhecimento por trás, seja por críticas a sociedade, e até mesmo filosofias, muitos e muitos mesmo pode se achar uma filosofia por trás, cabe as vezes também à interpretação do leitor. No fim das contas ñ importa o meio de transmissão, a plataforma, mas sim o conteúdo, ou ainda mais, as vezes nem o conteúdo, o mais importante de fato é o leitor e sua interpretação sobre o assunto. (Isso claro, sem contar todo o trabalho por trás do autor, a criação da história, e do desenho, da personalidade, muitas coisas por trás, porque o fato é que quadrinho é arte, tão importante quanto qualquer outra)
Um dos vídeos mais interessantes que vi do canal, que acompanho há pouco tempo mas já estou buscando vídeos antigos, pelo conteúdo rico de cada um deles.
Pra mim o fato de ter um acadêmico fazendo análises das obras é muito interessante, além do que os resultados são surpreendentes. Gosto muito de HQ e hoje em dia estou mais inclinado a ler esse tipo de mídia pela falta de tempo e uma certa encheção de saco de Dostoiévski... Sou psicólogo e acadêmico também, por isso acho muito importante que o canal reivindica e abre um espaço para acadêmicos pensarem, refletirem e publicarem suas ideias, sem precisar publicar um paper por obra/ensaio/análise.
Obrigado pelos conteúdos, continue fazendo que eu continuo assistindo, abraço!
Preconceito sempre é ruim e deve acabar, óbvio. Dito isso, honestamente, eu acho que existe um charme todo próprio em amar uma arte que as elites esnobam. Ninguém lê quadrinhos por um "motivo" porque ler quadrinhos não "dá nada" a ninguém, seja na universidade, seja na hora de jogar charme em alguém, seja na hora de se achar inteligente. Não existe instrumentalização dos quadrinhos nesse sentido. Nós não lemos por nenhum motivo que minha avó vá entender. Mas lógico que é melhor que o preconceito acabe.
Os quadrinhos tem muito mais recursos que a literatura, mas seu potencial é mal explorado, principalmente porque tem bons desenhistas que acham que desenhar bem fará deles bons quadrinistas ou bons roteiristas. Além, é claro, de superar a logística de produção.
Excelente reflexão. Tb acho fundamental que nós, leitores, sempre nos posicionemos para elevar o tom do debate sobre hqs. E que procuremos sim, nós mesmos, expandir nossas leituras dentro da mídia, justamente para enriquecer todas as possibilidades de pensamento sobre esta mídia. Acho que o ficar em apenas um gênero é uma opção que deve ser respeitada, mas o crescimento de perspectiva e análise requer a busca de novos horizontes, propostas. E talvez seja isso o que nós mais precisemos hoje pra enriquecer o debate. Eu vejo que isto é uma tendência maravilhosa, até pelo boom de publicações que hoje chegam no Brasil, e pela produção nacional. E espero que isto só cresça.
Note que na história da ciência, as mentes mais notáveis se interessavam em média por assuntos que não abrangiam o interesse da maioria.
Parabéns professor, adorei o seu vídeo. Seria incrível ser seu orientando.
Quem sabe um dia...
Cheguei em seu canal a pouco tempo e agora estou maratonando os vídeos rs. Faço mestrado em educação, ligado a linha de pesquisa de linguagem, arte e educação. Enviei uma proposta de pesquisa em que envolvia produções imagéticas (escrita e desenho) em diálogo com afretamentos de uma etnia indígena. Na primeira reunião sobre o andamento da pesquisa apresentei os movimentos, leituras e blá, blá, e no final disse "assim, cheguei a conclusão que a minha dissertação seria no formato histórias em quadrinhos". Houve estranhamento, mas a maioria se animou na da possibilidade de pesquisa-criação. Sempre tento trazer gibis para as reuniões de laboratório e ainda sinto este preconceito, por mais velado e educado que seja. Parabéns pelo trabalho de divulgação científica que faz. É um trabalho que ajuda a criar novas aberturas à universidade. Os jovens não tem se interessado pela academia, por muitos motivos, mas um deles é o abismo entre o que a universidade oferece como possiblidade de pesquisa e o que as pessoas sentem afeto.
Ótima análise. Sou cineasta e entrei no cinema através da arte sequencial, viva os quadrinhos.
Caramba, professor, os seus vídeos são MARAVILHOSOS! Eu não sou consumidora de quadrinhos, mas tenho devorado seu conteúdo simplesmente pela forma com que o sr explica a cultura. Muito obrigada pelo seu trabalho! ☺
Alou a todos! Que bacana esse espaço de debate. Eu não sou especificamente acadêmico, minha atuação é mais do labor criativo, da indústria do entretenimento e tal. Mas eu fiz mestrado, com enfoque HQs e felizmente fui muito bem acolhido. Foi na Unicamp, de 2007 a 2010, no Instituto de Artes, departamento de Multimeios. Eu sou meio “institucionalizado” nesse assunto por guardar as melhores lembranças dessa experiência, especialmente no relacionamento com o corpo docente do Instituto de Artes quanto de outros, como o Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). Pela minha experiência na Unicamp, valeu a reputação de instituições que por tradição refuta um balizamento teórico fixo. Claro que lá existem outros pontos fixos, mas o caso é que se desenvolvia na época uma linha de chamada “pesquisa atelier” (algo assim). E que estimulava a experiência pessoal acompanhada de reflexões sobre o processo. Um caminho até meio vago, se visto pelo olhar crítico. O fato é que pude estudar com bolsa, convivendo com alunos do país todo, com professores que passei a admirar e saí de lá com um roteiro de longa metragem inspirado em Hqs. Então eu convivi mesmo com um horizonte de eventos pra essa abordagem dentro da academia.
Vivenciei muitos momentos assim nos quase 5 anos que trabalhei em uma livraria (cuidando principalmente da sessão de HQ).
Minha família sempre resistiu a entender meu amor por quadrinhos e principalmente por animes e mangas, dizendo que eu ia ficar depressivo, sozinho e que aquele desenho era ridículo, obviamente eles nunca consumiram um capítulo de nenhuma dessas coisas e apenas querem apontar dedos pra ver se eu fico mais parecido com eles e assisto futebol ou algo do tipo, minha forma de resistir foi apenas não mencionar nada e caso eles viessem atacar as coisas que eu gosto eu apenas mudo de assunto abruptamente, já tentei convencer subindo o tom como você bem colocou mas infelizmente a cabeça deles já está bem dura para coisas diferentes.
Há muitos anos atrás, eu trabalhava numa banca de revistas que ficava ao lado de uma universidade; um casal chegou e o rapaz disse: "Uau! Chegou a nova 'Espada Selvagem de Conan!'; e a garota: "Nossa! Você lê isso?!"; e eu pensei: "Esse perdeu a chance com essa garota..." Desde lá, todo mundo que eu conheci nas universidades não sacava nada de quadrinhos e ficava espantado quando sabia que eu levava isso a sério - muito parecido com a garota da banca de revista - e só então percebiam que a cultura deles não estava completa. É isso: preconceito cultural é só uma forma de ignorância profunda; como a dessa professora que olhava e não conseguia ver...
Sempre sofri uma certa rejeição em família, especialmente quando ultrapassei a adolescência e "continuei a ler quadrinhos". Mas nunca esquentei muito a cabeça, pois desde bem novo percebia a riqueza, a relevância, a potência desse universo fantástico. Um episódio interessante ocorreu na 1a Bienal de HQ, no RJ, em 1991. Fui a uma exposição com um amigo, que era não leitor, e ele ficou simplesmente fascinado com o que viu. "Não tinha ideia que era assim, não tinha ideia". Daí em diante, passou a consumir alguns títulos, Enki Bilal em especial, de quem virou fã incondicional.
Ótimo vídeo e reflexão! Me fez lembrar que no mestrado eu fiz uma pesquisa sobre indústria cultural e ideologias nos meios de comunicação de massa. O foco foi principalmente sobre filmes blockbusters, mas na introdução apresentei exemplos dos usos políticos em outras formas de arte, como pinturas históricas e quadrinhos. Uma orientadora achava que eu deveria tirar essa parte e outro orientador preferia que eu analisasse "filmes de arte". Realmente é complicado romper certas barreiras acadêmicas, mas se não forem rompidas a produção continuará estagnada e padronizada.
Eu sofri algo parecido quando eu fiz o meu TCC de quadrinhos em artes visuais
Acho que todo mundo que ama quadrinhos passou por um episódio parecido. Eu ilustro livros infantis sinto a mesma pressão. Parece que tudo o que é feito para crianças ou que é feito para crianças também sofre esse preconceito de ser tachado como inferior. Vide a apresentação do Oscar, que as apresentadoras insinuaram que animação não é cinema. Não importa muito todo o movimento feito para desvincular os quadrinhos da restrição do "para crianças", na prática ainda são ignorados.
Coincidentemente perdi a edição No 3 deste mesmo lançamento de Super vs Apocalypse durante o ensino fundamental, confiscada pela professora enquanto a lia dentro do livro didático. Durante a graduação, para um trabalho de análise do discurso, escolhi o posfácio de V de Vingança escrito pelo Moore. Definitivamente, o trabalho não foi bem recebido pela professora. Agora não sei dizer se devido ao material escolhido para análise ou pela própria qualidade do trabalho mesmo hahahahaha. Parabéns pelo canal e sucesso companheiro
Em 1987 eu tinha comprado o primeiro volume de "Força Psi" lançado pela editora Abril e levei pra escola. A professora me pegou lendo o quadrinho na sala de aula e tomou minha revista...me devolveu só dois dias depois. Era tenso ler quadrinhos de super-heróis nessa época, parecíamos alienígenas. Kkkkkkkk
Para HQs e alguns bons jogos (de vídeo game), o pessoal torce mesmo o nariz. Mente fechada...
Uma das melhores aulas que eu tive na FFLCH, foi com um quadrinho do Henfil, o Fradim. Teve até ahhhhh quando acabou a aula, o tema da aula foi sobre a produção cultural na ditadura. A aula era de Metodologia em História, e o quadrinho é uma fonte documental de cada período que ele foi publicado.
Sempre sofri preconceito por ler quadrinhos, mas isso jamais diminuiu meu apreço por essa forma de arte tão linda. Continuo lendo e colecionando e digo que não preciso da aprovação de ninguém, seja de intelectuais ou das pessoas em geral.
Eu entendi o que foi Woodstock com as tirinhas do Angeli, nos anos 1980.
Sempre me orgulhei dos meus gibis que algumas pessoas nunca tiveram, pois meu primo trabalhava numa gráfica, a RGE.
Poucos conseguem enxergar filosofia em HQs da Marvel e DC, eu sempre consegui refletir com os diálogos ali.
Passei a ler Conan Doyle e o seu Sherlock Holmes, graças a uma paródia que a Disney fez com uma HQ do Mickey e o Cel. Cintra numa historinha que li milhares de vezes: O Cão dos Basquete Ville. 😍 Até me emociono só de lembrar. Eu tinha uns 6 anos, hoje já passei dos 45 e sigo fã de HQ com muita satisfação.
Nem preciso falar da Turma da Mônica.
Esses preconceitos estão acabando!! Fica tranquilo!!
É o eterno embate entre "alta" e "baixa" cultura, parece que todos que falam de algum tipo de arte tem um video ou texto tendo que falar disso (ou pelo menos quem trabalha com artes de "baixa cultura). Video Game, Quadrinhos, pornografia, etc. parece que sempre precisa provar seu lugar e revalidar seu espaço como cultura.
Acredito que quanto mais se sabe de algo melhor se aproveita daquilo que se propõe a saber. Vejamos que o desfrute de se comer uma manga, suponhamos espada, é mais saboroso se conhecemos os benefícios: fonte de fibra, betacaroteno, vitaminas A, C, etc. Pois bem, também há diferentes qualidades de mangas, mangás e cajá-manga, ou seja, certamente saber sobre processos estruturais, enquadramento podem não interessar a todos, mas notadamente o leitor aproveita mais da viagem sabendo um pouco da navegação.
Resultado: Quem não sabe que jiló é um grande aliado na perda de peso, ou na saúde bucal não come porque é amargo, ou quem acha que manga com leite faz mal não sabe o benefício que está perdendo.
Otimo video, Linck. Além de um grande questionamento proposto!
Acredito que existe uma dificuldade em conseguir enchegar o grande potencial artistico, literário e estetico dos quadrinhos, devido a falta de base de conhecimentos dos leitores. Na grande maioria das vezes as analogias e referencias estão na cara do leitor. Mas ele nao tem um conhecimrnto de base pra ver isso. Ou apenas não quer ver msm. Vai saber.. kkkk..
Parabéns pelo canal.
Sucesso sempre!
Acrescento duas coisas:
1) É universal, chamando à memória que roteiristas e desenhistas de HQs usaram pseudônimos para manter suas identidades profissionais não vinculadas aos super-heróis, ou quadrinhos eróticos, etc. Na prática é evitar retaliações (preconceito amplamente disseminado).
2) Para registrar a veracidade do vídeo, eu escrevo, "você ainda está nas Artes e é desse jeito, imagina em noutras áreas"? Eu também sou professor e pesquisador nas Ciências Biológicas. Seu exemplo se repete e com ares para diminuir (soando como "infantil") colegas de trabalho.
Parabéns pelo vídeo, a sensação que dá ao assití-lo eu expresso assim: "Ufa! Não estamos sozinhos"!👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽
Mano. O engraçado é que essas mesmas pessoas lambem as bolas de gente que era aficcionada em quadrinhos, tipo Alain Resnais, Drummond, ou Dali e Picasso que tu citou.
Sem falar os cineastas Alejandro Jodorowsky, George A. Romero... Ect...
No livro O descredenciamento filósofico da arte, o Arthur Danto faz até um pequeno elogio a arte dos quadrinhos, porque esses artistas foram os únicos que evoluíram e criaram mecanismo de movimento nos desenhos...
@@adjailsonribeiro6703, disse tudo. Tive uma professora no doutorado que desconsiderava quadrinhos pra caramba e ao mesmo tempo idolatrava o Jodorowsky como cineasta. Claro que tive que elucidar um pouco a questão.
Já dizia Umberto Eco: “Quando quero relaxar leio ensaios de Engels. Quando quero algo mais sério, leio Corto Maltese.”
@@rafaelsduarte8688 Eles criticam os quadrinhos por ter imagens, mas o cinema também tem!
Vejam só,, desde o mestrado, meu orientador me incluiu num grupo de ZAP, lá todos pesquisadores no mesmo filósofo. Minha interação no grupo é pequena, mesmo porque grupos assim são meio uma "igrejinha". Mas umas duas vezes toquei em assuntos de natureza filosófica e citei HQs, entre elas Watchmen e Relatório de Brodeck. O fiz também porque tem lá um outro colega leitor de HQs. Mas, o meu comentário foi recebido com silêncio. O próprio colega só disse um tímido "pois é". Há muita igrejinha no ambiente acadêmico. Em parte por essa necessidade de se afirmar como uma aristocracia.
Sinto algum preconceito também. Sou acadêmico como você.... Algo que gostaria de estudar é memória discursiva nos quadrinhos da Marvel ou DC. São camadas e camadas de interpretação de autores e leitores, e de leitores que viram autores, nessa indústria. Por mais que as editoras busquem "rebootar", essa memória retorna. Só me faltam estudantes interessados...
Acho que todo mundo aqui já ouviu o próprio pai dizendo: "quando você vai começar a ler livro de verdade?" kkkk é complicado
Eu precisei passar por 3 orientadores para poder desenvolver meu TCC da pós, o primeiro riu, o segundo não entendeu e a terceira foi sensacional. Acontece nas melhores universidades.
Eu lembro até hoje do dia que eu falei pra minha irmã (uma grande leitora de livros) ler Maus e ela disse o seguinte "não sei como você consegue ver valor em gibizinho, onde está a sua imaginação? Hq é pra quem tem preguiça de imaginar as cenas descritas." felizmente isso faz muito tempo e ela finalmente leu a primeira hq dela (mônica laços) por vontade própria. ela só pediu pra me emprestar o gibi quando eu terminasse de ler eu fiquei tão feliz que eu li ele muito mais rápido que o comum só pra ela ler.
Para variar, esse vídeo me deu o que pensar, uma vez que chamo esse atual momento da produção de quadrinho no Brasil de “Quadrinho Universitário”.
Eu tive sorte. Há 20 anos na minha faculdade de jornalismo, na aula de história da arte, meu professor (Newton Scheufler) abriu minha cabeça para os grandes pintores da história fazendo correlação com quadrinhos do Batman. Eu amava aquelas aulas..
Realmente existe um pré conceito muito grande relacionado aos leitores de quadrinhos, aos quadrinhos de forma geral. Digo isso porque também fui muito mais preconceituoso do que hoje sou, infelizmente nunca fui um grande leitor, seja de livro e muito menos de quadrinhos. Sempre desejei ser um leitor, mas nunca fui capaz, apenas admirador dessa categoria. Desde o ano passado, em meio a pandemia estou descobrindo aos poucos "este universo de História em Quadrinhos". Depois de viver muitas frustações profissionais, aos 47 anos comecei a resgatar meu gosto por desenhar, tento aprender aos poucos o que jamais deveria ter desistido. E encontrei por acaso nas minhas pesquisas de desenhistas, um tal "Jeferson Costa" com suas ilustrações de JEREMIAS pele. Fiquei admirado com seus traços e cores. Me aprofundei na pesquisa e percebi que aquela HQ falava sobre racismo. Comprei a HQ de imediato. Eu fiquei estarrecido, me emocionei muito ao ler e ao saber que havia muitas HQs que eu iria gostar de ler. Eu não tinha a menor ideia que existiam HQ fora do mundo de Super Heróis. Logo em seguida eu passei a ler HQ e não parei mais: Maus, Persépolis, Dois Irmãos, Retalhos, Duas vidas, etc, etc, etc... Já cheguei há pouco mais de 200 quadrinhos e alguns livros também. Não li todos ainda, mas não pude evitar, virei um colecionador. Agora eu leio e estudo desenho para criar minha HQ, recomendo e presenteio. Quando falo o pouco que sei sobre HQs, (e realmente é bem pouco mesmo) para algumas pessoas, elas também ficam surpresas, muitos não sabem desse universo e esboçam curiosidade. Uma vez fui levar minha mãe no médico, levei comigo uma HQ " O Boxeador ", estava lendo na recepção quando o médico abriu a porta e chamou minha mãe, eu estava sentado de costas, do lado da porta da sala do médico, ouvi ele comentar" O que você está lendo aí ?". Eu falei pra ele que era uma HQ que abordava a biografia de um polonês judeu que virou boxeador para sobreviver em meio a 2º guerra mundial diante a perversidade nazista. Ele ficou muito admirado, um senhor de mais de 60 anos agora queria saber como se adquiria este tipo de leitura. Por consequência influenciei minhas filhas de 23 e 10 anos de idade, todas lendo quadrinhos. Porém tenho ciência que estou num processo de desconstrução do pré conceito e construção de um novo conceito, aliás este processo é permanente, para toda a vida.