Interessante e muito boa, a sua aula; entretanto não possa me furtar de mencionar que o que me foi ensinado nas minha aulas de psiquiatria por meus professores, ditos 'psicanalistas freudianos' era a noção de que nós, homens gays teríamos uma ''fixação'' ou uma espécie de 'cristalização' em um estágio menor de maturidade do dito 'desenvolvimento sexual normal' e que 'falhamos em nos identificar com o genitor na triangulação do Édipo' e blá-blá-blá... Além disso, muitos livros de psicanalistas ditos freudianos daquela época eram pautadas por títulos como 'além da perversão sexual', ou 'além do desvio sexual'. Para citar uns poucos títulos embora eu não vá citar o nome completo dos livros pois eu estaria citando, por consequência, o nome de quem os escreveu. Mas creio que quem quer que leia ou tenha lido livros de terapia nos anos 80/90 deverá saber a quais autores estou me referindo. Hoje em dia, não creio que se encontre mais em circulação pois não são bobos. Lembro também que o 'monopólio' com o qual tratavam as questões de sexualidade e gênero (tenho 64 anos e passei pela faculdade de medicina durante o final da ditadura militar, no Brasil ,e durante os primeiros anos de epidemia da AIDS), falando como se fossem os donos da verdade última, em contraste com outras correntes da psiquiatria como por exemplo Jung e felizmente, para mim, Foucault. Meus 'professores de psiquiatria' nos ensinavam em sala de aula que os gays 'só conseguiram ter a homossexualidade removida do DSM-III porque os ' veados norte-americanos fizeram muito escândalo' e que por isso, e só por isso, ela teria sido removida. Mas que 'a corrente psicanalítica de Buenos Aires seguia fiel ás diretrizes freudianas' considerando a homossexualidade uma doença e blá-bla'-blá (Toda aquela baboseira patológica que você deve ter ouvido falar também). Não tenho como expressar aqui, o mal-estar com que esses 'professores'. causaram a mim e a tantos outros(as) colegas gays e lésbicas no armário durante o início dos anos 80. Ainda mais durante os primeiros anos da epidemia da AIDS com que tantos amigos nos tomou. De uma forma ou de outra, embora eu mantenha uma certa dose de ceticismo com relação a essa conveniente mudança de postura com que a maioria dos freudianos parecem ter adotado no seu discurso, eu tenho uma memória muito nítida do que aconteceu. Por favor, e por fim, isso não é pessoal e nem pode ser pois apreciei sua aula mas eu realmente não esqueci o que foi dito a mim em sala de aula e nem tampouco os títulos dos livros. Então, só para recordar pois recordar é viver.
Oi Paulo, o seu comentário é super pertinente e queria te agradecer por ele. Realmente era assim mesmo que a psicanálise era ensinada nos anos 70 e 80 e você também tem razão quando fala das publicações psicanalíticas dessa época. Freud falou de fixações, cristalizações e impossibilidade de identificação ao pai mas, ao mesmo tempo, escreveu os "Três ensaios", texto que comento nessa aula e que, para mim, é o melhor texto científico a respeito da homossexualidade. Felizmente, está acontecendo uma mudança no meio psicanalítico. Embora ainda haja alguns que insistem em repetir as concepções questionáveis de Freud (e outros), há cada vez mais e mais psicanalistas atentos a outras concepções freudianas que podem levar a uma positivação bastante desejada da homossexualidade. De mais ou menos cinco anos pra cá, é impressionante o quanto o tema tem sido debatido, bem como a quantidade de psicanalistas que andam repensando suas concepções. Espero que isso vá dando cada vez mais frutos para nós. De resto, queria dizer que fiquei muito interessado em saber mais sobre a sua história. Faço uma pesquisa na Unirio de escuta da história de vida de sujeitos homossexuais e gostaria de te convidar para participar. Se desejar, me manda um email (ricosalz@gmail.com) que eu te respondo com o número do seu celular e te passo mais informações. Grande abraço!
Aula maravilhosa
que bom que gostou doris!
E Viva Freud 👏👏👏👏👏👏👏
Oi Márcia, que bom que curtiu. Seu comentário resume bem o vídeo
Interessante e muito boa, a sua aula; entretanto não possa me furtar de mencionar que o que me foi ensinado nas minha aulas de psiquiatria por meus professores, ditos 'psicanalistas freudianos' era a noção de que nós, homens gays teríamos uma ''fixação'' ou uma espécie de 'cristalização' em um estágio menor de maturidade do dito 'desenvolvimento sexual normal' e que 'falhamos em nos identificar com o genitor na triangulação do Édipo' e blá-blá-blá...
Além disso, muitos livros de psicanalistas ditos freudianos daquela época eram pautadas por títulos como 'além da perversão sexual', ou 'além do desvio sexual'. Para citar uns poucos títulos embora eu não vá citar o nome completo dos livros pois eu estaria citando, por consequência, o nome de quem os escreveu. Mas creio que quem quer que leia ou tenha lido livros de terapia nos anos 80/90 deverá saber a quais autores estou me referindo.
Hoje em dia, não creio que se encontre mais em circulação pois não são bobos.
Lembro também que o 'monopólio' com o qual tratavam as questões de sexualidade e gênero (tenho 64 anos e passei pela faculdade de medicina durante o final da ditadura militar, no Brasil ,e durante os primeiros anos de epidemia da AIDS), falando como se fossem os donos da verdade última, em contraste com outras correntes da psiquiatria como por exemplo Jung e felizmente, para mim, Foucault.
Meus 'professores de psiquiatria' nos ensinavam em sala de aula que os gays 'só conseguiram ter a homossexualidade removida do DSM-III porque os ' veados norte-americanos fizeram muito escândalo' e que por isso, e só por isso, ela teria sido removida. Mas que 'a corrente psicanalítica de Buenos Aires seguia fiel ás diretrizes freudianas' considerando a homossexualidade uma doença e blá-bla'-blá (Toda aquela baboseira patológica que você deve ter ouvido falar também).
Não tenho como expressar aqui, o mal-estar com que esses 'professores'. causaram a mim e a tantos outros(as) colegas gays e lésbicas no armário durante o início dos anos 80. Ainda mais durante os primeiros anos da epidemia da AIDS com que tantos amigos nos tomou.
De uma forma ou de outra, embora eu mantenha uma certa dose de ceticismo com relação a essa conveniente mudança de postura com que a maioria dos freudianos parecem ter adotado no seu discurso, eu tenho uma memória muito nítida do que aconteceu.
Por favor, e por fim, isso não é pessoal e nem pode ser pois apreciei sua aula mas eu realmente não esqueci o que foi dito a mim em sala de aula e nem tampouco os títulos dos livros. Então, só para recordar pois recordar é viver.
Oi Paulo, o seu comentário é super pertinente e queria te agradecer por ele. Realmente era assim mesmo que a psicanálise era ensinada nos anos 70 e 80 e você também tem razão quando fala das publicações psicanalíticas dessa época. Freud falou de fixações, cristalizações e impossibilidade de identificação ao pai mas, ao mesmo tempo, escreveu os "Três ensaios", texto que comento nessa aula e que, para mim, é o melhor texto científico a respeito da homossexualidade. Felizmente, está acontecendo uma mudança no meio psicanalítico. Embora ainda haja alguns que insistem em repetir as concepções questionáveis de Freud (e outros), há cada vez mais e mais psicanalistas atentos a outras concepções freudianas que podem levar a uma positivação bastante desejada da homossexualidade. De mais ou menos cinco anos pra cá, é impressionante o quanto o tema tem sido debatido, bem como a quantidade de psicanalistas que andam repensando suas concepções. Espero que isso vá dando cada vez mais frutos para nós. De resto, queria dizer que fiquei muito interessado em saber mais sobre a sua história. Faço uma pesquisa na Unirio de escuta da história de vida de sujeitos homossexuais e gostaria de te convidar para participar. Se desejar, me manda um email (ricosalz@gmail.com) que eu te respondo com o número do seu celular e te passo mais informações. Grande abraço!
Freud era realmente um pensador genial, muito a frente do seu tempo.
Sim, Marcus. Ele é meu grande ídolo