Como é que Nagarjuna poderia estar preocupado em estabelecer "tatva" e ao mesmo tempo refutar qualquer posição metafísica? Não vejo como isso pode ser coerente. Essa perspectiva parece partir de uma comprensão do pensamento ortodoxo budista que reduz o Dharma à uma teoria clínica, como se o "sofrimento" do qual o Buda falou fosse apenas uma condição mental momentânea que poderia ser aliviada ou curada com esse remédio, entretanto, uma vez que Dukha se diz tanto das condições desfavoráveis e de infortúnio da existência, como das condições favoráveis e de alegria, a perspectiva budista só pode está partindo de um ponto de vista metafísico. A leitura que eu faço das Duas Verdades de Nagarjuna é que ela é a tentativa de demonstrar a simultaneidade e igualdade fundamental desses dois níveis, que poderíamos chamar também de Samsara e Nirvana. A verdade convencional relaciona-se com a ordem das coisas no nível da existência cíclica, e a verdade absoluta relaciona-se com a ordem das coisas no nível de Nirvana. Todas as coisas existentes no nível das convenções são verdadeiras e legítimas, mas como a existência dessas coisas é dependente de diversos fatores, elas são a própria realidade fundamental (shunya). Dessa forma, a Vacuidade deve ser a realidade metafísica que sustenta a existência do mundo convencional, e mais do que isso, shunya é a natureza essencial de cada coisa. Essa natureza essencial, entretanto, não é uma natureza "própria" (em que cada dharma tem sua identidade distinta das outras), mas sim uma natureza "geral"(tatva), de forma que todas as identidades são uma única identidade. Dessa forma, não há difrença essencial entre Nirvana e Samsara. Uma diferença reside apenas no nível do "conhecimento", ou seja, no nível das "relações", de forma que a realização de Nirvana é uma questão principalmente de ordem, digamos, "ética".
Brilhante sua explicação. Muito lucida.
Moro em Portugal, é possível conseguir esses livros em formato físico ou digital?
Eles estão disponíveis na Amazon
Como é que Nagarjuna poderia estar preocupado em estabelecer "tatva" e ao mesmo tempo refutar qualquer posição metafísica? Não vejo como isso pode ser coerente.
Essa perspectiva parece partir de uma comprensão do pensamento ortodoxo budista que reduz o Dharma à uma teoria clínica, como se o "sofrimento" do qual o Buda falou fosse apenas uma condição mental momentânea que poderia ser aliviada ou curada com esse remédio, entretanto, uma vez que Dukha se diz tanto das condições desfavoráveis e de infortúnio da existência, como das condições favoráveis e de alegria, a perspectiva budista só pode está partindo de um ponto de vista metafísico.
A leitura que eu faço das Duas Verdades de Nagarjuna é que ela é a tentativa de demonstrar a simultaneidade e igualdade fundamental desses dois níveis, que poderíamos chamar também de Samsara e Nirvana. A verdade convencional relaciona-se com a ordem das coisas no nível da existência cíclica, e a verdade absoluta relaciona-se com a ordem das coisas no nível de Nirvana.
Todas as coisas existentes no nível das convenções são verdadeiras e legítimas, mas como a existência dessas coisas é dependente de diversos fatores, elas são a própria realidade fundamental (shunya). Dessa forma, a Vacuidade deve ser a realidade metafísica que sustenta a existência do mundo convencional, e mais do que isso, shunya é a natureza essencial de cada coisa.
Essa natureza essencial, entretanto, não é uma natureza "própria" (em que cada dharma tem sua identidade distinta das outras), mas sim uma natureza "geral"(tatva), de forma que todas as identidades são uma única identidade. Dessa forma, não há difrença essencial entre Nirvana e Samsara. Uma diferença reside apenas no nível do "conhecimento", ou seja, no nível das "relações", de forma que a realização de Nirvana é uma questão principalmente de ordem, digamos, "ética".