Nunca vi em nossa cultura algo tão grandioso. Merecia uma mine série em rede nacional. Qual o nordestino q ouve este conteúdo tão belíssimo e não se emociona. Quanto orgulho tive de nossa terra ao ouvir este poema.
Realmente esse é um clássico da nossa verdadeira cultura nordestina,em forma de poesia... Retirada,fez parte da vida de muitas fazendas desse nosso nordeste. É um momento de grande tensão e demonstração de força e fé na vida.... Abraço forte da Paraíba.
Não sei fazer um verso, mas peço aos que faz, que não deixem para trás os leigos no assunto, mas se falar fico junto, dos poetas da natureza falando de qualquer assunto, e deles, se faz belezas.
Parte 2 Passando em Ana Menezes A Aurora Já vinha raiando Com João Bahiano na frente Aboiando todo animado E pai no coice do gado Tangia os bichos chorando Eu perguntei a Felipe Por que é que vão chorando Ele disse disfarçando É Silon que vai com gripe Mas olhei pro Araripe Estava da cor de uma tocha O tempo arrochando a broxa Até quando destruiu Felipe, Chico Bibiu e Juvenal josé da Rocha Chegando em Pedro 2° A porteira estava aberta A fazenda deserta Num sentimento profundo Lá encontramos Raimundo Que dar água ao gado vinha Disse que água tinha Mais pra pasto estava sério Acompanhado de Antério E da poetiza Zuzinha Passando pelo açude Atravessamos o baldo Da casa de seu Nivaldo Tomei água o quanto pude Tomamos nova atitude Para o povoado de amparo Pai pagou um café caro Sem doce sem pó e puro Chagamos no poço escuro O dia ainda estava claro Com seu Neném Simoes Pai arrumou cercado Para trancarmos o gado Que era um velho desses bons Dormidas e refeições nos deram De larga escala Felipe tirou da mala Muita carne de carneiro Ficamos sentindo o cheiro Armando as redes na sala Nos convidaram para a janta Tinha uma menina moça Que estava espalhando a louça Bonita parecia uma santa Sua beleza era tanta Que fiquei logo acanhado Depois de ter me sentado Por minha grande moleza Ela se encostou na mesa Ficou ali do meu lado Eu tinha no guarda peito Um D e um B gravado De camurça desenhado Que minha mãe tinha feito Ela disse desse jeito Isso é que é ter gabarito Eu quero esse nome escrito Para eu mostrar a minhas primas Que esse D quer dizer Dimas Mas o B é de bonito Só se ouvia a gargalhada De todos que ali jantavam Vendo que a miúda Estava do menino apaixonada Eu não jantei quase nada Como quem tinha almoçado Ela disse do meu lado Ele tem medo do pai A gente chega ele saí Não namora é acanhado Eu saí para uma janela Que tinha na outra sala E já escutei sua fala Que vinha com uma gamela E um pouco d’agua nela Disse Dimas tu es desses Meninos fies não merece ter mal tratos Mandou tirar os sapatos Queria lavar meus pés Para não lhe causar agravo Nem ser mal-educado Eu disse muito obrigado Pode deixar que eu lavo Mas ela pegou um cravo E disse, tome meu bem Aqui nesse cravo tem Cheiro desse humilde abrigo Se eu não me casar contigo Não caso mais com ninguém EU também jurei calado Lhe entregar minha mão Porque o meu coração ela Já tinha levado Passei a noite acordado Quando foi no outro dia Pensei que a gente saia Sem ela se acordar Mas ela quem foi olhar Se a gente ainda dormia Pai ficou admirado Vendo aquele amor Tao puro Parece que o poço escuro Era meu reino encantado Começou soltando o gado Tangendo devagarinho Eu olhando para o caminho Com meu semblante tristonho Vendo a deusa do meu sonho Ficar e eu ir sozinho Miúda lá da janela Acenava com a mão Ficou, mas meu coração seguiu conduzindo ela Eu atravessado na sela e Sempre olhando para trás Entrei pelos matagais Eu até hoje procuro A deusa do poço escuro Não pude ver nunca mais Chegamos num varejão Modesta fazenda antiga Um casal de gente amiga Morava no casarão Lá nos venderam um oitão De palha toda perdida A fome era desmedida E chegou numa hora exata Foi a coisa mais barata Que meu pai comprou nessa vida Era quadro de palha Que havia se perdido Depois que tinha crescido Todo nascido sem falha O gado como uma navalha Entrou torando no meio Era um quebradeiro feio Uns pisando outros comendo E mais tarde remoendo Tudo de bucho cheio Um queijo muito bonito Pai tirou do alforge Que ele comprou a Zé Borges Da fazenda do cachí De uma carne de um cabrito Mandou fazer refeição Todos comeram feijão Eu só chupei melancia Só porque não conhecia o frio do varejão Quando foi de madrugada Dissolveu a melancia Me apertava e saia Com a pele arrepiada A minha rede gelada Eu forrei com uma lona O gibão e a corona Mas o frio era voraz Que quando o gelo e demais Cobertor não funciona Ao despertar das galinhas Saímos tomando chuva Fomos dormi na viúva Da fazenda das pombinhas Dessas viúvas mesquinhas Que quis até nos negar O curral pra trancar onde O gado dorme preso E nesse triste desprezo Fomos dormi sem jantar Tanger foi muito custoso Vaca novilha e garrote Comendo capim melota E capim mimoso O pasto estava gostoso Mas como o campo era aberto Nós resolvemos o problema E a fazenda seriema dali Era muito perto Por sinal ninguém parou No riacho do deserto Como a fazenda era perto Depressa agente chegou O gado ninguém trancou No pátio estava se vendo Uns deitado outros comendo Todos de barriga cheia Estirados na areia descansando e remoendo num juazeiro sombrio Fizemos um logradouro Onde havia um bebedouro Num poço grande do rio De frente tinha um baixio Ao lado um pé de chorão Onde a noite o carao vinha Cantar seu hino Para o poeta menino Chorar de emoção Eu fui um filho mimado Dos que a mãe não sai de perto Para não dormi descoberto Nem pegar resfriado Estava ali afastado da minha mãe querida Eu estranhava a dormida Não tinha gosto o feijão Parece até que o carão zombava da minha vida 60 dias lutando na luta do sertanejo Fazendo manteiga e queijo Todo dia campeando Os bezerros vacinando contra o mal do quarto inchado Dava-se de sal refinado pra cada reis uma dose Para defender da aftose Pra triste raiva não da Outubro já terminado Novembro já terminando Disse pai um dia jantando Vamos trancarmos o gado Aproveitar o roçado demorar não adianta
Parte 3 Felipe encheu a garganta Disse com a língua perra Nós vamos tratar de terra E se chover a gente planta Campeamos da salina recanto Várzea encantada até sai na estrada que sai de patos a campina Não encontramos ruinas O gado todo carnudo Bezerro que foi sanbudo Estava parecendo um touro Tangemos pelo logradouro Findamos trancando tudo Faltou o touro budóia Ninguém achou nesse dia Estava na vacaria da fazenda De eloia Como do gado era a joia Eu vi Felipe dizendo Só se via aparecendo Devia ser campeado Mas ele amanheceu Deitado na porteira remoendo A final chegou o dia Do nosso grande regresso Por sinal nem confesso O tamanho da alegria Toalha, prato, bacia Nós fomos logo juntando Felipe ia arrumando Na porta entre as duas salas E o que não coube na mala Nós fomos logo deixando Cruzamos várias salinas Pisamos no barro duro Para chegar no poço escuro Tomamos várias neblinas Perguntou pelas meninas Silón me dando uma ajuda Disse a velha carrancuda Elas foram pra Sumé Ai eu perdi a fé De nunca mais ver miúda Dali pra frente o cavalo Não sabia mais andar Eu saí sem suportar a viagem e o abalo Parece ter um calo machucando meu acento O caminho ferrenho mostrava dificuldade Mas não era Era a saudade mordendo meu pensamento Lá em seu Mane Soares Pai entrou parou um pouco Tomamos água de coco No sítio de buenos aires E os seus familiares nos convidaram para a ceia Nesta hora a lua cheia iluminava a paisagem Iluminando a viagem De quem vem da terra alheia Com seu vestido amarelo Vinha a lua vagarosa Parecia moça idosa Quando sai do seu castelo Mostrando seu rosto belo Para o mundo universal O sopro do vendaval soprava entre os gravetos Que parecia sonetos de um ser sobrenatural No rangido da cancela E o trupe dos animais Um candeeiro de gás Apareceu na janela Abracei mamãe bela Me consolou dessa vez Disse, chico de dendês, Aluízio e Leopoldino , Luiz de João laurentino perguntaram por vocês Mae trouxe para a mesa Feijão puro com maxixe Quem for rico capriche Pra não cair na pobreza Mas pai fez uma surpresa E matou nosso desejo com Farofa manteiga e queijo Trazia no meio da carga Tornou se uma ceia larga Na casa do sertanejo Eu jantei e fui me deitar Estava muito enfadado Por que tinha viajado 30 léguas sem parar Começou a se formar E cheirando a terra molhada Desde a serra talhada Até a serra do Teixeira E em cima da cordilheira Bradou o pai da coalhada Era o trovão comandando Despejando o nevoeiro Água fazendo faceiro Torando cerca e levando Açude enchendo e sangrando Subindo peixe no rio A cheia no desafio Naquele lugar mais baixo Não cabia no riacho Sobrava pelo baixio Deixando dunas de areia Pelo meio do roçado Que quem passasse calçado Cobria sapato e meia No remanso dessa cheia Água em nível se delata Deixando um cisco na nata Na altura da enchente Num Pereirão onde a marcamos O nível da água O dia vinha amanhecendo E já tinha gente cavando Batendo em lata e plantando O sertão estremecendo Os meninos correndo atras De peixe e pegando A saparada cantando na sangria da lagoa Achando a chuva tão boa Que boca estava escumando Seu Inácio mariano Comprando algodão na folha Que comprava sem escolha Que grande pernambucano Em qualquer dia do ano Ele estava no balcão Quem tivesse precisão Bastava dizer o nome Que ele ia matando a fome Do povo do meu sertão No outro dia depois Pai já vendeu algodão Fez feira, milho e feijão Café açúcar e arroz Para fazer baião de 2 Misturado na panela A qual ninguém gostava Mas pra quem está com fome Não quer saber o nome Doutra coisa melhor cabidela A queima do girau Para o roçado de Viana Já se via Gitirana Querendo subir em pau No tanque de Venceslau Sangrava todo lajedo Quando o caçador Bem cedo chegava Com a espingarda Para matar de retaguarda Algum lambu de arremeio Vamos falar sobre o gado Que escutando o trovão Para as bandas do caldeirão Ficou arrebanhado Arrombou logo o carcado Beirando a cerca seguiu Pedro Simoes ainda viu passando Um gado zebu com índio pajeú disse Isso é de chico bibiu Budoia gordo e valente Cancela não sei a conta Que ele passava a ponta E deixava o pau na frente Só parecia um tenente Pelo comando do gado A tempo estava afastado Da sua velha fazenda E já tinha ali de encomenda Comprando briga fiado Budoia tinha uma intriga Com o touro velho lavrado Que em casa tinha ficado Tinha por certo essa briga Mas a precisão obriga E pai teve precisão Pra não vender o algodão Vendeu ele a João Antônio Esse touro era o demônio Brigava igual lampião Com o dinheiro do touro Fez uma feira aguçada Chamou a rapaziada Pra um adjunto estouro Pra limpar por desaforo Num dia so seu terreno Ele é quem fez o aceno Para começar o debate Mas deu empate Leopoldino e Zé pequeno Jose de Abdias dava uma mão a Leopoldino Também Antônio Bernadino a Zé pequeno ajudava Assim eu via passava O povo todo contente Que inverno numa nascente Uma torre amarela formava E o relâmpago clareava Pra quem vinha na frente Não faltou nenhuma reis De Felipe nem de pai Porque quando o gado sai Seguem todos de uma vez Foi chovendo todo o mês Até que chegou 40 A terra ficou cinzenta O tabuleiro alagado Morrendo gado afogado Que o Norte é 8 ou 80 Tem coisa nessa vida Que se vê quando criança Fica na nossa lembrança Para nunca ser esquecido E pintado e colorido na nossa imaginação Pra servir de sentimento, saudade e recordação.
Retirado de video antigo do youtube , Paulo Barba e desse video. Parte 1 A retirada ( Dimas Bibiu) Eu vou contar pra vocês Não sei se a História agrada Falar de uma retirada A última que meu pai fez No dia 15 de agosto de 39 Só em falar me comove Em lhes narrar essa cena Que causa mágoa e pena Quando no meu sertão não chove Janeiro inteiro passou A bem dizer não choveu Porque a chuva que deu Bem pouco a terra molhou O povo ainda plantou Mas logo veio o verão E o milho na sequidão murchou E secou a palha E o sol como uma fornalha Ardia queimando o chão Muitos urubus voavam Por cima do alto monte Depois vinham para a fonte Bebiam agua e voltavam Aqui, ali encontravam Algo para seu conforto Num galho de angico torto Cantava triste a acauã Com quem diz Amanha teremos mais gado morto Não choveu e a sudama Que havia no sertão Secou que abriu rachão Na superfície da lama Nem folha verde nem lama Havia nos arius Só se via entre os paús Da margem seca do rio Procurando um lugar frio Muitos magros cururus Pobre da cigarra aflita Com fome e sede no morro Grita pedindo socorro Mas ninguém acredita Acham que a cigarra apita Por achar bom o verão Mas não, é seu pulmão Com a crise assoladora Ela grita até que estoura E cai sem vida no chão Quem olhasse pra colina Tremia o sol na miragem Esturricando a folhagem Da paisagem nordestina Um véu de poeira fina Subindo na ventania O gado magro caía Anêmico de inanição E o pobre com um matulão Pra bandas do sul descia Quem olhasse do oitão dizia Que mundo ingrato Vendo o retrato do prato No fundo do matulão Gostei da inspiração Do grande mané filó Que também pisou no pó Da poeira da estrada Que na nossa época passada A seca fazia dó Acabousse os cereais Não havia mais legumes Porque a seca resume Os pequenos capitais So se lia nos jornais Ceara foi atacado Pernambuco meu estado Em calamidade publica E o chefe da republica Se conservava calado Ninguém tem uma saída Para vencer a estiagem E a fila pela rodagem torna a vida mais sofrida Mocinha quase despida com seu pai envergonhado atravessava acanhado a rua de vista baixa Como quem caça e não acha O tempo bom do passado Decotava-se umbuzeiro Canafístula e oiticica Mororo um só não fica Feijão brabo e juazeiro Só se via o fumaceiro Lá pras banda do serrado Macambira e alastrados Mandacarus e facheiros Tocavam fogo os vaqueiros Pra ver se escapava o gado Até mesmo a prefeitura Sua verba foi cortada Completou sem faltar nada Esse quadro de amargura Com todo mundo a procura De trabalhar alugado Mas ficou tudo parado Parou o motor de agave E a seca empurrou a trave deixando o sertão travado Pai vendo o drama inteiro Com nervos à flor da pele E o vendo fazendo L Nos galhos do juazeiro Rogou a Deus verdadeiro Com fé amor e respeito Para que ele mostrasse um jeito De pai não perder de todo o gado E por deus abençoado O pedido foi aceito Chegou Cicero cajazeiras E disse chico se abrande Venho de campina grande Atravessei várias ribeiras E passando em cabaceiras Quando fui a Joao pessoa Eu vi mais de uma lagoa Sangrando para rodagem Vai ser grande a pastagem Que a babugem nasceu boa Pai ficou silencioso Eu vi a lagrima descendo Mas ele enxugou logo dizendo Deus é um pai poderoso Cicero vendo, ele nervoso Parou de vez a conversa Mas disse com pressa Antonha faz um café Que essa notícia é hoje O que mais me interessa Logo, o velho Juvenal Foi sabedor da notícia Mandou chamar a polícia Para saber tudo legal Tinha no seu ideal Fazer de madrugada Pediu uma retirada Da fazenda Seriema Por que para ele O problema era o gado Mais nada Foi feito naquele instante Um acordo entre os 3 Para só ir dessa vez Chico Bibiu e brilhante Que era gordo possante O qual valia um tesouro E na fazenda de Louro Deu prova de porte fino E nas rédeas de birino Ganhou medalhas de ouro Deu banho deu milho Arriou, pois cela, corona, freio Desamarrou do esteio E na guardapa amarrou Pisou no estribo montou E dando rédeas saiu O velho chico bibiu Ia firmado na sela Eu olhando da janela Até que se encobri-o Nessa manhã domingueira A casa ficou tristonha Com eu mãe e tonha Fazendo a luta caseira Quando foi na quarta feira Pai chegou muito enfadado Disse: comprei um roçado Por ordem do soberano Daqui para o fim do ano Não morre de fome o gado Contou nessa ocasião Uma história muto franca Que passando em serra branca Havia uma plantação Causou lhe admiração Saiu emocionado Em um cardão de rudado De seu Vicente Matias Que recitava poesias Bebendo e puxando o gado Felipe foi avisar ao velho Juvenal Que o gado no curral devia ficar trancado e o que faltasse procurado por causa da estiagem dá pra criar coragem caroço e palma ainda tinham e no sábado de manhazinha tinha que fazer viagem mãe arrumou os temperos açúcar, café e sal agulha, linha, tinta, pincel e tinteiro pavio de candeeiro, espiga da palha lisa cueca, calça, camisa quase que a mala não cabe que a dona da casa sabe tudo que a gente precisa Foi uma saída amarga O povo se despedindo só Silon ai sorrindo alegre no meio da carga naquela pisada larga o gado se encaminhou logo o sofrer começou do pequenino Silon E por certo ele achou bom Que foi sorrindo e voltou 220 reses que lá de casa saíram Para não errar a quantia Foi contado 2 vezes
Parte 3 Felipe encheu a garganta Disse com a língua perra Nós vamos tratar de terra E se chover a gente planta Campeamos da salina recanto Várzea encantada até sai na estrada que sai de patos a campina Não encontramos ruinas O gado todo carnudo Bezerro que foi sanbudo Estava parecendo um touro Tangemos pelo logradouro Findamos trancando tudo Faltou o touro budóia Ninguém achou nesse dia Estava na vacaria da fazenda De eloia Como do gado era a joia Eu vi Felipe dizendo Só se via aparecendo Devia ser campeado Mas ele amanheceu Deitado na porteira remoendo A final chegou o dia Do nosso grande regresso Por sinal nem confesso O tamanho da alegria Toalha, prato, bacia Nós fomos logo juntando Felipe ia arrumando Na porta entre as duas salas E o que não coube na mala Nós fomos logo deixando Cruzamos várias salinas Pisamos no barro duro Para chegar no poço escuro Tomamos várias neblinas Perguntou pelas meninas Silón me dando uma ajuda Disse a velha carrancuda Elas foram pra Sumé Ai eu perdi a fé De nunca mais ver miúda Dali pra frente o cavalo Não sabia mais andar Eu saí sem suportar a viagem e o abalo Parece ter um calo machucando meu acento O caminho ferrenho mostrava dificuldade Mas não era Era a saudade mordendo meu pensamento Lá em seu Mane Soares Pai entrou parou um pouco Tomamos água de coco No sítio de buenos aires E os seus familiares nos convidaram para a ceia Nesta hora a lua cheia iluminava a paisagem Iluminando a viagem De quem vem da terra alheia Com seu vestido amarelo Vinha a lua vagarosa Parecia moça idosa Quando sai do seu castelo Mostrando seu rosto belo Para o mundo universal O sopro do vendaval soprava entre os gravetos Que parecia sonetos de um ser sobrenatural No rangido da cancela E o trupe dos animais Um candeeiro de gás Apareceu na janela Abracei mamãe bela Me consolou dessa vez Disse, chico de dendês, Aluízio e Leopoldino , Luiz de João laurentino perguntaram por vocês Mae trouxe para a mesa Feijão puro com maxixe Quem for rico capriche Pra não cair na pobreza Mas pai fez uma surpresa E matou nosso desejo com Farofa manteiga e queijo Trazia no meio da carga Tornou se uma ceia larga Na casa do sertanejo Eu jantei e fui me deitar Estava muito enfadado Por que tinha viajado 30 léguas sem parar Começou a se formar E cheirando a terra molhada Desde a serra talhada Até a serra do Teixeira E em cima da cordilheira Bradou o pai da coalhada Era o trovão comandando Despejando o nevoeiro Água fazendo faceiro Torando cerca e levando Açude enchendo e sangrando Subindo peixe no rio A cheia no desafio Naquele lugar mais baixo Não cabia no riacho Sobrava pelo baixio Deixando dunas de areia Pelo meio do roçado Que quem passasse calçado Cobria sapato e meia No remanso dessa cheia Água em nível se delata Deixando um cisco na nata Na altura da enchente Num Pereirão onde a marcamos O nível da água O dia vinha amanhecendo E já tinha gente cavando Batendo em lata e plantando O sertão estremecendo Os meninos correndo atras De peixe e pegando A saparada cantando na sangria da lagoa Achando a chuva tão boa Que boca estava escumando Seu Inácio mariano Comprando algodão na folha Que comprava sem escolha Que grande pernambucano Em qualquer dia do ano Ele estava no balcão Quem tivesse precisão Bastava dizer o nome Que ele ia matando a fome Do povo do meu sertão No outro dia depois Pai já vendeu algodão Fez feira, milho e feijão Café açúcar e arroz Para fazer baião de 2 Misturado na panela A qual ninguém gostava Mas pra quem está com fome Não quer saber o nome Doutra coisa melhor cabidela A queima do girau Para o roçado de Viana Já se via Gitirana Querendo subir em pau No tanque de Venceslau Sangrava todo lajedo Quando o caçador Bem cedo chegava Com a espingarda Para matar de retaguarda Algum lambu de arremeio Vamos falar sobre o gado Que escutando o trovão Para as bandas do caldeirão Ficou arrebanhado Arrombou logo o carcado Beirando a cerca seguiu Pedro Simoes ainda viu passando Um gado zebu com índio pajeú disse Isso é de chico bibiu Budoia gordo e valente Cancela não sei a conta Que ele passava a ponta E deixava o pau na frente Só parecia um tenente Pelo comando do gado A tempo estava afastado Da sua velha fazenda E já tinha ali de encomenda Comprando briga fiado Budoia tinha uma intriga Com o touro velho lavrado Que em casa tinha ficado Tinha por certo essa briga Mas a precisão obriga E pai teve precisão Pra não vender o algodão Vendeu ele a João Antônio Esse touro era o demônio Brigava igual lampião Com o dinheiro do touro Fez uma feira aguçada Chamou a rapaziada Pra um adjunto estouro Pra limpar por desaforo Num dia so seu terreno Ele é quem fez o aceno Para começar o debate Mas deu empate Leopoldino e Zé pequeno Jose de Abdias dava uma mão a Leopoldino Também Antônio Bernadino a Zé pequeno ajudava Assim eu via passava O povo todo contente Que inverno numa nascente Uma torre amarela formava E o relâmpago clareava Pra quem vinha na frente Não faltou nenhuma reis De Felipe nem de pai Porque quando o gado sai Seguem todos de uma vez Foi chovendo todo o mês Até que chegou 40 A terra ficou cinzenta O tabuleiro alagado Morrendo gado afogado Que o Norte é 8 ou 80 Tem coisa nessa vida Que se vê quando criança Fica na nossa lembrança Para nunca ser esquecido E pintado e colorido na nossa imaginação Pra servir de sentimento, saudade e recordação.
Bonito demais esta poesia.
Você é doido moço. É pra chorar de se acabar. A seca é um espelho para a gente relembrar situações já vividas. Parabéns poeta.
Este poema é uma saga brilhantemente narrada por Dimas Bibiu. Parabéns Felisardo Moura pela grande interpretação...
Nunca vi em nossa cultura algo tão grandioso. Merecia uma mine série em rede nacional. Qual o nordestino q ouve este conteúdo tão belíssimo e não se emociona. Quanto orgulho tive de nossa terra ao ouvir este poema.
Meu Deus que coisa linda
Realmente esse é um clássico da nossa verdadeira cultura nordestina,em forma de poesia...
Retirada,fez parte da vida de muitas fazendas desse nosso nordeste. É um momento de grande tensão e demonstração de força e fé na vida....
Abraço forte da Paraíba.
Versos exuberantes. Declamação estupenda.
Meu Nordeste é cultura e beleza.
Que coisa linda que Deus ilumine
Isso dar um filme muito bom
Show de poesia
Aí diga que é poesia.
Não sei fazer um verso, mas peço aos que faz, que não deixem para trás os leigos no assunto, mas se falar fico junto, dos poetas da natureza falando de qualquer assunto, e deles, se faz belezas.
Da saudade da minha terra Sta Maria da Boa Vista Pernambuco
Se tiver me manda por favor, caso n encontre vou escrever a partir desse vídeo 😊
coloquei nos comentarios , esta em 3 partes
Alguém sabe onde encontro escrita?
eu tenho!
coloquei nos comentarios , esta em 3 partes
Parte 2
Passando em Ana Menezes
A Aurora Já vinha raiando
Com João Bahiano na frente
Aboiando todo animado
E pai no coice do gado
Tangia os bichos chorando
Eu perguntei a Felipe
Por que é que vão chorando
Ele disse disfarçando
É Silon que vai com gripe
Mas olhei pro Araripe
Estava da cor de uma tocha
O tempo arrochando a broxa
Até quando destruiu
Felipe, Chico Bibiu e Juvenal josé da Rocha
Chegando em Pedro 2°
A porteira estava aberta
A fazenda deserta
Num sentimento profundo
Lá encontramos Raimundo
Que dar água ao gado vinha
Disse que água tinha
Mais pra pasto estava sério
Acompanhado de Antério
E da poetiza Zuzinha
Passando pelo açude
Atravessamos o baldo
Da casa de seu Nivaldo
Tomei água o quanto pude
Tomamos nova atitude
Para o povoado de amparo
Pai pagou um café caro
Sem doce sem pó e puro
Chagamos no poço escuro
O dia ainda estava claro
Com seu Neném Simoes
Pai arrumou cercado
Para trancarmos o gado
Que era um velho desses bons
Dormidas e refeições nos deram
De larga escala
Felipe tirou da mala
Muita carne de carneiro
Ficamos sentindo o cheiro
Armando as redes na sala
Nos convidaram para a janta
Tinha uma menina moça
Que estava espalhando a louça
Bonita parecia uma santa
Sua beleza era tanta
Que fiquei logo acanhado
Depois de ter me sentado
Por minha grande moleza
Ela se encostou na mesa
Ficou ali do meu lado
Eu tinha no guarda peito
Um D e um B gravado
De camurça desenhado
Que minha mãe tinha feito
Ela disse desse jeito
Isso é que é ter gabarito
Eu quero esse nome escrito
Para eu mostrar a minhas primas
Que esse D quer dizer Dimas
Mas o B é de bonito
Só se ouvia a gargalhada
De todos que ali jantavam
Vendo que a miúda
Estava do menino apaixonada
Eu não jantei quase nada
Como quem tinha almoçado
Ela disse do meu lado
Ele tem medo do pai
A gente chega ele saí
Não namora é acanhado
Eu saí para uma janela
Que tinha na outra sala
E já escutei sua fala
Que vinha com uma gamela
E um pouco d’agua nela
Disse Dimas tu es desses
Meninos fies não merece ter mal tratos
Mandou tirar os sapatos
Queria lavar meus pés
Para não lhe causar agravo
Nem ser mal-educado
Eu disse muito obrigado
Pode deixar que eu lavo
Mas ela pegou um cravo
E disse, tome meu bem
Aqui nesse cravo tem
Cheiro desse humilde abrigo
Se eu não me casar contigo
Não caso mais com ninguém
EU também jurei calado
Lhe entregar minha mão
Porque o meu coração ela
Já tinha levado
Passei a noite acordado
Quando foi no outro dia
Pensei que a gente saia
Sem ela se acordar
Mas ela quem foi olhar
Se a gente ainda dormia
Pai ficou admirado
Vendo aquele amor Tao puro
Parece que o poço escuro
Era meu reino encantado
Começou soltando o gado
Tangendo devagarinho
Eu olhando para o caminho
Com meu semblante tristonho
Vendo a deusa do meu sonho
Ficar e eu ir sozinho
Miúda lá da janela
Acenava com a mão
Ficou, mas meu coração
seguiu conduzindo ela
Eu atravessado na sela e
Sempre olhando para trás
Entrei pelos matagais
Eu até hoje procuro
A deusa do poço escuro
Não pude ver nunca mais
Chegamos num varejão
Modesta fazenda antiga
Um casal de gente amiga
Morava no casarão
Lá nos venderam um oitão
De palha toda perdida
A fome era desmedida
E chegou numa hora exata
Foi a coisa mais barata
Que meu pai comprou nessa vida
Era quadro de palha
Que havia se perdido
Depois que tinha crescido
Todo nascido sem falha
O gado como uma navalha
Entrou torando no meio
Era um quebradeiro feio
Uns pisando outros comendo
E mais tarde remoendo
Tudo de bucho cheio
Um queijo muito bonito
Pai tirou do alforge
Que ele comprou a Zé Borges
Da fazenda do cachí
De uma carne de um cabrito
Mandou fazer refeição
Todos comeram feijão
Eu só chupei melancia
Só porque não conhecia
o frio do varejão
Quando foi de madrugada
Dissolveu a melancia
Me apertava e saia
Com a pele arrepiada
A minha rede gelada
Eu forrei com uma lona
O gibão e a corona
Mas o frio era voraz
Que quando o gelo e demais
Cobertor não funciona
Ao despertar das galinhas
Saímos tomando chuva
Fomos dormi na viúva
Da fazenda das pombinhas
Dessas viúvas mesquinhas
Que quis até nos negar
O curral pra trancar onde
O gado dorme preso
E nesse triste desprezo
Fomos dormi sem jantar
Tanger foi muito custoso
Vaca novilha e garrote
Comendo capim melota
E capim mimoso
O pasto estava gostoso
Mas como o campo era aberto
Nós resolvemos o problema
E a fazenda seriema dali
Era muito perto
Por sinal ninguém parou
No riacho do deserto
Como a fazenda era perto
Depressa agente chegou
O gado ninguém trancou
No pátio estava se vendo
Uns deitado outros comendo
Todos de barriga cheia
Estirados na areia descansando e remoendo
num juazeiro sombrio
Fizemos um logradouro
Onde havia um bebedouro
Num poço grande do rio
De frente tinha um baixio
Ao lado um pé de chorão
Onde a noite o carao vinha
Cantar seu hino
Para o poeta menino
Chorar de emoção
Eu fui um filho mimado
Dos que a mãe não sai de perto
Para não dormi descoberto
Nem pegar resfriado
Estava ali afastado da minha mãe querida
Eu estranhava a dormida
Não tinha gosto o feijão
Parece até que o carão zombava da minha vida
60 dias lutando
na luta do sertanejo
Fazendo manteiga e queijo
Todo dia campeando
Os bezerros vacinando
contra o mal do quarto inchado
Dava-se de sal refinado
pra cada reis uma dose
Para defender da aftose
Pra triste raiva não da
Outubro já terminado
Novembro já terminando
Disse pai um dia jantando
Vamos trancarmos o gado
Aproveitar o roçado demorar não adianta
Onde eu encontro esta poesia escrita?
Olá Ricardo. Acredito que na Internet não tenha, eu já procurei. Talvez tenha só em livros.
NAO TENTE SER UM POETA, QUE ISSO COISA DIVINA, QUEM TENTA NUNCA TERMINA SENDO UM, POIS POR MUITO TENTAR NÃO CHEGA A LUGAR NENHUM.
eu vou terminar de digitar esses dias , ja tinha uma boa parte , agora vou completar , se tiver interesse é so me falar
@@elinaldolucas eu tenho interesse!
Essa poesia é a mais linda que já ouvi.
@@elinaldolucaseu quero
Alguém tem escrita?
eu!
coloquei nos comentarios , esta em 3 partes
Parte 3
Felipe encheu a garganta
Disse com a língua perra
Nós vamos tratar de terra
E se chover a gente planta
Campeamos da salina recanto
Várzea encantada até sai na estrada
que sai de patos a campina
Não encontramos ruinas
O gado todo carnudo
Bezerro que foi sanbudo
Estava parecendo um touro
Tangemos pelo logradouro
Findamos trancando tudo
Faltou o touro budóia
Ninguém achou nesse dia
Estava na vacaria da fazenda
De eloia
Como do gado era a joia
Eu vi Felipe dizendo
Só se via aparecendo
Devia ser campeado
Mas ele amanheceu
Deitado na porteira remoendo
A final chegou o dia
Do nosso grande regresso
Por sinal nem confesso
O tamanho da alegria
Toalha, prato, bacia
Nós fomos logo juntando
Felipe ia arrumando
Na porta entre as duas salas
E o que não coube na mala
Nós fomos logo deixando
Cruzamos várias salinas
Pisamos no barro duro
Para chegar no poço escuro
Tomamos várias neblinas
Perguntou pelas meninas
Silón me dando uma ajuda
Disse a velha carrancuda
Elas foram pra Sumé
Ai eu perdi a fé
De nunca mais ver miúda
Dali pra frente o cavalo
Não sabia mais andar
Eu saí sem suportar
a viagem e o abalo
Parece ter um calo
machucando meu acento
O caminho ferrenho
mostrava dificuldade
Mas não era
Era a saudade mordendo meu pensamento
Lá em seu Mane Soares
Pai entrou parou um pouco
Tomamos água de coco
No sítio de buenos aires
E os seus familiares nos convidaram para a ceia
Nesta hora a lua cheia iluminava a paisagem
Iluminando a viagem
De quem vem da terra alheia
Com seu vestido amarelo
Vinha a lua vagarosa
Parecia moça idosa
Quando sai do seu castelo
Mostrando seu rosto belo
Para o mundo universal
O sopro do vendaval soprava entre os gravetos
Que parecia sonetos de um ser sobrenatural
No rangido da cancela
E o trupe dos animais
Um candeeiro de gás
Apareceu na janela
Abracei mamãe bela
Me consolou dessa vez
Disse, chico de dendês, Aluízio e Leopoldino , Luiz de João laurentino perguntaram por vocês
Mae trouxe para a mesa
Feijão puro com maxixe
Quem for rico capriche
Pra não cair na pobreza
Mas pai fez uma surpresa
E matou nosso desejo com
Farofa manteiga e queijo
Trazia no meio da carga
Tornou se uma ceia larga
Na casa do sertanejo
Eu jantei e fui me deitar
Estava muito enfadado
Por que tinha viajado
30 léguas sem parar
Começou a se formar
E cheirando a terra molhada
Desde a serra talhada
Até a serra do Teixeira
E em cima da cordilheira
Bradou o pai da coalhada
Era o trovão comandando
Despejando o nevoeiro
Água fazendo faceiro
Torando cerca e levando
Açude enchendo e sangrando
Subindo peixe no rio
A cheia no desafio
Naquele lugar mais baixo
Não cabia no riacho
Sobrava pelo baixio
Deixando dunas de areia
Pelo meio do roçado
Que quem passasse calçado
Cobria sapato e meia
No remanso dessa cheia
Água em nível se delata
Deixando um cisco na nata
Na altura da enchente
Num Pereirão onde a marcamos
O nível da água
O dia vinha amanhecendo
E já tinha gente cavando
Batendo em lata e plantando
O sertão estremecendo
Os meninos correndo atras
De peixe e pegando
A saparada cantando na sangria da lagoa
Achando a chuva tão boa
Que boca estava escumando
Seu Inácio mariano
Comprando algodão na folha
Que comprava sem escolha
Que grande pernambucano
Em qualquer dia do ano
Ele estava no balcão
Quem tivesse precisão
Bastava dizer o nome
Que ele ia matando a fome
Do povo do meu sertão
No outro dia depois
Pai já vendeu algodão
Fez feira, milho e feijão
Café açúcar e arroz
Para fazer baião de 2
Misturado na panela
A qual ninguém gostava
Mas pra quem está com fome
Não quer saber o nome
Doutra coisa melhor cabidela
A queima do girau
Para o roçado de Viana
Já se via Gitirana
Querendo subir em pau
No tanque de Venceslau
Sangrava todo lajedo
Quando o caçador
Bem cedo chegava
Com a espingarda
Para matar de retaguarda
Algum lambu de arremeio
Vamos falar sobre o gado
Que escutando o trovão
Para as bandas do caldeirão
Ficou arrebanhado
Arrombou logo o carcado
Beirando a cerca seguiu
Pedro Simoes ainda viu passando
Um gado zebu com índio pajeú
disse Isso é de chico bibiu
Budoia gordo e valente
Cancela não sei a conta
Que ele passava a ponta
E deixava o pau na frente
Só parecia um tenente
Pelo comando do gado
A tempo estava afastado
Da sua velha fazenda
E já tinha ali de encomenda
Comprando briga fiado
Budoia tinha uma intriga
Com o touro velho lavrado
Que em casa tinha ficado
Tinha por certo essa briga
Mas a precisão obriga
E pai teve precisão
Pra não vender o algodão
Vendeu ele a João Antônio
Esse touro era o demônio
Brigava igual lampião
Com o dinheiro do touro
Fez uma feira aguçada
Chamou a rapaziada
Pra um adjunto estouro
Pra limpar por desaforo
Num dia so seu terreno
Ele é quem fez o aceno
Para começar o debate
Mas deu empate
Leopoldino e Zé pequeno
Jose de Abdias dava uma mão a Leopoldino
Também Antônio Bernadino a Zé pequeno ajudava
Assim eu via passava
O povo todo contente
Que inverno numa nascente
Uma torre amarela formava
E o relâmpago clareava
Pra quem vinha na frente
Não faltou nenhuma reis
De Felipe nem de pai
Porque quando o gado sai
Seguem todos de uma vez
Foi chovendo todo o mês
Até que chegou 40
A terra ficou cinzenta
O tabuleiro alagado
Morrendo gado afogado
Que o Norte é 8 ou 80
Tem coisa nessa vida
Que se vê quando criança
Fica na nossa lembrança
Para nunca ser esquecido
E pintado e colorido na nossa imaginação
Pra servir de sentimento, saudade e recordação.
2:59
Retirado de video antigo do youtube , Paulo Barba e desse video.
Parte 1
A retirada ( Dimas Bibiu)
Eu vou contar pra vocês
Não sei se a História agrada
Falar de uma retirada
A última que meu pai fez
No dia 15 de agosto de 39
Só em falar me comove
Em lhes narrar essa cena
Que causa mágoa e pena
Quando no meu sertão não chove
Janeiro inteiro passou
A bem dizer não choveu
Porque a chuva que deu
Bem pouco a terra molhou
O povo ainda plantou
Mas logo veio o verão
E o milho na sequidão murchou
E secou a palha
E o sol como uma fornalha
Ardia queimando o chão
Muitos urubus voavam
Por cima do alto monte
Depois vinham para a fonte
Bebiam agua e voltavam
Aqui, ali encontravam
Algo para seu conforto
Num galho de angico torto
Cantava triste a acauã
Com quem diz
Amanha teremos mais gado morto
Não choveu e a sudama
Que havia no sertão
Secou que abriu rachão
Na superfície da lama
Nem folha verde nem lama
Havia nos arius
Só se via entre os paús
Da margem seca do rio
Procurando um lugar frio
Muitos magros cururus
Pobre da cigarra aflita
Com fome e sede no morro
Grita pedindo socorro
Mas ninguém acredita
Acham que a cigarra apita
Por achar bom o verão
Mas não, é seu pulmão
Com a crise assoladora
Ela grita até que estoura
E cai sem vida no chão
Quem olhasse pra colina
Tremia o sol na miragem
Esturricando a folhagem
Da paisagem nordestina
Um véu de poeira fina
Subindo na ventania
O gado magro caía
Anêmico de inanição
E o pobre com um matulão
Pra bandas do sul descia
Quem olhasse do oitão dizia
Que mundo ingrato
Vendo o retrato do prato
No fundo do matulão
Gostei da inspiração
Do grande mané filó
Que também pisou no pó
Da poeira da estrada
Que na nossa época passada
A seca fazia dó
Acabousse os cereais
Não havia mais legumes
Porque a seca resume
Os pequenos capitais
So se lia nos jornais
Ceara foi atacado
Pernambuco meu estado
Em calamidade publica
E o chefe da republica
Se conservava calado
Ninguém tem uma saída
Para vencer a estiagem
E a fila pela rodagem
torna a vida mais sofrida
Mocinha quase despida
com seu pai envergonhado
atravessava acanhado
a rua de vista baixa
Como quem caça e não acha
O tempo bom do passado
Decotava-se umbuzeiro
Canafístula e oiticica
Mororo um só não fica
Feijão brabo e juazeiro
Só se via o fumaceiro
Lá pras banda do serrado
Macambira e alastrados
Mandacarus e facheiros
Tocavam fogo os vaqueiros
Pra ver se escapava o gado
Até mesmo a prefeitura
Sua verba foi cortada
Completou sem faltar nada
Esse quadro de amargura
Com todo mundo a procura
De trabalhar alugado
Mas ficou tudo parado
Parou o motor de agave
E a seca empurrou a trave
deixando o sertão travado
Pai vendo o drama inteiro
Com nervos à flor da pele
E o vendo fazendo L
Nos galhos do juazeiro
Rogou a Deus verdadeiro
Com fé amor e respeito
Para que ele mostrasse um jeito
De pai não perder de todo o gado
E por deus abençoado
O pedido foi aceito
Chegou Cicero cajazeiras
E disse chico se abrande
Venho de campina grande
Atravessei várias ribeiras
E passando em cabaceiras
Quando fui a Joao pessoa
Eu vi mais de uma lagoa
Sangrando para rodagem
Vai ser grande a pastagem
Que a babugem nasceu boa
Pai ficou silencioso
Eu vi a lagrima descendo
Mas ele enxugou logo dizendo
Deus é um pai poderoso
Cicero vendo, ele nervoso
Parou de vez a conversa
Mas disse com pressa
Antonha faz um café
Que essa notícia é hoje
O que mais me interessa
Logo, o velho Juvenal
Foi sabedor da notícia
Mandou chamar a polícia
Para saber tudo legal
Tinha no seu ideal
Fazer de madrugada
Pediu uma retirada
Da fazenda Seriema
Por que para ele
O problema era o gado
Mais nada
Foi feito naquele instante
Um acordo entre os 3
Para só ir dessa vez
Chico Bibiu e brilhante
Que era gordo possante
O qual valia um tesouro
E na fazenda de Louro
Deu prova de porte fino
E nas rédeas de birino
Ganhou medalhas de ouro
Deu banho deu milho
Arriou, pois cela, corona, freio
Desamarrou do esteio
E na guardapa amarrou
Pisou no estribo montou
E dando rédeas saiu
O velho chico bibiu
Ia firmado na sela
Eu olhando da janela
Até que se encobri-o
Nessa manhã domingueira
A casa ficou tristonha
Com eu mãe e tonha
Fazendo a luta caseira
Quando foi na quarta feira
Pai chegou muito enfadado
Disse: comprei um roçado
Por ordem do soberano
Daqui para o fim do ano
Não morre de fome o gado
Contou nessa ocasião
Uma história muto franca
Que passando em serra branca
Havia uma plantação
Causou lhe admiração
Saiu emocionado
Em um cardão de rudado
De seu Vicente Matias
Que recitava poesias
Bebendo e puxando o gado
Felipe foi avisar ao velho Juvenal
Que o gado no curral
devia ficar trancado
e o que faltasse procurado
por causa da estiagem
dá pra criar coragem
caroço e palma ainda tinham
e no sábado de manhazinha
tinha que fazer viagem
mãe arrumou os temperos
açúcar, café e sal
agulha, linha, tinta, pincel e tinteiro
pavio de candeeiro,
espiga da palha lisa
cueca, calça, camisa
quase que a mala não cabe
que a dona da casa sabe tudo
que a gente precisa
Foi uma saída amarga
O povo se despedindo
só Silon ai sorrindo
alegre no meio da carga
naquela pisada larga
o gado se encaminhou
logo o sofrer começou
do pequenino Silon
E por certo ele achou bom
Que foi sorrindo e voltou
220 reses que lá de casa saíram
Para não errar a quantia
Foi contado 2 vezes
Aí diga que é poesia.
Parte 3
Felipe encheu a garganta
Disse com a língua perra
Nós vamos tratar de terra
E se chover a gente planta
Campeamos da salina recanto
Várzea encantada até sai na estrada
que sai de patos a campina
Não encontramos ruinas
O gado todo carnudo
Bezerro que foi sanbudo
Estava parecendo um touro
Tangemos pelo logradouro
Findamos trancando tudo
Faltou o touro budóia
Ninguém achou nesse dia
Estava na vacaria da fazenda
De eloia
Como do gado era a joia
Eu vi Felipe dizendo
Só se via aparecendo
Devia ser campeado
Mas ele amanheceu
Deitado na porteira remoendo
A final chegou o dia
Do nosso grande regresso
Por sinal nem confesso
O tamanho da alegria
Toalha, prato, bacia
Nós fomos logo juntando
Felipe ia arrumando
Na porta entre as duas salas
E o que não coube na mala
Nós fomos logo deixando
Cruzamos várias salinas
Pisamos no barro duro
Para chegar no poço escuro
Tomamos várias neblinas
Perguntou pelas meninas
Silón me dando uma ajuda
Disse a velha carrancuda
Elas foram pra Sumé
Ai eu perdi a fé
De nunca mais ver miúda
Dali pra frente o cavalo
Não sabia mais andar
Eu saí sem suportar
a viagem e o abalo
Parece ter um calo
machucando meu acento
O caminho ferrenho
mostrava dificuldade
Mas não era
Era a saudade mordendo meu pensamento
Lá em seu Mane Soares
Pai entrou parou um pouco
Tomamos água de coco
No sítio de buenos aires
E os seus familiares nos convidaram para a ceia
Nesta hora a lua cheia iluminava a paisagem
Iluminando a viagem
De quem vem da terra alheia
Com seu vestido amarelo
Vinha a lua vagarosa
Parecia moça idosa
Quando sai do seu castelo
Mostrando seu rosto belo
Para o mundo universal
O sopro do vendaval soprava entre os gravetos
Que parecia sonetos de um ser sobrenatural
No rangido da cancela
E o trupe dos animais
Um candeeiro de gás
Apareceu na janela
Abracei mamãe bela
Me consolou dessa vez
Disse, chico de dendês, Aluízio e Leopoldino , Luiz de João laurentino perguntaram por vocês
Mae trouxe para a mesa
Feijão puro com maxixe
Quem for rico capriche
Pra não cair na pobreza
Mas pai fez uma surpresa
E matou nosso desejo com
Farofa manteiga e queijo
Trazia no meio da carga
Tornou se uma ceia larga
Na casa do sertanejo
Eu jantei e fui me deitar
Estava muito enfadado
Por que tinha viajado
30 léguas sem parar
Começou a se formar
E cheirando a terra molhada
Desde a serra talhada
Até a serra do Teixeira
E em cima da cordilheira
Bradou o pai da coalhada
Era o trovão comandando
Despejando o nevoeiro
Água fazendo faceiro
Torando cerca e levando
Açude enchendo e sangrando
Subindo peixe no rio
A cheia no desafio
Naquele lugar mais baixo
Não cabia no riacho
Sobrava pelo baixio
Deixando dunas de areia
Pelo meio do roçado
Que quem passasse calçado
Cobria sapato e meia
No remanso dessa cheia
Água em nível se delata
Deixando um cisco na nata
Na altura da enchente
Num Pereirão onde a marcamos
O nível da água
O dia vinha amanhecendo
E já tinha gente cavando
Batendo em lata e plantando
O sertão estremecendo
Os meninos correndo atras
De peixe e pegando
A saparada cantando na sangria da lagoa
Achando a chuva tão boa
Que boca estava escumando
Seu Inácio mariano
Comprando algodão na folha
Que comprava sem escolha
Que grande pernambucano
Em qualquer dia do ano
Ele estava no balcão
Quem tivesse precisão
Bastava dizer o nome
Que ele ia matando a fome
Do povo do meu sertão
No outro dia depois
Pai já vendeu algodão
Fez feira, milho e feijão
Café açúcar e arroz
Para fazer baião de 2
Misturado na panela
A qual ninguém gostava
Mas pra quem está com fome
Não quer saber o nome
Doutra coisa melhor cabidela
A queima do girau
Para o roçado de Viana
Já se via Gitirana
Querendo subir em pau
No tanque de Venceslau
Sangrava todo lajedo
Quando o caçador
Bem cedo chegava
Com a espingarda
Para matar de retaguarda
Algum lambu de arremeio
Vamos falar sobre o gado
Que escutando o trovão
Para as bandas do caldeirão
Ficou arrebanhado
Arrombou logo o carcado
Beirando a cerca seguiu
Pedro Simoes ainda viu passando
Um gado zebu com índio pajeú
disse Isso é de chico bibiu
Budoia gordo e valente
Cancela não sei a conta
Que ele passava a ponta
E deixava o pau na frente
Só parecia um tenente
Pelo comando do gado
A tempo estava afastado
Da sua velha fazenda
E já tinha ali de encomenda
Comprando briga fiado
Budoia tinha uma intriga
Com o touro velho lavrado
Que em casa tinha ficado
Tinha por certo essa briga
Mas a precisão obriga
E pai teve precisão
Pra não vender o algodão
Vendeu ele a João Antônio
Esse touro era o demônio
Brigava igual lampião
Com o dinheiro do touro
Fez uma feira aguçada
Chamou a rapaziada
Pra um adjunto estouro
Pra limpar por desaforo
Num dia so seu terreno
Ele é quem fez o aceno
Para começar o debate
Mas deu empate
Leopoldino e Zé pequeno
Jose de Abdias dava uma mão a Leopoldino
Também Antônio Bernadino a Zé pequeno ajudava
Assim eu via passava
O povo todo contente
Que inverno numa nascente
Uma torre amarela formava
E o relâmpago clareava
Pra quem vinha na frente
Não faltou nenhuma reis
De Felipe nem de pai
Porque quando o gado sai
Seguem todos de uma vez
Foi chovendo todo o mês
Até que chegou 40
A terra ficou cinzenta
O tabuleiro alagado
Morrendo gado afogado
Que o Norte é 8 ou 80
Tem coisa nessa vida
Que se vê quando criança
Fica na nossa lembrança
Para nunca ser esquecido
E pintado e colorido na nossa imaginação
Pra servir de sentimento, saudade e recordação.