A Retirada de Dimas Bibiu | Declamação: Felizardo Moura

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  • Опубликовано: 20 янв 2025

Комментарии • 38

  • @ricardomucio5662
    @ricardomucio5662 2 дня назад +1

    Bonito demais esta poesia.

  • @ricardomucio5662
    @ricardomucio5662 2 дня назад +1

    Você é doido moço. É pra chorar de se acabar. A seca é um espelho para a gente relembrar situações já vividas. Parabéns poeta.

  • @poetamarcianomedeiros-ofic9601
    @poetamarcianomedeiros-ofic9601 3 месяца назад +3

    Este poema é uma saga brilhantemente narrada por Dimas Bibiu. Parabéns Felisardo Moura pela grande interpretação...

  • @edneisoares9217
    @edneisoares9217 7 месяцев назад +7

    Nunca vi em nossa cultura algo tão grandioso. Merecia uma mine série em rede nacional. Qual o nordestino q ouve este conteúdo tão belíssimo e não se emociona. Quanto orgulho tive de nossa terra ao ouvir este poema.

  • @marcosataide6700
    @marcosataide6700 2 месяца назад +1

    Meu Deus que coisa linda

  • @PauloRomeroAbelhasNativas
    @PauloRomeroAbelhasNativas 7 месяцев назад +1

    Realmente esse é um clássico da nossa verdadeira cultura nordestina,em forma de poesia...
    Retirada,fez parte da vida de muitas fazendas desse nosso nordeste. É um momento de grande tensão e demonstração de força e fé na vida....
    Abraço forte da Paraíba.

  • @arvoredepoesia-poetajatoba3064
    @arvoredepoesia-poetajatoba3064 7 месяцев назад +3

    Versos exuberantes. Declamação estupenda.

  • @cassiosoares6479
    @cassiosoares6479 3 месяца назад +1

    Meu Nordeste é cultura e beleza.

  • @FranciscoAlvesdosSantosJuniorJ
    @FranciscoAlvesdosSantosJuniorJ 9 месяцев назад +3

    Que coisa linda que Deus ilumine
    Isso dar um filme muito bom

  • @MundocaNeto
    @MundocaNeto 8 месяцев назад +2

    Show de poesia

  • @feitosao
    @feitosao 9 месяцев назад +2

    Aí diga que é poesia.

  • @joseagnaldo3618
    @joseagnaldo3618 8 месяцев назад +2

    Não sei fazer um verso, mas peço aos que faz, que não deixem para trás os leigos no assunto, mas se falar fico junto, dos poetas da natureza falando de qualquer assunto, e deles, se faz belezas.

  • @berguinhopinto1719
    @berguinhopinto1719 7 месяцев назад

    Da saudade da minha terra Sta Maria da Boa Vista Pernambuco

  • @yagosobrinho9411
    @yagosobrinho9411 6 месяцев назад +1

    Se tiver me manda por favor, caso n encontre vou escrever a partir desse vídeo 😊

    • @elinaldolucas
      @elinaldolucas Месяц назад

      coloquei nos comentarios , esta em 3 partes

  • @fernandaneto7446
    @fernandaneto7446 4 месяца назад +2

    Alguém sabe onde encontro escrita?

  • @elinaldolucas
    @elinaldolucas Месяц назад +1

    Parte 2
    Passando em Ana Menezes
    A Aurora Já vinha raiando
    Com João Bahiano na frente
    Aboiando todo animado
    E pai no coice do gado
    Tangia os bichos chorando
    Eu perguntei a Felipe
    Por que é que vão chorando
    Ele disse disfarçando
    É Silon que vai com gripe
    Mas olhei pro Araripe
    Estava da cor de uma tocha
    O tempo arrochando a broxa
    Até quando destruiu
    Felipe, Chico Bibiu e Juvenal josé da Rocha
    Chegando em Pedro 2°
    A porteira estava aberta
    A fazenda deserta
    Num sentimento profundo
    Lá encontramos Raimundo
    Que dar água ao gado vinha
    Disse que água tinha
    Mais pra pasto estava sério
    Acompanhado de Antério
    E da poetiza Zuzinha
    Passando pelo açude
    Atravessamos o baldo
    Da casa de seu Nivaldo
    Tomei água o quanto pude
    Tomamos nova atitude
    Para o povoado de amparo
    Pai pagou um café caro
    Sem doce sem pó e puro
    Chagamos no poço escuro
    O dia ainda estava claro
    Com seu Neném Simoes
    Pai arrumou cercado
    Para trancarmos o gado
    Que era um velho desses bons
    Dormidas e refeições nos deram
    De larga escala
    Felipe tirou da mala
    Muita carne de carneiro
    Ficamos sentindo o cheiro
    Armando as redes na sala
    Nos convidaram para a janta
    Tinha uma menina moça
    Que estava espalhando a louça
    Bonita parecia uma santa
    Sua beleza era tanta
    Que fiquei logo acanhado
    Depois de ter me sentado
    Por minha grande moleza
    Ela se encostou na mesa
    Ficou ali do meu lado
    Eu tinha no guarda peito
    Um D e um B gravado
    De camurça desenhado
    Que minha mãe tinha feito
    Ela disse desse jeito
    Isso é que é ter gabarito
    Eu quero esse nome escrito
    Para eu mostrar a minhas primas
    Que esse D quer dizer Dimas
    Mas o B é de bonito
    Só se ouvia a gargalhada
    De todos que ali jantavam
    Vendo que a miúda
    Estava do menino apaixonada
    Eu não jantei quase nada
    Como quem tinha almoçado
    Ela disse do meu lado
    Ele tem medo do pai
    A gente chega ele saí
    Não namora é acanhado
    Eu saí para uma janela
    Que tinha na outra sala
    E já escutei sua fala
    Que vinha com uma gamela
    E um pouco d’agua nela
    Disse Dimas tu es desses
    Meninos fies não merece ter mal tratos
    Mandou tirar os sapatos
    Queria lavar meus pés
    Para não lhe causar agravo
    Nem ser mal-educado
    Eu disse muito obrigado
    Pode deixar que eu lavo
    Mas ela pegou um cravo
    E disse, tome meu bem
    Aqui nesse cravo tem
    Cheiro desse humilde abrigo
    Se eu não me casar contigo
    Não caso mais com ninguém
    EU também jurei calado
    Lhe entregar minha mão
    Porque o meu coração ela
    Já tinha levado
    Passei a noite acordado
    Quando foi no outro dia
    Pensei que a gente saia
    Sem ela se acordar
    Mas ela quem foi olhar
    Se a gente ainda dormia
    Pai ficou admirado
    Vendo aquele amor Tao puro
    Parece que o poço escuro
    Era meu reino encantado
    Começou soltando o gado
    Tangendo devagarinho
    Eu olhando para o caminho
    Com meu semblante tristonho
    Vendo a deusa do meu sonho
    Ficar e eu ir sozinho
    Miúda lá da janela
    Acenava com a mão
    Ficou, mas meu coração
    seguiu conduzindo ela
    Eu atravessado na sela e
    Sempre olhando para trás
    Entrei pelos matagais
    Eu até hoje procuro
    A deusa do poço escuro
    Não pude ver nunca mais
    Chegamos num varejão
    Modesta fazenda antiga
    Um casal de gente amiga
    Morava no casarão
    Lá nos venderam um oitão
    De palha toda perdida
    A fome era desmedida
    E chegou numa hora exata
    Foi a coisa mais barata
    Que meu pai comprou nessa vida
    Era quadro de palha
    Que havia se perdido
    Depois que tinha crescido
    Todo nascido sem falha
    O gado como uma navalha
    Entrou torando no meio
    Era um quebradeiro feio
    Uns pisando outros comendo
    E mais tarde remoendo
    Tudo de bucho cheio
    Um queijo muito bonito
    Pai tirou do alforge
    Que ele comprou a Zé Borges
    Da fazenda do cachí
    De uma carne de um cabrito
    Mandou fazer refeição
    Todos comeram feijão
    Eu só chupei melancia
    Só porque não conhecia
    o frio do varejão
    Quando foi de madrugada
    Dissolveu a melancia
    Me apertava e saia
    Com a pele arrepiada
    A minha rede gelada
    Eu forrei com uma lona
    O gibão e a corona
    Mas o frio era voraz
    Que quando o gelo e demais
    Cobertor não funciona
    Ao despertar das galinhas
    Saímos tomando chuva
    Fomos dormi na viúva
    Da fazenda das pombinhas
    Dessas viúvas mesquinhas
    Que quis até nos negar
    O curral pra trancar onde
    O gado dorme preso
    E nesse triste desprezo
    Fomos dormi sem jantar
    Tanger foi muito custoso
    Vaca novilha e garrote
    Comendo capim melota
    E capim mimoso
    O pasto estava gostoso
    Mas como o campo era aberto
    Nós resolvemos o problema
    E a fazenda seriema dali
    Era muito perto
    Por sinal ninguém parou
    No riacho do deserto
    Como a fazenda era perto
    Depressa agente chegou
    O gado ninguém trancou
    No pátio estava se vendo
    Uns deitado outros comendo
    Todos de barriga cheia
    Estirados na areia descansando e remoendo
    num juazeiro sombrio
    Fizemos um logradouro
    Onde havia um bebedouro
    Num poço grande do rio
    De frente tinha um baixio
    Ao lado um pé de chorão
    Onde a noite o carao vinha
    Cantar seu hino
    Para o poeta menino
    Chorar de emoção
    Eu fui um filho mimado
    Dos que a mãe não sai de perto
    Para não dormi descoberto
    Nem pegar resfriado
    Estava ali afastado da minha mãe querida
    Eu estranhava a dormida
    Não tinha gosto o feijão
    Parece até que o carão zombava da minha vida
    60 dias lutando
    na luta do sertanejo
    Fazendo manteiga e queijo
    Todo dia campeando
    Os bezerros vacinando
    contra o mal do quarto inchado
    Dava-se de sal refinado
    pra cada reis uma dose
    Para defender da aftose
    Pra triste raiva não da
    Outubro já terminado
    Novembro já terminando
    Disse pai um dia jantando
    Vamos trancarmos o gado
    Aproveitar o roçado demorar não adianta

  • @RicardoSilva-rm3sr
    @RicardoSilva-rm3sr 9 месяцев назад +6

    Onde eu encontro esta poesia escrita?

    • @cristhianolima568
      @cristhianolima568  9 месяцев назад +3

      Olá Ricardo. Acredito que na Internet não tenha, eu já procurei. Talvez tenha só em livros.

    • @joseagnaldo3618
      @joseagnaldo3618 8 месяцев назад +3

      NAO TENTE SER UM POETA, QUE ISSO COISA DIVINA, QUEM TENTA NUNCA TERMINA SENDO UM, POIS POR MUITO TENTAR NÃO CHEGA A LUGAR NENHUM.

    • @elinaldolucas
      @elinaldolucas 6 месяцев назад +2

      eu vou terminar de digitar esses dias , ja tinha uma boa parte , agora vou completar , se tiver interesse é so me falar

    • @lucianofernanded8200
      @lucianofernanded8200 2 месяца назад +1

      ​@@elinaldolucas eu tenho interesse!
      Essa poesia é a mais linda que já ouvi.

    • @claudileneteixeira2327
      @claudileneteixeira2327 2 месяца назад +1

      @@elinaldolucaseu quero

  • @yagosobrinho9411
    @yagosobrinho9411 6 месяцев назад +2

    Alguém tem escrita?

  • @elinaldolucas
    @elinaldolucas Месяц назад +1

    Parte 3
    Felipe encheu a garganta
    Disse com a língua perra
    Nós vamos tratar de terra
    E se chover a gente planta
    Campeamos da salina recanto
    Várzea encantada até sai na estrada
    que sai de patos a campina
    Não encontramos ruinas
    O gado todo carnudo
    Bezerro que foi sanbudo
    Estava parecendo um touro
    Tangemos pelo logradouro
    Findamos trancando tudo
    Faltou o touro budóia
    Ninguém achou nesse dia
    Estava na vacaria da fazenda
    De eloia
    Como do gado era a joia
    Eu vi Felipe dizendo
    Só se via aparecendo
    Devia ser campeado
    Mas ele amanheceu
    Deitado na porteira remoendo
    A final chegou o dia
    Do nosso grande regresso
    Por sinal nem confesso
    O tamanho da alegria
    Toalha, prato, bacia
    Nós fomos logo juntando
    Felipe ia arrumando
    Na porta entre as duas salas
    E o que não coube na mala
    Nós fomos logo deixando
    Cruzamos várias salinas
    Pisamos no barro duro
    Para chegar no poço escuro
    Tomamos várias neblinas
    Perguntou pelas meninas
    Silón me dando uma ajuda
    Disse a velha carrancuda
    Elas foram pra Sumé
    Ai eu perdi a fé
    De nunca mais ver miúda
    Dali pra frente o cavalo
    Não sabia mais andar
    Eu saí sem suportar
    a viagem e o abalo
    Parece ter um calo
    machucando meu acento
    O caminho ferrenho
    mostrava dificuldade
    Mas não era
    Era a saudade mordendo meu pensamento
    Lá em seu Mane Soares
    Pai entrou parou um pouco
    Tomamos água de coco
    No sítio de buenos aires
    E os seus familiares nos convidaram para a ceia
    Nesta hora a lua cheia iluminava a paisagem
    Iluminando a viagem
    De quem vem da terra alheia
    Com seu vestido amarelo
    Vinha a lua vagarosa
    Parecia moça idosa
    Quando sai do seu castelo
    Mostrando seu rosto belo
    Para o mundo universal
    O sopro do vendaval soprava entre os gravetos
    Que parecia sonetos de um ser sobrenatural
    No rangido da cancela
    E o trupe dos animais
    Um candeeiro de gás
    Apareceu na janela
    Abracei mamãe bela
    Me consolou dessa vez
    Disse, chico de dendês, Aluízio e Leopoldino , Luiz de João laurentino perguntaram por vocês
    Mae trouxe para a mesa
    Feijão puro com maxixe
    Quem for rico capriche
    Pra não cair na pobreza
    Mas pai fez uma surpresa
    E matou nosso desejo com
    Farofa manteiga e queijo
    Trazia no meio da carga
    Tornou se uma ceia larga
    Na casa do sertanejo
    Eu jantei e fui me deitar
    Estava muito enfadado
    Por que tinha viajado
    30 léguas sem parar
    Começou a se formar
    E cheirando a terra molhada
    Desde a serra talhada
    Até a serra do Teixeira
    E em cima da cordilheira
    Bradou o pai da coalhada
    Era o trovão comandando
    Despejando o nevoeiro
    Água fazendo faceiro
    Torando cerca e levando
    Açude enchendo e sangrando
    Subindo peixe no rio
    A cheia no desafio
    Naquele lugar mais baixo
    Não cabia no riacho
    Sobrava pelo baixio
    Deixando dunas de areia
    Pelo meio do roçado
    Que quem passasse calçado
    Cobria sapato e meia
    No remanso dessa cheia
    Água em nível se delata
    Deixando um cisco na nata
    Na altura da enchente
    Num Pereirão onde a marcamos
    O nível da água
    O dia vinha amanhecendo
    E já tinha gente cavando
    Batendo em lata e plantando
    O sertão estremecendo
    Os meninos correndo atras
    De peixe e pegando
    A saparada cantando na sangria da lagoa
    Achando a chuva tão boa
    Que boca estava escumando
    Seu Inácio mariano
    Comprando algodão na folha
    Que comprava sem escolha
    Que grande pernambucano
    Em qualquer dia do ano
    Ele estava no balcão
    Quem tivesse precisão
    Bastava dizer o nome
    Que ele ia matando a fome
    Do povo do meu sertão
    No outro dia depois
    Pai já vendeu algodão
    Fez feira, milho e feijão
    Café açúcar e arroz
    Para fazer baião de 2
    Misturado na panela
    A qual ninguém gostava
    Mas pra quem está com fome
    Não quer saber o nome
    Doutra coisa melhor cabidela
    A queima do girau
    Para o roçado de Viana
    Já se via Gitirana
    Querendo subir em pau
    No tanque de Venceslau
    Sangrava todo lajedo
    Quando o caçador
    Bem cedo chegava
    Com a espingarda
    Para matar de retaguarda
    Algum lambu de arremeio
    Vamos falar sobre o gado
    Que escutando o trovão
    Para as bandas do caldeirão
    Ficou arrebanhado
    Arrombou logo o carcado
    Beirando a cerca seguiu
    Pedro Simoes ainda viu passando
    Um gado zebu com índio pajeú
    disse Isso é de chico bibiu
    Budoia gordo e valente
    Cancela não sei a conta
    Que ele passava a ponta
    E deixava o pau na frente
    Só parecia um tenente
    Pelo comando do gado
    A tempo estava afastado
    Da sua velha fazenda
    E já tinha ali de encomenda
    Comprando briga fiado
    Budoia tinha uma intriga
    Com o touro velho lavrado
    Que em casa tinha ficado
    Tinha por certo essa briga
    Mas a precisão obriga
    E pai teve precisão
    Pra não vender o algodão
    Vendeu ele a João Antônio
    Esse touro era o demônio
    Brigava igual lampião
    Com o dinheiro do touro
    Fez uma feira aguçada
    Chamou a rapaziada
    Pra um adjunto estouro
    Pra limpar por desaforo
    Num dia so seu terreno
    Ele é quem fez o aceno
    Para começar o debate
    Mas deu empate
    Leopoldino e Zé pequeno
    Jose de Abdias dava uma mão a Leopoldino
    Também Antônio Bernadino a Zé pequeno ajudava
    Assim eu via passava
    O povo todo contente
    Que inverno numa nascente
    Uma torre amarela formava
    E o relâmpago clareava
    Pra quem vinha na frente
    Não faltou nenhuma reis
    De Felipe nem de pai
    Porque quando o gado sai
    Seguem todos de uma vez
    Foi chovendo todo o mês
    Até que chegou 40
    A terra ficou cinzenta
    O tabuleiro alagado
    Morrendo gado afogado
    Que o Norte é 8 ou 80
    Tem coisa nessa vida
    Que se vê quando criança
    Fica na nossa lembrança
    Para nunca ser esquecido
    E pintado e colorido na nossa imaginação
    Pra servir de sentimento, saudade e recordação.

  • @mateussilva9116
    @mateussilva9116 8 месяцев назад +2

    2:59

  • @elinaldolucas
    @elinaldolucas Месяц назад

    Retirado de video antigo do youtube , Paulo Barba e desse video.
    Parte 1
    A retirada ( Dimas Bibiu)
    Eu vou contar pra vocês
    Não sei se a História agrada
    Falar de uma retirada
    A última que meu pai fez
    No dia 15 de agosto de 39
    Só em falar me comove
    Em lhes narrar essa cena
    Que causa mágoa e pena
    Quando no meu sertão não chove
    Janeiro inteiro passou
    A bem dizer não choveu
    Porque a chuva que deu
    Bem pouco a terra molhou
    O povo ainda plantou
    Mas logo veio o verão
    E o milho na sequidão murchou
    E secou a palha
    E o sol como uma fornalha
    Ardia queimando o chão
    Muitos urubus voavam
    Por cima do alto monte
    Depois vinham para a fonte
    Bebiam agua e voltavam
    Aqui, ali encontravam
    Algo para seu conforto
    Num galho de angico torto
    Cantava triste a acauã
    Com quem diz
    Amanha teremos mais gado morto
    Não choveu e a sudama
    Que havia no sertão
    Secou que abriu rachão
    Na superfície da lama
    Nem folha verde nem lama
    Havia nos arius
    Só se via entre os paús
    Da margem seca do rio
    Procurando um lugar frio
    Muitos magros cururus
    Pobre da cigarra aflita
    Com fome e sede no morro
    Grita pedindo socorro
    Mas ninguém acredita
    Acham que a cigarra apita
    Por achar bom o verão
    Mas não, é seu pulmão
    Com a crise assoladora
    Ela grita até que estoura
    E cai sem vida no chão
    Quem olhasse pra colina
    Tremia o sol na miragem
    Esturricando a folhagem
    Da paisagem nordestina
    Um véu de poeira fina
    Subindo na ventania
    O gado magro caía
    Anêmico de inanição
    E o pobre com um matulão
    Pra bandas do sul descia
    Quem olhasse do oitão dizia
    Que mundo ingrato
    Vendo o retrato do prato
    No fundo do matulão
    Gostei da inspiração
    Do grande mané filó
    Que também pisou no pó
    Da poeira da estrada
    Que na nossa época passada
    A seca fazia dó
    Acabousse os cereais
    Não havia mais legumes
    Porque a seca resume
    Os pequenos capitais
    So se lia nos jornais
    Ceara foi atacado
    Pernambuco meu estado
    Em calamidade publica
    E o chefe da republica
    Se conservava calado
    Ninguém tem uma saída
    Para vencer a estiagem
    E a fila pela rodagem
    torna a vida mais sofrida
    Mocinha quase despida
    com seu pai envergonhado
    atravessava acanhado
    a rua de vista baixa
    Como quem caça e não acha
    O tempo bom do passado
    Decotava-se umbuzeiro
    Canafístula e oiticica
    Mororo um só não fica
    Feijão brabo e juazeiro
    Só se via o fumaceiro
    Lá pras banda do serrado
    Macambira e alastrados
    Mandacarus e facheiros
    Tocavam fogo os vaqueiros
    Pra ver se escapava o gado
    Até mesmo a prefeitura
    Sua verba foi cortada
    Completou sem faltar nada
    Esse quadro de amargura
    Com todo mundo a procura
    De trabalhar alugado
    Mas ficou tudo parado
    Parou o motor de agave
    E a seca empurrou a trave
    deixando o sertão travado
    Pai vendo o drama inteiro
    Com nervos à flor da pele
    E o vendo fazendo L
    Nos galhos do juazeiro
    Rogou a Deus verdadeiro
    Com fé amor e respeito
    Para que ele mostrasse um jeito
    De pai não perder de todo o gado
    E por deus abençoado
    O pedido foi aceito
    Chegou Cicero cajazeiras
    E disse chico se abrande
    Venho de campina grande
    Atravessei várias ribeiras
    E passando em cabaceiras
    Quando fui a Joao pessoa
    Eu vi mais de uma lagoa
    Sangrando para rodagem
    Vai ser grande a pastagem
    Que a babugem nasceu boa
    Pai ficou silencioso
    Eu vi a lagrima descendo
    Mas ele enxugou logo dizendo
    Deus é um pai poderoso
    Cicero vendo, ele nervoso
    Parou de vez a conversa
    Mas disse com pressa
    Antonha faz um café
    Que essa notícia é hoje
    O que mais me interessa
    Logo, o velho Juvenal
    Foi sabedor da notícia
    Mandou chamar a polícia
    Para saber tudo legal
    Tinha no seu ideal
    Fazer de madrugada
    Pediu uma retirada
    Da fazenda Seriema
    Por que para ele
    O problema era o gado
    Mais nada
    Foi feito naquele instante
    Um acordo entre os 3
    Para só ir dessa vez
    Chico Bibiu e brilhante
    Que era gordo possante
    O qual valia um tesouro
    E na fazenda de Louro
    Deu prova de porte fino
    E nas rédeas de birino
    Ganhou medalhas de ouro
    Deu banho deu milho
    Arriou, pois cela, corona, freio
    Desamarrou do esteio
    E na guardapa amarrou
    Pisou no estribo montou
    E dando rédeas saiu
    O velho chico bibiu
    Ia firmado na sela
    Eu olhando da janela
    Até que se encobri-o
    Nessa manhã domingueira
    A casa ficou tristonha
    Com eu mãe e tonha
    Fazendo a luta caseira
    Quando foi na quarta feira
    Pai chegou muito enfadado
    Disse: comprei um roçado
    Por ordem do soberano
    Daqui para o fim do ano
    Não morre de fome o gado
    Contou nessa ocasião
    Uma história muto franca
    Que passando em serra branca
    Havia uma plantação
    Causou lhe admiração
    Saiu emocionado
    Em um cardão de rudado
    De seu Vicente Matias
    Que recitava poesias
    Bebendo e puxando o gado
    Felipe foi avisar ao velho Juvenal
    Que o gado no curral
    devia ficar trancado
    e o que faltasse procurado
    por causa da estiagem
    dá pra criar coragem
    caroço e palma ainda tinham
    e no sábado de manhazinha
    tinha que fazer viagem
    mãe arrumou os temperos
    açúcar, café e sal
    agulha, linha, tinta, pincel e tinteiro
    pavio de candeeiro,
    espiga da palha lisa
    cueca, calça, camisa
    quase que a mala não cabe
    que a dona da casa sabe tudo
    que a gente precisa
    Foi uma saída amarga
    O povo se despedindo
    só Silon ai sorrindo
    alegre no meio da carga
    naquela pisada larga
    o gado se encaminhou
    logo o sofrer começou
    do pequenino Silon
    E por certo ele achou bom
    Que foi sorrindo e voltou
    220 reses que lá de casa saíram
    Para não errar a quantia
    Foi contado 2 vezes

  • @feitosao
    @feitosao 9 месяцев назад +3

    Aí diga que é poesia.

  • @elinaldolucas
    @elinaldolucas Месяц назад

    Parte 3
    Felipe encheu a garganta
    Disse com a língua perra
    Nós vamos tratar de terra
    E se chover a gente planta
    Campeamos da salina recanto
    Várzea encantada até sai na estrada
    que sai de patos a campina
    Não encontramos ruinas
    O gado todo carnudo
    Bezerro que foi sanbudo
    Estava parecendo um touro
    Tangemos pelo logradouro
    Findamos trancando tudo
    Faltou o touro budóia
    Ninguém achou nesse dia
    Estava na vacaria da fazenda
    De eloia
    Como do gado era a joia
    Eu vi Felipe dizendo
    Só se via aparecendo
    Devia ser campeado
    Mas ele amanheceu
    Deitado na porteira remoendo
    A final chegou o dia
    Do nosso grande regresso
    Por sinal nem confesso
    O tamanho da alegria
    Toalha, prato, bacia
    Nós fomos logo juntando
    Felipe ia arrumando
    Na porta entre as duas salas
    E o que não coube na mala
    Nós fomos logo deixando
    Cruzamos várias salinas
    Pisamos no barro duro
    Para chegar no poço escuro
    Tomamos várias neblinas
    Perguntou pelas meninas
    Silón me dando uma ajuda
    Disse a velha carrancuda
    Elas foram pra Sumé
    Ai eu perdi a fé
    De nunca mais ver miúda
    Dali pra frente o cavalo
    Não sabia mais andar
    Eu saí sem suportar
    a viagem e o abalo
    Parece ter um calo
    machucando meu acento
    O caminho ferrenho
    mostrava dificuldade
    Mas não era
    Era a saudade mordendo meu pensamento
    Lá em seu Mane Soares
    Pai entrou parou um pouco
    Tomamos água de coco
    No sítio de buenos aires
    E os seus familiares nos convidaram para a ceia
    Nesta hora a lua cheia iluminava a paisagem
    Iluminando a viagem
    De quem vem da terra alheia
    Com seu vestido amarelo
    Vinha a lua vagarosa
    Parecia moça idosa
    Quando sai do seu castelo
    Mostrando seu rosto belo
    Para o mundo universal
    O sopro do vendaval soprava entre os gravetos
    Que parecia sonetos de um ser sobrenatural
    No rangido da cancela
    E o trupe dos animais
    Um candeeiro de gás
    Apareceu na janela
    Abracei mamãe bela
    Me consolou dessa vez
    Disse, chico de dendês, Aluízio e Leopoldino , Luiz de João laurentino perguntaram por vocês
    Mae trouxe para a mesa
    Feijão puro com maxixe
    Quem for rico capriche
    Pra não cair na pobreza
    Mas pai fez uma surpresa
    E matou nosso desejo com
    Farofa manteiga e queijo
    Trazia no meio da carga
    Tornou se uma ceia larga
    Na casa do sertanejo
    Eu jantei e fui me deitar
    Estava muito enfadado
    Por que tinha viajado
    30 léguas sem parar
    Começou a se formar
    E cheirando a terra molhada
    Desde a serra talhada
    Até a serra do Teixeira
    E em cima da cordilheira
    Bradou o pai da coalhada
    Era o trovão comandando
    Despejando o nevoeiro
    Água fazendo faceiro
    Torando cerca e levando
    Açude enchendo e sangrando
    Subindo peixe no rio
    A cheia no desafio
    Naquele lugar mais baixo
    Não cabia no riacho
    Sobrava pelo baixio
    Deixando dunas de areia
    Pelo meio do roçado
    Que quem passasse calçado
    Cobria sapato e meia
    No remanso dessa cheia
    Água em nível se delata
    Deixando um cisco na nata
    Na altura da enchente
    Num Pereirão onde a marcamos
    O nível da água
    O dia vinha amanhecendo
    E já tinha gente cavando
    Batendo em lata e plantando
    O sertão estremecendo
    Os meninos correndo atras
    De peixe e pegando
    A saparada cantando na sangria da lagoa
    Achando a chuva tão boa
    Que boca estava escumando
    Seu Inácio mariano
    Comprando algodão na folha
    Que comprava sem escolha
    Que grande pernambucano
    Em qualquer dia do ano
    Ele estava no balcão
    Quem tivesse precisão
    Bastava dizer o nome
    Que ele ia matando a fome
    Do povo do meu sertão
    No outro dia depois
    Pai já vendeu algodão
    Fez feira, milho e feijão
    Café açúcar e arroz
    Para fazer baião de 2
    Misturado na panela
    A qual ninguém gostava
    Mas pra quem está com fome
    Não quer saber o nome
    Doutra coisa melhor cabidela
    A queima do girau
    Para o roçado de Viana
    Já se via Gitirana
    Querendo subir em pau
    No tanque de Venceslau
    Sangrava todo lajedo
    Quando o caçador
    Bem cedo chegava
    Com a espingarda
    Para matar de retaguarda
    Algum lambu de arremeio
    Vamos falar sobre o gado
    Que escutando o trovão
    Para as bandas do caldeirão
    Ficou arrebanhado
    Arrombou logo o carcado
    Beirando a cerca seguiu
    Pedro Simoes ainda viu passando
    Um gado zebu com índio pajeú
    disse Isso é de chico bibiu
    Budoia gordo e valente
    Cancela não sei a conta
    Que ele passava a ponta
    E deixava o pau na frente
    Só parecia um tenente
    Pelo comando do gado
    A tempo estava afastado
    Da sua velha fazenda
    E já tinha ali de encomenda
    Comprando briga fiado
    Budoia tinha uma intriga
    Com o touro velho lavrado
    Que em casa tinha ficado
    Tinha por certo essa briga
    Mas a precisão obriga
    E pai teve precisão
    Pra não vender o algodão
    Vendeu ele a João Antônio
    Esse touro era o demônio
    Brigava igual lampião
    Com o dinheiro do touro
    Fez uma feira aguçada
    Chamou a rapaziada
    Pra um adjunto estouro
    Pra limpar por desaforo
    Num dia so seu terreno
    Ele é quem fez o aceno
    Para começar o debate
    Mas deu empate
    Leopoldino e Zé pequeno
    Jose de Abdias dava uma mão a Leopoldino
    Também Antônio Bernadino a Zé pequeno ajudava
    Assim eu via passava
    O povo todo contente
    Que inverno numa nascente
    Uma torre amarela formava
    E o relâmpago clareava
    Pra quem vinha na frente
    Não faltou nenhuma reis
    De Felipe nem de pai
    Porque quando o gado sai
    Seguem todos de uma vez
    Foi chovendo todo o mês
    Até que chegou 40
    A terra ficou cinzenta
    O tabuleiro alagado
    Morrendo gado afogado
    Que o Norte é 8 ou 80
    Tem coisa nessa vida
    Que se vê quando criança
    Fica na nossa lembrança
    Para nunca ser esquecido
    E pintado e colorido na nossa imaginação
    Pra servir de sentimento, saudade e recordação.