Amar - Poema de Carlos Drummond de Andrade

Поделиться
HTML-код
  • Опубликовано: 13 сен 2024
  • Que pode uma criatura senão,
    Entre criaturas, amar?
    Amar e esquecer, amar e malamar,
    Amar, desamar, amar?
    Sempre, e até de olhos vidrados, amar?
    Que pode, pergunto, o ser amoroso,
    Sozinho, em rotação universal, senão
    Rodar também, e amar?
    Amar o que o mar traz à praia,
    O que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
    É sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
    Amar solenemente as palmas do deserto,
    O que é entrega ou adoração expectante,
    E amar o inóspito, o áspero,
    Um vaso sem flor, um chão de ferro,
    E o peito inerte, e a rua vista em sonho,
    E uma ave de rapina.
    Este o nosso destino: Amor sem conta,
    Distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
    Doação ilimitada a uma completa ingratidão,
    E na concha vazia do amor à procura medrosa,
    Paciente, de mais e mais amor.
    Amar a nossa falta mesma de amor,
    E na secura nossa, amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
    #poemas #carlosdrummonddeandrade #amar

Комментарии •