O HOMEM BORRACHA

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  • Опубликовано: 9 сен 2024
  • O HOMEM BORACHA
    Sempre fui “piru” de circo. Toda vez que chegava um circo em Cupira, eu acompanhava desde a montagem até a desmontagem do mesmo. Obviamente, como toda criança, observava e fantasiava a vida daquela gente. Tinha a maior inveja. Queria viver daquele jeito. Quando a montagem do circo estava pronta, tinha a chamada para o espetáculo que era na base do “arrocha negrada” (expressão usada naquela época). O palhaço na frente numa “monocilceta” ou com pernas de pau, com uma corneta gritava:
    Hoje tem espetáculo?
    Tem sim senhor!
    Às oito horas da noite?
    Tem sim senhor!
    E arrocha negrada!
    Êêêêêê...
    Tinha uns sete ou oito anos. Percorríamos a cidade correndo atrás do palhaço.
    E arrocha negrada!
    Êêêêêê...
    Evidentemente, quando ia passar na minha rua, eu me escondia, porque meu pai era brabo e minha mãe morria de vergonha se me visse naquela situação. No final, a gente era marcado no braço com uma tinta, para entrar no espetáculo de graça. Era um verdadeiro malabarismo para esconder a marca, do pessoal lá de casa.
    Aos treze ou quatorze anos, eu já não acompanhava mais o palhaço, mas continuava “piruando” os circos. Continuava também entrando de graça. É que formamos um “Conjunto de iê iê iê” e tudo que era circo, nos convidava para fazer a parte musical do espetáculo. Tocávamos músicas de Jovem Guarda, boleros, rumbas e Cha cha chás. No espetáculo circense, eles pediam que tocássemos rumba. Rumba para números de trapézio, rumba para o mágico, rumba para o numero de contorcionismo, rumba pra tudo, inclusive para a dança da rumbeira. A rumbeira era uma moça que dançava e que tinha uma saia muito curtinha com abertura na frente. A uma certa altura da dança, alguém da plateia gritava:
    Abre a cortina!
    Ela abria a parte da frente da saia e a plateia ia ao delírio. Eu tocava violão, era gordinho e conhecido na cidade como filho de Dona Minervina, que era praticamente uma santa que cuidava da igreja e era devota de Nossa Senhora das Graças. Numa noite dessas, acho que a décima noite de espetáculo, a rumbeira no auge e no calor da rumba, olhou pra mim, passou as mãos na parte da frente da calcinha e depois passou no meu rosto. Aí o circo quase veio a baixo. Isso se repetiu umas três vezes, até que Ciço Queixada, que também tocava com a gente, disse que O Homem Borracha estava me procurando. O Homem Borracha era o marido da rumbeira. O cara era o “guarda roupa”. Alto, forte e mal encarado, não falava com ninguém, mesmo quando estava fazendo o numero de contorcionismo. Nunca fui de encarar violência física, ainda mais em desvantagem gritante como essa. Eu com 13 anos, baixinho, gordinho e abestalhado, claro que nunca mais apareci nesse circo. Não queria machucar mão do rapaz. Lembrando dessa passagem da minha vida, me veio uma rumba nos moldes daquela época (década de 1960). Aí gravei a rumba que coloquei o nome de O Homem Borracha. A musica tem um “quê” de Perez Prado, maestro cubano, cuja orquestra era muito apreciada nessa época. Outra lembrança que vem é a musica Moendo Café, sucesso de Poly e seu conjunto. Ouçam com fone.

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