uma vez perguntaram ao james hillman, discipulo de Jung, o que acontecia depois que um homem atingisse a individuaçao do Self. ele disse: Recomeça outro processo e individuaçao em um nível superior e assim até um nivel incompreensível pra mente humana.
trazendo pro esoterismo ou pra espiritualidade, pode-se fazer um paralelo com as iniciações da teosofia, os setes céus do cristianismo, as supra-consciencias de ubaldi, as iniciaçoes de Rohden e assim por diante.
A obra de Jung contém também uma série de referências a Hegel. Como outros historiadores da filosofia, ele vê no pensamento Hegel a mais importante resposta a Kant e à limitação que Kant viu na capacidade mental de conhecer legitimamente Deus. Mas a análise junguiana de Hegel é permeada de ambivalência. Nas suas colocações mais importantes sobre Hegel no Obras Completas, Jung o descreve como um pensador orgulhoso, que respondeu à humilde aceitação kantiana das limitações da mente - especialmente a respeito da presunção da mente em relação ao conhecimento de Deus - elaborando um grandioso esquema do absoluto e do seu desenvolvimento na história. C. G. Jung, “A natureza da psique”, in A dinâmica do inconsciente, OC VIII, par. 358: “A vitória de Hegel sobre Kant significava uma gravíssima ameaça para a razão e o futuro desenvolvimento da mente alemã e até mesmo europeia, sobretudo se levarmos em conta que Hegel era um psicólogo camuflado e projetava grandes verdades da esfera do sujeito sobre um cosmo por ele próprio criado”. No parágrafo sucessivo Jung se junta ao coro contra Hegel, acusando-o de “hybris” (ibid., par, 359). Por vezes Jung se refere também às implicações patológicas da “impossível linguagem” de Hegel e da sua tendência ao neologismo (Heidegger se tornou suspeito pelos mesmos motivos) [G. Adler e A. Jaffé (org.), C. G. Jung letters, vol. 2, op. cit., p. 501, cf. também p. 121, onde Jung se refere ao “estilo esquizofrênico heideggeriano ou neogermânico do norte”.] Há, porém, aspectos da própria obra de Jung que não são tão hostis a Hegel. Numa carta, Jung descreve Hegel como um psicólogo amador, assim como ele próprio foi “um filósofo mauqué” [Id., ibid, vol. 1, p. 194]. No âmbito informal da correspondência, Jung nos oferece algumas das mais claras indicações de que ele era plenamente consciente das profundas implicações filosóficas e metafisicas da sua visão da psique, um aspecto do seu pensamento que ele tende a negar nas suas obras publicadas - (...). Ainda numa das suas últimas cartas, Jung admite que poderia ter uma ressonância entre o seu pensamento e o de Hegel, ainda maior do que ele pensava, apesar de ele continuar negando toda influência direta e consciente de Hegel sobre seu pensamento: “Não é possível inferir uma dependência direta, mas... há, na verdade, uma notável coincidência entre alguns princípios da filosofia hegeliana e as minhas descobertas relativas ao inconsciente coletivo”. [Id,. Ibid., vol. 2, p. 502] (DOURLEY, 1987, p. 63-5) Textos interessantes para complemento: Hegel, um burocrata da Gnose floscarmeliestudos.com.br/hegel-um-burocrata-da-gnose/ Hegel e a Tradição hermética: xdocs.com.br/doc/hegel-e-a-tradicao-hermetica-loxxd5j1wgox Hegel e o hermetismo: periodicos.ufes.br/sofia/article/download/28958/21317
(...). Em um dos ensaios mais importantes, ao lidar com o tema central de sua obra, o processo de “individuação”, por meio do qual “uma pessoa se torna quem ela é”, Jung declara abertamente que não pode oferecer qualquer evidência ou prova da realidade de tal processo, pois se trata de uma coisa que tem de ser experimentada. Em “As Relações entre o Ego e o Inconsciente”, Jung escreve que “é... extremamente difícil dar exemplos [de individuação] porque cada exemplo tem a infeliz característica de só ser impressionante e significativo para o indivíduo em questão”. [C. G. Jung, Collected Works, Volume 7 (Londres: Routledge and Kegan Paul, 1977), p. 218] Isso põe a individuação na mesma esfera de estar apaixonado, da experiência estética e, também, dos estados místicos, coisas que compartilham a característica de “só serem impressionantes e significativas para o indivíduo em questão” - todos nós conhecemos pessoas inteiramente “caídas” por gente que não nos diz nada ou vidradas num quadro que nos deixa indiferentes. E como acontece com o amor e experiência estética e mística - como acontece aliás, com toda experiência -, isso tira claramente a individuação do domínio da ciência, visto que os critérios fundamentais da ciência são a mensuração e as possibilidades de repetição. A ideia de encontrar um modo de “testar” cientificamente se as pessoas que passaram pela análise junguiana se individuaram ou não - isso é, “se elas se tornaram quem são” - parece tão absurda quanto a ideia de fazer “testes” para o amor ou para a experiência estética ou mística. As únicas medidas da realidade de coisas como estas são as próprias pessoas, suas vidas e seu próprio senso de “autorrealização”, para tomar emprestada uma expressão do psicólogo Abraham Maslow. Jung nunca se cansava de repetir que “o real é o que funciona” [ibid., p. 215], e para alguém acusado de misticismo trata-se de um credo terrivelmente pragmático. Num sentido muito significativo, então, toda a ideia de saber se a obra de Jung era ou não “científica” é irrelevante para o que nela é importante. Mas é essa necessidade de experimentar a realidade da individuação que levou Anthony Storr a incluir Jung em seu livro Feet of Clay: A Study of Gurus. “Jung foi um guru”, Storr argumentou, porque “abandonou a tradição científica” e “sabia que estava certo”. Jung chegou a seu conhecimento mediante uma experiência própria de individuação, esse difícil e às vezes perigoso processo de unificar as mentes consciente e inconsciente. “Ninguém que passou pelo processo de assimilar o inconsciente”, Jung escreveu, “negará que isso envolveu seus próprios órgãos vitais e o transformou”. [Ibid., p. 218] Jung tomou conhecimento disso por experiência própria e seu “confronto com o inconsciente” mostra que prova terrível isso pode ser. Contudo, é na experiência mesma de individuação de Jung que muitos veem a razão para rejeitá-la, alegando que o “confronto” foi pouco mais que um episódio psicótico. E como Jung afirma que todo o seu trabalho subsequente resultou de tal “confronto”, tais críticos acham justificado repudiá-lo como simplesmente um produto de loucura. Na realidade, um crítico de Jung sustentou que o objetivo de sua “psicologia analítica” era instituir ele próprio como líder de um culto neopagão, adorador do Sol, organizado com vistas a um renascimento espiritual da Europa tendo Jung como uma espécie de figura de Cristo, prova, ele afirma, que Jung sofria de um “complexo de Messias”. [ver The Jung Cult (Princeton NJ: Princeton University Press, 1994) e The Aryan Christ (Nova York: Random House, 1997) de Richard Noll.] ... mesmo partidários de Jung se sentem, como veremos, pouco à vontade com suas associações místicas. Alguns estudiosos junguianos recentes argumentam que o verdadeiro legado de Jung tem sido obscurecido por seu vínculo com o movimento Nova Era. (...) (Lachman, 2012, p. 15-17)
Obrigado pela Alaya. Durante a narrativa você cita que o Yaldabaoth será restituído para ser tornar o rei dos céus. A questão que coloco é: qual dos céus ele se tornará rei?
Na sua autobiografia, Jung volta ao assunto para dizer que o incesto tem um aspecto psicológico e mesmo religioso altamente significativo. O incesto al qual uma das suas pacientes foi submetida aos 15 anos pelo irmão teria feito com que, por um lado, ela se sentisse humilhada aos olhos do mundo, perdesse o contato com o mundo e entrasse num estado de psicose, e que, por outro lado, ela fosse “elevada para o reino da fantasia”, “transportada para um reino mítico, pois, tradicionalmente, o incesto é uma prerrogativa da realeza e das divindades”. Ela “mergulhou nas distâncias cósmicas, no espaço externo, onde se encontrou com o demônio alado” (C. G. Jung. Memórias, sonhos, reflexões. RJ, Nova Fronteira, 2006, p. 165. Apud Loparic 2007, p. 86)
Seus estudos são excepcionais. Parabéns pelo trabalho 👏👏
Muito bom. Obrigada por compartilhar Alaya. 🌷
Muito grata por esse conhecimento 💙💙💙
uma vez perguntaram ao james hillman, discipulo de Jung, o que acontecia depois que um homem atingisse a individuaçao do Self. ele disse: Recomeça outro processo e individuaçao em um nível superior e assim até um nivel incompreensível pra mente humana.
trazendo pro esoterismo ou pra espiritualidade, pode-se fazer um paralelo com as iniciações da teosofia, os setes céus do cristianismo, as supra-consciencias de ubaldi, as iniciaçoes de Rohden e assim por diante.
Parabéns Alaya, aula sensacional, muito esclarecedor, grato.
Continuo sempre assistindo e tenho aprendido bastante obrigadoooo
Muito obrigado. Valeu.
A obra de Jung contém também uma série de referências a Hegel. Como outros historiadores da filosofia, ele vê no pensamento Hegel a mais importante resposta a Kant e à limitação que Kant viu na capacidade mental de conhecer legitimamente Deus. Mas a análise junguiana de Hegel é permeada de ambivalência. Nas suas colocações mais importantes sobre Hegel no Obras Completas, Jung o descreve como um pensador orgulhoso, que respondeu à humilde aceitação kantiana das limitações da mente - especialmente a respeito da presunção da mente em relação ao conhecimento de Deus - elaborando um grandioso esquema do absoluto e do seu desenvolvimento na história. C. G. Jung, “A natureza da psique”, in A dinâmica do inconsciente, OC VIII, par. 358: “A vitória de Hegel sobre Kant significava uma gravíssima ameaça para a razão e o futuro desenvolvimento da mente alemã e até mesmo europeia, sobretudo se levarmos em conta que Hegel era um psicólogo camuflado e projetava grandes verdades da esfera do sujeito sobre um cosmo por ele próprio criado”. No parágrafo sucessivo Jung se junta ao coro contra Hegel, acusando-o de “hybris” (ibid., par, 359). Por vezes Jung se refere também às implicações patológicas da “impossível linguagem” de Hegel e da sua tendência ao neologismo (Heidegger se tornou suspeito pelos mesmos motivos) [G. Adler e A. Jaffé (org.), C. G. Jung letters, vol. 2, op. cit., p. 501, cf. também p. 121, onde Jung se refere ao “estilo esquizofrênico heideggeriano ou neogermânico do norte”.]
Há, porém, aspectos da própria obra de Jung que não são tão hostis a Hegel. Numa carta, Jung descreve Hegel como um psicólogo amador, assim como ele próprio foi “um filósofo mauqué” [Id., ibid, vol. 1, p. 194]. No âmbito informal da correspondência, Jung nos oferece algumas das mais claras indicações de que ele era plenamente consciente das profundas implicações filosóficas e metafisicas da sua visão da psique, um aspecto do seu pensamento que ele tende a negar nas suas obras publicadas - (...). Ainda numa das suas últimas cartas, Jung admite que poderia ter uma ressonância entre o seu pensamento e o de Hegel, ainda maior do que ele pensava, apesar de ele continuar negando toda influência direta e consciente de Hegel sobre seu pensamento: “Não é possível inferir uma dependência direta, mas... há, na verdade, uma notável coincidência entre alguns princípios da filosofia hegeliana e as minhas descobertas relativas ao inconsciente coletivo”. [Id,. Ibid., vol. 2, p. 502] (DOURLEY, 1987, p. 63-5)
Textos interessantes para complemento:
Hegel, um burocrata da Gnose
floscarmeliestudos.com.br/hegel-um-burocrata-da-gnose/
Hegel e a Tradição hermética:
xdocs.com.br/doc/hegel-e-a-tradicao-hermetica-loxxd5j1wgox
Hegel e o hermetismo:
periodicos.ufes.br/sofia/article/download/28958/21317
❤❤❤
Aila Bom dia
Estou amando seus vídeos, obrigada por compartilhar tanto conhecimento.
Fico feliz em saber
👏👏👏👏👏
Obrigada ! ✨️
Tá tudo arrumadinho , mais agente não ta dando conta, é 💛🐺
Boa noite!
Já estudou a filosofia concreta de Mário Ferreira do Santos.
Acredito que irá gostar.
(...). Em um dos ensaios mais importantes, ao lidar com o tema central de sua obra, o processo de “individuação”, por meio do qual “uma pessoa se torna quem ela é”, Jung declara abertamente que não pode oferecer qualquer evidência ou prova da realidade de tal processo, pois se trata de uma coisa que tem de ser experimentada. Em “As Relações entre o Ego e o Inconsciente”, Jung escreve que “é... extremamente difícil dar exemplos [de individuação] porque cada exemplo tem a infeliz característica de só ser impressionante e significativo para o indivíduo em questão”. [C. G. Jung, Collected Works, Volume 7 (Londres: Routledge and Kegan Paul, 1977), p. 218] Isso põe a individuação na mesma esfera de estar apaixonado, da experiência estética e, também, dos estados místicos, coisas que compartilham a característica de “só serem impressionantes e significativas para o indivíduo em questão” - todos nós conhecemos pessoas inteiramente “caídas” por gente que não nos diz nada ou vidradas num quadro que nos deixa indiferentes. E como acontece com o amor e experiência estética e mística - como acontece aliás, com toda experiência -, isso tira claramente a individuação do domínio da ciência, visto que os critérios fundamentais da ciência são a mensuração e as possibilidades de repetição. A ideia de encontrar um modo de “testar” cientificamente se as pessoas que passaram pela análise junguiana se individuaram ou não - isso é, “se elas se tornaram quem são” - parece tão absurda quanto a ideia de fazer “testes” para o amor ou para a experiência estética ou mística. As únicas medidas da realidade de coisas como estas são as próprias pessoas, suas vidas e seu próprio senso de “autorrealização”, para tomar emprestada uma expressão do psicólogo Abraham Maslow. Jung nunca se cansava de repetir que “o real é o que funciona” [ibid., p. 215], e para alguém acusado de misticismo trata-se de um credo terrivelmente pragmático. Num sentido muito significativo, então, toda a ideia de saber se a obra de Jung era ou não “científica” é irrelevante para o que nela é importante.
Mas é essa necessidade de experimentar a realidade da individuação que levou Anthony Storr a incluir Jung em seu livro Feet of Clay: A Study of Gurus. “Jung foi um guru”, Storr argumentou, porque “abandonou a tradição científica” e “sabia que estava certo”. Jung chegou a seu conhecimento mediante uma experiência própria de individuação, esse difícil e às vezes perigoso processo de unificar as mentes consciente e inconsciente. “Ninguém que passou pelo processo de assimilar o inconsciente”, Jung escreveu, “negará que isso envolveu seus próprios órgãos vitais e o transformou”. [Ibid., p. 218] Jung tomou conhecimento disso por experiência própria e seu “confronto com o inconsciente” mostra que prova terrível isso pode ser. Contudo, é na experiência mesma de individuação de Jung que muitos veem a razão para rejeitá-la, alegando que o “confronto” foi pouco mais que um episódio psicótico. E como Jung afirma que todo o seu trabalho subsequente resultou de tal “confronto”, tais críticos acham justificado repudiá-lo como simplesmente um produto de loucura. Na realidade, um crítico de Jung sustentou que o objetivo de sua “psicologia analítica” era instituir ele próprio como líder de um culto neopagão, adorador do Sol, organizado com vistas a um renascimento espiritual da Europa tendo Jung como uma espécie de figura de Cristo, prova, ele afirma, que Jung sofria de um “complexo de Messias”. [ver The Jung Cult (Princeton NJ: Princeton University Press, 1994) e The Aryan Christ (Nova York: Random House, 1997) de Richard Noll.] ... mesmo partidários de Jung se sentem, como veremos, pouco à vontade com suas associações místicas. Alguns estudiosos junguianos recentes argumentam que o verdadeiro legado de Jung tem sido obscurecido por seu vínculo com o movimento Nova Era. (...) (Lachman, 2012, p. 15-17)
“[...] nada de definitivo se pretende com o conceito de arquétipo [...]” (JUNG, C.G., “Civilização em transição”. 6ª Ed. Vozes 2013, pp. 200-201).
Obrigado pela Alaya. Durante a narrativa você cita que o Yaldabaoth será restituído para ser tornar o rei dos céus. A questão que coloco é: qual dos céus ele se tornará rei?
Os Arquétipos não seriam as ferramentas dos Arcontes?
Na sua autobiografia, Jung volta ao assunto para dizer que o incesto tem um aspecto psicológico e mesmo religioso altamente significativo. O incesto al qual uma das suas pacientes foi submetida aos 15 anos pelo irmão teria feito com que, por um lado, ela se sentisse humilhada aos olhos do mundo, perdesse o contato com o mundo e entrasse num estado de psicose, e que, por outro lado, ela fosse “elevada para o reino da fantasia”, “transportada para um reino mítico, pois, tradicionalmente, o incesto é uma prerrogativa da realeza e das divindades”. Ela “mergulhou nas distâncias cósmicas, no espaço externo, onde se encontrou com o demônio alado” (C. G. Jung. Memórias, sonhos, reflexões. RJ, Nova Fronteira, 2006, p. 165. Apud Loparic 2007, p. 86)